segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

REVOLUÇÃO, GUERRA E BARBÁRIE NO CINEMA

Há centenas de filmes que retratam cortes cruciais na história das nações – aqueles episódios definidores, que produzem memórias profundas e incidem sobre as próprias identidades coletivas. A equipe de Mundo selecionou três desses filmes, para ver e nunca esquecer.
● 1917, A REVOLUÇÃO RUSSA
Reds (vermelhos), dirigido por Warren Beatty, em 1981, conta a história do romance entre os jornalistas americanos John Reed (representado pelo próprio Beatty) e Louise Bryant (Diane Keaton). Reed é o autor de Os dez dias que abalaram o mundo, livro que o imortalizou sobre a tomada do poder por Lenin e os bolcheviques, em outubro de 1917. Assim como Reed, militante comunista e sindical nos Estados Unidos, a feminista Bryant foi influenciada pelo marxismo e pelo anarquismo.
O filme tem como pano de fundo a vida agitada da boemia nova-iorquina nos anos 10 do século passado, com seus militantes e intelectuais socialistas e anarquistas, além, é claro, dos cenários da Revolução Russa, com uma interessante reconstituição de época na União Soviética. Em virtude de Reds, Beatty chegou a ser perseguido pela extrema-direita dos Estados Unidos, que o acusou de ter feito um filme de “propaganda comunista”.
● 1968, A GUERRA DO VIETNÃ
A Guerra do Vietnã foi uma das mais emblemáticas do século XX. Durou mais de 10 anos, atravessando parte dos anos 60 e 70 e envolveu diretamente os Estados Unidos. As perdas americanas superaram 50 mil soldados, ao passo que as vítimas vietnamitas, do norte e do sul, ultrapassaram a casa de 1 milhão. No momento em que a situação no Iraque é cada vez mais complicada, não são poucos os que fazem analogias entre os dois conflitos.
Como era de se esperar, Hollywood retratou a Guerra do Vietnã em dezenas de filmes. Alguns favoráveis à intervenção, outros contrários à guerra e muitos outros que abordaram as seqüelas do conflito. Um dos mais importantes é Platoon (pelotão), de 1986, dirigido por Oliver Stone. A película é quase uma autobiografia do diretor, já que ele participou do conflito, como integrante das forças americanas, por cerca de um ano. Pode-se dizer que Platoon é uma visão condensada da guerra. Mesmo retratando um período curto, porém intenso do conflito, entre 1968 e 1969, mostra as contradições da sociedade americana no final daquela década de loucas esperanças e variados radicalismos.
No microcosmo do pelotão eclodem múltiplas tensões (ricos versus pobres, brancos versus negros, belicistas versus pacifistas, “certinhos” versus drogados), sintetizadas nas figuras de dois sargentos que tentam conquistar os corações e as mentes de seus soldados. Platoon foi, certamente, uma espécie de divisor de águas dos filmes sobre a Guerra do Vietnã.
● 1994, O GENOCÍDIO DE RUANDA
Hotel Ruanda, dirigido por Terry George e produzido nos Estados Unidos, em 2004, retrata a última etapa de um trágico percurso rumo à catástrofe: o genocídio dos tutsis, em Ruanda, entre abril e julho de 1994. Naqueles meses, diante do mundo inteiro e da indiferença criminosa da ONU e das grandes potências, milícias hutus, com ajuda do Exército e de milhares de pessoas comuns, assassinaram com facões quase um milhão de tutsis.
Censo, documento, vingança, sangue. O filme não se deixa enganar pela versão oficial que registra um suposto ódio ancestral entre etnias em Ruanda. Hutus e tutsis não são grupos
étnicos, mas estamentos tradicionais da antiga sociedade de castas do “país das mil colinas”. As “etnias” e o ódio foram construídos nos tempos coloniais, pela administração belga, por meio de censos e documentos. O regime hutu de Ruanda independente apropriou-se da construção belga para acender a chama da vingança.
Tudo isto aparece, discreta e sutilmente, num filme que não é um documentário mas se baseia na história real do gerente de hotel hutu que salvou as vidas de centenas de tutsis na hora da tragédia. Todos devem assistir “Hotel Ruanda”. Mas ele é recomendável, especialmente, aos políticos, intelectuais e militantes que brincam de construir identidades raciais. Ruanda fez isso e deu no que deu.

Boletim Mundo n° 2 Ano 15

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