quinta-feira, 29 de março de 2012

A primeira mina terrestre explodiu há quase 150 anos

Fábio Marton

A cena se passa em uma praia da Virgínia, sudeste dos Estados Unidos, durante a Guerra Civil Americana (1861-1865). A cavalaria da União avança contra uma pequena tropa dos Confederados, do sul. De repente, um estrondo, uma nuvem de areia e gritos entre os soldados do norte – um cavalo está destroçado e seu cavaleiro, mutilado, agoniza. Era 4 de maio de 1862, data em que oficialmente ocorreu a primeira morte por minas terrestres automáticas da história.
Como acontece hoje, houve indignação nos dois lados. “Isso não é guerra, é assassinato” – comentou o general do norte William Sherman. Mesmo oficiais sulistas, como James Longstreet, para quem as minas eram um meio “impróprio e ineficiente” de guerrear, tentaram bani-las, mas o lado prático falou mais alto: milhares delas seriam usadas durante a guerra.
Concebidas como armas defensivas, as minas passariam, na segunda metade do século 20, a ser usadas ofensivamente, como tática de guerrilha ou terrorismo. No primeiro caso, uma tropa guerrilheira efetua um ataque de provocação à tropa adversária e foge, deixando minas atrás de si. Na versão terrorista, trilhas civis ou campos de cultivo são minados como forma de apavorar a população. Existem hoje cerca de 100 milhões de minas terrestres espalhadas pelo mundo, segundo o Departamento de Estado americano. A Cruz Vermelha Internacional afirma que elas afetam 70 países, matando uma pessoa a cada 22 minutos.

Campo minado alemão virou parque
Durante a Guerra Fria, toda a fronteira de 1700 quilômetros entre as duas Alemanhas era rigorosamente controlada pelo lado oriental. Campos minados e postos de metralhadoras tornaram a região fronteiriça uma terra de ninguém: nenhuma plantação e nenhum aglomerado urbano estendia-se por aqueles lados. O que era um horror para os humanos tornou-se algo muito interessante para a natureza: a fauna e flora nativas voltaram a crescer nessa região desabitada. A partir dos anos 90, o governo alemão, já unificado, criou 174 reservas ambientais no lugar. Elas cobrem metade do antes chamado “cinturão da morte”.

Brinquedos assassinos
• Os primeiros artefatos de guerra que podem ser considerados minas surgiram no Egito no século 6 a.C. Dispostas no caminho das tropas inimigas, elas mantinham sempre um espinho para cima, ferindo soldados ou cavalos. Dispositivos semelhantes foram usados para conter tanques na Segunda Guerra
• A primeira mina de fragmentação foi criada pela Alemanha em 1944. Ela disparava uma carga propulsora que lançava o explosivo propriamente dito até uma altura de 1 metro. Preso à caixa original por uma corda, ele explodia liberando fragmentos que matavam soldados a até 150 metros de distância
• Em 1979, a União Soviética criou uma pequena mina, a PFM1, conhecida como “Borboleta”, que rendeu fatos infames. Cabendo na palma da mão, ela levou muitas crianças no Afeganistão a confundirem-na com um brinquedo. Apesar disso, é um caso raríssimo de mina com dispositivo de autodestruição 24 horas após lançada.

Revista Aventuras na História n° 013

Nenhum comentário:

Postar um comentário