Situada entre 51º e 53º de latitude sul, cerca de 500 km da costa meridional da Argentina, as Ilhas Malvinas (para os argentinos) ou Falklands (para os britânicos), têm uma das menores e mais remotas capitais do mundo: Port Stanley. A soberania britânica sobre esse arquipélago do Atlântico Sul remonta ao início do século XIX. Atualmente, o território é um dos resquícios de um conjunto de pontos estratégicos marítimos (ilhas, estreitos e canais) que, no passado, sustentaram a hegemonia da Grã-Bretanha nos oceanos.
Antes de 1982, quando ocorreu a guerra entre britânicos e argentinos pela posse das ilhas, os nomes Malvinas, Falklands e Port Stanley eram virtualmente desconhecidos pela maioria das pessoas do mundo.Formado por cerca de 700 ilhas, o arquipélago tem como destaques as duas maiores: Malvina Oeste, quase desabitada, e Malvina Leste, onde se situa a capital.
Cheguei às Malvinas num magnífico dia do verão austral. Não sei se os locais dizem isso a todos os turistas mas, segundo eles, dias semelhantes àquele 20 de janeiro, só acontecem duas ou três vezes a cada ano. Um vento constante, bem forte e relativamente frio para os padrões brasileiros, nos acompanhou durante todo o dia.
Chamou-me a atenção, quando ainda estava no navio que entrava no porto, a coloração dominantemente vermelha dos telhados das casas e a pequenez do núcleo de Port Stanley, cujos limites urbanos eram claramente perceptíveis. Também observei a ausência quase completa de árvores na ilha, que resulta das condições de solo e da relativa escassez de chuvas. A vegetação dominante é de arbustos. Chama-se, como nas savanas e estepes semi-áridas, bush – sem nenhuma alusão ao atual ocupante da Casa Branca.
Port Stanley é a única cidade das Malvinas. As outras implantações humanas que aparecem em mapas das ilhas nada mais são que sedes de fazendas, dedicadas tradicionalmente à criação de ovelhas. Calcula-se que existam pelo menos 170 mil ovelhas espalhadas no arquipélago.
Não faz muito tempo, esta era a base da economia local. Atualmente, as licenças para pesca comercial, nas águas piscosas das plataformas em torno das ilhas, representam a maior fonte de renda. Outras atividades promissoras são exploração de gás natural e o turismo.
Segundo o censo de 2001, Stanley possuía 1989 habitantes e concentrava cerca de 85% dos moradores do arquipélago. Isso, sem contar o pessoal militar britânico: o número exato é segredo, mas estima-se que pelo menos 1,5 mil militares estejam presentes nas ilhas, para evitar nova tentativa de ocupação por parte dos argentinos. Por motivos de segurança, algumas áreas são interditadas à visitação.
Mais de 90% dos kelpers, como são chamados os habitantes das ilhas, têm origem britânica. Há cerca de uma dezena de argentinos em Port Stanley, aparentemente bem integrados à comunidade. Há – surpresa! – uma brasileira: Tereza, carioca que, numa viagem às Malvinas, apaixonou-se por um kelper e acabou trocando Ipanema por essas ilhotas que flertam com a Antártida.
Os habitantes de Port Stanley se gabam de sua qualidade de vida, da virtual inexistência de criminalidade, de suas estufas floridas (quase todas as casas têm uma delas). Afirmam, apoiados pelo Guiness Book, que as Malvinas possuem o maior índice per capita de jipes land rovers do mundo. A moeda local é o Falkland Pound, que mantém paridade com a libra britânica.
Monumentos às guerras funcionam como atrações turísticas. Há um memorial em homenagem à Batalha das Falklands, entre forças navais britânicas e alemãs, em dezembro de 1914, no início da Primeira Guerra Mundial. Mais importante é o 1982 Memorial, onde estão gravados os nomes dos 255 militares britânicos que perderam sua vida durante a guerra com os “argies”, como são denominados os argentinos. Em frente a esse monumento, todo o ano, em 14 de junho, é comemorado o Liberation Day, uma data que provoca “fortes emoções e grande orgulho”.
O Britannia House Museum preserva um pouco da história das ilhas. Parte do acervo do museu está ligado ao conflito de 1982. Lá está a reprodução de um bunker, espécie de trincheira usada pelos argentinos.
Encontram-se também livros sobre a guerra: o 74 Days, de John Smith, é um diário feito por um kelper que relata o cotidiano de sua família durante a ocupação.
Os turistas visitam também os campos de batalha no interior da ilha e alguns dos cerca de cem campos minados (devidamente cercados) que, na falta de informações sobre a localização exata das minas, não puderam ser desativados.
No século XIX, os britânicos afirmavam que suas colônias eram as jóias da Coroa. Costumava-se dizer que a Índia era a maior delas. Cinqüenta e sete anos após a independência da Índia, quase só restam as Malvinas.
Boletim Mundo Ano 12 n° 2
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