domingo, 1 de janeiro de 2012

CINCO ESTRATÉGIAS ENERGÉTICAS

Roberto Candelori

Os níveis de emissões de gases de estufa dependem da combinação de fontes de energia de cada país. É assunto de alta política, sob influência cada vez maior da “diplomacia climática”.
Desenvolvimento econômico e consumo de energia são quase sinônimos. Energia significa, na era industrial, sobretudo combustíveis fósseis – e, desde meados do século XX, principalmente petróleo. Portanto, as emissões de gases de estufa per capita são diretamente proporcionais ao PIB per capita das nações. Certo?
Nem tanto. As emissões per capita de CO2 nos Estados Unidos giram em torno de 20 toneladas métricas ao ano mas na França elas não ultrapassam 6,5 toneladas métricas. Como explicar uma diferença tão acentuada entre países desenvolvidos?
O petróleo, já chamado de “ouro negro”, continua a representar um elemento estratégico fundamental para o desenvolvimento das nações. Mas as matrizes energéticas nacionais apresentam profundas diferenças, que refletem a diversidade de recursos naturais disponíveis e também as políticas estratégicas adotadas pelos Estados. Investiguemos cinco casos exemplares.
Estados Unidos, campeão do efeito estufa Maior economia do mundo, os Estados Unidos, com apenas 5% da população do globo, consomem um quarto de todo o petróleo produzido no planeta. Sua matriz de energia baseia-se na queima de combustíveis fósseis, que responde por cerca de 85% da energia consumida.
Mesmo assim, os Estados Unidos se recusaram a assinar o Protocolo de Kyoto. Mas agora o presidente George W. Bush anunciou o programa “Vinte em dez”: o governo quer que o consumo de gasolina do país diminua 20% nos próximos dez anos. O etanol seria responsável por 75% da compensação dessa redução.
O Japão, sem paletó e gravata O Japão tem na queima de combustíveis fósseis, principalmente o petróleo, o eixo da sua matriz energética.
Signatário do Protocolo de Kyoto e detentor de uma das maiores economias do mundo, com um PIB que gira em torno de 4,6 trilhões de dólares, o Japão aparece entre os grandes emissores de gases de estufa. Mas suas emissões per capita são menores que as americanas, em virtude do peso maior da fonte nuclear.
O país se comprometeu a cortar suas emissões de gases de estufa em 6% até 2012. Até aqui, adotou apenas medidas tímidas. Numa iniciativa inusitada o presidente da Toyota Motor, a maior companhia do Japão, propôs em 2005 uma campanha nacional para convencer os cidadãos a poupar energia abandonando os paletós e gravatas no verão.
Essa “revolução indumentária” teria o propósito de reduzir o consumo nacional de ar condicionado.
A França e a alternativa nuclear Importante membro da União Européia e defensora ferrenha das metas de redução de emissões, a França preconiza ações enérgicas para conter o avanço do efeito estufa. O presidente Jacques Chirac declarou recentemente que “a carência cada vez maior de recursos e a luta contra o aquecimento global exigem uma revolução no nosso modo de produção e consumo”. Foi além e sugeriu nada menos que um comitê global de governança sobre o clima, algo que Washington jamais aceitará.
A França singulariza-se, entre as grandes potências globais, pelo peso dominante das usinas nucleares na sua matriz energética. A geração de energia nessas usinas não libera gases de estufa. Os ambientalistas sempre apontaram os riscos associados aos resíduos radioativos (o “lixo nuclear”) e combateram o programa elétrico francês. Mas, atualmente, abriu-se uma notável dissidência: o cientista James Lovelock, autor da Hipótese de Gaia e um ícone de movimentos “verdes”, pronunciou-se favorável à estratégia nuclear.
A China, ainda na era do carvão A China transforma-se, gradativamente, numa das maiores potências mundiais e já preocupa outros gigantes, como Estados Unidos e Japão. O volume das suas exportações tem aumentado, nos últimos anos, em ritmo vertiginoso, superior a 30%, inundando o planeta com manufaturados baratos.
Evidentemente, a demanda por energia aumenta em velocidade similar e, com ela, as emissões de CO2.
A matriz energética chinesa reflete o passado da era industrial, baseando-se no carvão mineral, o mais “sujo” dos combustíveis fósseis, e na queima doméstica de lenha e fezes de animais. Mas, nos últimos cinco anos, duplicaram as importações de petróleo.
O futuro das emissões globais de gases de estufa depende, em grande parte, da evolução da matriz chinesa.
A substituição do carvão consumido no país por petróleo é insustentável, dos pontos de vista econômico e ambiental. A introdução de fontes “limpas”, em larga escala, mudaria a face do país e do mundo.
O Brasil, líder na biomassa Na matriz energética brasileira, os derivados de petróleo respondem por mais de 40% da energia consumida.
A queima de óleo diesel impulsiona a maior parte do transporte nacional. Mas são as queimadas e o desmatamento os grandes vilões brasileiros no palco das emissões globais de gases de estufa.
Mas o Brasil também se distingue positivamente. A fonte hídrica responde por 15% do total e a biomassa, por mais de 25%. Por enquanto, o consumo de biomassa baseia-se no álcool de cana e na queima de carvão vegetal e lenha. Mas o país aposta na exportação de energias alternativas, principalmente os biocombustíveis.
No passado recente, as estratégias energéticas nacionais organizaram-se apenas ao redor de cálculos de custos e dos projetos de poder geopolítico. Atualmente, a escolha da matriz energética exige o compromisso com a busca de recursos de baixo impacto ambiental. Eis um dos grandes desafios do século XXI.
Boletim Mundo n° 1 Ano 15

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