Do ponto de vista cinematográfico, a Grande Guerra acabou sendo ofuscada pela atenção que se deu à Segunda Guerra Mundial. Assim, enquanto há um incontável número de filmes e documentários sobre a tragédia inigualável deflagrada em 1939, o primeiro grande conflito do século XX ficou relegado a um plano secundário.
As batalhas mais importantes daquele conflito aconteceram em território europeu, mas também ocorreram importantes confrontos bélicos em outras partes do mundo, como no Oriente Médio. Há dois interessantes filmes que retratam os eventos do teatro militar do Oriente Médio.
O primeiro é o célebre Lawrence da Arábia (David Lean, Grã-Bretanha, 1962). Neste filme, o personagem central é o polêmico oficial do exército britânico, T. E. Lawrence, um agente incumbido de tentar unir várias tribos árabes rivais com o intuito de combater as forças do Império Otomano, que tinham o domínio sobre amplas áreas do Oriente Médio. Britânicos e otomanos estavam em lados opostos na Grande Guerra e o controle das fontes do petróleo no que seria o Iraque era um objetivo estratégico de Londres.
O filme foi parcialmente inspirado na obra Os sete pilares da sabedoria, de autoria do próprio Lawrence. As cenas tendo a imensidão dos desertos do Oriente Médio como pano de fundo, junto com aquelas da conquista da atual cidade jordaniana de Aqaba pelos árabes comandados por Lawrence, estão entre as mais belas, numa obra que abocanhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e diretor.
Um filme muito menos conhecido é Galipoli (Peter Weir, Austrália, 1981), que teve Mel Gibson como ator principal, numa de suas primeiras aparições no cinema, bem antes de se tornar um fundamentalista cristão. O enredo articula-se ao redor de um grupo de jovens australianos que, em 1915, embalados pelo sonho de se converterem em heróis de guerra, se alistam no Corpo de Exército da Austrália e Nova Zelândia para, ao lado de soldados britânicos, lutar contra os otomanos na estratégica península de Galipoli.
Situada nas proximidades do Estreito de Dardanelos, a península de Galipoli domina, juntamente com o Estreito de Bósforo, a ligação entre os mares Egeu e Negro, permitindo o acesso à cidade de Istambul, à época capital do Império Otomano. Dezenas de milhares de jovens australianos morreram na batalha, vencida pelas forças otomanas sob a liderança de Mustafá Kemal Ataturk. Foi a primeira vitória militar otomana contra um exército europeu, em mais de três séculos.
Logo após o final da Primeira Guerra Mundial, com a derrota otomana, Ataturk foi o responsável por uma verdadeira revolução que pôs fim ao Império Otomano e levou à criação da República da Turquia, tal como conhecemos atualmente. Mesmo tendo morrido em 1938, Ataturk é objeto de veneração até hoje. Como prova, todas as cédulas e moedas da libra turca têm a efígie do líder histórico, que ganhou a alcunha de “Pai dos Turcos”.
Os principais combates em Galipoli ocorreram em abril de 1915. Em abril, todos os anos, australianos e neozelandeses visitam a península, na qual se encontram memoriais e cemitérios dedicados aos combatentes da terrível batalha. Galipoli assemelhou-se bastante às grandes batalhas de trincheiras que se verificaram em território europeu, como as do Somme e de Verdun (França), marcas registradas da Primeira Guerra Mundial.
Boletim Mundo n° 3 Ano 17
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