Rodrigo Ratier
Essas impressionantes formações, que podem se estender por
uma área de vários quilômetros e reunir milhões de insetos, surgem quando
ocorre um aumento exagerado na quantidade de gafanhotos de uma região. Nesse
caso, como não há alimento suficiente para sustentar todos os insetos do bando,
o grupo se desloca em busca de comida, o que pode incluir plantações e áreas
agrícolas. Embora o bicho não cause doenças, o prejuízo econômico de uma nuvem
de gafanhotos pode ser enorme. Até agora, os cientistas sabem que esses surtos
de explosão populacional dos insetos estão relacionados a alterações
climáticas. Mudanças na temperatura, na umidade do ambiente ou no índice de
chuvas podem fazer com que mais gafanhotos nasçam a partir dos ovos postos
pelas fêmeas. Nem todos os tipos de gafanhotos, porém, formam essas nuvens de
ataque. "Das 400 espécies conhecidas, cerca de 50 são nômades e só umas
dez causam prejuízos às plantações. O problema é mais grave na África e na
Ásia. No Brasil, a única espécie nômade que se une em nuvens é a Rhammatocerus
schistocercoides, que vive no Mato Grosso", diz o biólogo Ivo Pierozzi
Júnior, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Campinas
(SP). As infestações de Rhammatocerus começaram com o avanço das plantações no
Centro-Oeste, no início dos anos 80. Antes, o bicho se alimentava do mato do
cerrado, um ecossistema que vem sendo devastado com a expansão da área
agrícola. Quando uma nuvem ataca, o único jeito é apelar para as aplicações de
inseticida, que diminuem a concentração de insetos, mas também agridem o
ambiente. "O ideal é impedir que as nuvens se formem, combatendo os
gafanhotos quando os grupos ainda são pequenos", afirma Ivo.
Bando faminto
Insetos brasileiros se deslocam dezenas de quilômetros por
dia 100 metros de altura.1. Uma nuvem de gafanhotos, como as da espécie brasileira Rhammatocerus schistocercoides, começa a se formar quando a população cresce e precisa buscar comida em outras áreas. Esse aumento no número de insetos nascidos depende do clima na hora da reprodução.
2. Depois de um mês, os ovos eclodem e dão origem a gafanhotos jovens, chamados de ninfas. Seu prato preferido são vegetais como o arroz, o milho e a cana. A essa altura, a busca por comida é feita por terra: como os gafanhotos ainda não têm asas, eles só pulam, movendo-se até 100 metros por dia.
3. Cinco meses após o nascimento, o gafanhoto já tem asas e mede de 5 a 7 centímetros. Se a concentração de insetos numa área for grande, eles se juntam em bandos e viajam em nuvens voadoras em busca de alimentos. Em suas jornadas, o Rhammatocerus chega a até 100 metros de altura e se desloca dezenas de quilômetros por dia.
4. No ataque às plantações, o gafanhoto brasileiro é um gourmet exigente: ele ataca apenas a base das espigas das plantas, porque é nessa região que se concentra a seiva bruta, o alimento rico em açúcares que vai nutrir os frutos. Depois de destruir a plantação, os insetos saem voando em busca de mais comida em outro lugar.
5. A única saída para combater as nuvens de gafanhotos é aplicar inseticidas nas plantações. Se nada for feito, a infestação acaba naturalmente no final do ciclo de vida do gafanhoto, que dura um ano e se encerra depois da reprodução.
Salto campeão
O segredo do pulo do
gafanhoto é o fêmur grosso, que, para o Rhammatocerus, possibilita saltos de
até 2 metros de altura e de distância.
Família grande
Uma fêmea de
Rhammatocerus costuma pôr 25 ovos a cada postura. Como elas se repetem ao longo
do dia, uma única fêmea pode liberar centenas de ovos em 24 horas.
Aventura alada
Cada gafanhoto possui
dois pares de asas, mas apenas as de trás mexem-se para cima e para baixo
durante o vôo. As asas da frente, que ficam paradas, servem para proteger e
sustentar o bicho no ar.
Corte afiado
Apesar de não ter
dentes, o gafanhoto rói o caule das plantas graças a dois pares de órgãos
cortadores, a mandíbula e a maxila. Eles arrebentam e trituram o caule,
facilitando a digestão.
Pragas bíblicas
Espécies egípcias
devastam a África.Segundo a Bíblia, a invasão dos gafanhotos é a oitava das dez pragas que Deus lançou no Egito para libertar o povo hebreu escravizado por um faraó. Pela área de ocorrência desses bichos, as espécies mencionadas no Antigo Testamento devem ser a Schistocerca gregaria e o gafanhoto conhecido como Locusta migratoria. Elas atingem altitudes de até 3 mil metros e pegam carona em correntes de ar. Os gafanhotos bíblicos viajam por milhares de quilômetros sem escalas de até três dias, cruzando o Atlântico.
Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004
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