quinta-feira, 29 de março de 2012

O cerco a Lampião

Tâmis Parron

Depois de 18 anos de cangaço, Virgulino Ferreira da Silva já tinha levado balaços no ombro e na virilha e perdido o olho direito. Mas ninguém acreditava que Lampião morreria. Nem Joca Bernardes, que mostrou à polícia o esconderijo dele e de seu bando: a fazenda Angico, em Sergipe. Após a denúncia, uma equipe partiu da cidade de Piranhas (AL), para cortar a cabeça do cangaceiro.
Depois de saques, estupros, sequestros e mortes em sete estados nordestinos, parecia que tudo conspirava para que o Rei do Cangaço morresse entre 5h e 5h30 de 28 de julho de 1938. Lampião e seu grupo dormiram no leito seco de um rio, cercados por xiquexiques e aroeiras ao fundo e encostas aos lados. Naquela madrugada, sinos amarrados em arames ao redor da toca não foram instalados. E até os cães, que costumavam latir diante de intrusos,n permaneceram misteriosamente quietos.

A última batalha
Quinze minutos que silenciaram o cangaço.

1. Corpo fechado
Às 5 horas, os 49 policiais se dividem em quatro grupos. O que avança pelo leito seco do rio chega antes ao esconderijo. Os soldados dão de cara com o cangaceiro Amoroso, que buscava água para o café, e começam a atirar. A 2 metros dos policiais, ele não é atingido.

2. Queixo de vidro
Acordado pelos tiros, o grupo reage a bala. Em 15 minutos, 11 dos 30 homens e seis mulheres são mortos. Lampião, em frente a sua barraca, é um dos primeiros a cair, atingido por tiros no tórax e na cabeça. Todos os capturados são decapitados.

3. Duelo
O policial Adrião de Souza espanca o cangaceiro Mergulhão, dizendo “Morre, bandido da peste!”. A humilhação provoca o cangaceiro Balão, que parte para um corpo-a-corpo com o policial. Na confusão, cada um encosta o fuzil no outro. Mergulhão leva um tiro na perna; Adrião, um tiro fatal. Foi o único policial a morrer no cerco.

4. Cara- de- pau
Como as roupas dos cangaceiros são pouco diferentes da indumentária policial, que já adotara o chapéu de couro e as perneiras, o cangaceiro Zé Sereno tem uma idéia marota. Corre em direção aos policiais dizendo “não atirem, sou companheiro”. Consegue passar entre eles e fugir.

5. Degolada viva
Maria Bonita é ferida no ventre e nas costas logo no início do ataque, mas se mantém consciente. A mulher de Lampião agonizou até o último estampido de fuzil. Foi degolada pelos policiais  ainda viva, gritando e esbracejando.

6. Palavra de macho
Fugindo dos tiros, Luiz Pedro, braço direito de Lampião, teria ouvido de Maria Bonita: “Luiz, você não prometeu morrer quando Lampião morresse?”. O jagunço lembra da promessa ao chefe e marcha rumo aos policiais. “Um pernambucano morre, mas não quebra a palavra”, teria dito antes de morrer.

7. O melhor amigo do homem
Quando o tiroteio acaba, os homens do governo avançam sobre o corpo de Lampião para cortar-lhe a cabeça. É quando os cães do bando se põem de guarda, latindo ao lado do cadáver. Os policiais decidem descarregar chumbo nos animais para poder decapitar o rei destronado.

8. Tesouro pirata
Duas máquinas de costura e algumas moedas de ouro antigas (uma de 1776) são retiradas do esconderijo. A polícia consegue encher duas bacias com jóias e 5 quilos de ouro. Com Lampião, são achados 1000 contos de réis, o que, segundo o historiador Antônio Amaury de Araújo, valem hoje cerca de 4 milhões de reais.

Revista Aventuras na História n° 013

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