sábado, 30 de junho de 2012

É verdade que é mais perigoso nascer no oitavo do que no sétimo mês de gestação?

Não, nascer no sétimo mês é bem mais arriscado. A regra é que quanto mais tempo o bebê passar dentro da barriga da mãe, mais chances ele terá de ser saudável. "No sétimo mês da gestação, quase todos os órgãos do feto estão prontos, mas ainda não amadureceram o suficiente. As estruturas do corpinho ainda estão muito frágeis. É só nos dois meses seguintes que vasos sanguíneos e tecidos se fortalecem e o bebê ganha peso", afirma a obstetra Débora Steinman, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O que pode ter alimentado essa crença popular é o fato de que algumas crianças nascidas no sétimo mês de mães que sofrem de pressão alta ou diabetes têm pulmões mais desenvolvidos do que bebês do oitavo mês de uma gravidez normal. É que a existência dessas doenças na mãe provoca falta de oxigênio para o feto. Nesses casos, o organismo entende a falta de oxigênio como um aviso de que o bebê talvez precise estar pronto para respirar antes dos nove meses previstos.
Por isso, fabrica mais cedo a chamada substância surfactante, responsável por desenvolver os pulmões e preparar a criança para respirar. "Em uma gestação normal, como o surfactante só é produzido na passagem para o nono mês, os pulmões ainda não amadureceram no oitavo mês. Mas nos partos prematuros de mães hipertensas ou diabéticas a liberação precoce da substância apressa o desenvolvimento desses órgãos ainda no sétimo mês", diz o obstetra Sang Choon Sha, da Sociedade Brasileira de Medicina Fetal.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Os sentidos funcionam enquanto dormimos?

Sim, todos eles - e muito bem, diga-se de passagem. "Antigamente, a crença era que os sentidos se desligavam enquanto dormíamos. Mas testes recentes indicam que as regiões do sistema nervoso  central responsáveis pelo tato, visão, olfato, audição e paladar recebem estímulos nervosos normalmente", afirma o neurologista Sérgio Tufik, da Unifesp. Acontece que, durante o sono, as áreas do cérebro que interpretam as informações do mundo exterior ficam menos receptivas. Por causa disso, as reações do dorminhoco são bem mais reduzidas. "A pessoa sente tudo, mas, como está em um estado de consciência diferente, suas respostas aos estímulos serão menores", diz Sérgio. Durante uma soneca, o nível de alerta do organismo varia em cada um dos ciclos do sono. Conforme o tempo passa, as ondas cerebrais se tornam progressivamente mais lentas e fica mais difícil acordar. Na fase de sono profundo ocorre o chamado sono REM (sigla em inglês para "movimento rápido dos olhos").
Nesse estágio, que dura meia hora e se repete até cinco vezes por noite, os músculos estão completamente relaxados e o corpo está pronto para sonhar. O curioso é que durante o sono REM qualquer estímulo aos sentidos pode transformar o sonho. Uma borrifada de água pode trazer pesadelos com uma tempestade, por exemplo. "Mas como estamos em um outro grau de consciência não lembramos do que ocorre, a não ser que despertemos. Eu mesmo já atendi o telefone enquanto dormia. Pela manhã, podia jurar que nem tinha falado", diz Sérgio. O mesmo vale para os sonâmbulos, capazes de proezas como abrir os olhos, bater um papo-cabeça e até fazer uma boquinha na geladeira enquanto dormem. Mas, no dia seguinte, não se lembram de nada. Nessa situação, todos os sentidos estão ativos, mas em outro mundo que não o dos acordados.
Desligada, mas nem tanto
Estímulos externos podem acordar as pessoas e mudar o rumo dos sonhos.
VISÃO
Apesar de as pálpebras estarem fechadas, um estímulo visual muito intenso, como um flash de máquina fotográfica, pode despertar o dorminhoco. Se ele não acordar, pode ser que sonhe com o Sol ou alguma situação em que haja luminosidade intensa.
AUDIÇÃO
Podemos ouvir tudo ao redor, mas o barulho se torna o que os médicos chamam de ruído branco - ou seja, um som neutro que não atrapalha o sono. Quando alguém adormece em ambiente barulhento, com a TV ligada, por exemplo, ocorre o contrário: se acabar o ruído, a pessoa pode despertar.
OLFATO
Não existem muitos estudos sobre o papel do olfato durante o sono, mas sabe-se que a região do sistema nervoso central responsável por ele é estimulada quando algum cheiro mais forte é exalado. Mas é difícil chegar ao ponto de despertar uma pessoa.
PALADAR
Se um alimento amargo for colocado na boca do dorminhoco, o gosto ruim desencadeará um reflexo que o fará expelir aquilo. Como o paladar continua recebendo estímulos, a pessoa pode até sonhar que está comendo algo ruim.
TATO
Sempre alerta aos estímulos externos, o tato é considerado o sentido que permanece mais ativo. Quando alguém dorme em cima de um objeto, por exemplo, a dor percebida pode interferir na qualidade do descanso. A pessoa pode até continuar dormindo, mas a soneca será ruim.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Qual foi o primeiro povo a ter um sistema jurídico?

Foram os egípcios antigos, há cerca de 5 mil anos. "Por volta de 3000 a.C., preceitos religiosos, intercalados com artigos de natureza civil e penal, foram se sistematizando até serem codificados no Livro dos Mortos (uma coleção de textos e orações daquela civilização)", diz o advogado Luiz Antonio Soares Henz, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Franca (SP). Essas leis egípcias, porém, só foram descobertas por meio de registros históricos, literários ou monumentos arqueológicos. "Por fontes jurídicas (textos de leis ou códigos), os sistemas mais antigos de que se tem conhecimento são dos povos do Oriente Médio, como sumérios, babilônios, hititas e assírios. O monumento jurídico mais importante da Antiguidade antes de Roma é o Código de Hamurabi", diz o advogado Ignacio Poveda Velasco, professor da USP.
Esse código, com 282 leis, foi desenvolvido durante o reinado de Hamurabi - que governou a Babilônia entre 1792 e 1750 a.C. -, reunindo várias decisões legais tomadas pelo rei e que depois foram inscritas numa coluna de pedra de um templo local. Essa coluna acabou sendo encontrada em 1901 pelo pesquisador  francês Jean-Vincent Scheil. Hoje o Código de Hamurabi é exibido no Museu do Louvre, em Paris, na França.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

O que era o culto grego secreto, os Mistérios de Elêusis?

Ninguém sabe ao certo os detalhes, pois não há relatos deixados por pessoas que participaram realmente da cerimônia. Os Mistérios de Elêusis eram o mais famoso ritual religioso secreto da Grécia antiga, realizado entre os séculos 6 a.C. e 4 d.C. As primeiras referências a eles são de autores cristãos, que viveram bem depois e que estavam mais interessados em tachar aquilo como coisa de pagão. Além disso, tudo o que ocorria nos Mistérios sempre foi cercado de segredo - os participantes que revelassem algo podiam até ser condenados à morte. Com tantas dificuldades para desvendar esse enigma, os historiadores têm apenas algumas pistas. "Os Mistérios de Elêusis eram cerimônias de iniciação, com algum ritual pessoal a ser executado pelo novo participante. O culto era complexo, desenvolvido em vários dias. Há fragmentos de informações que permitem apenas perceber relances da celebração", diz a arqueóloga Elaine Veloso Hirata, da Universidade de São Paulo (USP).
A inspiração para os Mistérios de Elêusis está num mito do poema Hino a Deméter, atribuído ao poeta grego Homero. Segundo a lenda, Perséfone - filha do principal deus grego, Zeus, e da deusa da agricultura, Deméter - fora raptada por Hades, rei do mundo subterrâneo, que a forçara a se casar com ele. Desolada, Deméter saiu em busca da filha, esquecendo suas responsabilidades como deusa, o que prejudicou as colheitas e trouxe a fome para os mortais. Em sua jornada, Deméter teria ido a Elêusis, cidade a 23 quilômetros de Atenas, onde se tornou amiga da família que governava o local, que construiu para ela um templo, onde a deusa passou a morar. Quando Deméter, afinal, recuperou a filha, as colheitas voltaram mas, como parte de um acordo entre os deuses, Perséfone seria obrigada a ficar um terço de cada ano ao lado do marido, Hades, sob a terra. Esse mito simbolizava os períodos da agricultura grega.
Os quatro meses que Perséfone passava no reino subterrâneo de Hades representavam o período improdutivo, logo após a colheita e no ápice do verão; o retorno dela marcava o renascimento trazido pelas chuvas de outono, que permitiam a a semeadura da próxima safra. Toda cerimônia dos Mistérios de Elêusis é recheada de referências a essa mitologia. Não havia restrições para quem quisesse participar dos rituais, que reuniam até 3 mil pessoas. Qualquer um que falasse grego, incluindo mulheres e escravos, podia ir no culto. A cerimônia entrou em declínio quando as cidades gregas estavam sob o domínio do Império Romano e o imperador Constantino passou a promover o Cristianismo, no início do século 4. As religiões pagãs foram proibidas e seus templos destruídos. No ano 395, quando os romanos já tinham dificuldades de conter as invasões bárbaras, povos germânicos destruíram Elêusis. O local ficou abandonado até o século 18, quando escavações revelaram um pouco dos mistérios que ainda intrigam os especialistas.
Cenas enigmáticas
Ritual tinha procissão, encenações e até efeitos especiais.
1 - O culto era em meados de setembro e a preparação incluía sacrifícios de animais e dias de jejum para os candidatos a iniciados, os mystai. O dia da cerimônia começava com uma procissão que partia de Atenas, ao amanhecer, com destino a Elêusis. Com ramos de murta (um arbusto) nas mãos, os mystai caminhavam como se seguissem os passos da deusa.
Deméter em busca da filha Perséfone. Sacerdotisas carregavam objetos sagrados dentro de cestas sobre a cabeça.
2 - Ao cruzar o rio Kephisos, os mystai assistiam a encenações em que uma mulher, ou um homem em trajes femininos, representava Baubo, ser que simbolizava o divertimento. Segundo a mitologia grega, Deméter, triste pela perda da filha, só teria conseguido sorrir quando Baubo, na forma de uma velha desbocada, contou-lhe piadas, fez gestos maliciosos e levantou a roupa para mostrar a própria genitália.
3 - Em um trecho mais adiante da procissão, os mystai tomavam uma bebida supostamente alucinógena feita para a cerimônia. Sob o efeito desse misterioso líquido, eles carregavam uma estátua de Dioniso - deus grego da fertilidade, do vinho e da embriaguez - e invocavam o nome dele. Ao passarem por um segundo curso d’água, o riacho Rheitoi, os mystai eram reconhecidos como iniciados após repetirem algumas frases que descreviam todo o ritual dos Mistérios.
4 - Ao anoitecer, a procissão chegava a Elêusis para uma cerimônia num templo chamado Telesterion. Essa era a fase final e mais secreta do ritual. Sabe-se que era comandada por um sacerdote, o Hierofante. Acredita-se que a celebração misturava efeitos especiais rudimentares, como luzes misteriosas, com a exibição de falos - representações do pênis, adorado pelos antigos como símbolo da fecundidade da natureza. É possível que houvesse também a dramatização de cenas do Hino a Deméter.
Bebida polêmica
Matéria-prima do LSD pode ter sido usada.
Os participantes dos Mistérios de Elêusis tomavam uma bebida, chamada kykeon, cuja fórmula divide os especialistas. Entre os possíveis ingredientes estariam o poejo (erva aromática levemente alucinógena), o ópio ou, ainda, cravagem (uma infestação de fungos que aparece em cereais). Se essa última hipótese valer, entre os componentes solúveis da bebida estaria a ergotina, matéria-prima do LSD.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Quem foi Mahbub ul Haq?

O nome desse economista paquistanês virou notícia no Brasil em dezembro passado, quando a ONU entregou um prêmio ao governo brasileiro pelos avanços sociais do país na última década. Pois o nome do prêmio era exatamente Mahbub ul Haq, que foi o criador do chamado Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH. Idealizado em 1990, esse índice transformou a maneira de se avaliar a situação social das nações do mundo. Além do poder de compra da renda, o cálculo do IDH leva em conta indicadores de saúde e educação. O resultado é um índice que reflete de maneira mais precisa a qualidade de vida em uma nação do que a renda per capita - soma das riquezas do país dividida pelo seu número de habitantes -, principal estatística utilizada até então. Com base no IDH, a ONU publica todo ano o Relatório de Desenvolvimento Humano, também criado por Haq para avaliar o progresso social em 173 países.
Defensor de que o desenvolvimento das nações deveria melhorar as condições de vida das pessoas e não apenas aumentar a produção, Haq também trabalhou como ministro das finanças em seu país e foi diretor do Banco Mundial. "Foi um grande cérebro e uma figura lembrada com respeito no Paquistão, embora suas passagens como ministro não tenham sido muito marcantes", afirma Khalid Khattak, embaixador paquistanês no Brasil. O economista morreu em 1998, aos 64 anos de idade, vitimado por forte pneumonia em Nova York, nos Estados Unidos.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Como surgiram a CIA e o FBI?

Vamos começar pela CIA, sigla em inglês para Agência Central de Inteligência, principal órgão de informação do governo americano. Ela nasceu para suceder a OSS (sigla para Escritório de Serviços Estratégicos), uma agência de espionagem que funcionou apenas durante a Segunda Guerra Mundial. Antes da OSS, as atividades de informação nos Estados Unidos não tinham um controle central. No fim da guerra, com a extinção do órgão, o governo sentiu a necessidade de manter a centralização e, em setembro de 1947, criou a CIA. Até hoje ela tanto produz informações por conta própria, como coordena um enorme sistema de inteligência, que inclui outras agências. Já o FBI, sigla em inglês para Agência Federal de Investigação, tem uma história mais antiga.
"Foi o presidente Theodore Roosevelt que o criou, em 1908, para investigar suspeitos de corrupção, não só em relação ao Fisco, como também no sentido político, além de cuidar de negociatas com terras públicas no Oeste", diz o historiador Antonio Pedro Tota, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Hoje, uma das responsabilidades oficiais do FBI é investigar crimes federais, como casos de seqüestro ou roubos de informações confidenciais do governo. Mas ele também pode atuar em defesa da segurança interna dos Estados Unidos, fazendo espionagem dentro do país, enquanto o trabalho da CIA é realizado no exterior. Essa distinção, porém, já foi desrespeitada diversas vezes, como no escândalo de Watergate, entre 1973 e 1974, quando a imprensa denunciou que ex-agentes da CIA espionavam cidadãos americanos dentro do país - o caso provocou a renúncia do então presidente americano Richard Nixon. Os episódios polêmicos envolvendo os dois órgãos não param por aí.
No começo da década de 70, um dos mais famosos diretores do FBI, John Edgar Hoover, foi acusado de obter informações comprometedoras sobre políticos americanos para chantageá-los. Mais recentemente, a CIA passou a ser criticada por não ter conseguido informações para evitar o atentado de 11 de setembro de 2001 em Nova York. Por isso, ela enfrenta uma profunda reformulação, que afetará não apenas sua estrutura e estratégia, como também seu relacionamento com outras agências dos Estados Unidos.
Rede de informações
As duas agências respondem a órgãos diferentes nos EUA
PRESIDÊNCIA
NSC
O Conselho Nacional de Segurança assessora o presidente americano, que também preside o NSC. Os outros membros do conselho são o vice-presidente americano e os secretários de Estado e de Defesa.
DEPARTAMENTO DE JUSTIÇA
É o equivalente ao Ministério da Justiça aqui no Brasil. A direção do FBI é subordinada diretamente ao secretário da Justiça dos Estados Unidos, o ministro deles.
NSA
Apesar de pouco conhecida, a Agência Nacional de Segurança tem o maior orçamento entre as agências. Ela faz espionagem eletrônica, operando satélites, aviões de reconhecimento e postos de escuta em vários países.
CIA
O diretor da CIA é um dos assessores do NSC. A agência faz recomendações sobre as atividades de inteligência das demais agências, avalia as informações coletadas e assegura que elas circulem dentro do governo.
NFIB
O Comitê Nacional de Informações Estrangeiras é subordinado à CIA e produz um dossiê conhecido como Estimativa Nacional de Inteligência, contendo as melhores informações disponíveis em todo o governo sobre vários temas internacionais.
OUTRAS AGÊNCIAS
• Agência de Inteligência de Defesa
• Serviço de Informações do Exército
• Serviço da Marinha
• Serviço da Força Aérea
• Serviço do Departamento de Estado • Unidade de Informações do Departamento de Energia
FBI
Possui uma Divisão de Inteligência e uma Divisão Criminal, que também tem ampliado seu envolvimento na área de informação e a colaboração com a CIA após a crescente luta contra o terrorismo.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Quantas espécies de insetos existem no mundo?

Não existe um consenso entre os entomologistas - biólogos especialistas no estudo dos insetos  a respeito desse número, mas as estimativas giram entre 5 milhões e 10 milhões, sendo que somente uma pequena parte já foi catalogada. "Até hoje, foram descritas aproximadamente 1 milhão de espécies, mas não se sabe com exatidão quantas ainda estão para ser descobertas", afirma o entomologista Roberto Zucchi, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba (SP). Os insetos pertencem ao filo dos artrópodes, do qual também fazem parte as aranhas e os crustáceos, e formam a maior e mais bem-sucedida classe (Insecta) do reino animal. Altamente adaptáveis, eles são capazes de viver em terra firme, águas doces, salgadas e termais e podem ser encontrados por todo o planeta, das gélidas regiões polares aos desertos.
Juntos, besouros, moscas, formigas, baratas, cupins e todos os outros insetos representam cerca de dois terços das espécies animais existentes no planeta. Se nem o número exato de espécies desses pequenos seres é conhecido, fica impossível estimar qual é a população total deles no planeta, embora não restem dúvidas de que sejam bem mais numerosos que os 6 bilhões de seres humanos. Da mesma forma, os entomologistas não chegaram a um consenso sobre a classificação desses bichos. "Não existem catalogações recentes para todos os tipos de insetos. E, como eles formam um grupo muito extenso, os números são discrepantes", diz o entomologista Sérgio Antônio Vanin, da USP. Uma das classificações divide a classe dos insetos em três grandes subclasses: Apterygota, Exopterygota e Endopterygota, que, por sua vez, ramificam-se em 31 ordens, como mostra o diagrama abaixo.
Família grande
Esses pequenos animais podem ser divididos em três grupos.
Classe: insecta
Faz parte do filo dos artrópodes. Os animais dessa classe distinguem-se dos demais artrópodes por terem, em geral, três pares de extremidades locomotoras na fase adulta.
Subclasse: endoptergota
São insetos com asas que passam por um ciclo completo de metamorfose (mudança de forma ou estrutura do corpo).
ORDENS: 10
(Coleoptera, Diptera, Hymenoptera, Lepidoptera, Megaloptera, Mecoptera, Neuroptera, Siphonaptera, Strepsiptera e Trichoptera)
ESPÉCIES: cerca de 805 mil
Exemplos: moscas, abelhas, borboletas e formigas
Subclasse: pterygota
Esses animais são caracterizados por não terem asas.
ORDENS: 5
(Diplura, Protura, Collembola, Zygentoma e Archaeognatha)
ESPÉCIES: cerca de 8 mil
Exemplos: proturos e colêmbolos
Subclasse: Exopterygota
Insetos com asas cuja metamorfose tem um ciclo incompleto.
ORDENS: 16
(Anoplura, Ephemeroptera, Mallophaga, Odonata, Plecoptera, Dictyoptera, Isoptera, Psocoptera, Dermaptera, Hemiptera, Grylloblattodea Orthoptera, Thysanoptera, Embioptera, Phasmida e Zoraptera).
ESPÉCIES: cerca de 132 mil
Exemplos: baratas, grilos, gafanhotos e cupins.
Total de espécies: cerca de 945 mil

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Quais são os animais mais inteligentes?

Yuri Vasconcelos

É difícil determinar isso, já que não dá para comparar as diversas espécies de animais em relação a um único tipo de inteligência. "Cada animal tem a capacidade de aprender o que precisa para resolver os problemas de sua sobrevivência e de sua reprodução", afirma o etólogo (especialista em comportamento animal) César Ades, da Universidade de São Paulo (USP). Também não é certo afirmar que a capacidade de aprender está associada exclusivamente ao tamanho do cérebro. Se fosse assim, as baleias seriam os animais mais espertos do planeta, o que não é verdade. Mesmo com essas dificuldades de comparação, é possível listar pelo menos alguns bichos que se destacam se tomarmos a inteligência humana como referência. Um bom exemplo são os bonobos, espécie de chimpanzé encontrada no Congo, que têm uma capacidade de aprendizado bastante desenvolvida. "Eles são capazes de formar conceitos, adquirir símbolos abstratos para a comunicação e resolver problemas.
Também  usam instrumentos de forma inteligente e possuem tradições dentro do grupo que passam de um indivíduo a outro, constituindo uma espécie de cultura", afirma César. Certos mamíferos marinhos, como os golfinhos, também têm uma inteligência surpreendente. O mesmo vale para os elefantes, cujas manadas são lideradas pela fêmea mais velha, que é capaz de reconhecer cada um dos membros do grupo e é responsável por guiar seus liderados em momentos de dificuldades. Entre os animais domésticos, a lista dos mais inteligentes não poderia deixar de incluir os cachorros. No livro A Inteligência dos Cães, o psicólogo americano Stanley Coren fez um ranking dos melhores amigos do homem, baseado na facilidade em aprender coisas. A raça campeã foi a border collie, das ilhas britânicas e especializada no pastoreio de ovelhas. O segundo lugar ficou para uma raça mais conhecida, o simpático poodle.
Quarteto fantástico
Seres que impressionam por diferentes capacidades de aprendizado.
Cachorros
Eles são capazes de guiar pessoas cegas, controlar rebanhos, atender a comandos diversos e desempenhar com perfeição números de malabarismo no circo, como é o caso dos poodles. Para os especialistas, esses comportamentos nascem da alta capacidade de aprendizagem baseada no processo de tentativa e erro.
Chimpanzés
Estes primatas (Pan troglodytes) usam ferramentas, como pedras e pedaços de galho, para quebrar cocos, e gravetos para capturar formigas. Além disso, usam estratégias em conjunto na hora de caçar e socialmente apresentam uma rede complexa de relacionamentos.
Golfinhos
Cientistas descobriram recentemente que os golfinhos têm uma capacidade que até pouco tempo se acreditava ser exclusiva dos homens: reconhecer sua imagem num espelho. A experiência foi realizada num aquário de Nova York com a dupla de golfinhos Presley e Tab, da espécie Tursiops truncatus.
Elefantes
Os pesquisadores já sabem que os elefantes são capazes de emitir mais de 75 tipos de som em diferentes ocasiões. A manada é liderada pela fêmea mais velha, que decide o destino do grupo. No caso de a região onde habitam sofrer com a falta d’água, é ela quem determina que caminho seguir.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Como as aves marinhas eliminam o sal da água que ingerem?

A maior parte do sal ingerido pelas gaivotas, albatrozes, pelicanos e outras aves marinhas é eliminada por um par de glândulas localizadas abaixo dos olhos, chamadas de glândulas de sal. Sem elas, esses pássaros, que chegam a passar meses em alto-mar, bebendo água e se alimentando de peixes, não conseguiriam sobreviver. Quando a ave ingere a água do mar, o sal entra na corrente sanguínea e é conduzido às glândulas para filtragem. Esses microórgãos têm uma estrutura similar à dos nossos rins. O sangue entra neles por capilares localizados ao lado de células secretoras, que têm a função de fazer a dessalinização. O sal extraído por essas células passa para tubos secretores conectados à cavidade nasal e em seguida é eliminado pelas narinas em forma de líquido. É por isso que dá para ver uma mancha branca na região do bico do pássaro.
Parte do sal também é excretada pelos rins, por meio da mistura de fezes e urina, mas em quantidades muito menores que as expelidas pelas glândulas de sal, órgãos que também são encontrados em répteis marinhos.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Como os moluscos formam suas conchas?

Os moluscos são animais invertebrados (sem espinha dorsal) que têm como característica o corpo mole - molluscus, em latim, quer dizer exatamente "mole". A maioria deles é dotada de uma concha de origem calcária formada a partir de uma espécie de pele que reveste o corpo desses animais, chamada manto ou pálio. "A concha protege o animal e também funciona como esqueleto, dando sustentação aos músculos do corpo para a movimentação. Ela aparece imediatamente após o nascimento da fase larval. A larva, frequentemente menor que 1 milímetro de diâmetro, forma uma concha protetora chamada protoconcha", afirma o biólogo Osmar Domaneschi, da USP, especialista em moluscos. A fase larval geralmente tem duração breve, de horas ou dias, dependendo da espécie.
Daí o animal passa para a chamada fase juvenil, na qual já parece com um indivíduo adulto, com a diferença de que ainda não está sexualmente maduro. "O molusco juvenil continua secretando substâncias que constituem a concha, aumentando-a a partir da protoconcha larval até formar a concha definitiva", diz Osmar.
Tripla proteção
A armadura desses seres é formada por três camadas.
1. Nessa espécie de pele dos moluscos, chamada manto, são secretadas as substâncias que irão formar as camadas da concha: carbonato de cálcio (extraído da água do mar e dos alimentos), aminoácidos e proteínas (ambos produzidos pelo próprio organismo do animal).
2. Em contato com o manto fica a primeira camada da concha, a lamelar, formada por carbonato de cálcio, cristalizado em forma de lâminas. Sua espessura aumenta continuamente conforme o molusco cresce, por isso é a única camada que pode ser reparada pelo animal.
3. A camada intermediária, prismática, também tem cristais de carbonato de cálcio, mas em forma de prismas. Ela é produzida somente durante o crescimento da concha. Por isso, se uma parte da camada se danificar, não pode mais ser recuperada.
4. A parte mais externa, o perióstraco, é constituída por aminoácidos e proteínas. Essa camada protege as demais contra o desgaste por abrasão ou por substâncias ácidas do ambiente. Também não é regenerável.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

O que são fiordes?

São enormes vales rochosos inundados pelo mar, formações que surgem no litoral de países em geral vizinhos aos pólos sul e norte. "As dimensões dos fiordes são impressionantes. Alguns ultrapassam 350 quilômetros de comprimento, têm paredões com mais de mil metros de altura e uma parte submersa de quase 1 500 metros de profundidade", afirma o glaciologista Jefferson Cardia Simões, da UFRGS e do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Essas curiosas formações foram criadas pela ação do gelo nas idades glaciais, nos últimos 3 milhões de anos. Durante esses períodos, a temperatura da Terra caía, as geleiras se expandiam e o nível médio dos oceanos baixava. Mantos de gelo com mais de 1 milhão de quilômetros quadrados avançavam sobre regiões mais quentes, escavando a superfície em que deslizavam.
Era mais ou menos como fazem as águas de um rio que corre em um vale, só que com uma diferença importante: a ação do gelo é muito mais violenta. "Na chamada erosão glacial, o gelo arrasta o que encontra pela frente, arrancando pedaços de rocha. O resultado são vales estreitos e com paredões muito íngremes, como os que caracterizam os fiordes", diz Jefferson. No final das idades glaciais, a temperatura voltava a subir, o gelo retrocedia e o nível do mar aumentava, alagando os vales rochosos. Como a ocorrência dos fiordes está relacionada ao avanço das geleiras, a maioria deles aparece em regiões nas altas latitudes, mais próximas da Antártida ou do Ártico, como na costa da Noruega, no litoral do Alasca, na Groelândia, no Canadá e na Nova Zelândia. Além de formarem paisagens de tirar o fôlego, as águas bastante calmas desses canais são excelentes para a pesca e oferecem um bom local para a ancoragem de barcos, conforme a própria origem da palavra revela: em norueguês, fiorde significa algo como "porto seguro".

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

O que é um oásis?

Rodrigo Ratier

É uma região com água e vegetação encravada no meio de um deserto - um dos poucos lugares em que a sobrevivência do homem nas areias escaldantes é possível. No Egito, registros arqueológicos indicam que o homem já explorava esses locais há 7 mil anos. "Em todo o planeta, duas em cada mil pessoas - algo em torno de 15 milhões de habitantes - vivem em oásis. Em alguns deles, há mais de mil moradores por quilômetro quadrado", diz o geógrafo Roberto Verdum, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em desertificação. Os tipos tradicionais de oásis aparecem em áreas escavadas pelo vento, onde o lençol d’água subterrâneo fica próximo do solo. Pelas fendas nas rochas, o líquido dos reservatórios encontra um caminho até a superfície, jorrando em fontes que hidratam homens e animais, fazem surgir uma faixa de palmeiras ao redor das lagoas e irrigam pequenas plantações.
Nos 9 milhões de quilômetros quadrados do deserto do Saara, onde certas regiões passam quase dez anos sem uma única gota de chuva, os oásis são uma dádiva. Para povos nômades da África, como beduínos e tuaregues, eles servem como pontos de parada de caravanas há quase três milênios. No início da era cristã, os europeus perceberam a importância estratégica desses enclaves no processo de colonização. Ainda no século 1, os romanos expulsaram os nômades dos oásis no sul da Líbia e passaram a controlar as rotas de comércio pelo deserto. A tática se repetiu na colonização européia do século 19, quando exércitos franceses e italianos começaram a dominar os povos do Saara com a conquista dos oásis. No século 20, as modernas técnicas de irrigação modificaram a ocupação dessas regiões. "No norte da  África, milenares lavouras de sustento foram substituídas por grandes plantações de exportação.
O resultado  é que a água dos oásis não é mais suficiente para abastecer as comunidades locais", diz Verdum. Para resolver o problema, os governos locais investem na criação de oásis artificiais, por meio da perfuração de poços artesianos de até 2 500 metros de profundidade.
Santuário quente
Tempestades de areia abrem espaço para a água brotar.
Rebanho antiecológico
As criações de cabras surgiram no Saara há 6 500 anos. Os numerosos rebanhos dos povos nômades devoram qualquer arbusto do deserto. O problema é que os bichos arrancam até as raízes dos vegetais, agravando a desertificação.
Água com sal e peixes
Dependendo do tipo de rocha por onde passam os depósitos subterrâneos de água, o líquido pode chegar à superfície contendo sal. Por isso, em boa parte dos oásis a água precisa ser purificada antes de matar a sede. Outra curiosidade dessas fontes no deserto é que em algumas delas as comunidades povoam os lagos com peixes para reforçar o cardápio.
Sopro inicial
As impressionantes ventanias do deserto movem até 260 milhões de toneladas de areia por ano. Quando as tempestades de areia são fortes e constantes, a erosão provocada por elas deixa o lençol freático próximo da superfície, dando origem aos oásis. No norte da África, eles aparecem em depressões de até 100 metros abaixo do nível do mar.
Melhor amigo do homem
Capazes de suportar até dez dias sem comer e uma semana sem beber água, os camelos servem para o transporte e para o arado. Quando podem matar a sede, os bichos tomam até 90 litros para recuperar a energia.
Casas naturais
A vida que se desenvolve nos oásis é matéria-prima para as casas dos povos nômades. Os tuaregues erguem suas zeribas com troncos de árvores e folhas de palmeiras. Já os beduínos preferem as tradicionais tendas, feitas de peles de cabra armadas em estacas.
Solo frágil
Contendo poucos minerais, os solos arenosos são pobres em nutrientes. A agricultura só é possível  em solos de argila, capazes de reter mais água e material orgânico. Para garantir a colheita, os nômades costumam usar os excrementos de seus rebanhos como adubo.
Árvore da vida
A tamareira, palmeira típica dos oásis, cresce rápido no calor escaldante e tem raízes adaptadas para sugar a água dos depósitos subterrâneos. Ela é fundamental para os povos do deserto: além do fruto saboroso e nutritivo, a ponta do caule fermentada dá origem ao legbi, um vinho de aroma forte e doce.
Roupa dos pés à cabeça
Por ter pele clara, o homem do Saara precisa usar túnicas volumosas como proteção contra o calor de 50 ºC, reduzindo a perda de líquido pela transpiração.
Sombra que alimenta
O Saara guarda registros de plantações de cereais há 6 mil anos, quando o deserto ainda era uma savana. Nos oásis, técnicas de irrigação e a sombra das tamareiras permitem a cultura de vegetais resistentes ao sol forte, como grão-de-bico, amendoim, feijão, cenoura e cebola.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

O que é realidade virtual?

É o uso de diversas tecnologias digitais para criar a ilusão de uma realidade que não existe de verdade, fazendo a pessoa mergulhar em mundos criados por um computador. Ela começou a se desenvolver em várias áreas diferentes a partir dos anos 70. Alguns dos primeiros usos foram em simuladores de vôo, que ajudavam a treinar futuros pilotos. O uso da expressão realidade virtual, porém, só apareceria por volta de 1989, em artigos do americano Jaron Lanier, um visionário que, além de cientista da computação, é compositor e artista plástico. Muita gente acredita que a realidade virtual só serve para joguinhos de computador ou brincadeiras imitando o filme Matrix. Na verdade, ela tem aplicações práticas importantes em indústrias, na ciência e no treinamento de pessoas para atividades de risco.
Por meio dela, engenheiros conseguem testar projetos de automóveis e aviões antes de gastar dinheiro fazendo protótipos. Projeções semelhantes são usadas em simulações de batalhas, nas pesquisas de engenharia genética e até no estudo da previsão do tempo. A maior parte das imagens que criam essas realidades virtuais não são filmadas ou fotografadas, e sim montadas em modelos 3D de computação gráfica, técnica que aparece em filmes como Toy Story. Mesmo com todo esse avanço ainda há muito a explorar nessa área nos próximos anos. "A tecnologia está bem longe de permitir uma imersão em um mundo virtual que explore mais a fundo os cinco sentidos humanos", afirma o engenheiro Marcelo Zuffo, da Universidade de São Paulo (USP).

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Como é extraído o açúcar de beterraba?

Não é muito diferente da extração do açúcar da cana. A primeira etapa é tirar as folhas e limpar as beterrabas, que crescem embaixo da terra. Depois, elas são cortadas em fatias finas e deixadas em repouso em uma enorme tina com água quente, para extrair o açúcar e outras substâncias. O resultado é um verdadeiro chá de beterraba, que é purificado e filtrado - usando cal, gás carbônico e outras técnicas que retiram do chá tudo o que não é água e açúcar. A diferença entre produzir um açúcar branco (refinado) e um castanho (mascavo) é o nível de purificação feita nessa etapa do processo. O passo seguinte é levar esse líquido açucarado para uma série de tubos em que parte da água, aquecida com vapor quente, evapora da mistura. Sobra um xarope grosso que vai para a cristalização, ou seja, ele é fervido e tem mais um pouco de água extraída, até que minúsculos cristais de açúcar comecem a surgir espontaneamente. A pouca água que resta é separada em uma centrífuga.
Depois, basta secar os grãos de açúcar e o produto está pronto, sendo exatamente o mesmo que o gerado pela cana. Na Europa, o clima favorece mais o cultivo da beterraba, enquanto no Brasil a cana é a matéria-prima mais comum.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Quantos tipos de banana existem e quais são as mais nutritivas?

Entre espécies cultivadas e selvagens, são quase mil tipos de banana espalhadas pelo mundo, todas identificadas pelo nome científico Musa. Elas têm os mais diversos tamanhos, da pequena Musa sapientum, a banana-ouro brasileira, que não ultrapassa 10 centímetros e 50 gramas, até a exagerada Musa ingens, que cresce nas florestas da Nova Guiné e atinge quase 1 quilo em seus 50 centímetros de comprimento. Alguns historiadores suspeitam que a banana seja a fruta mais antiga do planeta. Sua origem mais provável é o Sudeste Asiático. Pelas mãos dos romanos, a exótica novidade chegou à Europa no século 1 a.C. No Brasil, aportou junto com a bagagem dos portugueses, embora haja relatos de espécies nativas por aqui. O fato é que a fruta se adaptou ao clima, ao solo e ao paladar do brasileiro, que consome 27 quilos de banana por ano, 16 a mais que a média mundial. Difícil é dizer qual tipo é o mais saudável. "O valor nutritivo  varia ligeiramente para cada espécie, mas todas as bananas têm características semelhantes.
São  frutas muito energéticas, com baixo teor de gordura e ricas em carboidratos, em vitaminas A, B1, B2, C e em vários minerais", afirma a nutricionista Ana Catarina Perez Dias, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). O amido que a fruta possui fornece energia prolongada para os atletas, enquanto os altos teores de potássio evitam cãibras. "Sem falar que as bananas são fontes de fibras solúveis, substâncias importantes para diminuir o nível de colesterol no sangue e prevenir o câncer intestinal", diz Ana Catarina. Não é à toa que a banana é a fruta mais popular do mundo. A produção anual de 70 milhões de toneladas concentra-se na região tropical do planeta e o Brasil é o terceiro produtor, atrás de Índia e Equador.
Fruta versátil
As características das cinco variedades mais conhecidas no Brasil.
Banana-nanica
Também chamada de banana-d’água, o tipo mais popular no Brasil tem 87 calorias a cada 100 gramas. O nome vem do pequeno tamanho da bananeira, ideal para dar estabilidade contra ventos fortes. É levemente laxante.
Banana-da-terra
Na maior espécie do país, os frutos podem chegar a 26 centímetros de comprimento e pesar até meio quilo, contendo 122 calorias a cada 100 gramas. É o tipo com mais quantidade de vitaminas A e C. A melhor pedida é usá-la em pratos cozidos ou fritos.
Banana-prata
Tem a vantagem de ser uma das mais duráveis, podendo ser consumida até quatro dias depois de amadurecer. Não é das mais calóricas, são 89 calorias a cada 100 gramas, tem polpa consistente e pouco doce. É a mais indicada para fritar e para fazer bananada.
Banana-maçã
Tem 100 calorias a cada 100 gramas. Exala um perfume que lembra o da maçã. Sua polpa branca e macia é recomendada para bebês e idosos, pois é a variedade de digestão mais fácil. Uma de suas características é prender o intestino.
Banana-ouro
Com tamanho inferior a 10 centímetros, é o menor dos tipos nacionais, mas também o com maior  número de calorias, 158 em cada 100 gramas. Encontrada desde o litoral de Santa Catarina até o Espírito Santo, possui uma polpa doce e perfumada.

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Para que foi construído o Taj Mahal?

Fabio Volpe

O músico Jorge Benjor já cantava: "Foi uma linda história de amor..." Não, não estamos falando de Romeu e Julieta, mas da paixão de um imperador indiano do século 17 por uma de suas mulheres, o romance que deixou a mais incrível herança arquitetônica de todos os tempos. A construção do complexo de Taj Mahal, na cidade de Agra, no norte da Índia, foi mesmo uma bela declaração de amor. A idéia saiu da mente de Shah Jahan, líder do Império Mogol, uma dinastia muçulmana que governou a região norte da Índia entre os séculos 16 e 17. Em 1631, o imperador perdeu uma de suas esposas durante um parto, Arjumand Banu Baygam. Para homenageá-la e demonstrar toda sua paixão por ela, Shah Jahan ordenou que um magnífico mausoléu fosse erguido para abrigar os restos mortais de sua amada. Arjumand era chamada de Mumtaz Mahal ("a preferida do palácio") e o nome que batizaria o imponente local, Taj Mahal, é só uma corruptela do apelido.
O mausoléu propriamente dito é só uma das várias construções do complexo, que ainda possui uma mesquita, um magnífico jardim, torres e outros dois prédios. Para erguer tudo isso foram necessários cerca de 20 anos e mais de 20 mil trabalhadores. É claro que tal obra rende até hoje histórias fantásticas. Uma lenda famosa diz que, após o mausoléu ficar pronto, Shah Jahan teria mandado cortar a mão direita do mestre-de-obras para que nenhuma outra construção igual ao Taj Mahal pudesse ser feita. Se o operário foi mesmo amputado, é difícil dizer, mas uma coisa é certa: realmente não há nada no resto do planeta parecido com essa jóia da história e da cultura indiana.
Mausoléu imponente
O complexo guarda os restos mortais de um imperador indiano e de sua amada.
Versos sagrados
A fachada do portão — assim como o mausoléu — é decorada com arabescos (desenhos com motivos florais) e inscrições em árabe com trechos do Alcorão (livro sagrado para os muçulmanos). Os calígrafos usaram um truque ótico: aumentaram o tamanho e o espaço entre as inscrições conforme elas ficavam mais no alto. Assim, a capacidade de leitura é sempre a mesma.
1-Portão principal
Essa construção de arenito vermelho, marca a entrada do complexo. Simbolicamente, ele representa a entrada no mundo espiritual e, por isso, também é chamado de "Portão do Paraíso". Na parte interna, possui inúmeros quartos e salas ligados por corredores que formam um verdadeiro labirinto.
2-Jardim
Para sair do portão principal e chegar ao mausoléu propriamente dito, é preciso percorrer quase 300 metros atravessando um belíssimo jardim, dividido em quatro grandes quadrantes separados por canais de água. O jardim foi construído para representar o paraíso imaginário dos muçulmanos.
3-Mesquita
Também de arenito vermelho, foi erguida em direção a Meca - cidade na Arábia Saudita sagrada para a religião islâmica. As mesquitas funcionam como templos para os muçulmanos, assim como as igrejas para os cristãos.
4-Minaretes
São quatro em volta do mausoléu. Minarete é o nome dado às torres que são construídas junto a uma mesquita e de onde se anuncia aos muçulmanos o momento certo de fazer as orações. Cada minarete do Taj Mahal tem 49 metros de altura.
5-Muralha
Todo o complexo de Taj Mahal é cercado por um muro que conta com oito torres de vigilância.
6-Jawab
Jawab quer dizer "resposta" em hindi. E essa construção é exatamente uma "resposta" à mesquita, ou seja, uma réplica. Sua função não é muito clara. Uma das hipóteses é que o local servia como hospedaria para os peregrinos que visitavam o Taj Mahal. O mais provável, porém, é que o Jawab tenha sido erguido apenas para preservar a simetria do complexo.
7-Mausoléu
A principal construção guarda os restos mortais de Mumtaz Mahal e de Shah Jahan. Possui quatro fachadas iguais e uma cúpula central com 73 metros de altura, cercada por quatro cúpulas menores. Feito de mármore branco, o mausoléu parece mudar de cor ao longo do dia, de acordo com a intensidade da luz solar que ele reflete.
Juntos para sempre
No centro do mausoléu, há um grande cômodo em formato octogonal onde estão os cenotáfios de Mumtaz Mahal e de Shah Jahan. Cenotáfio é um monumento fúnebre que representa o túmulo de alguém. Os verdadeiros restos mortais dos dois estão num nível abaixo da construção. Um belo cercado de marfim, todo decorado, envolve os dois monumentos.

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Como funcionam os detectores de mentira?

Também conhecido como polígrafo, o detector de mentiras é composto por um conjunto de sensores que medem o ritmo da respiração, a pressão sanguínea, os batimentos cardíacos e o suor na ponta dos dedos da pessoa examinada. O funcionamento do aparelho se baseia na teoria de que essas reações do organismo se alteram quando mentimos. Os antigos polígrafos tinham agulhas móveis que rabiscavam traços numa folha de papel. Hoje o resultado é mostrado direto numa tela de computador. Mas não basta você comprar um polígrafo e sair por aí interrogando as pessoas. O teste só vale se for feito por um examinador treinado, que saiba conduzir um interrogatório específico, cheio de armadilhas. Por ser tão subjetivo, o teste é muito contestado. "A prática do polígrafo é tão científica quanto a de ler o futuro em folhas de chá ou nas entranhas de gansos", afirma o psicofisiologista John J. Furedy, da Universidade de Toronto, no Canadá.
Nos tribunais, o teste nunca é aceito como prova definitiva e já foi demonstrado que muitas pessoas não passam nele, mesmo dizendo a verdade.
As armas do teste
Um computador mostra as variações no corpo.
Computador
Convertidas em sinais digitais, as várias medições transformam-se em gráficos na tela de um computador. Cada cor corresponde a uma das três variáveis.
Pneumógrafos
Dois tubos de borracha cheios de ar passam em volta do tronco do examinado. Qualquer mudança na respiração ou no movimento dos pulmões é detectada.
Galvanômetros
Presos na ponta dos dedos da mão, esses sensores metálicos medem a condutividade elétrica da pele. A umidade produzida pelo suor nos dedos aumenta essa condutividade.
Medidor de pressão
Semelhante ao dos médicos, mede a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos.
1 - A maior parte dos testes trabalha com três tipos de pergunta: as relevantes, as irrelevantes e as de controle. As irrelevantes, como "você tomou café da manhã?", são apenas para confundir e dar ritmo ao teste.
2 - As perguntas relevantes são as que o examinador quer realmente investigar. Um exemplo, no caso de uma empresa testando seus empregados, seria: "Você está entregando informações confidenciais para o concorrente?"
3 - O segredo está nas perguntas de controle. São perguntas que praticamente ninguém poderia responder "não" sem mentir, como: "Você já teve atração sexual por alguém casado?" O examinador tenta levar o examinado a mentir para medir suas reações.
4 - Se as alterações na respiração, transpiração etc. forem maiores nas perguntas de controle do que nas relevantes, o examinado passa no teste. Se forem maiores nas perguntas relevantes, não passa.
5 - Neste segundo caso, o examinador faz um interrogatório pós-teste, em que confronta o examinado, mostra o resultado do polígrafo e tenta colocá-lo contra a parede. O objetivo é obter uma confissão, pois o teste não tem valor jurídico.
6 - Organizações como a americana Anti-Polygraph ensinam truques para driblar o teste. O segredo é identificar as perguntas de controle e, ao mentir nelas, provocar alterações mais fortes no organismo. Como? Mordendo discretamente a língua ou respirando um pouco mais rápido, por exemplo.

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Os dinossauros tinham sangue quente?

Rafael Kenski

Quando as primeiras espécies de dinossauro foram finalmente descobertas, em meados do século 19, os cientistas repararam que o formato dos ossos era semelhante ao dos répteis modernos. Logo concluíram que, se o esqueleto era igual, o metabolismo também deveria ser. Os cientistas assumiram então que os dinossauros, assim como os lagartos e as cobras de hoje, teriam sangue frio, ou seja, dependeriam do calor do sol para se aquecerem até a temperatura em que as reações químicas no corpo ocorrem de forma ideal.
Mais de 100 anos depois, na década de 1970, surgiram as primeiras teorias questionando se os dinossauros eram mesmo seres parecidos com grandes répteis. Para começar, cobras, lagartos e jacarés são animais pequenos. Bichos maiores, como elefantes, hipopótamos e girafas, são todos mamíferos, pois, para movimentar toneladas de peso, é necessário um organismo forte e sempre disposto a fazer exercícios. Isso não ocorre com os animais de sangue frio, que precisam apenas de longos banhos de sol para acelerar seu metabolismo. Se um corpo com muitas toneladas fosse usar esse mesmo método para se esquentar, precisaria de um número absurdo de horas de sol. Com base nessas evidências, começou-se a imaginar que os dinossauros teriam sangue quente, ou seja, manteriam a temperatura sempre constante e gerariam calor com a atividade das próprias células, assim como os mamíferos e as aves de hoje.
A idéia ganhou força com a descoberta de grande número de dinossauros com penas  hoje, uma característica típica das aves. Para completar, em 1993, foi achado um fóssil nos Estados Unidos que parece ser um coração de dinossauro petrificado, apesar de ainda haver divergências sobre isso. Se for mesmo um coração, ele teria um formato parecido ao desse órgão nos mamíferos, contando com quatro cavidades - os corações dos répteis têm apenas três.
Para resolver esse impasse, alguns cientistas lançaram a idéia de que os dinos teriam sangue quente mesmo sem produzir o próprio calor. Mas o tema ainda é polêmico. "O mais provável é que eles tivessem alguma maneira de manter a temperatura, mas de uma forma diferente de todos os animais que existem hoje", diz o paleontólogo Reinaldo Bertini, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro (SP). Enquanto não surgem novas evidências, ainda não dá para pôr um ponto final nessa história.

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Como surgiu o balé?

O balé clássico surgiu nas cortes italianas, no início do século 16, embora não se saiba ao certo de onde veio a inspiração para os seus primeiros passos e coreografias. Foi o termo italiano balletto ("dancinha", "bailinho") que deu origem à palavra francesa ballet. Na época, tratava-se de uma diversão muito apreciada pela nobreza local. Tamanha admiração pela dança levou a princesa italiana Catarina de Médici (1519-1589) a introduzir o balé numa nova corte quando se casou com o rei da França Henrique II. Catarina também fez questão de contratar o grande coreógrafo italiano de então, Balthazar de Beaujoyeulx. Aqui vale abrir um parênteses. O nome verdadeiro do coreógrafo era Batazarini Di Belgioioso. A forma afrancesada, não só do nome dele, como de outros italianos que fizeram parte da história do balé, tornou-se a mais conhecida pois a dança só se desenvolveu realmente quando chegou entre os franceses, que espalharam seu sotaque em tudo o que envolve essa arte.
Mas voltemos a Beaujoyeulx. Em 1581, a companhia dele apresentava um espetáculo bem diferente dos balés de hoje, reunindo não apenas dança, mas também poesia, canto e uma orquestra musical. Esse formato variado entusiasmou os nobres franceses desde o início, mas o balé só atingiria seu apogeu no século seguinte, na corte do rei Luís XIV. Grande entusiasta da dança, Luís XIV também era bailarino, tanto que recebeu o apelido de Rei Sol por causa da sua participação no espetáculo Ballet de La Nuit, no qual vestia uma fantasia muito brilhante, lembrando o grande astro. Em 1661, Luís XIV fundou a Accademie Royale de Musique, que abrigava uma escola de balé. Ali, sob a direção do compositor italiano Jean-Baptiste Lully e de seu assistente, o professor de dança francês Pierre Beauchamps, o balé se tornaria um espetáculo mais sofisticado, conhecido como "Ópera-Balé" por combinar dança, diálogos e canto. Foi Pierre Beauchamps quem  criou as cinco posições básicas que são usadas no balé até hoje.
Por volta do século 18, os espetáculos passaram por outra transformação, concentrando-se mais na música e na dança. Foi nessa época também que as bailarinas começaram a se rebelar contra os vestidos que usavam até então e que limitavam os movimentos. Por causa dessa restrição, os homens eram os que tinham os papéis de destaque nos espetáculos. Como as coreografias cheias de saltos e giros ganhavam espaço, as mulheres tiveram que reagir. A belga Marie Ann Cupis de Camargo baixou os saltos de seus sapatos e encurtou suas saias para desenvolver melhor sua dança. Não por acaso, ela foi uma das primeiras bailarinas importantes da história. O último momento marcante da origem do balé ocorreu no século 19, quando a italiana Marie Taglioni foi a pioneira a dançar na ponta dos pés, hoje o movimento mais identificado com o balé clássico.
Posições clássicas
Estes cinco movimentos marcam o início ou o fim de todos os passos.
1. Os braços semiflexionados formam quase um círculo, com as mãos voltadas uma para a outra um pouco abaixo do peito. Os pés precisam estar bem abertos, com os calcanhares se tocando.
2. Aqui os pés ficam bem abertos, como na posição anterior, mas devem estar afastados um do outro. Os braços semiflexionados são abertos ao lado do corpo sem ultrapassar a altura dos ombros.
3. Das posições básicas do balé, essa é a menos utilizada. Uma perna permanece à frente da outra, com o calcanhar da primeira perna tocando o meio do pé que está atrás. Um dos braços fica como na posição 1 e o outro é aberto para o lado como na posição 2.
4. As pernas permanecem uma na frente da outra, como na posição anterior. A diferença é que os pés se afastam 30 centímetros. Os dois braços são mantidos semiflexionados, mas um deles é erguido acima da cabeça.
5. Com uma perna à frente da outra, o calcanhar do pé da frente fica na altura da ponta do pé de trás. Aqui os dois braços devem ser erguidos ao mesmo tempo, mantendo as mãos distantes quatro dedos uma da outra.
Dança a dois
Exemplo de uma simples coreografia em dupla.
1. O bailarino oferece apoio colocando as mãos em volta da cintura da bailarina. Ela se equilibra na ponta de um pé e estica a outra perna quase até a altura do quadril. Os braços dela ficam estendidos, um em direção ao alto e o outro ligeiramente inclinado para baixo.
2. Na sequência, a bailarina dobra a perna que estava apoiada no chão, levando a ponta da sapatilha. na altura da perna que segue estendida. Segurando a parceira com a mão direita pouco a baixo do peito dela, o bailarino possibilita a elevação.
3. Com uma das pernas flexionadas e a outra estendida, o bailarino inclina a parceira à frente e é responsável pelo equilíbrio do casal. A bailarina  mantêm o olhar adiante e quase toca o chão com a mão direita, enquanto o outro braço vai em direção ao ombro do parceiro.

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O que são filmes B?

Essa expressão gera uma certa confusão. "Criou-se a idéia de que todo filme vagabundo de terror ou ficção científica é um filme B. O autêntico filme B ficou no passado, nas décadas de 30 e 40. A generalização por parte da crítica está incorreta", afirma o jornalista Carlos Primati, um pesquisador da história do cinema. Originalmente, os filmes B eram produzidos pela unidade secundária dos grandes estúdios, que, nas décadas de 30 e 40, dividiam suas operações. Na unidade A, eram feitos apenas os filmes de destaque, onde brilhavam os maiores astros. As fitas que saíam da unidade B dos grandes estúdios não tinham estrelas, embora nem sempre o orçamento fosse baixo. Essa dupla produção começou durante a crise econômica americana provocada pela queda da Bolsa de Nova York, em 1929. Como os cinemas perdiam espectadores, surgiu a idéia de atrair o público exibindo dois filmes pelo preço de um.
As sessões duplas apresentavam sempre um filme da unidade A dos estúdios e outro da B, em geral uma fita de faroeste, ficção científica ou de horror. A fórmula dois-em-um fez tanto sucesso que, em 1935, 85% dos cinemas americanos exibiam sessões duplas. Nessa época, os grandes estúdios eram proprietários de cadeias de cinemas, onde mostravam suas próprias fitas. Em 1948, uma lei os forçou a se desvincular das salas de exibição. Sem o controle dos grandes estúdios sobre os cinemas, as sessões duplas perderam força e a era de ouro dos filmes B acabou. A partir dos anos 50, surgiram estúdios empenhados em fazer cinema com baixo orçamento, criando fitas que tinham temas fantásticos e apelativos e que eram exibidos em cinemas modestos. Produções com essas características — como o clássico de horror A Noite dos Mortos Vivos (1968) — acabaram sendo rotuladas como filmes B, embora essa expressão tenha nascido para definir outro período específico da história do cinema americano.
Bons, baratos e birutas
Aqui estão dez clássicos desse estilo cinematográfico que marcou os anos 40.
1940
O Primata, de William Nigh
O ator Boris Karloff é um médico que tenta curar uma garota com poliomielite. Mas, para isso, ele precisa do fluido da espinha dorsal de seres humanos. Quando um gorila perigoso escapa de um circo, ele tem o álibi perfeito para matar pessoas atrás do precioso líquido.
O Vampiro da Morte, de Jean Yarbrough
Após ser traído por seus assistentes, o Doutor Carruthers tem um plano original: criar morcegos gigantes para atacar seus desafetos. O doutor era interpretado por Bela Lugosi.
1941
O Fantasma Invisível, de Joseph H. Lewis.
Uma mulher malvada (Polly Ann Young) e dominadora hipnotiza o marido (Bela Lugosi) para forçá-lo a participar de um plano de assassinato.
1942
O Cadáver Desaparecido, de Wallace Fox.
Um cientista maluco tenta manter sua mulher jovem. Mas, para obter o elixir da juventude, ele rapta mocinhas, extrai seus fluidos corporais e os injeta no corpo de sua amada.
Os Dragões Negros, de William Nigh.
Mais uma vez Bela Lugosi faz um cientista maluco, contratado pelos japoneses para transformar o rosto de seis orientais em cópias de importantes figuras americanas.
1943
A Vingança dos Zumbis, de Steve Sekely.
Nos pântanos da Louisiana, o doutor Max von Altermann, papel de John Carradine, fabrica zumbis para o Exército nazista e transforma a irmã do mocinho do filme numa morta-viva.
1944
A Dama e o Monstro, de Robert Sherman.
Um cérebro vivo (é isso mesmo!) se apossa da mente de um cientista para conseguir executar seus planos de justiça e vingança.
A Volta do Homem-Macaco, de Phil Rosen.
Dois cientistas, Lugosi e John Carradine, encontram o corpo de um homem pré-histórico e decidem trocar o cérebro primitivo dele por um mais desenvolvido para controlar a criatura.
Barba Azul, de Edgar G. Ulmer.
John Carradine vive um criminoso vil e perigoso cujo passatempo predileto era estrangular vítimas indefesas.
1946
Vampiro Diabólico, de Frank Wishar.
Sequência de O Vampiro da Morte. Aqui, a jovem Nina (Rosemary La Planche) pensa que herdou os instintos assassinos de seu falecido pai, o sinistro Doutor Carruthers.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Por que a voz de algumas pessoas é afinada e a de outras não?

Existem dois fatores principais que influenciam a capacidade de afinação de uma pessoa. O primeiro é a habilidade de diferenciar os sons captados, um processo que começa com a recepção pela orelha e vai até seu processamento na área auditiva do sistema nervoso. É ali que são decifrados e classificados os sons recebidos para que depois possam ser reproduzidos com exatidão. Porém, pode ocorrer de a pessoa reconhecer as notas, os timbres e a freqüência musical mas não conseguir repetir o som com exatidão. Aí entra em cena o segundo fator importante na afinação, a capacidade das cordas vocais de alcançarem diferentes notas. Nem sempre as cordas estão treinadas para se encurtarem o bastante na hora de atingir um tom grave nem se alongarem o suficiente para chegar aos tons mais agudos. A soma desses dois fatores é que determina se você é uma cantora ou um cantor em potencial.
"Basicamente, uma pessoa afinada é capaz de distinguir sons e de reproduzi-los adequadamente", afirma a fonoaudióloga Gisele Gasparini, do Centro de Estudos da Voz, em São Paulo. A genética ajuda nessa história, pois alguns já nascem com a capacidade de percepção sonora e a elasticidade das cordas vocais mais desenvolvidas. Mas, assim como você pode correr para exercitar suas pernas, é perfeitamente possível botar seus ouvidos e cordas vocais para malhar com a ajuda de um especialista ou em aulas de canto.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

Como é feito o controle do tráfego aéreo?

Renato Domith Godinho

É mais complicado do que normalmente se pensa. A famosa torre de controle que existe nos aeroportos, na verdade, realiza só uma pequena parte desse processo e geralmente deixa de se preocupar com o avião assim que ele decola da pista. Dependendo do trajeto, entre o momento em que pede autorização para partir e o pouso final, o piloto pode entrar em contato com mais de dez pessoas diferentes pelo rádio, pois a responsabilidade pelo vôo vai passando de uma estação de controle para outra. O céu parece infinito, mas com tantos aviões no ar é preciso coordenar tudo muito bem para impedir que um atravesse o caminho do outro. A parte mais crítica do processo são as zonas que concentram muitos aeroportos, chamadas de áreas terminais pelos controladores. A mais movimentada delas, a de São Paulo - que compreende os aeroportos de Guarulhos, Congonhas, Campo de Marte, Viracopos e vários outros de menor porte - chegou a registrar mais de 100 aviões no ar em um único momento, no horário de pico.
Desse jeito, os controladores devem ser pessoas quase neuróticas, que temem o menor erro em cada minuto, certo? Errado. "Essa idéia de risco constante não tem nada a ver com a realidade. Todas as condições são controladas, nossa operação é padronizada, rotineira, e os controladores não estão sob maior tensão do que muitas outras profissões", afirma o tenente-coronel Hélio da Silva Filho, chefe do Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo (SRPV-SP), órgão da Aeronáutica responsável pelo controle do tráfego aéreo nesse estado e no Mato Grosso do Sul. O trajeto de cada avião segue por um certo número de estradas aéreas pré-definidas. Nas áreas terminais, onde as rotas se cruzam, também há planos pré concebidos para pouso e decolagem. Em geral, os controladores cuidam só de escolher a melhor rota, verificando se o piloto não sai dela e se não há dois aviões próximos seguindo o mesmo caminho na mesma altitude.
Esse trabalho foi muito facilitado pelos computadores, pelo aperfeiçoamento dos radares e pela criação dos transponders, aparelhos localizados nos aviões que respondem ao radar e informam, na tela do controlador, qual o número do vôo, assim como sua velocidade e altitude.
1- Antes de decolar, o piloto preenche um plano de vôo, informando o destino, a trajetória e a altura em que pretende viajar. O plano é comunicado pela torre de controle do aeroporto ao Centro de Controle de Área. O centro aprova ou sugere uma mudança no plano à torre.
2- A torre informa ao piloto que seu plano está aprovado e lhe dá autorização para ir até a cabeceira da pista do aeroporto, quando ela estiver livre. É a torre que escolhe qual pista será usada, dependendo das condições do vento. Finalmente, ela autoriza o piloto a decolar.
3a- Após o avião decolar, a torre não se preocupa mais com ele. Daqui pra frente, o piloto se comunica com o Controle de Área Terminal, que coordena todos os vôos dentro de uma região com muitos aeroportos.
3b- No Controle de Área Terminal, oito duplas de controladores dividem a região, cada uma cuidando de um setor. Em cada dupla, um mantém a comunicação com o piloto e o outro acompanha o processo, descobrindo erros e comunicando-se com as torres e outros centros de controle.
3c- Uma tela é a principal ferramenta dos controladores. Nela cada pontinho representa um avião, com o número do vôo, a altitude e a velocidade. Cada controlador é responsável por cerca de cinco a oito aeronaves. A área terminal de São Paulo vigia vários quilômetros em torno de Campinas e da capital do estado, uma região que forma um oito na tela.
4- Ao sair da área terminal e alcançar a altitude máxima, o avião já está em rota. Agora, ele é acompanhado pelo Centro de Controle de Área até se aproximar do seu destino final. Os controladores desse centro mantêm o piloto informado sobre sua rota e sobre as condições do tempo. O Brasil está dividido em cinco grandes áreas de controle, cujos centros ficam em Brasília, Curitiba, Recife, Belém e Manaus.
5- Quando o vôo se aproxima de seu destino, o piloto faz o caminho inverso: ele deixa de se orientar pelo Centro de Controle de Área e passa a seguir as instruções do Controle de Área Terminal da região de chegada, que vai instruí-lo sobre a aproximação da pista. Quando estiver pronto para pousar, o piloto entra em contato com a torre do aeroporto. Se a pista estiver livre, ele recebe autorização. Se não estiver, ele terá que reduzir a velocidade ou dar uma nova volta pelo aeroporto até poder terminar a viagem.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

A vaca dá leite só quando está amamentando?

Não. As vacas leiteiras, como as das raças jérsei, holandesa e pardo-suíça, são capazes de dar leite por mais de dois anos após o nascimento da cria. "O tempo exato vai depender da característica genética de cada animal", afirma o veterinário Alexandre Vaz Pires, da Esalq. Já as vacas de corte, por sua vez, começam a reduzir sua produção de leite a partir do terceiro mês do nascimento da cria e em torno do sétimo mês oferecem muito pouco do líquido. O período de produção de leite de toda vaca começa quando o bezerro nasce. Para ser prolongado, é preciso que depois do desmame - que ocorre, em média, após 60 dias no caso do gado de leite - a mama do animal seja estimulada pela ordenha natural ou mecânica. Quando a mama é sugada ou pressionada, uma mensagem é enviada ao cérebro da vaca, estimulando a glândula hipófise, que libera um hormônio chamado oxitocina. Essa substância chega à mama pela corrente sanguínea, contraindo as fibras musculares e forçando a liberação de mais leite.
Para interromper essa produção intensiva - o que é conveniente nos dois meses finais de uma nova gestação -, basta parar de ordenhar o animal. "A pressão do leite que se acumula na mama é o estímulo certo para o organismo interromper a produção", diz Alexandre.

Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Os três sóis de Shakespeare

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Três gloriosos sóis, cada um perfeito sol, não separados por nuvens borrascosas, mas brilhando repousados num céu pálido e claro. Olha! Olha! Reúnem-se e abraçam-se, parecendo beijar-se como se houvessem jurado uma aliança inviolável. Agora formam um só archote, uma só luz, um único sol. O céu parece querer assinalar algum acontecimento”, diz Ricardo, duque de Gloucester, mais tarde Ricardo III, filho de Ricardo Plantageneta, duque de York.
Em resposta, o seu irmão Eduardo, conde de March, posteriormente Eduardo IV, afirma: “É maravilhosamente estranho; nunca se ouviu falar de nada semelhante. Creio que esse privilégio nos chama ao campo de batalha, a fim de que nós (...) unamos nossas luzes e alumiemos a terra com nosso esplendor (...). Qualquer que seja o presságio, quero ostentar, desde este momento, três belos sóis sobre o meu escudo”.
Este diálogo entre Ricardo e Eduardo, na peça Ricardo III, do célebre dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), pode parecer que se refira a um sinal divino. Na realidade, Shakespeare recorreu a um dos mais belos fotometeoros para ilustrar a mentalidade supersticiosa daqueles tempos. O fenômeno descrito é o parélio, vocábulo de origem grega (de para = lado + hélio = sol)
O parélio, que sugere a existência de dois outros sóis, um de cada lado do sol, constitui parte de uma conjunto de fenômenos ópticos-meteorológicos luminosos, mais ou menos coloridos, designados da seguinte maneira: (1) pequeno halo, fenômeno mais freqüente; (2) grande halo, pouco frequente; (3) círculo parélico, raro; (4) círculo circunzanital, raro; (5) círculo circunzenital inferior, muito mais raro; na intersecção entre o círculo parélico e o pequeno halo são visíveis os parélios de 22 graus (6) ou “falsos sóis”, em inglês dog’s Sun; por outro lado, na intersecção do círculo parélico com o grande halo, são visíveis com menos intensidade os parélios de 46 graus (7).
As caudas que acompanham cada parélio são orientadas na direção oposta ao Sol, nos círculos parélicos, designação genérica do pequeno e do grande halo. Em casos especiais, a 120 graus, o observador poderá ver os parantélios (8) e, em direção oposta ao Sol, a 180 graus, o antélio (9). Além destes, outros arcos menos ou mais coloridos podem ser assinalados, como o arco de Louwitz (10), um arco tangente superior ao pequeno halo, e o arco de Parry (11), arco tangente ao grande halo no ponto de contato do circunzenital inferior a este halo.
A teoria da formação destes halos e arcos afirma que eles são produzidos pela refração da luz solar em cristais de gelo. A causa meteorológica desse conjunto de fenômenos luminosos é um sistema de baixa pressão que cria violentas correntes, elevando o ar úmido à altitude de 9 mil a 15 mil metros, onde as temperaturas atmosféricas são inferiores ao ponto de congelamento da água. Nessas condições, o ar supersaturado de vapor de água se condensa em nuvens do tipo altos-estratos e/ou cirros, nas quais se desenvolvem cristais de gelo de diversas formas e dimensões. O fenômeno resulta da incidência dos raios luminosos nesses cristais.
A refração num diedro de 60 graus, em cristais de dimensões que atingem até 20 micrômetros, vai produzir o pequeno halo, com o raio de abertura de 22 graus, colorido de vermelho no interior e de azul-violeta no exterior, por efeito da difração. Ao contrário, o grande halo corresponde a fenômeno idêntico de refração por ângulos de 90 graus de uma face e/ou de uma extremidade plana, em cristais de eixo vertical e dimensões de 50 a 500 micrômetros. O raio angular do halo grande resultante é de 46 graus.
Quando os raios solares penetram obliquamente ao eixo dos cristais ocorrem os parélios, ao contrário do que sucede com os halos que resultam de incidência perpendicular aos eixos desses cristais. Por sua vez, o círculo parélio provém de um reflexo de luz sobre as bases planas horizontais. O círculo circunzenital superior resulta da incidência dos raios nos cristais pela face horizontal superior e sua emergência por uma face lateral vertical. Quando a luz penetra por uma face lateral e emerge pela base inferior, forma-se o círculo circunzenital inferior.

Revista Super Interessante n° 020

Para que serve o aerofólio de um carro de Fórmula 1?

Flávio Klocker

A função do aerofólio é diminuir as turbulências causadas pelo vento. Graças a ele, os carros de corrida alcançam velocidades maiores sem necessidade de motores mais potentes. O segredo está na aerodinâmica: os aerofólios têm a forma das asas dos aviões, só que montados ao contrário. Enquanto, nos aviões, a borda posterior das asas é virada para baixo, nos carros de Fórmula 1 é virada para cima. Assim, o ar flui por baixo do aerofólio mais rapidamente, a uma pressão menor do que por cima. Com isso, o ar que flui por cima cria uma pressão aerodinâmica – da ordem de centenas de quilos – que comprime o carro contra o asfalto e garante a estabilidade. A pressão ideal é conseguida variando-se o ângulo de montagem.
Revista Super Interessante n° 020

Contatos com ETs na rota da supernova

Explosão de supernovas pode facilitar contatos com extraterrestres.

Há cerca de trinta anos, desde que os astrônomos começaram a buscar sinais de civilizações extraterrestres, se discute a melhor estratégia para contornar uma colossal dificuldade: os ETs podem dar sinais de vida ao alcance dos radiotelescópios terrestres em qualquer direção e a qualquer hora. Cientistas soviéticos acabam de sugerir que se tire vantagem de um grande evento cósmico, como a explosão de uma estrela de grande massa, ou supernova, para dirigir a busca.
O raciocínio é o seguinte: a explosão em geral é tão brilhante que pode ser vista em qualquer ponto da Via Láctea; logo, uma eventual civilização inteligente na mesma periferia da Galáxia onde está o Sol, mas numa região mais externa, enxergaria a supernova 1987. A, cuja explosão foi percebida da Terra há dois anos. Se desejasse se comunicar, é possível que essa civilização apontasse seus transmissores para o centro da Via Láctea, na suposição de que outros seres inteligentes estariam observando o fenômeno – e assim haveria uma razoável probabilidade de que recebessem os sinais. Apostando nisso, astrônomos australianos e argentinos há mais de um ano prestam atenção nos sinais do espaço na rota da supernova.

Revista Super Interessante n° 020

Estação espacial: fábrica de ar no espaço

Estação espacial americana, a ser lançada em 1996, terá um novo sistema de recuperação de oxigênio a partir de dióxido de carbono, eliminado na respiração dos tripulantes.

Quando a estação espacial americana Freedom (Liberdade) for lançada em 1996, deverá dispor de um novo sistema de recuperação de oxigênio a partir do dióxido de carbono eliminado na respiração dos tripulantes. Evita-se assim um dos problemas crônicos dos vôos espaciais – que devem sempre levar em conta o peso dos bujões de oxigênio e nitrogênio usados pelos astronautas.
Na futura estação, o dióxido de carbono será recuperado na atmosfera das cabines, posto a reagir com hidrogênio, de modo a produzir água e substâncias como carbono e metano. Em seguida, a água, junto com aquela usada para a higiene dos astronautas, será separada por eletrólise em hidrogênio e oxigênio, este último aproveitado para a respiração. O mesmo processo está sendo usado na estação espacial soviética Mir. A cada dois meses, um veículo de abastecimento leva à Mir um carregamento de água que, depois de usada, será eletrolizada.

Revista Super Interessante n° 020

EUA e o uso militar dos supercondutores

Pentágono sugere ao governo americano que aumente os investimentos na área de pesquisa de materiais supercondutores para o setor militar.

Um novo relatório do Pentágono, publicado nos Estados Unidos, descreve como o desenvolvimento de materiais supercondutores pode abrir caminho a uma novíssima geração de armamentos. O relatório recomenda ao setor militar aumentar os investimentos na área de pesquisa (de 70 milhões de dólares em 1989) para 260 milhões até 1993. O Pentágono já banca 46% de toda a pesquisa com supercondutores financiada pelo governo americano. Segundo o estudo, os primeiros resultados desses investimentos seriam utilizados no aperfeiçoamento de vários tipos de sensores e radares para aviões. Componentes eletrônicos feitos de material supercondutor seriam capazes de traduzir os sinais recebidos pelos sensores mais rapidamente e gastando menos energia. Além disso, o relatório também descreve o uso de poderosos imãs supercondutores, capazes de armazenar eletricidade par lasers no espaço de ativar canhões eletromagnéticos e mover navios, aviões e submarinos.
Revista Super Interessante n° 020

Kit antivírus de computador

Especialistas da Universidade Harvard desenvolveram um software que impede e registra qualquer tentativa de acesso não autorizado a informações confidenciais armazenadas na memória do computador.

Surgiu finalmente o que promete ser o antídoto contra os programas- vírus que se converteram em pesadelo para os usuários de computadores. Trata-se de um tipo de software chamado ITOSS – Integrated Toolkit for Operating System Security – ou kit de ferramentas integradas para operar sistemas de segurança.
Desenvolvido por especialistas de Universidade Harvard, de Cambridge, Massachusetts, o kit alerta o usuário para a presença dos vírus que embaralham o sistema, escondidos em mensagens inócuas. Estas, acionadas inadvertidamente, detonam instruções erradas para o computador. O software agora inventado também registra toda tentativa de acesso não autorizado a informações confidenciais armazenadas na memória dos equipamentos. Por fim, impede qualquer alteração na estrutura de um programa à revelia do usuário.

Revista Super Interessante n° 020

Mapa do Cosmo em três dimensões

Astrofísicos brasileiros pretendem montar um mapa tridimensional do Universo, com a ajuda dos dados coletados por um telescópio.

Uma equipe do Observatório Nacional do Rio de Janeiro acaba de concluir o mais completo levantamento das galáxias avistadas do hemisfério sul, com a ajuda do telescópio de 1,6 metros de Brasópolis, sul de Minas. Ao juntar os dados desse levantamento com outros coletados no hemisfério norte, os astrofísicos brasileiros pretendem montar, pedaço por pedaço, um mapa tridimensional do Universo com uma profundidade máxima de 520 milhões de anos-luz.
O objetivo é saber, pela distribuição dos aglomerados de galáxias, como o Universo evoluiu a partir do instante da explosão inicial, o Big Bang. No primeiro levantamento, realizado por astrofísicos americanos, as galáxias pareciam se distribuir em estruturas arredondadas, como bolhas de sabão. Como o modelo brasileiro, o astrofísico Paulo Pellegrini, do Observatório Nacional, pôde afirmar que as regiões com alta densidade de galáxias possuem formatos variados e estão interligadas. Por isso lembram mais a estrutura das esponjas.

Revista Super Interessante n° 020

Nas curvas do espaço-tempo

Clifford M. Will

A geometria invisível do Universo de Einstein povoa o céu de fenômenos pouco familiares, mas cada vez mais próximos do entendimento no cotidiano.
Desde o início da era espacial, há trinta anos, a imagem de astronautas flutuando sem peso em suas naves se tornou bastante familiar. Tanto que a maioria das pessoas já nem sequer se espanta diante desse estranho privilégio, geralmente alardeado por mágicos e faquires, mas na realidade nunca visto aqui na Terra. Para o senso comum, a levitação se explica pura e simplesmente pela ausência de gravidade. Mas não é nada disso: o astronauta flutua porque, na verdade, está caindo. Isso mesmo, caindo. Essa causa, mais intrigante ainda que a própria falta de peso do astronauta tem a ver com espaço, o tempo e o fato de que essas categorias são bem mais concretas na vida do Universo do que se costuma pensar.
Aparentadas entre si, formando o espaço-tempo, essas entidades são capazes de criar um relevo menos ou mais íngreme em pleno vácuo, em que os corpos, de certa forma, tendem sempre a escorregar. Nessa incrível geometria, quando um obstáculo qualquer impede os corpos de escorregar, surge então o peso, uma força que age sobre eles. Não é por outra razão que, na Terra, as pessoas têm a sensação do próprio peso. Já no caso dos astronautas, impulsionados pelos foguetes ladeira acima no espaço-tempo, graças à velocidade sua queda se transforma num perpétuo giro em volta da Terra.
Essas idéias todas parecem esdrúxulas, mas não são – o problema é que as pessoas ainda não estão acostumadas a elas. Só muito recentemente a ciência e a tecnologia começaram aos poucos a aproximar o homem comum de um Universo onde os fenômenos são bem diferentes daqueles que ocorrem na experiência cotidiana no mundo comparativamente estreito da superfície terrestre. Os relógios dos astronautas, por exemplo, já podem registrar as sutis alterações no ritmo do tempo, provocadas pelos vales e cordilheiras cósmicas. Acontece que o tempo passa mais lentamente onde a inclinação do espaço-tempo é mais acentuada. Para todos os efeitos práticos, a diferença ainda é desprezível em quase todos os casos em que é preciso ver as horas no espaço, mas à medida que cresce a exigência de exatidão nos afazeres humanos a variação tende a se tornar importante.

No movimento dos corpos, um cenário mais claro
Mesmo que assim não fosse, as novas idéias sobre o espaço e o tempo, formuladas pelo físico Albert Einstein na segunda década do século, deveriam merecer a maior atenção. Afinal, foi a partir delas que se chegou ao conceito de evolução do Universo, isto é, a sua origem em uma tremenda explosão, há cerca de 15 bilhões de anos, e a transformação final das estrelas nos abismos conhecidos pelo nome de buracos negros. Agora mesmo se supõe que existia um buraco negro por assim dizer às portas da Terra, entre as estrelas que formam a Galáxia da Via Láctea. É possível até que todas as galáxias abriguem um personagem celeste desse tipo, constituído exclusivamente por uma fantástica ruptura no tecido do espaço-tempo.

O vasto cenário que se abre à aventura
Por que tudo cai na mesma velocidade?
Do  homem não é fácil de visualizar, mas se torna bem claro quando se manifesta no movimento dos corpos, seja uma estrela, um astronauta ou uma simples bola de tênis. Um exemplo extraordinário é a própria superfície da Terra, em que todos os corpos caem com a mesma velocidade, não importa se o que está caindo é uma pedra, um chumaço de algodão ou um gato. Se todos esses corpos caírem de uma altura de 10 metros, sua velocidade de choque, ou seja, medida no instante em que atingem o solo será sempre exatamente igual a 14 quilômetros por hora.
Como será que isso é possível, se há tanta diferença no tamanho, no peso e no material de que são feitos?
A resposta revolucionária da Física moderna é que todos eles escorregam em um mesmo tobogã, ou seja, fazem a mesma curva no espaço-tempo. Assim, a análise dos corpos em queda mostra que espaço e tempo não são meros símbolos, mas participantes ativos do mundo físico, onde empurram, freiam ou deixam rolar os objetos. Em uma palavra, determinam os seus movimentos.

A trajetória de uma bola nas rotas relativísticas
É verdade que desde o século XVII se conhecia esse fato desconcertante, mas quase trezentos anos se passaram até que, em 1916, Einstein dissesse, pela primeira vez, que isso acontecia devido à curvatura do espaço-tempo.
A partir daí, ele escreveu a sua Teoria da Relatividade Geral. Esta, durante décadas, carregou a fama de genial, mas incompreensível. Agora, quando começa a ganhar importância prática, vê-se, por exemplo, como é simples desenhar a trajetória de uma corriqueira bola de tênis nas rotas relativísticas. A primeira tarefa é travestir o tempo em uma espécie de espaço, uma mágica muito comum na moderna Astronomia. De fato, os astrônomos não medem as cósmicas distancias em quilômetros, mas sim em anos- ou em anos-luz, já que para trabalhar com o espaço-tempo é preciso usar a velocidade da luz, igual a 300 mil quilômetros por segundo.
Assim, para criar uma distância correspondente a determinado tempo, basta tomar o percurso cumprido pela luz nesse período. No caso, um ano-luz é igual à cerca de 10 trilhões de quilômetros. Da mesma maneira, quando uma bola de tênis sobe 10 metros em 1,4 segundos, pode-se dizer que ela percorreu no espaço-tempo a distancia de 420 mil quilômetros, resultado da multiplicação de 1,4 por 300 mil. Isso porem é apenas o começo da conversa. A seguir, é preciso desenhar num diagrama a trajetória completa da bola. Naturalmente, a “distância-tempo” não pode ser medida nas dimensões conhecidas – altura, largura e comprimento, que são as direções próprias do espaço.
Além delas, é necessário imaginar também uma dimensão para o tempo. A idéia de movimento sempre ajuda. Por exemplo, pode-se pensar o espaço tradicional como se fosse uma sala fechada, dentro da qual uma bola se move segundo as direções familiares. Isso posto, pode-se também supor que a própria sala esteja em movimento, de tal modo que, mesmo se estivesse imóvel entre suas quatro paredes, a bola se deslocaria junto com ela. A distância coberta pelo movimento da sala representaria, para a bola, a dimensão do tempo. A comparação com a sala tem uma contrapartida muito concreta no Universo real, que não é como outrora já se pensou uma esfera fixa, cheia de estrelas girando em seu interior.

A casca de laranja fica maior e mais espessa
Hoje em dia se sabe que a própria esfera cósmica se move em constante expansão, de forma que, como no caso da sala, mesmo que estivessem imóveis umas em relação às outras, as estrelas estariam se deslocando junto com o Universo. Vale a pena acompanhar esse curioso deslocamento. Para tanto, é preciso entender que o Universo não é visto propriamente como uma esfera: ele constitui apenas a superfície da esfera, em cujo interior não existe nada. Exatamente como a casca de uma laranja sem os gomos dentro. Assim, quando se expande, a casca se torna cada vez maior e, ao contrário do que possa parecer, mais espessa.
O resultado é semelhante ao que acontece com dois pontos assinalados sobre um balão: à medida que este for inflado, eles ficarão cada vez mais longe um do outro. E isso realmente ocorre com as galáxias: eles estão constantemente se afastando entre si a medida que o Universo envelhece. Alguns cientistas chegam a especular que se pode associar a expansão cósmica ao próprio fluxo do tempo. Mas tudo indica que uma coisa nada tem a ver com a outra. O exemplo da sala e da esfera universal tem apenas o valor de uma analogia, de modo a dar uma idéia mais palpável do tempo, raciocinando em termos de movimento.
Mas, esse caso, o ideal é observar um dos curiosos fenômenos protagonizados pela luz: as suas mudanças de cor. Ao ser emitida  por uma estrela, jorra em um raio azul, mas se torna vermelha para um observador nas proximidades. Esse fenômeno passa por várias etapas e acaba conduzindo à curvatura do espaço-tempo. A primeira observação importante é que a cor é uma simples medida da quantidade de energia luminosa está concentrada no tempo, ou seja, a cor indica a energia que chega ao olho a cada momento. Somando agora os dois eventos, conclui-se que o tempo na superfície da estrela deve ser curto. De fato, a cada momento, jorra um grande pacote de energia num raio azul, mas o observador vê o pacote avermelhado.
Como o pacote é o mesmo, ou seja, não houve perda de energia no caminho, foi o tempo que encolheu.
Comportamento da luz é o dado mais importante
na superfície da estrela. Finalmente, na última etapa do processo, cabe perguntar por que o tempo muda de tamanho. A resposta de Einstein e que a grande massa da estrela esmaga o espaço-tempo em suas vizinhanças, mais ou menos como o peso de uma bola de aço amassa uma superfície de borracha. A dilatação do tempo devido à curvatura do espaço-tempo tem sido vista nas mais inesperadas circunstâncias, como nos pulsares, ou astros degenerados, como dizem os astrônomos, que surgem depois do colapso de grandes estrelas e se transformam numa espécie de gigantesco relógio cósmico.
Há cerca de cinco anos, de fato, os astrônomos se espantaram com um pulsar que gira 640 vezes por segundo em torno de si mesmo e, cada volta, emite um preciso sinal de rádio. É um pulso que se repete a cada período de 1,56 milésimo de segundo, mais preciso do que qualquer relógio atômico já construído. Mas a curvatura do espaço-tempo criada pelo Sol prejudica essa pontualidade, introduzindo um desvio de até 5 por cento no ritmo com que os pulsos de rádio são recebidos na Terra.
O teste da estrela deu razão e fama a Einstein
O desvio tanto pode apressar quanto atrasar o sinal de rádio, pois surge quando a Terra se aproxima ou se afasta do Sol, mudando, portanto de posição no espaço-tempo. Essas oscilações na órbita do planeta, por sua vez, são causadas pela presença da Lua girando à sua volta.
Fenômenos desse tipo surgem com freqüência na Astronomia e são medidos com confiança cada vez maior por aparelhos mais modernos e em circunstancias mais favoráveis. Eles vêm se juntar aos primeiros testes realizados para comprovar a Teoria da Relatividade, há cerca de cinquenta anos. O teste mais famoso, que transformou Einstein numa celebridade, foi realizado em 1919 e estava relacionado com a passagem da luz de uma estrela nas proximidades do Sol. Nesse caso, porém, não se mediu uma mudança relacionada com o tempo, como no exemplo da mudança de cor, mas sim uma alteração espacial. Os cientistas puderam verificar, na época, que a luz de uma estrela distante sofre um desvio em direção ao Sol por causa da forte curvatura do espaço-tempo criada por ele. Desse modo, a estrela parece fora de seu lugar tradicional no céu.
Por ai se nota que, embora tão invisível quanto o tempo, a curvatura do espaço também pode ser vislumbrada indiretamente. Um fenômeno do mesmo tipo vem causando sensação nos últimos anos por causa de alguns astros que parecem estampados em duplicata, com imagens espaciais idênticas e próximas uma da outra. Supõe-se que essa visão estrábica se deva a uma vasta distorção do espaço-tempo criada por uma concentração de matéria escura que não pôde ser detectada. Localizada entre a Terra e algum astro distante, a distorção funcionaria como uma lente desfocada, que bifurca a luz e a imagem original.
A prisão da Terra deixou todo mundo mal-acostumado
Naturalmente, para lidar com todos esses fenômenos, os físicos não precisam se preocupar com imagens nem com analogias de espécie alguma. Trabalham diretamente com geometrias curvas de quatro dimensões diferentes, mas tão boas para fazer cálculos quanto, para o comum dos mortais a velha geometria do colégio. Por exemplo, num espaço curvo, a menor distância entre dois pontos não é uma reta, como se aprende na escola. Em vez disso, a menor distância pode ser um círculo, como acontece na superfície da Terra
Se a Terra fosse plana, o caminho mais curto entre São Paulo e Tóquio seria, de fato, uma reta. Mas como o planeta é uma esfera e não se pode cavar um túnel ligando diretamente essas cidades, a maneira mais rápida de fazer o percurso é acompanhar a curva da superfície. Uma expressão-chave nesse raciocínio é “a maneira mais rápida”. É a partir dela que os cientistas investigam os movimentos possíveis no espaço-tempo. No caso da Terra, como se viu, estão excluídos os movimentos em linha reta, do mesmo modo que, dependendo da forma das curvas no espaço-tempo, há certas trajetórias impossíveis de serem feitas. Existem ainda outras trajetórias que são possíveis, mas não são as mais econômicas em relação ao tempo gasto e às distâncias percorridas.
É certo que uma superfície esférica é bastante simples. Para começar, só tem duas dimensões, isto é, basta conhecer a longitude e a latitude de um lugar na Terra para saber a sua posição. Já o espaço-tempo, com suas quatro dimensões, exige quatro números para designar a posição de um corpo na sua arquitetura. Além disso, o espaço-tempo apresenta um sério complicador: não tem nenhum ponto de referência, como os pólos, os oceanos e outros marcos que ajudam a orientação na Terra. Essa complicação, certamente, é o que causa mais espanto na nova Física: o fato de viver preso  a face da Terra deixou todo mundo mal acostumado.
Mas o universo einsteiniano também possui marcos de referencia – o mais importante é a luz, cujo comportamento é a luz, cujo comportamento sempre pode ser usado para obter informações corretas sobre uma distância ou determinado período de tempo. Foi uma análise desse tipo que se fez no exemplo da luz que muda de cor e denuncia o ritmo do tempo na estrela. Outra referencia indispensável para começar a compreender o espaço-tempo são os movimentos básicos que permitem prever o comportamento dos corpos em diversas circunstancias. Vislumbradas desde a Antiguidade como resultada da experiência, essas regras fundamentais foram inteiramente reformuladas por Einstein.
Para o grego Aristóteles, por exemplo, todos os corpos obedeciam à norma de permanecer em repouso; e, quando em movimento, de perder gradualmente a velocidade caso não fossem empurrados constantemente. Foi uma boa idéia para o mundo limitado de século IV a.C. Mas cerca de 2 mil anos depois afirmou-se oposto. Os corpos nunca perdem ou ganham velocidade, a não ser que sofram a ação de uma força. A nova idéia foi um grande sucesso. Neste século. Einstein ampliou o conceito.
Até então a gravidade era considerada uma força do mesmo tipo que o atrito com o ar ou outro obstáculo que diminuíram a velocidade de um corpo. Mas Einstein retrucou que havia uma diferença básica, já que as forças comuns dão mais velocidade aos corpos mais leves, ao passo que a gravidade altera a velocidade aos corpos mais leves, ao passo que a gravidade altera a velocidade de todos os corpos por igual. Assim, todos os corpos em queda, a cada momento, têm sempre a mesma velocidade, como se não houvesse força alguma em ação. Dessa forma, a gravidade cedeu lugar à idéia de curvatura do espaço-tempo, abrindo as portas para um novo Universo.
Menor distância é uma curva
Nem sempre é possível caminhar em linha reta entre dois pontos – é o que impõem os espaços curvos, como, por exemplo, a superfície esférica da Terra. Por isso, a menor distância entre duas cidades como São Paulo e Tóquio é um arco de círculo. Enquanto isso, um avião percorre a menor distância entre dois pontos em um espaço plano, no qual vale a Geometria tradicional. É uma reta e não um arco de círculo. Até a época de Einstein, se pensava que a Geometria do Universo fosse plana, mas ele mostrou que essa idéia não podia ser afirmada arbitrariamente. Como no caso da superfície da Terra, pode haver obstáculos que imponham uma forma para o espaço. Einstein provou, de fato, que a Geometria do Universo é influenciada pela quantidade de matéria existente no espaço e no tempo – este, segundo a Relatividade, também deve ser incluído nessa geometria. No espaço-tempo, a menor distância entre dois pontos é dada por uma curva chamada geodésica. É uma linha que só pode ser desenhada em um diagrama. Qualquer corpo em queda, na verdade, está rolando sobre uma curva geodésica.
Até as crianças entendem
Quem tem dificuldade para visualizar o escorregadio mundo relativístico pode tomar lições com as crianças. Espontaneamente, aos 6 anos, elas começam a usar o conceito de velocidade para analisar o movimento – naturalmente, sem se dar conta disso. Essa operação mental é o ditame central da Teoria da Relatividade, toda construída com a ajuda da velocidade da luz. O próprio Einstein, em 1928, quis saber do grande psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) se a noção de velocidade era anterior ou posterior à do tempo, no processo de formação de inteligência. Piaget, depois de uma pesquisa, respondeu que a velocidade vinha antes.
De fato, se uma criança vê dois bonecos lado a lado movendo-se com a mesma velocidade num certo percurso, não tem dúvida de que ambos levaram o mesmo tempo para fazer o trajeto. Mas, se um dos bonecos for mais veloz, a criança dirá que durante o seu movimento transcorreu mais tempo. “Não se trata de erro”, escreveu Piaget: a criança, para ele, tem consciência de que os dois bonecos partem e param ao mesmo tempo; acontece que o boneco mais rápida,  num mesmo tempo, percorre uma distância maior, induzindo a criança a dizer que demorou mais – o que na realidade não ocorreu.
O essencial nesse caso, diz Piaget, é a noção de ultrapassagem – o fato de que os bonecos saem lado a lado, mas um deles termina na frente do outro. Para a criança, isso basta para analisar o movimento, dispensando a distância realmente percorrida e a duração do percurso. Essa conclusão animou alguns físicos franceses a abandonar a velha definição de velocidade, onde o espaço e o tempo são as intuições básicas. Partiram direto para uma definição ancorada na idéia de ultrapassagem e assim reescreveram a Relatividade de modo mais simples.
Um funil que jamais acaba
No buraco negro, o espaço-tempo é um abismo de inclinação infinita. Na ilustração, vê-se a trajetória de um raio de luz rumo a esse sorvedouro: as paredes do espaço-tempo constrangem o seu movimento em uma espiral cada vez mais afunilada. O círculo amarelo na boca do funil é o horizonte do buraco negro. Um raio de luz que apenas resvale nesse horizonte pode escapar do funil. Caso contrário, não haverá saída.
A bola percorre 420 mil km
O Universo de Einstein possui quatro dimensões: altura largura, profundidade e tempo. Certamente não é possível desenhá-lo numa folha. Mas é mais simples do que parece. A dimensão corresponde ao tempo pode ser obtida a partir de um movimento de uma bola de tênis, que pode alcançar 10 metros em 1,4 segundo. Nesse tempo a luz percorre 420 mil quilômetros, pois sua velocidade é de 300 mil quilômetros por segundo. Aquela é a distancia que a bola percorre no espaço-tempo para chegar ao ponto mais alto de sua trajetória no espaço tradicional. Combinando as duas coisas em um diagrama se obtém a trajetória da bola no espaço-tempo.
Quem cai não sente o peso
A queda, na Relatividade, não é provocada por uma força. Por isso o homem na árvore não sente o seu peso. Ela apenas cai, isto é, realiza o movimento mais fácil possível na região do espaço-tempo em que se encontra. Sua situação é semelhante à do astronauta na estação espacial. Esta também está em queda livre; a diferença é que nunca chega ao solo porque se move igualmente na horizontal, girando em torno da Terr. Já o homem, que não tem movimento lateral, logo voltará a sentir o seu peso  no choque com o solo.
Duas causas e um só efeito
O homem sentado na cadeira sofre a ação da aceleração, mas não cai porque a cadeira, evidentemente, o impede, dando-lhe a sensação de peso. Já o astronauta, numa situação em que não há gravidade, sofre apenas a ação da aceleração dos motores na nave – um movimento cuja origem parece totalmente diversa daquela que causa a sensação de peso no homem da cadeira. Mas, para a Física moderna, o astronauta não tem como distinguir os efeitos de uma coisa e outra: sente a pressão da cadeira sobre as costas como se fosse o próprio peso.

Revista Super Interessante n° 020