O segredo é saber extrair do ouro negro tudo o que ele já
tem. Em seu estado natural, o petróleo é um líquido pastoso que traz uma
mistura de gasolina, diesel, querosene, gases liquefeitos e um monte de outros
óleos. O que as refinarias fazem é separá-los dessa massa bruta. Como cada
produto tem um ponto de ebulição diferente, basta aquecer o petróleo para
retirar seus derivados. A40ºC, o vapor que aparece é o GLP, o famoso gás de
cozinha. Quando a temperatura vai a 100ºC, o vapor é de gasolina, e assim por
diante. Depois, cada um desses vapores é transformado em líquido e retirado por
tubos da chamada torre de destilação, onde os derivados do óleo são separados.
Muitas vezes, entretanto, é preciso ir mais longe até chegar
ao produto final, O próprio combustível do carro, por exemplo, não é exatamente
a gasolina que sai desse processo. "Só entre 20% e 30% da gasolina é obtida diretamente pela
destilação.A maior parte surge com o processamento de outras partes menos valiosas do petróleo", diz o engenheiro químico Juarez Perissé, da Petrobrás. Nessa hora, entra em cena o chamado processo de "quebra" dos derivados, capaz de transformar resíduos da mistura em gasolina e gás, por exemplo. A estratégia é eliminar a diferença fundamental entre os derivados: o tamanho de suas cadeias ou agrupamentos de carbono. Há os "leves", como a própria gasolina, que têm cadeias pequenas, com cinco a 12 átomos de carbono cada. Já os "pesados", como o diesel e o óleo combustível, têm até 70 átomos. Por meio de tratamentos com produtos químicos, os técnicos conseguem dividir as cadeias maiores de resíduos, formando várias cadeias pequenas. E essa facilidade de recombinar os agrupamentos de carbono que faz com que o petróleo seja base de tantos produtos.
AQUECENDO A MISTURA
O processo de
separação de produtos começa em grandes caldeiras, onde o petróleo é aquecido
até se transformar totalmente em vapor. Essa fumaça vai então para a chamada
torre de destilação, que tem capacidade para processar até 40 Milhões de litros
de óleo por dia. Lá o vapor é resfriado a temperaturas diferentes e vira
líquido. No final, um conjunto de tubulações retira cada um dos derivados.
GÁS E PLÁSTICOS
O derivado mais leve - que justamente por isso é retirado da
parte mais alta da torre - é o GLP, o gás liquefeito de petróleo. Esse produto
de apenas três ou quatro átomos de carbono e usado como gás de cozinha e
propelente de Aerossóis, além de servir de base para a fabricação de diversos
tipos de plásticos.
TANQUE CHEIO
A gasolina propriamente dita é derivada das chamadas naftas pesadas,
substâncias com cadeias de cinco a 12 átomos de carbono, obtidas a cerca de
100ºC. Mas apenas 20% do combustível dos postos tem essa origem. O resto é
formado por naftas leves, com cinco a nove átomos de carbono, destiladas
diretamente ou a partir de resíduos.
DERIVADO ELASTÍCO
Além de ser usado como solvente o benzeno é a principal
matéria-prima para o náilon. Sua estrutura de seis átomos de carbono forma um
plástico que pode ser derretido e moldado com facilidade. E é a partir desse
material que são construídas fibras elásticas, que servem para roupas, bolsas e
até cordas de violão.
COMBUSTÍVEL LIMPO
Entre todos os subprodutos do petróleo, o querosene é um dos
mais limpos. Afinal, a queima de seus nove a 16 átomos de carbono gera
pouquíssima fumaça e praticamente nenhuma fuligem. Como quase não tem resíduos,
ele não deixa rastros nem danifica motores ou turbinas. Por isso, é o
combustível preferido para impulsionar aviões a jato.
PRODUTO ROBUSTO
A 260ºC e a 340ºC saem, respectivamente, o diesel leve e o
diesel pesado. Os dois são usados na fabricação do diesel comercial, que tem de
12 a 22 átomos de carbono. Perfeito para motores de caminhões, tratores e
navios (fortes e de alto torque), o diesel é o combustível mais usado no país.
Só nas refinarias da Petrobrás, 35% do petróleo é transformado nesse óleo.
BEIJO OLEOSO
A partir de 360ºC, sobram no fundo da torre subprodutos com
mais de 70 átomos de carbono. Por meio de processos físico-químicos, suas
cadeias são quebradas e dão origem a substâncias mais valiosas, como as naftas
leves recombinadas, que com seus cinco a nove átomos do carbono fornecem a
textura plástica das películas de batom e de outros cosméticos.
RESÍDUO RARO
Outro derivado que
aparece nos resíduos é o óleo lubrificante, essencial para o funcionamento de
qualquer tipo de motor. No Brasil, entretanto, esse produto que possui entre 20
e 50 átomos de carbono é bastante difícil de ser encontrado. Isso porque ele só
aparece em tipos raros de petróleo, presentes principalmente nas reservas de
países do Oriente Médio.
BARATO E SUJO
Também processado a
partir de resíduos, o gasóleo pesado ou óleo combustível tem suas longas
cadeias de 20 o 70 átomos de carbono quebradas para se transformarem em óleo diesel
e em gasolina. Em estado bruto, é um combustível barato utilizado em máquinas
Industriais. A grande desvantagem é que sua combustão libera uma grande
quantidade de fuligem.
TUDO SE APROVEITA
Derivados residuais menos nobres, com mais de 70 átomos de
carbono, sobram em grande quantidade. Mesmo essas substâncias são aproveitadas,
servindo, por exemplo, para a fabricação de asfalto de ceras e de combustíveis
de queima lenta, como o coque, usado em aquecedores residenciais e industriais
no hemisfério norte.
Revista Mundo Estranho Edição 17/ 2003
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