Julia Moióli
Com uma corrida contra o tempo, que inclui uma sequência de
massagens, choques e medicamentos para fazer o coração voltar a bater e a
realizar sua função primordial: bombear sangue e oxigênio pelo organismo. Nesse
processo de ressuscitação, o mais importante é agir rápido. "Se a vítima
for socorrida no primeiro minuto após a parada, ela tem 90% de chances de
sobreviver", diz o cardiologista Sérgio Timerman, do Instituto do Coração
(Incor), de São Paulo. Como quase 80% das mortes por parada cardíaca no Brasil
acontecem fora dos hospitais, as etapas iniciais do salvamento ficam nas mãos
de pessoas como nós. O primeiro passo é checar os sinais vitais da vítima. Se
ela não tiver pulso e não estiver respirando, é bem provável que o coração
tenha parado de bater. Depois de chamar ajuda médica, é hora de agir, fazendo a
chamada respiração de resgate. É uma espécie de assoprão na boca que difere um
pouco da tradicional respiração boca-a-boca, onde também se puxa o ar. O
segundo passo é aplicar a massagem cardíaca, uma série de compressões no peito
da vítima para "acordar" o coração. Se nada disso der certo, a última
coisa que dá para fazer fora do hospital é apelar para os choques elétricos -
desde que haja por perto um aparelho específico para isso, o desfibrilador. O
choque pode funcionar quando o coração pára de bombear sangue porque o órgão
nessa situação começa a bater muito rápido e sem ritmo. É a chamada fibrilação
ventricular. Como esse problema é responsável por 90% das paradas cardíacas, os
médicos insistem para que locais públicos tenham desfibriladores à mão.
"Se eles forem usados no local da emergência, a vítima tem 70% de chances
de sobreviver. Se ela esperar até o hospital, esse número cai para 2%",
afirma Sérgio. Depois disso, o negócio é deixar o trabalho para os
cardiologistas, que vão medicar a pessoa ou optar por táticas mais drásticas
para tentar reverter a parada.
Corrida pela vida
Chances de
sobrevivência caem 10% a cada minuto depois que o coração parou.1. Quando a vítima de parada cardíaca chega ao hospital, a primeira etapa da ressuscitação é a massagem cardíaca. Tapando o nariz do paciente, uma enfermeira sopra duas vezes na boca para mandar oxigênio para o organismo. Em seguida, ela faz 15 compressões cardíacas entre os mamilos, tentando fazer o coração pegar "no tranco".
2. Para monitorar os batimentos, a vítima é ligada a um eletrocardiograma. Com ele, dá para saber por que o coração parou de bombear sangue. Há três causas: a fibrilação ventricular (batimento desgovernado), a assistolia (parada total) e a atividade elétrica sem pulso (batimentos esporádicos).
3. Quando a parada é causada por uma fibrilação ventricular, os especialistas partem para o trabalho com o desfibrilador. Posicionando as pás do aparelho no peito da vítima, um médico aplica uma série de choques. A idéia é que a descarga coloque a atividade elétrica do coração em ordem para que ele volte a bater direito.
4. Se os choques falharem, os médicos precisam mandar oxigênio para o corpo. Para isso, eles entubam o paciente com um cano de borracha que chega até a traquéia. Conectado a um balão com ar, o tubo lança oxigênio para o pulmão e serve para injetar medicamentos que aumentam o fluxo sanguíneo.
5. A última tentativa de ressuscitação é a massagem direta. O peito do paciente é aberto e o médico segura o coração com as mãos, fazendo um movimento intenso para reativar o bombeamento de sangue. Essa técnica só costuma ser usada quando o paciente sofreu algum trauma grave.
Revista Mundo Estranho Edição 27/ 2004