quinta-feira, 29 de março de 2012

La Boca argentina

Eduardo Szklarz

Time mais popular da Argentina, o Boca Juniors não é apenas futebol. “É um sentimento”, diz uma das inúmeras canções entoadas com orgulho por milhares de torcedores que a cada jogo lotam as arquibancadas da “caixa de bombons”, como é chamado seu estádio. E é justamente sob as arquibancadas de La Bombonera que esse sentimento é homenageado e preservado. Ali, desde 3 de abril de 2001, funciona o Museu da Paixão Boquense.
Mas, apesar do nome, não é preciso amar o Boca (ou a Argentina) para se divertir por lá. Basta amar o futebol. Nos dois andares do museu, é ele o principal homenageado em salas e estandes que em nada lembram o formalismo estático dos museus tradicionais. Músicas, fotos e imagens acompanham o trajeto do visitante do início ao fim. O museu recebe por ano uma média de 120 mil curiosos em saber a história do atual campeão mundial interclubes.
Localizado próximo ao centro de Buenos Aires, na Boca, tradicional bairro de descendentes de italianos, nem sempre o endereço do sentimento boquense foi tão elegante. No início do século 20, havia ali um estábulo que transformava o apetite dos cavalos em fertilizante para as plantas do bairro. É por isso que, enquanto os torcedores do River Plate são conhecidos por millonarios, os do Boca respondem por um codinome esquisito: bosteros.

Na casa do lobo
Um século de história do Boca Juniors.

1. O templo
O museu oferece uma visita ao estádio La Bombonera. O desenho original previa que ele fosse redondo, mas a Prefeitura de Buenos Aires não permitiu que a construção avançasse sobre as ruas do bairro. A forma, que lembra um semicírculo, e a grande inclinação das arquibancadas lhe deram a aparência de uma caixa de bombons (daí o nome). Os brasileiros costumam não ter boas lembranças do local, mas foi ali que o Santos se sagrou bicampeão das Américas, em 1963, vencendo o Boca por 2 a 1.

2. A história
Monitores de TV mostram o que acontecia no século 20 enquanto o Boca arrebatava troféus. O time ganha a Libertadores em 1978, ano em que a seleção argentina se consagra campeã do mundo. Em 1989, cai o Muro de Berlim e o Boca faz cair os rivais da Supercopa. Em 1990, Mandela sai da prisão, o Iraque invade o Kwait, a Alemanha se reunifica, Mikhail Gorbachev ganha o Nobel da Paz e o Boca festeja mais uma: é campeão continental.

3. Ídolos
A parede “Os Protagonistas” mostra fotos dos mais de 800 jogadores que atuaram oficialmente pelo clube, que completará seu centenário em abril de 2005. Roberto Mouzo detém o recorde de participações: 426 partidas. Pancho Varallo é o maior goleador, com 181 gols em 209 jogos. Considerado o maior zagueiro do futebol brasileiro, o carioca Domingos da Guia também deixou saudade em solo argentino. Marcou 56 gols com a camisa azul e amarela do Boca.

4. A madrinha
Torcedora fanática, Eva Duarte Perón tinha camarote exclusivo em La Bombonera. Os bosteros dizem que ela gostava mais de futebol que seu marido, o ex-presidente e general Juan Domingo Perón. O museu guarda a capa histórica da revista El Gráfico em que a primeira-dama, de shortinho e sandália, faz embaixadinhas ao lado do craque Bernardo Gandulla.

5. Vestindo a camisa
Por fora, uma bola gigante. Por dentro, um cinema de 360 graus que faz do visitante o astro do filme. O roteiro inclui todas as fases vividas por um jogador de verdade: o primeiro treino, as orientações do técnico, a escalação e a esperança de ser titular. Finalmente, vem a grande chance de entrar em campo, driblar os adversários e marcar o gol para a alegria da Numero 12, a torcida do Boca.

6. O bairro
A maquete do bairro portuário de La Boca reproduz os casebres e as cores pinceladas pelos imigrantes italianos no Caminito, o berço do tango. No final do século 19, o bairro recebeu grande fluxo de genoveses, conhecidos como xeneizes. Em 1882, eles içaram a bandeira de Gênova e proclamaram a República Independente de La Boca. O presidente argentino Julio Roca chegou em seguida para distribuir cartão amarelo aos rebeldes.

7. Bola na rede
Terminais interativos mostram alguns dos gols inesquecíveis do time, como os famosos “Dançando na Chuva”. Numa noite fria de 1976, o Boca ganhou do Unión de Santa Fé por 2 a 0 com gols de Jorge Benítez e Carlos Veglio. Quando terminou o jogo, os torcedores estavam empapados pela chuva e pelas lágrimas, mas não quiseram ir embora. Preferiram cantar e dançar junto com a equipe.

8. A taça deles
O visitante pode levantar o troféu da Copa Libertadores de 2003, que o Boca Juniors levou para casa ao vencer o Santos por 3 a 1, no Morumbi. O museu também exibe um pedaço de madeira do Morumbi, que um fanático do Boca levou de recordação da final da Libertadores de 2000, contra o Palmeiras. Mas a taça do mundo é nossa.

9. As cores
Um mural revela a evolução do uniforme xeneize. No início, o Boca usava uma camiseta preta e branca igual à do Nottingham, de Buenos Aires. Para decidir quem ficava com as cores, os dois times foram a campo. O Boca perdeu e seu dirigente Juan Brichetto disse que adotaria as cores da bandeira do primeiro navio que entrasse no porto. A chegada de um barco sueco definiu o azul e amarelo.

10. Camisa dez
Maradona tem seu Olimpo particular, onde estão as camisas que ele usou em dois jogos memoráveis: a final da copa argentina de 1981, contra o River Plate, e a última partida que disputou pelo Boca, em 1997, contra o Belgrano. Apesar disso, ele nunca visitou o museu do Boca


Revista Aventuras na História n° 013

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