Esse dom invejável está intimamente associado às penas, que,
embora leves e flexíveis, são, ao mesmo tempo, fortes e resistentes. Dependendo
da espécie, um pássaro pode ter entre 1 000 e 25 000 penas espalhadas pelo
corpo. Mas elas não são as únicas responsáveis pelos shows aéreos que as aves
costumam apresentar - na verdade, cada elemento da anatomia desses animais foi
feito para que eles pudessem voar. "O formato aerodinâmico do corpo, o
esqueleto, a musculatura, o modo de vida e o hábitat são outros fatores que
ajudam no deslocamento aéreo", afirma o ornitólogo Martin Sander, da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo, RS. Ainda
assim, as asas são as peças principais, por exercerem dois papéis fundamentais:
como um propulsor, elas impulsionam o pássaro à frente; e, como um aerofólio,
dão a sustentação necessária para mantê-lo flutuando no ar.
Hoje, voar é uma
capacidade quase exclusiva das cerca de 9 600 espécies de aves existentes, mas
nem sempre foi assim. Outros animais de médio porte também já foram capazes de
deslizar pelo céu. Era o caso dos pterodátilos. Os cientistas acreditam que
esse réptil se comportava como uma ave marinha, voando em bandos e frequentando
praias há cerca de 200 milhões de anos. Já o mais antigo fóssil de ave
encontrado é o de uma espécie do período jurássico, entre 208 e 144 milhões de
anos atrás. Batizado de Archaeopteryx lithographica, ele foi achado na Alemanha
em 1860.
Obra-prima de anatomia
As aves têm penas,
ossos e músculos feitos sob medida para vencer a gravidade.Flap orgânico
O polegar dos pássaros tem a mesma função do flap das asas dos aviões, aumentando ou diminuindo a força de sustentação que mantém o pássaro no ar.
Esqueleto light
Alguns dos ossos do crânio, do peito e da região das asas são ocos - e, portanto, bem mais leves que o normal. Isso facilita ainda mais o voo.
Vigor muscular
O esterno (osso do peito) possui uma quilha na maioria das aves de onde saem os músculos peitorais. Essa musculatura é a mais forte e desenvolvida, porque movimenta as asas.
Leque natural
Cada pena tem um eixo de onde partem inúmeras ramificações, que vão sendo enganchadas umas nas outras. A estrutura transforma a pena num leque ultra- resistente ao vento.
Radar meteorológico
Na região do peito existem penas especiais que funcionam como órgãos sensores, detectando as alterações na velocidade e na direção das correntes de ar - informações das quais os pássaros sabem tirar proveito durante o voo.
Esquerda, volver
As penas da cauda auxiliam na direção, orientando o vôo para a direita ou para a esquerda.
Plumas de impulsão
As asas têm vários tipos de penas, mas nem todas desempenham um papel fundamental no vôo. As que mais se destacam nessa função são: rêmiges primárias (1) - servem para dar o impulso à frente durante o bater das asas; rêmiges secundárias (2) - ajudam a sustentar a ave no ar; álulas (3) - têm função aerodinâmica, regulando o ar que bate na asa.
Aerofólio animal
Não foi à toa que os aviões copiaram das asas dos pássaros o formato de aerofólio. Ele faz com que o ar que passa por cima delas (seta menor) tenha pressão inferior ao que passa por baixo (seta maior). Esse efeito aerodinâmico gera a força de sustentação necessária para vencer a gravidade.
Uma questão de estilo
Dois casos especiais provam que nem todas as aves voam de modo igual.
Planador emplumado
Os albatrozes não gostam de fazer esforço para voar - preferem pegar carona em massas de ar quente. Para isso, eles ficam com as asas abertas, mas sem batê-las: apenas planando.
Velocista imbatível
O pássaro mais rápido do mundo é o falcão-peregrino, que voa a 160 km/h. Quando está perseguindo uma presa, porém, ele é capaz de mergulhar a velocidades de até 320 km/h!
Revista Mundo Estranho Edição 10/ 2002
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