A exploração do espaço – definida como a investigação do universo além dos limites da atmosfera da Terra, mediante o uso de satélites, foguetes, robôs e estações orbitais – teve início em outubro de 1957, quando a União Soviética lançou o primeiro satélite em órbita da Terra, o Sputnik-1. Era um aparelho rudimentar, uma esfera de alumínio de 58 centímetros de diâmetro, que pesava 84 quilos e portava apenas um termômetro e um transmissor de rádio.
Aquele pequeno instrumento colocou o “bloco capitalista” em polvorosa. Até aquela data, a propaganda americana descrevia o mundo comunista como “atrasado” no campo científico. Em tom de superioridade, o presidente Dwight Eisenhower havia anunciado, em junho de 1955, que os Estados Unidos lançariam o primeiro satélite fabricado pelo homem, para obter dados geofísicos sobre a Terra. Mas o Sputnik-1 foi lançado antes. Parecia a prova de que os comunistas eram capazes de derrotar o capitalismo.
E as coisas não pararam por aí. Um mês depois, em novembro de 1957, os soviéticos lançaram o Sputnik-2, um satélite de meia tonelada, capaz de transportar a cachorrinha Laika, que supostamente permaneceu viva dez dias no espaço, acoplada a instrumentos para medir sua pressão arterial, batimento cardíaco e outras reações neurofisiológicas. A mensagem era clara: os comunistas haviam conseguido tomar a dianteira dos Estados Unidos na corrida espacial.
Para compreender, hoje, o tremendo impacto psicossocial causado pelas proezas soviéticas na época, refletido nas manchetes dos grandes jornais, basta pensar que a conquista do espaço (e o eventual encontro com ETs) faz parte do imaginário humano desde sempre, como atestam o mito de Ícaro e, no período moderno, a ficção de Júlio Verne e H. G. Wells. Ou, ainda mais recentemente, a famosa transmissão ficcional de rádio feita pelo cineasta Orson Welles, que causou pânico nos Estados Unidos, em 1938, ao denunciar a invasão da Terra por marcianos, enredo do livro A guerra dos mundos, de H.G. Wells.
Para além dos significados científico e militar, a “corrida espacial” era um componente central da disputa ideológica no âmbito da Guerra Fria.
É claro que os Estados Unidos não poderiam tolerar a desmoralização inicial.
Eles tinham que reagir logo, e fizeram isso. Em dezembro de 1957, tentaram o seu primeiro lançamento. Menos de um segundo depois de decolar, o sistema composto pelo foguete e satélite caiu e explodiu.
Em janeiro de 1958, os americanos finalmente conseguiram colocar em órbita o satélite Explorer. Pesava meros 13,6 quilos e levava instrumentos para medir raios cósmicos, temperatura e colisões de micrometeoritos.
Mas em abril de 1961, de novo a União Soviética pregaria um grande susto nos Estados Unidos, colocando em órbita o cosmonauta Iúri Gagarin. A Casa Branca reagiu com força: em maio, o presidente John Kennedy prometeu que, no prazo máximo de uma década, um astronauta americano pisaria na Lua. O pouso de Armstrong foi o resultado dessa promessa.
Os soviéticos seguiram outro caminho. Preferiram evitar o confronto direto, enviando apenas robôs e máquinas em suas missões lunares. Assim, em 1966, o foguete Luna-9 pousou na superfície da Lua. Através de veículos monitorados a partir da Terra, os soviéticos colheram várias amostras do satélite.
Se a “corrida espacial” refletiu o auge das tensões entre as superpotências, também serviu para fazer propaganda da “distensão”. Em julho de 1975, astronautas e cosmonautas, americanos e soviéticos, acoplaram suas naves e se encontraram em pleno espaço, num ponto situado sobre o Atlântico, a mil quilômetros da costa de Portugal. Durante dois dias, as tripulações das duas naves realizaram cinco experimentos científicos e se visitaram mutuamente. A experiência foi um absoluto sucesso.
Novamente, aquilo que na aparência era pura ciência, no mundo real servia aos propósitos do jogo da Guerra Fria.
Boletim Mundo n°4 Ano 17
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