Por conta do processo histórico de ocupação humana e valorização econômica do seu território, que incluiu aquisição, conquista e anexação de terras de potências européias, dos habitantes originais e do México, os Estados Unidos se tornaram o quarto país do mundo em extensão. Entre as vantagens naturais advindas desse vasto território inclui-se um expressivo estoque de recursos hídricos.
Com cerca de 9,5 milhões de km2, no território americano são encontradas algumas bacias hidrográficas, como as do Mississipi-Missouri e a do São Lourenço, que estão entre as mais extensas do mundo. Se a bacia do Mississipi é integralmente americana, outras são partilhadas com os países vizinhos – como é o caso das do São Lourenço e Colúmbia, com o Canadá, e da dos rios Grande e Colorado, com o México.Situada no sudoeste do país, a bacia do Colorado abrange uma área de 632.000 km2, superfície pouco maior que a da Região Sul do Brasil. As águas dos rios da bacia drenam áreas de sete estados americanos: Califórnia, Nevada, Colorado Utah, Novo México, Wyoming e Arizona. Nos últimos 80 quilômetros de seu curso, o Colorado atravessa terras do México. Denominado “Nilo americano”, o Colorado tem suas nascentes nas Montanhas Rochosas, no estado que lhe dá o nome, apresenta direção geral nordeste- sudoeste e deságua no Golfo da Califórnia, após percorrer cerca de 2,3 mil quilômetros. Seu regime é plúvio- nival e a maior parte da área da bacia apresenta a dominância de climas áridos e semi-áridos, com chuvas escassas e irregulares, fato que não impediu a região de se tornar uma das mais ricas e dinâmicas do planeta.
Nas últimas décadas, os estados do sudoeste dos Estados Unidos, todos eles possuindo parte de seus territórios no interior da bacia, viram sua população crescer exponencialmente, como foi o caso da Califórnia, o mais populoso do país, cujo contingente demográfico multiplicou-se quase cinco vezes no decorrer dos últimos 60 anos. A população que vive na área da bacia, somada àquelas que são abastecidas pelas águas do rio através de canais e aquedutos, como ocorre com as cidades de Los Angeles e San Diego, é estimada em mais de 30 milhões, ou cerca de 10% do total do país.
A questão do uso e exploração da água do Colorado suscitou, ao longo do tempo, dois tipos de situações hidro- conflitivas: a primeira, de caráter interno, entre os estados americanos drenados pelos rios da bacia; a segunda, entre os Estados Unidos e o México. No plano interno, pressões ligadas a interesses em usufruir os recursos hídricos por parte dos vários estados levaram, em 1922, a um plano de partilha das águas do rio que, em 1944, envolveu também o México.
As demandas de água provocaram a construção de barragens e canais ao longo do curso do rio, que contribuíram para gerar riquezas, mas também, uma utilização predatória dos recursos hídricos, tornando-os cada vez mais escassos.
O Projeto Big Thomson, no estado do Colorado, consistiu na construção de um canal subterrâneo, na cota de 3 mil metros de altitude, destinado a irrigar as terras da região de Denver. No estado vizinho do Arizona, a barragem Glen Canyon criou o Lago Powell, um reservatório cujo volume de água representa dois anos do débito médio do rio.
Ainda no Arizona, a barragem Hoover gerou o Lago Mead, que alimenta o “delírio” aquático dos hotéis e das piscinas particulares da cidade-cassino de Las Vegas. O Projeto Arizona Central, um aqueduto de 536 quilômetros, foi construído para irrigar o oásis da região de Phoenix e fornecer água potável para a cidade. Já o Aqueduto do Rio Colorado, com 387 quilômetros, serve as cidades de Palm Springs, Los Angeles e San Diego, além de irrigar 200 mil hectares de terras agrícolas. Por fim, os canais All American e Coachella foram edificados para alimentar o Vale Imperial, a maior superfície irrigada do país, onde se cultivam frutas, legumes, arroz e algodão.
A “sedenta” Califórnia não só consome as águas que foram destinadas a ela pelos acordos de uso como também compra volumes crescentes de estados vizinhos que não usam integralmente suas cotas. Além disso, anseia por projetos de transposição de águas vindas de regiões e estados exteriores à bacia.
Por muito tempo os Estados Unidos usaram das águas do Colorado tendo em conta exclusivamente uma perspectiva nacional e fingindo ignorar que a parte final do Colorado drena terras mexicanas.
Só em 1944 é que o governo americano atendeu às constantes demandas do México, que “recebia” quantidades cada vez menores de água do rio. O acordo assegurou 1,8 milhão de km3 de água por ano, mas não tocou no aspecto crucial da qualidade da água que, ano após ano, ficava mais salgada e saturada de produtos químicos tóxicos decorrentes do intenso uso de fertilizantes e defensivos agrícolas a montante.
Em 1973, depois de anos de protestos, os Estados Unidos se responsabilizaram pela garantia da qualidade da água que chegava ao México, construindo uma usina de dessalinização na cidade de Yuma, junto à fronteira entre os dois países. Mais recentemente, um novo problema que afeta os vizinhos foi detectado: em virtude provavelmente de efeitos do aquecimento global, parte dos glaciares que alimentam o Colorado têm se reduzido bastante.
Como o consumo e o desperdício continuam a crescer, não é difícil prever tempos difíceis para a região.
Boletim Mundo n° 4 Ano 17
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