sábado, 10 de agosto de 2013

China: Império sem fim

Rodrigo Cavalcante

Quando a China se tornar a maior potência mundial, o país estará ocupando um lugar que já foi dele. Conheça a trajetória do Império Chinês - que, durante séculos, esteve muito à frente do Ocidente.
Em 1989, o mundo assistiu à derrocada dos governos comunistas. Hungria, Polônia, Bulgária, Checoslováquia, Romênia e Alemanha Oriental: um a um, eles foram caindo, assim como o Muro de Berlim. Em Moscou, a abertura promovida pelo líder Mikhail Gorbachev dava sinais de que a ânsia por mudanças estava escapando do controle das autoridades – o que levaria, dois anos depois, à extinção da União Soviética. Na China, porém, o desfecho de 1989 foi bem diferente.
Entre abril e junho, milhares de estudantes chineses acampados em frente à sede do governo, na praça da Paz Celestial, em Pequim, acreditaram que a onda de liberdade também chegaria ao país. A esperança foi enterrada na virada de 3 para 4 de junho, quando o exército “dispersou” os estudantes com seus tanques. Até hoje, ninguém sabe quantos morreram no massacre da praça da Paz Celestial (as estimativas oscilam entre 300 e 7 mil vítimas). Dezoito anos depois, é perturbador constatar que o governo chinês tenha alcançado sua meta: manteve a unidade da China e levou o país a um ritmo de crescimento tão espetacular que boa parte do mundo prefere esquecer a carnificina e pegar carona na pujança chinesa.
Mas como explicar, afinal, que mais de 1 bilhão de habitantes tenham sido controlados com tamanha facilidade após o exército atirar a sangue frio em estudantes? O que permite à China desafiar a lógica do Ocidente, aliando a repressão das liberdades individuais a uma economia de mercado agressiva? É provável que ao menos parte da resposta esteja no passado imperial do país. “Os chineses sempre tiveram a consciência de que foram o centro do mundo e de que apenas um poder unificado seria capaz de impedir a desintegração de seu gigantesco território”, diz o pesquisador Severino Cabral, fundador do Instituto Brasileiro de Estudos da China, Ásia e Pacífico (Ibecap) e membro permanente da Escola Superior de Guerra.
Hoje, os historiadores sabem que a unidade desse império já estava consolidada desde o século 3 a.C., quando a China se tornou uma potência sem concorrentes. A revelação foi confirmada por um dos mais importantes achados arqueológicos do século 20, feito por acaso nos arredores da cidade de Xiang, na China central, há pouco mais de 30 anos.

O primeiro imperador
Eles literalmente emergiram da terra. Ao escavar um poço nas cercanias de uma muralha, em 1974, um grupo de moradores da cidade de Xiang encontrou cabeças de estátuas. Em seguida, surgiram mais cabeças, troncos e membros, até arqueólogos concluírem que ali havia um exército com mais de 7 mil soldados de terracota em tamanho natural, ao lado de cavalos do mesmo material e armas de bronze. Pesquisadores concluíram que eles foram enterrados em nome do primeiro imperador da China, Shi Huangdi, da dinastia Qin (que durou de 221 a 210 a.C.). “Ele centralizou e fundou a base do que hoje chamamos de China”, afirmou Harry Gelber, professor de Relações Internacionais da Universidade de Boston e autor de diversos livros sobre a China, em entrevista publicada na edição de setembro da revista inglesa BBC History.
Para unificar a China, o imperador precisou controlar o poder dos governantes locais. Ele dividiu o Estado em 36 capitanias, cada uma liderada por um governante civil e com um comandante militar (havia também um inspetor imperial para fiscalizar o trabalho do governador). A escrita foi padronizada, assim como pesos, medidas e moedas. Mais de 6 mil quilômetros de estradas foram construídos – tanto quanto no Império Romano – e canais foram abertos para permitir a navegação pelos rios. Em matéria de inovação artística, a descoberta dos guerreiros de Xiang revelou uma sofisticação inimaginável para os padrões da época. “Até meados do século 20, historiadores da arte sequer acreditavam que existissem esculturas na China durante esse período”, escreveu o historiador americano John King Fairbank em seu clássico China – Uma Nova História.
Entretanto, de acordo com os historiadores, não foi apenas a centralização política a responsável pela unificação da China. O “cimento” da cultura chinesa seria reforçado por uma série de tradições filosóficas – sendo uma das mais importantes a do pensador chinês Kung Futsu, conhecido no Ocidente como Confúcio.

Hierarquia divina
Não há como entender a unificação da China sem o confucionismo. “Seria o mesmo que estudar o Ocidente sem levar em conta o papel do cristianismo”, compara o professor Harry Gelber. Mas, diferentemente do cristianismo, o confucionismo não é propriamente uma religião. Está mais para uma grande visão de mundo que inclui ética, ideologia política, orientações para o relacionamento familiar e outros princípios baseados nos ensinamentos de Confúcio, que viveu entre 551 e 479 a.C.
Confúcio se considerava um mensageiro de velhas tradições, resgatando as raízes de rituais que deviam ser seguidos por cidadãos e governantes. Na base do código confucionista está o respeito a uma hierarquia cósmica em que cada pessoa tem seu lugar e deve venerar quem lhe é superior e cuidar de quem lhe é inferior. “Os pais eram superiores aos filhos, os homens às mulheres, os reis aos súditos”, escreveu Fairbank. “Se todos cumprissem seu papel, a ordem social se conservaria.”
Para o imperador, é claro, o confucionismo assegurava a legitimidade de seu governo, baseado na idéia de mandato divino. Isso não significa, entretanto, que esse mandato não pudesse ser ameaçado. Caso o governante não aparentasse seguir corretamente o código moral confucionista, seu império poderia ser tragado pelo caos gerado por desequilíbrios cósmicos – o que fazia com que uma enchente, por exemplo, pudesse ser vista como uma prova de que o imperador, digamos assim, havia quebrado o decoro divino.
Desejando evitar esse tipo de dúvida, os imperadores se apropriaram do código confucionista e o levaram para dentro do Estado, fazendo com que as leis e o treinamento dos funcionários do Estado fossem inspirados nesses preceitos. Com o fim da dinastia Qin, esse sistema foi usado por seus sucessores. A começar pela dinastia Han (vigente entre 206 a.C. e 220 d.C.), eles preservaram a unidade da China e expandiram seu poder nos séculos seguintes.
Apesar de a dinastia Han ter tentado manter o controle sobre a venda de mercadorias, comerciantes enriqueceram com a exportação dos primeiros artigos chineses a ganhar fama mundial (veja o quadro abaixo). A rede de caminhos por onde esses produtos viajavam até a Europa seria conhecida mais tarde como a Rota da Seda, primeiro elo comercial entre a China e o Ocidente. Por ela passaram não apenas mercadores, mas novas idéias e religiões, como o budismo, que veio da Índia para, a partir do século 5, se somar ao confucionismo nos fundamentos do pensamento chinês.

Vanguarda mundial
Uma das mais importantes inovações nascidas na China soa um tanto burocrática, mas foi fundamental para o desenvolvimento do império. Durante a dinastia Tang (618-907), os funcionários do Estado passaram a ser contratados por meio de exames (semelhantes aos atuais concursos públicos), algo que só iria se generalizar no Ocidente lá pelo século 19. Inicialmente, o processo de recrutamento era apenas uma formalidade – já que, na prática, a linhagem familiar e os contatos sociais prevaleciam. Pouco a pouco, entretanto, os administradores foram se profissionalizando, o que aumentou a eficiência do governo chinês e ajudou a conduzir o país a uma espécie de “idade de ouro”, vivida do século 10 até o século 13 – período em que a Europa medieval passava pela “idade das trevas”.
Não foi por acaso que, no início do século 14, os relatos das viagens ao Oriente atribuídos ao veneziano Marco Polo maravilharam os europeus como se fossem livros de ficção. Ao chegar à China, em 1275, ele teve contato não apenas com a já famosa produção de seda e porcelana, mas com inovações como a bússola magnética, livros impressos, embarcações bem mais sofisticadas que as galeras mediterrâneas, explosivos, complexas redes de canais fluviais e uma indústria metalúrgica cuja produção anual de 125 mil toneladas somente seria equiparada pela Inglaterra no século 18, décadas após o início da Revolução Industrial. Parecia que o veneziano não havia retornado de uma visita ao Oriente, mas de uma viagem ao futuro.
Boa parte do que Marco Polo viu e relatou ainda eram os efeitos do renascimento tecnológico e cultural vivido durante a dinastia Song, que tivera seu auge no século 11. Mas esse apogeu não incluíra o campo militar: a inferioridade chinesa havia dado espaço para que a nação fosse invadida em 1234 e, quatro décadas depois, dominada pelos mongóis – quando Marco Polo esteve por lá, o imperador da China era o mongol Kublai Kahn. “Mas, ao contrário do que costuma acontecer nesses casos, foram os invasores que terminaram sendo absorvidos pela força da tradição chinesa, fazendo com que a corte incorporasse a cultura do império”, diz Severino Cabral. O fato é que, ao retomarem o poder com a dinastia Ming, em 1363, os chineses pareciam prontos (inclusive pela tecnologia naval) a dominar o mundo.
Em seu clássico Ascensão e Queda das Grandes Potências, o historiador americano Paul Kennedy escreveu: “De todas as civilizações do período pré-moderno, nenhuma parecia mais adiantada, nenhuma se sentiu tão superior quanto a China”. E completou: “Sua população considerável, de 100 milhões a 130 milhões de habitantes, em comparação com os 50 milhões da Europa no século 15, sua cultura notável, suas planícies férteis e irrigadas e sua administração unificada, hierárquica, gerida por uma burocracia confuciana bem educada, tinham dado à sociedade chinesa uma coesão e um requinte que constituíam motivo de inveja para todo visitante estrangeiro”. Diante desse diagnóstico, como explicar que pequenos países europeus, como Espanha e Portugal, viessem a superar a China na expansão de seus domínios pelo planeta?

A última dinastia
Eram cerca de 1350 navios de combate e 250 barcos destinados a viagens longas. Historiadores estimam que, no início do século 15, durante o período Ming, a China era a maior potência naval do mundo – para fazer uma comparação, a famosa armada espanhola reuniria, em 1588, pouco mais de 130 embarcações. Entre 1405 e 1433, os chineses empreenderam sete expedições de longa distância lideradas pelo almirante Zheng He. As viagens foram do sudeste asiático ao golfo Pérsico, chegando à costa oriental da África décadas antes de os portugueses se aventurarem por lá. De acordo com a polêmica tese do historiador inglês Gavin Menzies, autor de 1421 – O Ano em Que a China Descobriu o Mundo, uma das expedições de Zheng He teria inclusive chegado à América.
Menos de um século depois dessas expedições, os chineses perderam a dianteira naval para os europeus. De acordo com os historiadores, uma das explicações para o recuo da expansão marítima chinesa – e a conseqüente perda de sua liderança mundial – seria a excessiva centralização do poder. Uma única decisão do imperador decidia o destino de todo o enorme território chinês e inibia iniciativas individuais. Foi exatamente isso que aconteceu após as navegações de Zheng He. “A expedição chinesa de 1433 foi a última delas e três anos depois um edito imperial proibiu a construção de navios de alto-mar”, escreveu o historiador Paul Kennedy. “Apesar de todas as oportunidades que se ofereciam no além-mar, a China tinha decidido voltar as costas para o mundo.”
Uma razão para a retração naval teria sido a necessidade de concentrar esforços militares nas fronteiras do norte, onde os mongóis continuavam ameaçando invadir a China. Além disso, os burocratas chineses tradicionalmente viam o comércio como atividade pouco nobre. Para eles, as expedições deveriam ter caráter exclusivamente diplomático. “Com a vitória da anticomercialização e da xenofobia, a China retirou-se do cenário mundial”, escreveu o historiador John King Fairbank.
Mesmo após a dinastia Qing, iniciada em 1644, ter revigorado o país, a China não conseguiria mais acompanhar o crescimento das potências do Ocidente. “Nesse período, a China teve de se adaptar para tentar digerir a nova dinâmica iniciada com o advento da Revolução Industrial”, afirma o professor Severino Cabral. E isso aconteceu da pior forma possível. Durante o século 19, após diversas invasões, o país parecia prestes a se desintegrar: era controlado no norte pelos alemães, no centro pelos britânicos e no sudoeste pelos franceses. Nada menos que 50 portos chineses estavam nas mãos de estrangeiros.
Quando o último imperador, Pu-Yi, deixou o trono aos 5 anos após um motim de seus oficiais, em 1911, ninguém sabia como a China se manteria unida. Após as duas Guerras Mundiais e décadas de guerra civil, a China voltaria a encontrar um eixo unificador pelas mãos do líder comunista Mao Tsé-tung, que proclamou em 1949 a República Popular da China. “É inegável que o governo comunista se assemelha, em muitos aspectos, a uma nova dinastia”, diz Severino Cabral. “Com as reformas econômicas empreendidas por Deng Xiaoping [o sucessor de Mao] no fim dos anos 1970, a China tem desafiado aqueles que acreditavam que o capitalismo era incompatível com a ética confuciana.”
Uma das últimas vezes em que a estabilidade do regime centralizado foi posta em dúvida foi justamente quando os estudantes chineses saíram às ruas por mais liberdade, em 1989. Para a maioria do povo chinês, entretanto, o medo ancestral do caos e da desintegração do país aparentemente foi mais forte que a indignação pela morte daqueles jovens. Nos últimos 2 mil anos, afinal, o massacre da praça da Paz Celestial foi apenas mais um teste para um monolítico e milenar império que, às vezes, parece não ter fim.

Made in China
Séculos atrás, os produtos chineses já faziam sucesso no Ocidente.
No fim de 2004, a jornalista americana Sara Bongiorni resolveu fazer uma experiência inusitada: viver um ano com sua família sem consumir produtos importados da China. O resultado foi o livro A Year Without “Made in China” (“Um ano sem ‘feito na China’”, inédito no Brasil), em que ela revela as dificuldades que viveu no período. “Tecnicamente, é possível viver sem produtos chineses, mas sua vida não vai ser nada normal”, disse a jornalista em entrevista à revista americana Newsweek, em agosto deste ano. “Nós conseguimos, em parte, por sorte. Não tivemos que comprar um telefone celular novo que, até onde eu saiba, vem sempre da China.” Dois mil anos antes de os produtos chineses invadirem as prateleiras de todo o mundo, a China era invejada no Ocidente por seu pioneirismo. Para quem vive no século 21, talvez seja difícil imaginar a revolução que artigos como a seda e a porcelana provocaram no Ocidente. No caso da seda, sua leveza, brilho e textura tornaram-se ícones do desejo da elite romana no auge do império. A porcelana, por sua vez, representava o que havia de mais moderno na aliança entre design e tecnologia para o uso doméstico. O processo de vitrificação da cerâmica, efeito que torna os pratos lisos e fáceis de limpar, significou uma baita evolução para quem estava acostumado com a porosidade dos utensílios de barro, que absorviam os restos de alimentos.Além da seda e da porcelana, devemos aos chineses a invenção do papel (e do papel-moeda), da pólvora, da bússola e do leme em embarcações. Eles também desenvolveram a arte da impressão, a técnica para a construção de canais e, não menos importante, o hábito de beber chá. Toda essa criatividade tinha um preço: no fim da Idade Média, enquanto a burocracia chinesa lutava para impedir que algumas das técnicas de produção desses artigos fossem levadas para outras regiões, a “pirataria” correu solta: alguns séculos depois, os europeus não apenas haviam aperfeiçoado muitas dessas invenções como superariam os chineses em tecnologia.

A Cidade Proibida
Imensa residência oficial do imperador abrigava sua família e um séquito de concubinas e eunucos.
Em 1406, o chinês Yung Lo, terceiro imperador da dinastia Ming, ordenou o início da construção de um complexo para servir como sua morada oficial bem no centro de Pequim. Ele abrigaria também sua corte composta por eunucos, concubinas e herdeiros. Inaugurada 14 anos depois, a enorme residência, com 720 mil metros quadrados (ou metade de toda a área do parque do Ibirapuera, em São Paulo), fascinava quem só podia vê-la de fora. Mas aprisionava os que estavam dentro.
Ninguém mais, com a exceção de alguns conselheiros e militares autorizados, poderia entrar. Exceto o imperador e alguns poucos eunucos encarregados de abastecer o local, mais ninguém podia sair. Foi por essa razão que o palácio imperial – e suas milhares de dependências – ficou conhecido como Cidade Proibida.
Durante 491 anos, foi por detrás dos enormes muros da Cidade Proibida que a China foi governada por 24 imperadores. Em 1911, após uma revolta republicana, Puyi, o último imperador da dinastia Qing, abdicou do trono. Ele e sua corte permaneceram morando no local até 1924, quando foram expulsos. Um ano depois, a Cidade Proibida foi rebatizada de Museu do Palácio e aberta ao público pela primeira vez.

Celebração ao sol
A construção seguiu princípios da antiga arte chinesa do feng shui.

Uso restrito
Com mais de 35 metros de altura, o chamado Portão Meridional é o principal e o maior acesso à Cidade Proibida. A entrada principal, que fica bem ao centro, era restrita, utilizada somente pelo imperador. Além dele, a imperatriz podia usá-la no dia de seu casamento e os três principais intelectuais da China estavam autorizados a sair por ela após sua aprovação, feita por um exame.

Contra o fogo
Quase toda de madeira, a cidade vivia assombrada  com o risco de incêndios, causados por raios, lampiões ou premeditados por eunucos e oficiais que enriqueciam com as obras de reconstrução. Para preveni-los, centenas de barris de ferro com capacidade para 2 mil litros de água foram espalhados por todos os cantos.

Perpetuação da espécie
O imperador, considerado “filho dos céus”, tinha de produzir herdeiros. Por isso, mantinha enormes haréns – as concubinas tinham palácios só para elas. Até o reinado de Kangxi, que começou em 1661, não havia limites para a quantidade de concubinas (acredita-se que alguns imperadores chegaram a ter 3 mil). Kangxi, no entanto, limitou esse número para no máximo 100 – que não foi respeitado.

Área de lazer
O Jardim Imperial ocupa uma área de cerca de 12 mil metros quadrados e é o maior da Cidade Proibida. Exclusivo para a família real, era um dos locais prediletos dos imperadores para tomar chá, jogar xadrez e meditar. No centro do jardim há o Salão da Paz Imperial, templo construído em homenagem a uma divindade da água, chamada Xuan Wu, para que esta protegesse a cidade dos incêndios.

Muralha da china
Uma enorme muralha, com 10 metros de altura e 3,4 quilômetros de extensão, circunda toda a residência. Do lado de fora, foi construído um fosso com 52 metros de largura e 6 metros de profundidade. Era mais uma garantia de que ninguém entraria na Cidade Proibida sem a autorização do monarca.

A cor do imperador
Com exceção do Arquivo Imperial, que tem o telhado preto (cor associada à água, que protegia dos incêndios), todos os outros telhados da Cidade Proibida são amarelos, a cor do imperador, relacionada à prosperidade. Os telhados também tinham figuras de animais. A quantidade delas, de uma a dez, representava a importância de quem vivia no palácio. O da Harmonia Suprema, ou Salão do Trono, é o único com dez figuras.

 A vida dentro das muralhas
A morada girava em torno do poder, da beleza e de intrigas
Um decreto oficial declarava que estavam abertas as inscrições para a “seleção de consortes imperiais”. Era assim que as garotas chinesas virgens com ascendência nobre e idade entre 13 e 17 anos podiam se candidatar ao cargo de mulher do imperador. O processo seletivo era ferrenho. Milhares de beldades – foram 5 mil no reinado do imperador Xianfeng, entre 1850 e 1861 – eram examinadas por uma comissão da família imperial. O chefe dos eunucos, que representava o imperador, escolhia cerca de 200, que eram levadas ao imperador e à imperatriz- mãe, que selecionavam sete para ocupar o cargo de esposa oficial. As demais moças moravam na Cidade Proibida, mas como concubinas.
Ser escolhida, no entanto, não garantia poder – e muito menos uma vida feliz. Muitas concubinas passavam suas vidas inteiras presas na residência imperial sem dormir uma noite sequer com o imperador. Para evitar esse destino, centenas delas se aliavam aos eunucos em conspirações e intrigas para tentar conquistar o coração do imperador – e subir na hierarquia. Quando as conspirações eram descobertas, os castigos tendiam a ser cruéis. Eunucos costumavam ser executados por asfixia e concubinas, enforcadas com lenços de seda brancos. De forma geral, as famílias das mulheres, porém, estavam garantidas – elas recebiam uma pensão anual vitalícia.

Tudo sempre igual
Como era uma tarde normal na Cidade Proibida.

Tempo livre
Quando um imperador morria ou deixava o trono, todas as suas concubinas eram levadas para o Palácio da Tranquilidade Benevolente – e as novas ocupavam seus lugares. Sem nada para fazer, as concubinas velhas passavam o resto de seus dias cantando e rezando.

Oração a Buda
A residência das concubinas velhas era cheia de altares e estátuas de Buda. O ar tinha cheiro de incenso. Normalmente essas mulheres tornavam-se extremamente religiosas após a “aposentadoria” e acabavam transformando seus dormitórios em templos de adoração.

Cada noite com uma
O imperador passava cada noite com um concubina. Como não conhecia suas mulheres, ele aceitava sugestões dos eunucos – por isso, o processo de escolha era extremamente manipulado por eles, que recebiam subornos das próprias concubinas. Houve imperadores que basearam suas escolhas em retratos pintados por artistas imperiais.

Profissão difícil
Antes de cada refeição, um eunuco contornava a mesa com um par de pauzinhos, experimentando cada prato para se certificar de que não estavam envenenados. Havia mais eunucos que qualquer outro tipo de pessoa na Cidade Proibida – a quantidade variava, mas os imperadores da dinastia Ming chegaram a ter 90 mil cada um.

Paranóia real
O Palácio da Pureza Celestial foi a residência do imperador durante a dinastia Ming e o começo da Qing. Ele tinha nove quartos, cada um com três camas. Todas as camas eram arrumadas toda as noites. Para se prevenir de um ataque enquanto dormia, o imperador escolhia cada vez uma cama diferente.

Comer até cair
Noventa e nove pratos diferentes eram servidos em cada refeição, mesmo que houvesse uma única concubina para comer. Garras de urso ensopadas, legumes com fígado de veado, caramujos com pepino e alho e sangue de veado com ginseng eram alguns dos itens do variado – e bastante exótico - cardápio.

Aventuras na História n° 051

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