É uma região com água e vegetação encravada no meio de um
deserto - um dos poucos lugares em que a sobrevivência do homem nas areias
escaldantes é possível. No Egito, registros arqueológicos indicam que o homem
já explorava esses locais há 7 mil anos. "Em todo o planeta, duas em cada
mil pessoas - algo em torno de 15 milhões de habitantes - vivem em oásis. Em
alguns deles, há mais de mil moradores por quilômetro quadrado", diz o
geógrafo Roberto Verdum, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista
em desertificação. Os tipos tradicionais de oásis aparecem em áreas escavadas
pelo vento, onde o lençol d’água subterrâneo fica próximo do solo. Pelas fendas
nas rochas, o líquido dos reservatórios encontra um caminho até a superfície,
jorrando em fontes que hidratam homens e animais, fazem surgir uma faixa de
palmeiras ao redor das lagoas e irrigam pequenas plantações.
Nos 9 milhões de
quilômetros quadrados do deserto do Saara, onde certas regiões passam quase dez
anos sem uma única gota de chuva, os oásis são uma dádiva. Para povos nômades
da África, como beduínos e tuaregues, eles servem como pontos de parada de
caravanas há quase três milênios. No início da era cristã, os europeus
perceberam a importância estratégica desses enclaves no processo de
colonização. Ainda no século 1, os romanos expulsaram os nômades dos oásis no
sul da Líbia e passaram a controlar as rotas de comércio pelo deserto. A tática
se repetiu na colonização européia do século 19, quando exércitos franceses e
italianos começaram a dominar os povos do Saara com a conquista dos oásis. No
século 20, as modernas técnicas de irrigação modificaram a ocupação dessas
regiões. "No norte da África,
milenares lavouras de sustento foram substituídas por grandes plantações de
exportação.O resultado é que a água dos oásis não é mais suficiente para abastecer as comunidades locais", diz Verdum. Para resolver o problema, os governos locais investem na criação de oásis artificiais, por meio da perfuração de poços artesianos de até 2 500 metros de profundidade.
Santuário quente
Tempestades de areia abrem espaço para a água brotar.
Rebanho antiecológico
As criações de cabras surgiram no Saara há 6 500 anos. Os numerosos rebanhos dos povos nômades devoram qualquer arbusto do deserto. O problema é que os bichos arrancam até as raízes dos vegetais, agravando a desertificação.
Água com sal e peixes
Dependendo do tipo de rocha por onde passam os depósitos subterrâneos de água, o líquido pode chegar à superfície contendo sal. Por isso, em boa parte dos oásis a água precisa ser purificada antes de matar a sede. Outra curiosidade dessas fontes no deserto é que em algumas delas as comunidades povoam os lagos com peixes para reforçar o cardápio.
Sopro inicial
As impressionantes ventanias do deserto movem até 260 milhões de toneladas de areia por ano. Quando as tempestades de areia são fortes e constantes, a erosão provocada por elas deixa o lençol freático próximo da superfície, dando origem aos oásis. No norte da África, eles aparecem em depressões de até 100 metros abaixo do nível do mar.
Melhor amigo do homem
Capazes de suportar até dez dias sem comer e uma semana sem beber água, os camelos servem para o transporte e para o arado. Quando podem matar a sede, os bichos tomam até 90 litros para recuperar a energia.
Casas naturais
A vida que se desenvolve nos oásis é matéria-prima para as casas dos povos nômades. Os tuaregues erguem suas zeribas com troncos de árvores e folhas de palmeiras. Já os beduínos preferem as tradicionais tendas, feitas de peles de cabra armadas em estacas.
Solo frágil
Contendo poucos minerais, os solos arenosos são pobres em nutrientes. A agricultura só é possível em solos de argila, capazes de reter mais água e material orgânico. Para garantir a colheita, os nômades costumam usar os excrementos de seus rebanhos como adubo.
Árvore da vida
A tamareira, palmeira típica dos oásis, cresce rápido no calor escaldante e tem raízes adaptadas para sugar a água dos depósitos subterrâneos. Ela é fundamental para os povos do deserto: além do fruto saboroso e nutritivo, a ponta do caule fermentada dá origem ao legbi, um vinho de aroma forte e doce.
Roupa dos pés à cabeça
Por ter pele clara, o homem do Saara precisa usar túnicas volumosas como proteção contra o calor de 50 ºC, reduzindo a perda de líquido pela transpiração.
Sombra que alimenta
O Saara guarda registros de plantações de cereais há 6 mil anos, quando o deserto ainda era uma savana. Nos oásis, técnicas de irrigação e a sombra das tamareiras permitem a cultura de vegetais resistentes ao sol forte, como grão-de-bico, amendoim, feijão, cenoura e cebola.
Revista Mundo Estranho Edição 11/ 2003
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