Alexandre Versignassi
Por enquanto, conseguimos captar luz visível até uma
distância gigantesca de 130 bilhões de trilhões de quilômetros (o número 13
seguido de 22 zeros) - ou 13 bilhões de anos-luz, se usarmos o jeito
astronômico de medir distâncias. Tudo graças aos nossos melhores óculos para ver
o céu, o telescópio espacial Hubble. O mais fascinante é que a habilidade desse
aparelho para enxergar tão longe equivale, de certa forma, a uma viagem no
tempo. Afinal, quando dizemos que uma coisa está a 13 bilhões de anos-luz, isso
significa que a luz emitida por esse objeto levou justamente 13 bilhões de anos
para chegar até aqui. Por isso, o Hubble enxerga não exatamente uma galáxia
distante, mas a cara que ela tinha muito antes de a Terra ter se formado. Pela
velocidade com que as galáxias se afastam umas das outras, estima-se que todas
elas estavam aglutinadas em um ponto microscópico que explodiu em algum momento
entre 13,7 bilhões e 15 bilhões de anos atrás. A uma distância dessas, tudo o
que o Hubble consegue ver são quasares, corpos que surgem quando galáxias se
chocam. Como a maior parte dos quasares está a pelo menos 10 bilhões de
anos-luz, isso indica que nos primórdios do Universo as galáxias se espremiam
em um espaço muito menor do que hoje, a ponto de uma bater na outra de vez em
quando. Essa constatação impulsionou a teoria do big bang e a idéia de que o
Universo está em expansão. Quando apontamos o olhar para longe, acabamos
enxergando bem mais do que a gente espera!
O céu não é o limite
Observação do cosmo
começou com as montanhas da Lua e não pára de nos surpreender.
Quando: Século 17
Descoberta: Anéis de
Saturno
Quem encontrou:
Galileu Galilei
O italiano foi o
primeiro a usar o telescópio para fazer observações astronômicas. Com o
instrumento, Galileu notou que a Lua não era lisa, mas pipocada de crateras e
montanhas. Encontrou duas luas em Júpiter, mostrando que satélites não eram
exclusividade da Terra, e viu anéis em Saturno. "Esse planeta parece ter
orelhas!", escreveu o gênio italiano em suas anotações. No detalhe, um
rabisco do próprio Galileu mostra como ele enxergou Saturno.
Quando: Séculos 18 e
19
Descoberta: Galáxias
Quem encontrou:
William Herschel
O alemão Herschel
enxergou manchinhas no céu parecidas com nuvens. Batizando-as de nebulosas, ele
imaginou que fossem aglomerados de estrelas muito distantes. Herschel estava
certo, mas a noção de galáxia só seria desenvolvida pelo astrônomo britânico
Edwin Hubble, no começo do século 20. Abaixo, você vê Andrômeda, uma das
galáxias estudadas pelo alemão, em três momentos da evolução da observação
astronômica.
Quando: 1963
Descoberta: Quasar
Quem encontrou:
equipe do National Astronomy Observatories (Estados Unidos).
Esses objetos são
núcleos de galáxias com tamanho equivalente ao sistema solar, mas emitem 100
vezes mais radiação que uma galáxia inteira. Na representação artística da
imagem maior, o quasar aparece como o jorro de raios no meio da espiral. Mas
telescópios como o Hubble o vêem como uma "estrelona", já que o
brilho do quasar ofusca a imagem da galáxia que está em volta dele.
Quando: 2004
Descoberta: Quasares
mais distantes já observados.
Quem encontrou:
equipe do Space Telescope Institute (Estados Unidos).
Até agora, esse é o
máximo que conseguimos enxergar do cosmo. No detalhe, a imagem do telescópio
Hubble mostra galáxias e quasares da forma como eles eram há 13 bilhões de
anos, relativamente pouco tempo após o início do Universo. A foto precisou de
278 horas de exposição para ficar pronta.
Ecos da grande
explosão Satélite da Nasa conseguiu mostrar como era o universo 300 mil anos
depois do Big Bang.
Não vamos enxergar
como era o Universo há muito mais que 13 bilhões de anos. Esta é a época da
formação das primeiras estrelas e galáxias e a luz delas que nossos telescópios
vêem. Antes disso, o Universo não passava de uma sopa quente de radiação. Mas
pelo menos tivemos uma amostra daquela época. Na década de 90, o satélite Cobe,
da Nasa, mostrou como era o Universo com 300 mil anos de idade, praticamente
logo após ele ter surgido. A imagem mostra um "calor" de -270,7 ºC
(em vermelho) espalhado por todas as direções do Universo — as regiões em azul
eram mais frias que isso.
Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004
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