É quase impossível
estabelecer um valor definitivo - o máximo que se pode fazer é comparar,
naquele tempo e nos dias de hoje, o poder de compra da grana que Judas faturou.
Primeiro, vamos ao que diz a Bíblia. Na Judéia do século 1, Judas, um dos 12
apóstolos de Jesus, teria ganho 30 moedas de prata para entregar a identidade
de seu mestre aos sacerdotes judeus, lideranças religiosas de Jerusalém que
queriam matá-lo. Ao que tudo indica, o dinheiro do suborno era um pé-de-meia
bem razoável. "No Império Romano, do qual a Judéia fazia parte, as moedas de
prata eram comuns no comércio de elite, como na troca de terras, por exemplo.
Com as 30 moedas que Judas ganhou, dava para comprar uma pequena fazenda",
diz o historiador e especialista em moedas Cláudio Umpierre Carlan, do Museu
Histórico Nacional. Com os preços de sítios na atualidade, podemos tentar uma
aproximação de valores - lembrando sempre que estamos fazendo um exercício de
imaginação e não uma conta exata. Só para dar uma idéia, uma chácara de 1 000
m2 , com benfeitorias, próxima a Manaus, no Amazonas, sai por cerca de 20 mil
reais. Em uma área mais valorizada, como a zona rural de São José dos Campos,
no interior de São Paulo, uma chácara igual vale perto de 40 mil reais. Antes
de bater o martelo, porém, vamos analisar uma outra pista da Bíblia. Em seus
escritos, o evangelista Mateus afirma que Judas se arrependeu, devolveu o
dinheiro aos sacerdotes e se enforcou depois de ter traído Jesus. Com a grana
de volta, os religiosos teriam comprado um cemitério. No nosso paralelo com os
dias de hoje, um cemitério não muito grande, com espaço para 2 mil sepulturas,
ocupa uma área de 15 mil m2. Mas qual era o valor de uma área dessas no Oriente
Médio do século 1? "Como Jerusalém era uma cidade muito povoada, existiam
poucos terrenos vazios e eles não deviam ser muito baratos", afirma outro
historiador, André Chevitarese, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Comparando a Jerusalém do século 1 com uma metrópole em expansão nos
dias de hoje, como Ribeirão Preto (SP), chegaríamos a um outro valor hipotético:
nessa cidade, um terreno de 15 mil m2 , sem benfeitorias, custa cerca de 50 mil
reais. É o máximo que dá para especular sobre o "preço" de Jesus, já
que a Bíblia não oferece muitos detalhes sobre o episódio.
Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004
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