domingo, 29 de janeiro de 2012

Homem de Kennewick: ponto para a ciência

Leandro Narloch

Justiça americana decide devolver aos pesquisadores a segunda ossada mais antiga da América do Norte.
Desde que foi encontrado, em 1996, o esqueleto de 9,2 mil anos conhecido como Homem de Kennewick (batizado em homenagem à cidade às margens do rio Columbia, no estado de Washington, de onde foi desenterrado), tem causado polêmica. Primeiro, porque suas características físicas e morfológicas botaram abaixo quase tudo o que se sabia sobre a ocupação do continente americano até a década de 90. Depois, porque, desde então, a posse da ossada vinha sendo disputada na Justiça por tribos de nativos americanos que queriam dar ao suposto ancestral um funeral condigno com suas tradições. Em fevereiro, a Justiça dos Estados Unidos decidiu: o Homem de Kennewick pertence à ciência.
Para impedir as pesquisas, os nativos das tribos Umatilla, Yakama, Colville e Nez Perce vinham se apoiando em antigos mapas de ocupação da região do rio Columbia e em artefatos que evidenciariam a ancestralidade. Desde 1990, a lei de proteção à cultura dos nativos americanos fez com que 27 mil restos humanos saíssem dos museus para ganhar funerais ou espaços de culto. “Não somos contra a ciência”, diz Jeff Van Pelt, da tribo Umatilla. “Só queremos ter a palavra sobre os destinos dos nossos ancestrais.”
Mas o problema é justamente esse. A Corte de Apelação americana considerou que não havia estudos suficientes relacionando os ossos aos índios modernos. Pelo contrário. As poucas pesquisas realizadas com os ossos de Kennewick apontaram para a conclusão de que os primeiros habitantes da América não eram ancestrais dos índios. Além da discordância científica, essa é uma questão polêmica, pois grande parte da política dos Estados Unidos em relação aos direitos dos nativos está baseada no fato de eles serem descendentes dos primeiros habitantes do continente. Se os estudos com os ossos de Kennewick estiverem corretos, porém, os antepassados indígenas foram, eles também, invasores que substituíram uma civilização pré-existente. “O homem de Kennewick mostra que a ocupação da América foi descontínua”, diz Walter Neves, antropólogo da Universidade de São Paulo. “A descoberta abala a ideologia politicamente correta das minorias e sugere que devolver os ossos para as tribos pode ser uma grande bobagem.”
Saiba mais: www.washington.edu/burkemseum/kmanburke
Nada de índio
Um nativo americano com traços aborígenes
Uma reconstituição feita de argila com base no crânio de Kennewick, o segundo mais antigo da América. Seus traços, obtidos com base em tomografias pelo antropólogo James Chatters, apresenta características negróides, próximas aos aborígenes australianos. E sem nenhum parentesco com o grupo mongol, que originou os índios. Assim como Luzia, a ossada brasileira de 11 mil anos achada em Minas Gerais, os ossos de Kennewick baseiam a teoria de que uma corrente migratória chegou à América 3 mil anos antes dos antepassados índios.

Revista Aventuras na História n° 008

Nenhum comentário:

Postar um comentário