domingo, 29 de janeiro de 2012

Stálin, camarada mentira

Leandro Narloch

Montagens e adulterações mostram como Stálin usou a fotografia (e uma eficiente máquina de propaganda política) para alterar o passado e varrer seus inimigos da história.
O fantasma da revolução
Defensor da “internacionalização” da revolução comunista, Trotsky (batendo continência, na foto mais acima) era uma pedra na bota de Stálin, que pretendia consolidar o poder “apenas” no Estado soviético. Expulso da União Soviética em 1925, Trotsky acabou assassinado em 1940, no México e foi, pouco a pouco, apagado de documentos e fotografias.
Memória apagada
Em 1924, após a morte de Lênin, principal líder da revolução bolchevique de 1917, Leon Trotsky e Josef Stálin passaram a dividir a influência sobre o partido comunista que, na prática, governava a União Soviética. Depois de intensa disputa interna, em 1925, Stálin assumiu o poder e tratou de eliminar a memória do rival. Numa das imagens mais famosas da revolução, Lênin discursa em frente ao Teatro Bolshoi em 1920, durante a guerra civil russa. Repare que Trotsky, que aparece acima nos degraus do palanque, desapareceu.
Falsa intimidade
Aparecer ao lado de Lênin era uma forma de posar como seu legítimo sucessor e de herdar a popularidade do líder. Stálin mandou produzir estátuas, pinturas e fotos falsas, forjando uma proximidade entre os dois que nunca existiu.
Publicidade Comunista
Adulterar fotos era uma prática anterior ao governo de Stálin. Em 1917, o cartão-postal de uma passeata de soldados em Petrogrado teve a placa ao fundo alterada. A frase “relógios – prata e ouro” foi trocada para “Lute pelos seus direitos”. E a bandeira antes ilegível passou a dizer “Abaixo a monarquia. Longa vida à república!”
Quatro, Três, Dois, Um
A partir de 1934, a União Soviética viveu o período conhecido como o “Grande Terror” em que adversários declarados, potenciais ou mesmo suspeitos de oposição ao regime foram perseguidos. Em menos de dez anos, ocorreram cerca de 800 mil assassinatos políticos. Entre essas vítimas havia muitos líderes e companheiros de outros tempos. Uma foto mostra a cúpula do partido comunista em 1926: ao lado de Stálin, estão Nikolai Antipov, Sergei Kirov e Nikolai Shvernik. Com os sucessivos expurgos, eles foram sumindo um a um, até que sobrasse apenas em uma pintura a óleo inspirada nas fotografias.
Censura dentro de casa
O comissário do partido Nikolai Yezhov, executado pela polícia secreta em 1940, desapareceu da foto oficial ao lado de Stálin (acima e ao lado). Seus familiares, com medo de ter o mesmo fim, riscaram sua foto dos álbuns de família (abaixo, à esquerda). O fotógrafo Alexander Rodchenko, autor de Dez Anos no Uzbequistão, teve de pintar com tinta preta o rosto de todas as pessoas indesejadas para que sua obra pudesse ser publicada.
Saiba mais:  Livros
The Commissar Vanishes, David King, Henry Hold & Company, 1997, 192 páginas.

Revista Aventuras na História n° 008

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