domingo, 30 de junho de 2013

Agosto na história

Maria Carolina Cristianini

DIA 3- Forças luso-brasileiras comandadas pelo sargento Antônio Dias Cardoso derrotam os holandeses na Batalha do Monte das Tabocas. O embate deu início à guerra para expulsão dos invasores da região, o que só ocorreria nove anos depois.
Em 1645, no monte das Tabocas, em Pernambuco.

Eu me lembro
"Graças ao sargento-mor Antônio Dias Cardoso e mediante favor divino alcançou-se a vitória. Tudo alcançado após Deus, pela boa ordem com que Dias Cardoso dispôs a batalha, dando (...) muito exemplo (...) que em quatro horas de batalha mostrou sem descansar, acudindo a todas as partes com bravo ânimo."

Trecho escrito por João Fernandes Vieira, um dos líderes da guerra.
DIA 4- A escritora Rachel de Queiroz se torna a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras. Ela venceu por 23 votos a 15 o jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda e ganhou a cadeira n° 5, fundada pelo poeta Raimundo Correia.

Em 1977, no Rio de Janeiro
DIA 6- Vindo de Nova Granada, atual Colômbia, e após vencer seis batalhas contra os espanhóis, Simón Bolívar entra em Caracas e é aclamado como “o libertador”. A luta de Bolívar pela independência iria até 1824 em outros três países além da Venezuela: Colômbia, Equador e Peru.

Em 1813, na Venezuela
Eu me lembro

"Eu estava prestes a completar 16 anos e, já dedicado à literatura, nada de relevante ligado às letras me escapava. Torci muito para que Rachel de Queiroz entrasse na Academia. Fiquei sabendo do fato pelo jornal do dia seguinte e vibrei bastante. A Academia me parecia uma instituição envenenada pelo moralismo e pelas limitações da época, entregue à ditadura. A entrada de Rachel na casa dos imortais significava uma oxigenação num ambiente purista demais, formal ao extremo. Abrindo suas portas para uma mulher, enfim a Academia começava a mostrar uma face de novos tempos, apontando para a democracia que ainda demoraria um pouco a chegar."
Paulo Bentancur, escritor e crítico literário

DIA 9- Durante a guerra civil romana, com Júlio César de um lado e Pompeu de outro, acontece a decisiva Batalha de Farsália, vencida por César. O derrotado seguiu para o Egito, onde foi assassinado. E César se tornaria ditador em Roma.
Em 48 a.C., na Grécia

DIA 9- Na prova de revezamento 4 x 100, o atleta americano Jesse Owens ganha sua quarta medalha de ouro nas Olimpíadas de Berlim. Negro, ele calou por um tempo Adolf Hitler e seus ideais de superioridade da raça ariana.
Em 1936, em Berlim, na Alemanha

DIA 11- Numa manifestação contra o presidente Fernando Collor de Mello que reuniu cerca de 15 mil pessoas na avenida Paulista, estudantes pintam seus rostos com palavras de ordem. A partir daí, se tornariam conhecidos como “caras-pintadas”.
Em 1992, em São Paulo

Eu me lembro
"Tinha 17 anos e fui à manifestação por achar importante participar do movimento. No meio da passeata, resolvi pintar meu rosto com batom. Uma amiga escreveu a palavra ‘fora’ em mim e eu escrevi ‘chega’ nela. A idéia era mostrar o que nós estávamos sentindo, mas no dia seguinte minha foto saiu nos jornais e me tornei uma espécie de símbolo dos caras-pintadas. Compareci às outras passeatas, mas aquela foi muito emocionante para todos os jovens que lutaram pela saída de Collor. Estávamos engajados em algo que poderia mudar o país. Sempre acreditei que a luta dos estudantes daria certo, fiz minha parte e vou continuar fazendo."

Cecília Lotufo, administradora de empresas
DIA 15- Erguida pelo arquiteto Giovanni dei Dolci sob as ordens do papa Sisto IV, a Capela Sistina tem sua primeira missa celebrada. A construção da capela, chamada de Sistina por causa do nome do papa, havia começado oito anos antes.

Em 1483, no Vaticano
DIA 22- Representantes de 12 países assinam a Primeira Convenção de Genebra, que cria o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. O documento falava sobre melhores condições de tratamento a feridos  em guerras e estabelecia o uso do emblema da Cruz Vermelha em unidades de socorro.

Em 1864, em Genebra, na Suíça
DIA 24- Em meio à guerra entre os dois países, iniciada dois anos antes, tropas britânicas derrotam as forças americanas ao desembarcarem no território inimigo e seguem para a cidade de Washington, onde incendeiam a Casa Branca, o Capitólio e outros prédios públicos.

Em 1814, em Washington
DIA 28-Soldados do governo imperial iniciam uma violenta repressão contra a Confederação do Equador. A revolta em protesto contra a Constituição que centralizava o poder nas mãos de dom Pedro I terminaria em novembro.

Em 1824, em Pernambuco

Aventuras na História n° 048

Hatsepsut: Meu reino por um dente

Rodrigo Cavalcante

Primeira governante do Egito identificada por um molar.
Até o mês passado, duas múmias de mulheres que morreram há quase 3500 anos no antigo Egito tinham a mesma probabilidade de serem da rainha Hatsepsut, a mulher que comandou sozinha o país por volta do século 15 a.C. Mas um pequeno dente quebrado encaixado com perfeição em uma delas permitiu, em junho, que arqueólogos do Egito finalmente identificassem a múmia.
O dente, que estava em uma caixa de madeira que deveria conter os órgãos internos da rainha, se encaixou perfeitamente na múmia de uma mulher obesa que sofria de diabetes. Essa tal mulher morrera na faixa dos 50 anos, provavelmente de câncer ósseo.
Hatsepsut, que morreu em 1479 a.C., era conhecida por usar as mesmas vestimentas dos homens faraós que a antecederam. Em suas representações, ela aparecia semelhante a um homem, sem seios. Durante seu reinado de 21 anos, a rainha tornou-se também famosa por erguer grandes edificações e expandir o comércio do Egito.

Aventuras na História n° 048

Fotos de São Paulo: Para alemão ver

Giovana Sanchez

Fotos da São Paulo do começo do século 20 serviram de propaganda para a migração.
Quem vê hoje as fotografias de São Paulo tiradas pelo alemão Werner Haberkorn nas décadas de 30 e 40 se impressiona pela paisagem arborizada e limpa da cidade ainda em desenvolvimento. Mas há algo mais importante por trás delas. Essas imagens convenceram muitos alemães a emigrarem para o Brasil, antes da Segunda Guerra.
Werner se apaixonou por São Paulo logo em sua primeira visita, em 1936. Achou a cidade um ótimo refúgio para uma Europa em clima de guerra, um lugar de oportunidades onde seria possível construir uma vida nova. Voltou para Mislowitz, na Alemanha, onde morava, e começou a fazer palestras sobre essa descoberta para seus conterrâneos. Queria convencer vizinhos, parentes e amigos a se mudarem para cá. “Ele mostrava as fotos e dizia que o Brasil era um lugar ensolarado, bonito, de progresso”, conta seu filho Ernesto Haberkorn, hoje com 64 anos.
O trabalho do senhor Werner foi tão eficiente que muitas famílias alemãs seguiram com ele para São Paulo, em 1937. E suas fotografias viraram um negócio sólido no novo país. Instalado no centro da cidade com a esposa, ele abriu a Fotolabor, um dos primeiros laboratórios de fotografia de São Paulo. Lá, fazia imagens panorâmicas de São Paulo, cartões-postais e fotos para catálogos de empresas. O alemão, que não saía de casa sem a câmera, era especialista em imagens feitas de cima, do lugar mais alto que encontrasse. “Um dia eu estava trabalhando na loja e um cliente ligou dizendo que não se responsabilizaria por meu pai, que queria subir numa caixa-d’água, aos 85 anos, para fazer as fotos de uma fábrica”, diz Ernesto.
Hoje, dez anos após a morte de Werner Haberkorn, muitas dessas fotos estão expostas no Museu do Ipiranga, no Museu de Arte de São Paulo e no Centro Cultural Itaú, todos em São Paulo. Algumas das 300 obras do acervo pessoal do alemão também podem ser vistas no Espaço Cultural Werner Haberkorn, fundado por seu filho, no bairro de Santana. As imagens são renovadas a cada 90 dias.

Aventuras na História n° 048

Peste bubônica: Morte sobre Londres

Cláudia de Castro Lima

Um Diário do Ano da Peste relata como uma epidemia devastou a Inglaterra em 1665.
A peste bubônica é uma doença provocada por uma bactéria transmitida pela pulga de rato contaminada. Ninguém sabia disso na Londres de 1665. Mas todos conheciam o poder devastador da peste – no século 14, ela exterminara quase um terço da população européia em cinco anos. Por isso, quando uma nova epidemia começou a ganhar forma em 1665 na Inglaterra, a população entrou em pânico.
Milhares fugiram às pressas da cidade. Os que ficaram – em geral os mais pobres – assistiram a cenas grotescas. Conforme a epidemia se espalhava, especialmente entre junho e setembro, os mortos eram jogados aos montes em valas comuns. As famílias com alguma suspeita de doença eram trancafiadas em casa. Assim, se houvesse um só doente, todos podiam acabar se contaminando e morrendo.
As ruas ficaram vazias. Os mais miseráveis acabavam morrendo lá mesmo. Se não de peste, de fome, porque tudo estava fechado. As pessoas desviavam umas das outras nas ruas com medo da contaminação. O comércio parou, a economia estancou. Desesperada, a população apelava para a religião e para as mais diversas crendices. Os ladrões aproveitavam para saquear as casas abandonadas ou aquelas onde todos tinham sucumbido à peste.
O jornalista e escritor Daniel Defoe, que mais tarde ganhou fama com seu livro Robinson Crusoé, tinha apenas 4 anos quando a peste estourou. Anos depois, dedicou-se a pesquisar sobre a epidemia. Juntou  dados oficiais e lembranças de sobreviventes e lançou, em 1722, Um Diário do Ano da Peste (Artes e Ofícios). Mescla de ficção (ele narra o livro como se fosse um comerciante de selas) com realidade, Um Diário... é uma primorosa descrição da tragédia que se abateu sobre Londres. E que matou entre 68590 pessoas (dados oficiais) e 100 mil (número estimado por Defoe). Mas poupou, entre outros, Daniel Defoe e Isaac Newton, que fugiu. Para o bem da literatura e da ciência.

Aventuras na História n° 048

Gandhi, em nome da paz

Eduardo Szklarz

Há mais de 60 anos, a Índia se libertou do domínio inglês graças à luta de um homem que nunca aceitou a injustiça - e provou ao mundo que uma revolução podia ser feita sem armas.
Silêncio na sala de aula. Começa o ditado. "Uma das palavras era ‘chaleira’, que eu escrevi errado. O professor tentou me avisar com a ponta da bota, mas não entendi que ele estava me dizendo para colar a palavra do colega ao lado. (...) O resultado foi que todos escreveram a palavra corretamente, menos eu, considerado estúpido. O professor procurou me alertar sobre minha estupidez, mas nunca consegui aprender a arte de colar. Mais tarde, soube de outras falhas cometidas por esse professor, mas minha admiração por ele nunca diminuiu."
Com essa pequena história, narrada por Gandhi em sua autobiografia, talvez seja possível começar a entender quem ele era. Alguns dizem que ele foi um político muito religioso, outros o vêem como um religioso extremamente político. O mais provável é que tenha sido ambas as coisas: para Gandhi, religião e política eram dois lados da mesma moeda. Normalmente nos lembramos dele como o velhinho careca e seminu, tão frágil quanto seus óculos redondos, que há 60 anos botou o Império Britânico para correr sem precisar de fuzis ou canhões. Pouco se diz, entretanto, sobre como Gandhi desenvolveu essa estratégia e a capacidade de respeitar os outros, não importa o que fizessem (característica que lhe valeu o título de Mahatma - "grande alma", em sânscrito).
Foi na África do Sul, onde viveu por mais de 20 anos, que Gandhi percebeu que o mundo podia ser mudado com a resistência pacífica. Depois, na Índia, tornou-se o principal líder do processo de independência. Mas, como veremos, nem ele foi capaz unir um povo dividido por disputas políticas e intolerância religiosa.

Para inglês ver
Mohandas Karamchand Gandhi nasceu em 2 de outubro de 1869 na cidade indiana de Porbandar, filho de um político influente e de uma mulher muito religiosa - que costumava jejuar dias seguidos, seguindo um ritual hindu de purificação. Aos 13 anos, o jovem Mohandas se casou com Kasturbai, da mesma idade. Aos 18, foi estudar Direito em Londres. No início, se esforçou para ser um gentleman, pois achava que as roupas e os costumes ingleses lhe trariam sucesso. Com o tempo, porém, voltou-se à vida espiritual: passou a recitar de cor o Bhagavad Gita, um dos principais textos hindus. Também leu a Bíblia, adotando como lema os versos do Sermão da Montanha - aquele que diz: "Se vos esbofeteiam, oferecei a outra face".
Em 1891, o advogado Gandhi voltou à Índia. Por causa da timidez em falar em público, sua carreira não engrenava. Mesmo assim, foi convidado para ajudar a defender uma firma de comércio indiana num processo na África do Sul - assim como a Índia, uma colônia do Império Britânico. Nem bem pisou o solo sul-africano, em 1893, Gandhi sentiu na pele a discriminação contra "homens de cor". Durante uma viagem, foi jogado de um trem por se recusar a sair da primeira classe, exclusiva para brancos. Era um exemplo claro de que, mesmo que se vestisse como um inglês e tivesse estudado em Londres, ele nunca poderia ser livre numa colônia.
Após um ano na cidade de Pretória, o trabalho de Gandhi terminou. Mas ele decidiu ficar e lutar pelos direitos de seus conterrâneos que viviam na África do Sul - a maioria deles trabalhadores rurais. Em 1894, por exemplo, Gandhi percorreu o país reunindo milhares de assinaturas contra um projeto de lei que impedia os indianos pobres de votar. A medida foi aprovada do mesmo jeito, mas a atitude virou manchete na imprensa européia.
Em 1906, pai de quatro filhos, Gandhi fez um voto celibatário. O objetivo era aumentar o autoconhecimento e se aproximar de Deus. No mesmo ano, lançou a doutrina do satyagraha (ou "força da verdade"). Gandhi dizia que seu método exigia muita ação e coragem - contrariando uma idéia comum, ele não pregava a "resistência passiva". O pilar fundamental é a não-violência: protestar sempre, revidar nunca (muitas vezes, isso significava apanhar quieto da polícia). A regra era se recusar a seguir leis injustas, seguindo o princípio da "desobediência civil".
O satyagraha estreou contra uma lei feita para controlar imigrantes, que obrigava os indianos a se registrar com impressões digitais. Gandhi reuniu seguidores num teatro e declarou: "Por meio da nossa dor, nós os faremos perceber sua injustiça. Podem me torturar e até me matar. Terão meu corpo, não minha obediência". Como o governo não revogou a lei, Gandhi queimou seus registros e foi preso. Sempre que era levado a julgamento, acusado de desafiar o domínio colonial, Gandhi dizia que era isso mesmo que ele estava fazendo. Em vez de tentar escapar da prisão, concordava que merecia a pena máxima. Mas, como suas prisões geravam protesto, Gandhi costumava ser solto rapidamente.
O principal rival de Gandhi era o general Jan Christian Smuts, administrador da África do Sul. Aos poucos, contudo, ele foi conquistado pelo teimoso indiano. "Nunca o vi deixar-se contaminar pelo ódio. Seus métodos me irritavam, mas reconheço que minha situação era difícil. Eu tinha que aplicar uma lei que não contava com respaldo popular. Quando foi embora da África do Sul, me deu sandálias que ele mesmo tinha feito. Eu as devolvi: não me considerava merecedor de usar o mesmo calçado de um homem tão grande", escreveu Smuts em 1939.

Volta para casa
Em 1914, Gandhi voltou à terra natal. Graças à repercussão de sua atuação na África, logo se tornou um dos líderes do movimento pela independência da Índia. Mas ele percebeu que não seria fácil convencer os grupos religiosos do país a se unirem para lutar de modo pacífico. Naquela época, os indianos estavam divididos em 300 milhões de hindus, 100 milhões de muçulmanos e 6 milhões de sikhs. Unidos pela revolta contra os ingleses, eles tinham muitas diferenças entre si.
No início de 1919, Gandhi evocou a resistência não-violenta contra leis que davam aos ingleses poderes ilimitados contra a oposição. O movimento virou uma greve geral que paralisou o país, mas descambou para a violência. Gandhi então interrompeu a ação e começou um período de jejum para expiar sua culpa e se opor ao derramamento de sangue. No dia 13 de abril, tropas inglesas reprimiram a tiros uma multidão que protestava pacificamente na cidade de Amritsar, matando cerca de 400 pessoas e ferindo 1100. Depois do massacre, Gandhi interrompeu a cooperação com os britânicos. Começou mudando a própria imagem: raspou totalmente o cabelo e nunca mais usou trajes que não fossem vestimentas indianas tradicionais. Incitou o povo a fabricar suas roupas em casa e parar de comprá-las da Inglaterra- ele mesmo dava o exemplo, fazendo tecido com sua roca.
Os protestos arrancavam concessões dos britânicos, mas a independência ainda parecia distante. Em 1930, Gandhi inovou: em vez de fazer jejum, resolveu queimar algumas calorias numa marcha. Seguido por milhares de indianos, caminhou quase 400 quilômetros rumo ao mar da Arábia para fazer sal. Aparentemente banal, o ato era uma violação do monopólio britânico sobre a fabricação do produto. Indianos de todo o país seguiram o exemplo, vendendo sal nas ruas. A repressão prendeu desde políticos até pessoas comuns. Com as cadeias lotadas, o vice-rei lorde Irwin, governante inglês da Índia, se dispôs a negociar. Em 1931, foi quebrado o monopólio sobre o sal. Sinal de que a independência seria questão de tempo.

Sonho partido
Enquanto dobrava os britânicos, Gandhi não conseguia conter os radicais hindus e muçulmanos, que realizavam atentados terroristas. Durante a Segunda Guerra, iniciada em 1939, a tensão cresceu. Gandhi disse que a Índia só apoiaria a Inglaterra se, ao fim do conflito, ganhasse a independência. Não houve acordo. O líder prosseguiu com seus protestos e foi preso em 1942. Dois anos depois, com a rivalidade entre hindus e muçulmanos beirando o caos, Gandhi começou a jejuar contra as hostilidades. Com medo de que ele morresse, os grupos rivais se acalmaram.
Gandhi voltou a comer, mas logo a violência recomeçou. Em maio, sofrendo de malária, ele foi solto pelos ingleses. Tentou, então, fazer com que os radicais hindus depusessem as armas. Fracassou. Por meio de cartas, tentou convencer Mohammed Ali Jinnah, maior líder muçulmano da Índia, a apoiar a criação de um só país após a independência. Mas ele tinha outros planos: exigia a divisão do território e a criação de um país islâmico, o Paquistão (ou "terra dos puros").
Após a Segunda Guerra, a Inglaterra estava frágil demais para manter sua maior colônia. Em março de 1947, desembarcou na Índia Louis Mountbatten, nomeado o último vice-rei. No dia 1º de abril, Gandhi se reuniu com ele e propôs que a colônia virasse um país só. Mal sabia que seu discípulo Jawaharlal Nehru, um dos líderes do Partido do Congresso, já havia dito a Mountbatten que os hindus, assim como os muçulmanos, preferiam a divisão.
Em 14 de agosto, o Paquistão declarou sua independência. À 0h do dia seguinte, a Índia fez o mesmo. Nehru virou primeiro-ministro da Índia e Jinnah assumiu o poder da nação vizinha. Gandhi nem foi aos festejos. Tinha 78 anos e viu que era tempo de dedicar-se à vida religiosa. Em 30 de janeiro de 1948, por volta das 5 da tarde, quando chegava para rezar num jardim de Nova Délhi, Gandhi foi morto a tiros por um extremista hindu. Suas últimas palavras foram "He Ram" - "Oh, Deus" no dialeto devanagari.
Gandhi foi logo transformado em mártir. Mas, recentemente, sua imagem intocada se tornou alvo de críticas. Em um artigo na revista americana Time, em 1998, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie citou o filme Gandhi como exemplo da "santificação ocidental não-histórica" do personagem: "Lá estava Gandhi, como guru, provendo esse produto da moda, a sabedoria oriental. Gandhi como Cristo, morrendo para que os outros pudessem viver". Segundo Rushdie, o culto ao líder parece insinuar que sempre é possível ganhar a liberdade sendo mais ético que o opressor, o que nem sempre ocorre. No fim da vida, o próprio Gandhi reconheceu que a não-violência talvez não tivesse adiantado contra os nazistas.

Com a razão, contra a lei
Entenda o princípio da desobediência civil.
Quando fazia seus protestos, Gandhi estava colocando em prática uma idéia do século 19. A paternidade do conceito de desobediência civil é atribuída ao pensador americano Henry D. Thoreau. Segundo ele, se uma lei fosse "flagrantemente injusta", você poderia desobedecê-la. No século 20, o filósofo americano John Rawls definiu a desobediência civil como "um ato público, não-violento, contrário à lei e usualmente feito para produzir uma mudança na lei ou em políticas de governo". Mas o que isso significa? Em primeiro lugar, que a desobediência civil não significa desprezo às leis em geral. "Você tem consciência de que está desrespeitando uma lei porque deseja outra melhor. E, mesmo desobedecendo essa lei, continua disposto a se expor às suas conseqüências", diz o cientista político Cicero Araujo, da Universidade de São Paulo. "Todo ato de desobediência civil também precisa ser previamente avisado." Gandhi cumpria à risca essas condições: declarava-se leal à Constituição inglesa, sempre avisava antes de cada campanha e nunca resistia ao ser preso. Ao atuar abertamente, Gandhi diferenciava suas manifestações de atos criminosos (quando um ladrão rouba, ele faz isso escondido porque não pode justificar sua ação publicamente). A desobediência civil só pode ser feita contra leis que boa parte da sociedade ache injustas. Um bom exemplo foi a legislação racista do sul dos Estados Unidos, combatida nos anos 50 e 60 pelo pastor Martin Luther King - que agia da mesma forma que Gandhi e deixava a polícia numa sinuca: como pode ser certo usar de violência para reprimir manifestações pacíficas? "‘Civil’ vem da idéia de civilizado, em contraponto ao armado", diz Araujo. Para quem quiser tentar, um aviso: a desobediência civil só funciona em países que se comprometem com o valor das leis - em ditaduras, ela não faz sentido.

Irmãos em luta
Separados, Índia e Paquistão se tornaram rivais.
A maior derrota sofrida por Gandhi foi a divisão da Índia, em agosto de 1947. Jawaharlal Nehru, um dos líderes do Partido do Congresso e discípulo de Gandhi, passara muito tempo defendendo a unidade do país, mas acabou temendo o que aconteceria com os hindus se o governo fosse assumido pela minoria muçulmana. Já Mohammed Ali Jinnah, líder da Liga Muçulmana, nunca abandonou a idéia de criar de um Estado islâmico separado da Índia, o Paquistão. "Para ele, era legítimo o direito de secessão das zonas em que a identidade muçulmana era majoritária", diz o italiano Francesco D`Orazi Flavoni no livro Storia dell´India ("História da Índia", sem tradução no Brasil). Jinnah costumava dizer que a Índia não era uma nação, e sim um subcontinente habitado por nacionalidades, das quais as duas principais eram a muçulmana e a hindu. A divisão prevaleceu, mas não houve uma separação cirúrgica. De repente, milhões de pessoas estavam "do lado errado" e precisavam cruzar centenas de quilômetros para chegar a seu novo país. Muitos nunca chegaram. Segundo a pesquisadora indiana Sunil Khilnani, da Universidade de Carleton, no Canadá, a divisão provocou o deslocamento de algo entre 12 milhões e 16 milhões de pessoas, além da morte de cerca de 1 milhão em conflitos. As divergências entre os dois lados tampouco desapareceram com a independência. Índia e Paquistão se enfrentariam em três guerras (1947-1948 e 1965, pelo controle da Caxemira, e 1971, quando o Paquistão Oriental se tornou Bangladesh) e desenvolveram armas nucleares.

Aventuras na História n° 048

A origem do bolo de aniversário

Rodrigo Cavalcante

Delicioso costume teve origem nas oferendas feitas aos deuses da Antiguidade.
Celebrar uma data importante com direito a guloseimas tem sua provável origem nas festas de culto aos deuses da Antiguidade. Agradeça à deusa Ártemis, celebrada pelos gregos como a matrona da fertilidade, pelo aparecimento do bolo de aniversário. Ele é provavelmente a evolução de um preparado de mel e pão, no formato de uma lua, que fiéis levavam ao famoso templo em homenagem a ela em Éfeso, antiga colônia grega na atual Turquia.
Há especialistas que defendem outra teoria. Segundo ela, a tradição surgiu na Alemanha medieval, onde se costumava preparar uma massa de pão doce no formato do menino Jesus no Natal. Depois essa guloseima seria adaptada para a comemoração do aniversário de crianças.
Já o uso de velas também teria sido herdado do culto aos deuses antigos, que tinham a missão de levar, por meio da fumaça, os desejos e as preces dos fiéis até o céu, para que eles fossem atendidos.
Mas e as festas de aniversário? Até hoje, não se sabe a data exata de quando os nascimentos começaram a ser celebrados. Ainda nos dias atuais, a comemoração é um costume ocidental nem sempre seguido por outros povos. No Vietnã, por exemplo, os aniversários não são comemorados individualmente no dia do nascimento – e sim coletivamente, no ano-novo vietnamita, que segue o calendário lunar e acontece, em geral, entre os nossos 21 de janeiro e 9 de fevereiro.
Embora não saibam exatamente quando a tradição surgiu no Ocidente, os historiadores sabem que a festa já era conhecida na Antiguidade. “Os romanos não apenas comemoravam o dia do nascimento como tinham um nome para a festa: dies sollemnis natalis”, diz o historiador Pedro Paulo Funari, da Universidade Estadual de Campinas. “Há, por exemplo, um registro do século 2 em que uma cidadã chamada Cláudia Severa convida sua amiga Sulpícia Lepidina para a comemoração”, diz.
Outra tese que reforça a idéia de que foram os romanos os difusores dessa tradição é a existência de túmulos que registram com precisão o número de anos, meses e dias no sarcófago – o que indica que eles sabiam o dia exato do nascimento do sujeito. “Eles também comemoravam outros aniversários, como o da fundação de Roma, em 21 de abril”, diz Funari.

Aventuras na História n° 048

O código de Newton: o lado religioso do físico

Rodrigo Cavalcante

Manuscritos do cientista revelam seu esforço para interpretar sinais ocultos na Bíblia.
Na escola, qualquer estudante sabe que as leis de Newton, como as que regem a gravidade e o movimento dos astros, provocaram uma revolução científica na explicação do movimento dos corpos celestes. Duzentos e oitenta anos após sua morte, uma exposição na Biblioteca Judaica da Universidade de Jerusalém, em Israel, revela que o britânico também tinha outro tipo de preocupação celestial.
Os manuscritos expostos mostram ao público, pela primeira vez, o lado religioso de Newton. Isso mesmo: o homem que tratou sobre a lei da gravidade usou seu gênio, quem diria, para tentar decifrar as escrituras religiosas. Em um trecho dos manuscritos – que até pouco tempo atrás só podiam ser vistos por historiadores e especialistas –, Isaac Newton se esforça para calcular a data do Apocalipse a partir da leitura do livro de Daniel, na Bíblia. De acordo com seus cálculos, o fim do mundo não deveria ocorrer antes do ano 2060. Em outro manuscrito, ele tenta interpretar as profecias bíblicas para calcular exatamente quando Jesus retornaria a Jerusalém.
Newton buscou sinais ocultos até na planta do Templo de Jerusalém. “Ele acreditava que havia um tipo de conhecimento perdido no passado que poderia ser decifrado a partir do estudo de detalhes como as dimensões de um templo”, disse Yemina Bem-Menahm, uma das curadoras da exposição, para o USA Today.
Não havia, porém, nenhuma contradição na relação que Newton tinha tanto com a fé quanto com a física. Os historiadores sabem que na época em que ele nasceu, em 1642, ciência, matemática, magia e religião andavam de mãos dadas. Só no fim do século 18, com o Iluminismo, os campos começaram a se separar. Como escreveu, com certo exagero, o economista britânico John Maynard Keynes em 1936, após ter acesso aos escritos do cientista: “Newton não foi o primeiro da Idade da Razão. Foi o último dos mágicos”.

Assim estava escrito
As anotações de Newton sobre o fim do mundo e a volta de Jesus

Sobre o fim do mundo
“Ele deve ocorrer mais tarde (que 2060), não vejo razão para que termine antes.”

Sobre o retorno de Jesus
“(O fim dos dias) verá a ruína das nações pecadoras, o fim dos choros e de todos os problemas, o retorno dos judeus cativos e a preparação para o florescimento de um reino eterno.”

Aventuras na História n° 048

Diana, a princesa do povo

Ana Paula Alfano

A vida e a morte de Diana Spencer.
Diana Spencer deixou de ser princesa, oficialmente, com o fim do casamento com Charles, primeiro na linha de sucessão do trono britânico. Mas continuou sendo uma das pessoas mais admiradas pelos ingleses – e a mais fotografada por paparazzi. Conheça a trajetória de Lady Di do berço até o acidente de carro em Paris que tirou sua vida, há exata uma década.

1961 - Filha caçula
Às 19h45 de 1º de julho nasceu Diana Frances Spencer em Norfolk, Inglaterra. Terceira filha mulher de Frances Ruth Burke Roche e de Edward John Spencer, tinha ancestrais como o rei inglês do século 17 Carlos II e Ana Bolena, uma das esposas de Henrique VIII.

1967 - Pais separados
Quando os pais de Diana se separaram em 1967 – supostamente por causa de um caso de Frances, começou um briga pela guarda dos dois filhos caçulas, Diana e Charles, vencida pelo pai. Já adulta, a princesa teria dito a amigos que o divórcio de seus pais fora tão traumático que ela queria uma família unida e feliz.

1975 - Já “lady” Di
Com a morte do avô de Diana, que era conde, o pai dela herdou o título. Como filhas de conde, Diana e as irmãs ganharam o título de “lady”. A família então se mudou para Althorp, em Northamptonshire, propriedade do século 16 que pertencia aos Spencer. Na escola, Lady Di mostrava talento especial para a música e para a dança.

1980 - Professorinha
A primeira foto famosa feita por um paparazzo foi tirada no jardim de infância onde a já namorada do príncipe trabalhava (Charles era seu ex- cunhado, pois namorara sua irmã). O fotógrafo a clicou com alguns alunos – e a saia revelou mais do que deveria.

1981 - Casamento lotado
No dia 29 de julho, Diana, 20 anos, e o príncipe Charles, 32, se casaram na catedral de St. Paul, em Londres. A cerimônia teve 3 500 convidados, mas foi vista por 750 milhões de pessoas, porque a televisão a transmitiu ao vivo. Com o casamento, Lady Di mudou o título para “sua alteza real a princesa de Gales”.

1982 - Depressão pós-parto
Nasceu em 21 de junho William, primeiro filho de Diana (o segundo, Harry, nasceu em 1984). A princesa declarou depois que sofreu de depressão pré e pós-parto.

1987 - Sem preconceito
A princesa rompeu o protocolo, durante uma visita ao hospital Middlesex, na Inglaterra, em abril, e cumprimentou, sem luvas, nove pacientes infectados com o vírus HIV. Foi a primeira celebridade a ser fotografada nessa situação, uma atitude política para combater o preconceito com a doença.

1992 - Separação oficial
A separação de Charles e Diana foi anunciada em 9 de dezembro. Os rumores de que o casamento não ia bem começaram antes, em 1985. Em junho de 1992, Diana: a sua Verdadeira História, escrito pelo jornalista Andrew Morton com a ajuda da princesa, transformou Charles em vilão. A opinião pública ficou do lado de Diana.

1996 - Entrevista polêmica
Diana comprou guerra contra a família real ao questionar o futuro reinado de Charles, numa longa entrevista ao programa de TV Panorama BBC. “Como príncipe de Gales, Charles tem mais liberdade. Ser rei seria mais sufocante”, disse ela. A entrevista foi vista por 22 milhões de pessoas.

1997 - Perseguição e morte
Em 31 de agosto, Diana saiu de carro do hotel Plaza, em Paris, com o namorado, “Dodi” Al-Fayed. Perseguido por paparazzi, o carro bateu e matou Dodi, o motorista Henri Paul e Diana. O funeral dela, em 6 de setembro, foi visto por 1 bilhão de pessoas.

Aventuras na História n° 048

Festa em Roma: os banquetes e as orgias

Fabiano Onça

Banquete costumava acabar em orgia.
Quanto maior o império, maiores as festas que a nobreza e os aristocratas ofereciam. O que dizer sobre o Império Romano, um dos maiores de todos os tempos? Tamanho era o gosto deles por jantares luxuosos e festas, que costumavam evoluir para orgias, que alguns políticos resolveram a baixar leis para moderar a farra. Uma delas, a Antia Lex, do século 1, limitava os gastos com essas comemorações e instituía que os magistrados só poderiam jantar fora se fosse na casa de determinadas pessoas. Claro, ninguém obedeceu. Acabou sobrando para o autor, Antius Resto. Segundo o filósofo Macrobius, como todos continuavam com suas orgias, para não contrariar a própria lei ele nunca mais foi visto jantando fora.
Outro bom exemplo da paixão romana pelos banquetes é personificado por Marcus Gavius Apicius. Amante da boa vida, gastava verdadeiras fortunas em seus jantares. Entre suas extravagâncias, adorava língua de flamingo e nunca servia couve – chegou a dizer ao filho do imperador Tibério que era “comida de pobre”.

RSVP
A melhor forma de demonstrar poder era oferecer jantares.

Vai rolar a festa
Um aristocrata podia medir seu prestígio com o número de jantares e festas ao qual era convidado. Ser convidado para os jantares certos, como os organizados pelo general Lucius Lucullus (110-56 a.C.), também era uma honra. Melhor que isso, só mesmo oferecer o jantar.

Traje a rigor
Vestir a toga era um privilégio masculino que escravos ou mulheres não usufruíam. Elas vestiam a stola, vestido de linho recoberto com a palla, um manto. Outras maneiras de elas ostentarem: penteados inusitados e jóias, muitas jóias.

Paladar exótico
Um bom festim chegava a ter sete pratos. Na abertura, peixes, ostras marinadas e pratos exóticos, como línguas de passarinho (uma porção tinha cerca de mil). O prato principal era uma carne. E as sobremesas eram frutas ou tortas feitas à base de geléia e mel.

Sem indigestão
O mais marcante no salão eram os tricliniuns, leitos com encosto para comer e beber – só pobres e escravos comiam sentados. Quem queria realmente esbanjar utilizava pratos de porcelana vindos da China.

Dança erótica
Além da lira, a música era tocada com chitara e tambores vindos do Egito ou castanholas da Espanha. Com ela, a orgia também começava. O cordax, por exemplo, era uma dança grega, altamente erótica, que despertava as paixões.

Prato principal: escravos
Quanto mais escravos, melhor. Eles serviam para trocar os potes de água quente para os convidados limparem as mãos, espantar moscas ou como objeto sexual. Luxo era designar que alguns com uma tocha levassem os convidados para casa.

Cardapius tipicus
Iguarias exóticas constavam do menu de uma típica festa romana.

Entradas
• Mariscos e ovos

• Mamas de porco recheadas com ouriços-do-mar salgados
• Pasta de miolos com leite e ovos

• Cogumelos cozidos com molho de peixe gordo apimentado
Pratos principais

• Gamo selvagem assado com molho de cebola, arruda, tâmara de Jericó, uva passa, azeite e mel.
• Outras cozidas com molho doce

• Flamingo cozido com tâmaras
Sobremesas

• Fricassê de rosas em pastel
• Tâmaras secas recheadas com nozes e pinhões, cozidas em mel

• Bolos quentes africanos de vinho doce com mel
• Frutas

Aventuras na História n° 048

Por que a ginástica artística é conhecida no Brasil como ginástica olímpica?


Guilherme Castellar
Na verdade, Daiane, o esporte em que você arrebenta é chamado de diversas formas no mundo inteiro. "Ele sempre teve muitos nomes: ginástica em aparelhos, ginástica de aparelhos e solo, ginástica desportiva, ginástica olímpica...", diz Nestor Soares Publio, ex-presidente da Federação Paulista de Ginástica e autor do livro Evolução Histórica da Ginástica Olímpica. Mas a essência de sua dúvida, Daiane, está na, digamos, oficialidade do nome, né?
Pois bem, tudo começou em 1881, com a criação da Federação Internacional de Ginástica (FIG) em Bruxelas, na Bélgica. A primeira língua oficial da entidade foi o francês, idioma em que o esporte acabou sendo batizado como gymnastique artistique, ou seja, "ginástica artística". E assim ele passou a ser tratado nas Olimpíadas.
No Brasil, a modalidade chegou ainda no século 19, trazida por imigrantes alemães. Nessa época, ela tinha o nome genérico de "ginástica". Em meados do século 20, o esporte começou a se tornar mais conhecido no país por influência dos Jogos Olímpicos. Aí foi inevitável ele se espalhar com o nome de "ginástica olímpica", pois era justamente durante os Jogos que ganhava destaque. Em 1978, o nome popular acabou oficializado no estatuto da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e assim permanece até hoje. "Ele poderá ser mudado, mas isso exige a aprovação em assembléia-geral dos filiados da CBG, o que já foi tentado pelo menos em duas oportunidades", afirma Nestor.
Apesar do insucesso até agora,a tendência é que a unificação da nomenclatura acabe mesmo ocorrendo. "Hoje, com mais pessoas tratando-a como ginástica artística, acho que seria mais fácil mudar o nome", diz Eliane Martins, supervisora das seleções da CBG.
Mas não se preocupe com toda essa confusão, Daiane. Seja ginástica olímpica, seja artística, estaremos todos torcendo  para você faturar uma medalha em Atenas!

 Revista Mundo Estranho Edição 30/2004

Como se tornar um dublador?

Tiago Jokura

Vai ser difícil alguém no Brasil ganhar 5 milhões de dólares para dublar um filme, como Cameron Diaz em Shrek 2. Além de não ser tão fácil ficar milionário na profissão, a coisa exige talento. "Conseguir sincronizar sem perder a interpretação não é para qualquer um", afirma Maria Inês Moane, diretora artística do estúdio de dublagem Álamo. Confira a seguir a versão brasileira dessa carreira.
FORMAÇÃO
Graduação: antes de dublar é preciso atuar. "A gente usa a voz para reinterpretar um personagem, em outra língua", diz Wendel Bezerra, que empresta a voz a Bob Esponja, entre outros personagens de cartoons. Por isso, um dos pré-requisitos da profissão é cursar artes cênicas (graduação) ou teatro (profissionalizante).
Outros cursos: a dublagem é uma especialização para atores. Cursos específicos para a carreira podem ser encontrados nos sindicatos da categoria (www.satedsp.org.br e www.satedrj.org.br) ou no site www.cursodedublagem.com.br
O que se aprende: postura diante do microfone, técnicas de respiração, dicção, interpretação e principalmente sincronismo labial.
TRABALHO
Área de atuação: estúdios de dublagem, trabalhando em filmes de cinema, home-vídeos, desenhos animados, seriados e novelas.
Dia-a-dia: a pontualidade é fundamental. O ator é chamado pelo estúdio sem contato prévio com o material a ser dublado e precisa terminar tudo no horário estabelecido. Por outro lado, também pode ficar dias sem trabalho.
Situação do mercado: é um mercado restrito. O profissional pode ser empregado fixo de um estúdio ou trabalhar como freelance, ganhando por hora de trabalho em ambos os casos.
O que vale mais a pena: o dublador pode fazer tipos com características físicas completamente diferentes das dele, o que jamais conseguiria como ator.
Por que pensar duas vezes: o trabalho não é tão valorizado pelas distribuidoras. Além de muitas vezes ter suas vozes substituídas sem ser comunicados antes, os dubladores raramente conseguem receber direitos de exibição.
REMUNERAÇÃO
Salário inicial: o piso da profissão é de cerca de 55 reais por hora de trabalho
Salário possível após dez anos:
se tiver uma carga horária cheia e acumular a função de diretor de dublagem, o profissional pode ganhar de 12 mil a 14 mil reais por mês.

Revista Mundo Estranho Edição 30/ 2004

Transar faz bem para a saúde?

Rodrigo Rezende

Faz bem, sim. Apesar da energia que o nosso corpo gasta com o ato sexual, com a produção de espermatozóides e com o ciclo reprodutivo da mulher, o investimento compensa (confira os principais benefícios na ilustração ao lado). Do ponto de vista evolutivo, pode-se dizer que só transamos porque o sexo faz bem. De acordo com o psicólogo John Tooby, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, a reprodução sexuada só existe na espécie humana - e em várias outras - porque garante a nossa sobrevivência. Se não trocássemos genes uns com os outros, seríamos um prato cheio para os micróbios, entre outras ameaças. A variação genética impede que uma doença causada por um único vírus, por exemplo, acabe com toda a raça humana. Se transar traz benefícios, ficar só na vontade por muito tempo pode prejudicar a saúde. "A falta de sexo traz conseqüências para o homem. Ocorre um efeito conhecido como blue balls, no qual os testículos ficam doloridos devido ao acúmulo de líquidos. E, se a abstinência não for um ato deliberado, também pode trazer efeitos psicológicos negativos, como depressão e ansiedade", afirma o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., diretor do Instituto Paulista de Sexualidade. Já o excesso de rala-e-rola não chega a fazer mal. "Só há problema quando isso se torna o foco das ações no cotidiano", afirma a psicóloga Iracema Teixeira, da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Agora que você já sabe que o sexo é um remédio natural e prazeroso, só não vá esquecer de se proteger contra doenças sexualmente transmissíveis e contra uma gravidez indesejada.
Bula do prazer

Sexo seguro ajuda a prevenir doenças como o câncer de próstata e reduz o risco de infarto.
Cabeça no lugar

O sexo libera endorfina e serotonina no cérebro. Esses neurotransmissores reduzem o estresse e a depressão e, de quebra, ajudam a regular o sono. Uma vida sexual ativa aumenta a auto-estima e previne contra distúrbios psicológicos em geral.
Haja coração

O hábito de fazer sexo três ou mais vezes por semana reduz pela metade o risco de infarto em homens. O aumento da atividade cardíaca durante o ato sexual melhora a irrigação e a oxigenação do corpo, dificultando o acúmulo de gordura nos vasos sanguíneos.
Clínica de beleza

Mulheres com mais atividade sexual apresentam maiores níveis do hormônio estrógeno, que é essencial para manter a pele macia e brilhante. Além de auxiliar no tratamento de pele, esse hormônio ajuda a combater a osteoporose e o mal de Alzheimer.
Antibiótico de graça

Quem tem uma vida sexual ativa mantém o sistema imunológico sempre alerta. Uma pesquisa recente provou que fazer sexo uma ou duas vezes por semana aumenta em 30% o nível de imunoglobulina A, um tipo de anticorpo encontrado nos sistemas digestivo e respiratório.
Contra o câncer

A ejaculação elimina elementos cancerígenos que se acumulam no fluido seminal. Isso reduz a incidência de câncer na próstata, uma das maiores causas de morte entre os homens. Só não vale esquecer a camisinha, pois sem ela pode ocorrer infecções que aumentam em 40% o risco de câncer.
Malhação total

Pélvis, coxas, tórax, pescoço, braços, pernas, barriga, nádegas. O sexo trabalha a musculatura de todas essas partes do corpo. Mas, antes de cancelar a academia, saiba que um ato sexual queima, em média, 150 calorias, o equivalente a apenas 20 minutos de caminhada.
Faro aguçado

Logo após o ato sexual, ocorre a produção de prolactina. Pesquisas realizadas com roedores, ainda não comprovadas em testes com humanos, mostram que esse hormônio estimula a área do cérebro responsável pelo olfato.
Analgésico natural

"Hoje não, amor. Estou com dor de cabeça." Essa desculpa já não cola mais. Até porque o orgasmo tem um poderoso efeito analgésico. No ápice da relação sexual há uma forte descarga de endorfinas na corrente sanguínea. Essas substâncias ajudam a combater a dor.

Revista Mundo Estranho Edição 30/ 2004

Qual é a maior espécie que existe?

É o crocodilo-poroso. Segundo o Guinness, o "livro dos recordes", os maiores exemplares dessa espécie atingem mais de 7 metros de comprimento e têm mais de 1,5 tonelada, peso superior ao de um Fusca! Existem vários depoimentos de pessoas que dizem ter visto animais maiores, mas todos sem comprovação. O crocodilo-poroso, cujo nome científico é Crocodylus porosus, faz parte da ordem Crocodilia, que engloba todos esses répteis. A ordem é dividida em três famílias (Alligatoridae, Crocodilidae e Gavilidae), oito gêneros e 23 espécies. A classificação científica é precisa, mas os nomes que damos a esses bichos podem gerar confusão. Crocodilos são todos aqueles que pertencem à família Crocodilidae e aligátor é o nome dado aos representantes norte-americanos da família Alligatoridae. No Brasil, usa-se também a palavra jacaré para todas as espécies que vivem no país. Uma característica desses animais é o acelerado crescimento nos primeiros anos de vida. Eles geralmente nascem com 25 a 30 centímetros e, quando completam 1 ano de vida, já têm por volta de 1 metro. Aos 10 anos atingem 3 metros e, a partir do momento em que alcançam a maturidade sexual, por volta dos 15 anos, o desenvolvimento passa a ser mais lento. Vorazes, eles se alimentam de quase tudo que vêem pela frente, como peixes, tartarugas, iguanas, cobras, pássaros e algumas espécies de mamíferos, como búfalos e macacos. Outra característica do bicho, que vive em rios e pântanos, é a alta capacidade de adaptação à água do mar. Há relatos de indivíduos que nadaram cerca de 1 000 quilômetros no oceano!

Desfile dos campeões
Animal do Oriente supera rivais das Américas e da África.
7 metros - Crocodilo-Poroso (Crocodylus porosus)
O maior de todos pode viver até 70 anos. Ele também é conhecido como crocodilo-marinho.
6 metros - Crocodilo-do-Nilo (Crocodylus niloticus)
Habita uma vasta região da África. Estima-se que existam de 250 mil a 500 mil indivíduos dessa espécie
5 metros - Jacaré-Açu (Melanosuchus niger)
Também chamado de caiman-negro, vive apenas na Bacia Amazônica. É a maior das espécies brasileiras.
5 metros - Crocodilo-Americano (Crocodylus acutus)
Vive no sul da Flórida e em países da América Central. Restam apenas de 10 mil a 20 mil no planeta.

Revista Mundo Estranho Edição 30/ 2004

Como eram os reinos das lendas do Rei Arthur?

Cíntia Cristina da Silva

Eram terras encantadas, cercadas por bosques e próximas de uma ilha em que nunca chovia ou nevava. No universo imaginário das histórias medievais do rei Arthur existiam castelos assombrados e fortalezas que pairavam acima do oceano. Esses cenários são narrados em romances escritos a partir do século 12 por autores como os franceses Chrétien de Troyes (Romances da Távola Redonda, Perceval) e Robert Boron (Merlin), o alemão Wolfram Von Eschenbach (Parsifal) e o inglês Thomas Malory (A Morte de Arthur).Tais obras já tiraram o sono de estudiosos que buscam encontrar realidade por trás dos mitos. No reino da ficção, porém, a criatividade não tem limites e volta e meia surge uma nova versão para essa saga. Neste mês, estréia no Brasil o filme Rei Arthur, cuja trama se passa no século 5, época em que Guinevere se une a Arthur para combater uma invasão de povos germânicos. No longa, o rei e seu exército expulsam os invasores e unificam a Inglaterra. Os historiadores podem discordar da visão do diretor Antoine Fuqua, mas Guinevere, interpretada pela atriz Keira Knightley, bem que justifica a fama de ciumento de Arthur, seu futuro marido... Se achar a verdade no meio das lendas é difícil, melhor é mergulhar na fantasia e imaginar como seriam esses reinos. Foi o que fizemos com a ajuda do pesquisador Fábio Ulanin, mestrando do Programa de Literatura e Crítica Literária da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O resultado foi o mapa ao lado, que criamos nos baseando nos romances medievais. Com ele, dá para "viajar" pelas histórias da Távola Redonda, com seus heróicos cavaleiros e suas donzelas indefesas.
Carbonek
Esse castelo também ficava no reino de Logres, acima das águas revoltas do Mar de Collibe. Sua entrada, guardada por leões, só era encontrada por quem viajasse pelo Barco da Fé, uma embarcação mágica. Acreditava-se que o Santo Graal, o cálice usado por Jesus Cristo na última ceia, ficou escondido aqui. Em outros romances, o castelo se chamava Corberic e foi encantado por um mago para que nunca fosse encontrado.
Camelerd
Era o reino de Leodegrance, pai de Guinevere. Segundo o romance A Morte de Arthur, do século 15, Camelerd situava-se em algum lugar entre a Inglaterra e o País de Gales. Foi ali que Arthur conheceu sua futura esposa, após vencer uma batalha, com o apoio de outros dois reis, e resgatar Leodegrance das mãos de inimigos.
Castelo do rei Marcos
Soberano da Cornualha, Marcos jurou destruir o Rei Arthur. Tanto ódio foi causado por um célebre adultério medieval: o sobrinho de Marcos, Tristão, apaixonou-se pela esposa do soberano, Isolda, que retribuiu o sentimento. Enfurecido, Marcos perseguiu Tristão, mas este foi acolhido por Arthur e se tornou um dos cavaleiros da Távola Redonda.
Avalon
Um lago cercado por vales verdejantes marcava a paisagem da ilha. Em Avalon não ventava, não chovia e não nevava. Quando o jovem Arthur foi até lá com o mago Merlin, uma mão saiu do lago e lhe ofereceu a espada Excalibur, que o transformou em rei. Antes de morrer, Arthur voltou ao mesmo lugar e devolveu a poderosa espada.
Tintagel
Foi nesse castelo, localizado numa península na região da Cornualha, que nasceu Arthur, fruto de um amor clandestino. Seu pai, Uther Pendragon, era apaixonado por Igraine, esposa do duque Gorlois. Com a ajuda do mago Merlin, Pendragon adotou a forma de Gorlois, driblou a segurança e conseguiu passar uma noite com sua amada.
Camelot
A capital  de um reino chamado Logres ficava no sul da Inglaterra. No alto de um morro, o castelo construído por Arthur ofuscava a paisagem. Em seu salão principal, encontrava-se a Távola Redonda. A grande mesa, que comportava 150 cavaleiros, era o símbolo da irmandade que reunia os guerreiros mais nobres e virtuosos do reino.
Corbin
Esse castelo foi erguido na encosta de um morro, acima de uma aldeia. A construção tinha fama de ser mal-assombrada e se dizia que um de seus quartos abrigava seres sobrenaturais que atacavam quem se atrevesse a dormir ali. Foi num dos aposentos de Corbin que o nobre cavaleiro Lancelot foi curado de uma loucura temporária.
Guarda alegre
Foi em um dos quartos desse castelo, localizado a vários dias a cavalo de Camelot, que Lancelot consumou seu amor e passou várias noites com a rainha Guinevere, traindo o Rei Arthur. Após a morte de Arthur, Lancelot se tornou religioso e seu último desejo foi que o levassem de volta ao castelo da Guarda Alegre para morrer.
Elenco medieval
Arthur, Guinevere, Lancelot e Merlin são os principais personagens desse universo mítico.

Arthur
O rei da Inglaterra era o único digno de portar a temida Excalibur. Em algumas lendas, ele teria arrancado a espada de uma pedra (e não do belo lago de Avalon).

Lancelot
Amigo de Arthur, era um dos cavaleiros da Távola Redonda.

Guinevere
Esposa de Arthur, era apaixonada por Lancelot.

Leodegrance
Rei de Camelerd e pai de Guinevere.

Igraine
Mãe de Arthur e esposa do duque Gorlois.
Uther Pendragon
Pai de Arthur e soberano da Inglaterra.

Merlin
Filho do demônio com uma mortal, o poderoso mago foi conselheiro de Arthur.

Duque Gorlois
Marido de Igraine, foi enganado por Pendragon e Merlin.

Tristão
O cavaleiro da Távola Redonda era apaixonado por Isolda e sobrinho de Marcos da Cornualha.

Isolda
Casou-se com Marcos da Cornualha, mas amava Tristão.

Marcos da Cornualha
Marido de Isolda

Revista Mundo Estranho Edição 30/ 2004

Por que a pimenta arde? Qual é a mais ardida do mundo?

As pimentas ardem porque possuem as chamadas capsaicinóides. Essas substâncias de nome esquisito não têm cheiro nem sabor, mas estimulam as células nervosas da boca, produzindo aquela sensação de ardor, como se a boca estivesse pegando fogo. As capsaicinóides são produzidas por glândulas localizadas nas placentas das pimentas - aquele tecido esbranquiçado onde ficam grudadas as sementinhas. A "temperatura" de cada espécie desse fruto depende da concentração de capsaicinóides que ela possui. E, por incrível que pareça, existe até uma unidade específica para se medir o ardor: a Unidade de Calor Scoville (SHU) - nome em homenagem ao farmacologista Wilbur L. Scoville, pioneiro na medição do poder de fogo desse condimento. O SHU de cada pimenta é obtido após testes bioquímicos em máquinas com líquidos de alta pressão. O Guinness Book, o "livro dos recordes", já apontou em uma de suas edições a californiana red savina habanero como a pimenta mais ardida do mundo, atingindo a marca de até 580 mil SHU. Só para comparar, a nossa "quentíssima" e popular malagueta atinge cerca de 200 mil SHU. Num ranking completo das espécies mais poderosas, é provável que a malagueta conseguisse um lugar entre as cinco primeiras. Mas, como ela é pouco conhecida fora do Brasil, não entrou na lista mais confiável que encontramos sobre o assunto, e que você confere abaixo.

Tempero quente
Pouco conhecida no exterior, a nossa malagueta ficou fora dessa lista internacional das cinco pimentas mais ardidas.

Jamaican Hot
Região: Jamaica e ilhas do Caribe

Poder de fogo: até 200 mil SHU
Scotch Bonnet

Região: Jamaica, Belize e Caribe
Poder de fogo: até 250 mil SHU

Red Savina Habanero
Região: Califórnia (Estados Unidos)

Poder de fogo: até 580 mil SHU
Habanero

Região: península de Yucatán (México) e Caribe
Poder de fogo: até 300 mil SHU

Thai
Região: sudeste da Ásia e Califórnia

Poder de fogo: até 100 mil SHU

Revista Mundo Estranho Edição 30/ 2004

sábado, 29 de junho de 2013

Qual a diferença entre um carro de corrida e um carro normal?

Fernando Badô

A grande diferença está no conceito de construção de cada um deles. Quando vão projetar um automóvel de passeio, os engenheiros se preocupam, por exemplo, com o conforto do motorista. Já as equipes de corrida não estão nem aí com isso. Ou você imagina o supercampeão da Fórmula 1 Michael Schumacher pedindo para a Ferrari deixar o carro um pouco mais lento, pois a trepidação o está incomodando? Para os engenheiros que projetam automóveis de passeio, não só o conforto, mas também a durabilidade, a segurança e até o preço que custará o carango são coisas fundamentais. "Na F-1, nada disso tem importância. Em competição, a palavra de ordem é desempenho", diz o engenheiro Ricardo Bock, coordenador do curso de engenharia mecânica automobilística da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI). O resultado é que o sonho de dirigir uma Ferrari por aí a 300 km/h pode se transformar em pesadelo para os simples mortais acostumados aos carros macios que rodam pelas ruas. Dirigir um F-1 não é nada agradável e, após 15 minutos, é provável que o novato no assunto tenha a sensação de ter levado uma verdadeira surra... Além da questão do conforto, outra grande diferença conceitual é em relação à durabilidade. Não é absurdo afirmar que as peças de um F-1, mesmo aquelas que custam milhares de dólares, são descartáveis. Motor, freio, suspensão, pneus e outras partes trabalham sempre no limite da resistência e sofrem um desgaste excessivo. Após algumas dezenas de voltas nas pistas, tudo é substituído por componentes zero-quilômetro. Como nenhum motorista ficaria feliz em comprar novas pastilhas de freio a cada três semanas, abrir mão do desempenho máximo em troca de maior durabilidade parece um bom negócio.
Disputa nem tão desigual

Veículos de passeio levam vantagem no coeficiente aerodinâmico.
"SOLADO" SOB MEDIDA

Os pneus de um F-1 são feitos para aderir ao máximo ao asfalto. A área de contato com a pista é maior, já que eles só têm três sulcos, e a borracha literalmente penetra nos poros do asfalto. Mas isso desgasta demais os pneus, tornando-os inúteis em cerca de 100 quilômetros. Os pneus dos carros de passeio não aderem tanto, o que prejudica o desempenho, principalmente nas curvas. Mas, por outro lado, duram, em média, 40 mil quilômetros!
RASGANDO O AR

O coeficiente de aerodinâmica (Cx) indica como o ar passa pelo carro. Quanto menor o Cx, melhor. Parece incrível, mas o de um F-1 (1,8) é pior que o de uma Kombi (0,42) — basicamente porque tem as rodas expostas. O que faz a diferença nas pistas é a eficiência aerodinâmica, obtida pela multiplicação do Cx pela área frontal do carro — bem menor no F-1. Além disso, a maior downforce (força que o carro gera em direção ao solo) também faz o projeto aerodinâmico do F-1 ser superior.
TÁ NA MÃO

Como não precisa manobrar, o volante do F-1 não esterça tanto. Nas pistas, o importante é a resposta rápida aos comandos. Assim, com um quarto de volta no volante o piloto consegue guinar o F-1 a um ângulo parecido ao que um motorista só atinge ao virar o volante quase 180º. Outra diferença é o tamanho. No minúsculo cockpit de um F-1, o volante tem só 19 centímetros de diâmetro, em média, contra cerca de 40 centímetros do de um carro popular.

IMPACTO PROFUNDO
A suspensão dos carros de passeio fica sobre as rodas do veículo. Ela reduz a trepidação que, sem o equipamento, atingiria a frequência de 40 hertz, algo fisicamente insuportável após algumas horas dirigindo. Com as molas e os amortecedores, o motorista só recebe uma frequência de 1,3 hertz. Já a suspensão de um F-1 é montada no próprio chassi e o piloto recebe o impacto total enquanto está na pista.

SEGURA, PEÃO!
Para segurar a potência do motor, os freios de um F-1 produzem uma força equivalente a três gravidades (quase 30 m/s2) contrária à velocidade do carro. Se estiver a 150 km/h, ele consegue parar totalmente depois de cerca de 30 metros. Um carro de passeio andando na mesma velocidade precisaria percorrer um espaço três vezes maior, aproximadamente 90 metros, até parar.

EU BEBO, SIM
Em relação ao consumo, vitória folgada do carro comum, que pode andar cerca de 100 quilômetros com só 10 litros de gasolina — e isso se for dos menos econômicos. Você desistiria de ter um F-1 na primeira vez que fosse reabastecê-lo. Para andar os mesmos 100 quilômetros, o bólido precisaria de 100 litros de combustível! Esse alto consumo ocorre para gerar a energia térmica capaz de produzir as altíssimas rotações do motor.

CAVALARIA EM AÇÃO
É no motor que as diferenças são mais gritantes. O de um F-1 tem 1 000 cavalos de potência (HP), gerados por 20 000 rotações por minuto (rpm). Num carro de passeio a rotação não passa das 6 000 rpm, gerando, quando muito, 150 HP de potência. Assim, se os dois largassem ao mesmo tempo, em 10 segundos um F-1 percorreria 700 metros, contra pouco menos de 400 metros de um carro comum.

Revista Mundo Estranho Edição 30/ 2004

Como são feitas as maquiagens de um filme de terror?

O primeiro passo é ler o roteiro e localizar as cenas em que os efeitos serão necessários. Antes de produzir os truques, também é imprescindível descobrir qual será a posição da câmera e como será feita a iluminação, entre outros detalhes da filmagem. Até mesmo um efeito simples, como o sangue artificial, varia conforme o uso que se fará da mistura - a densidade e a composição do líquido vão mudar se o objetivo for manchar roupas ou utilizá-lo diretamente na pele, por exemplo. "Existem dois tipos básicos de maquiagem: a de caracterização e a de efeito", diz o cineasta e técnico de maquiagem e efeitos especiais André Kapel, cujo trabalho pode ser visto em obras como Amarelo Manga (2003). No primeiro tipo, o ator começa e termina o filme do mesmo jeito. "Já a maquiagem de efeito serve para transformar um personagem depois que ele passa por algum acidente", diz André. É esse recurso que você confere no making of sinistro que montamos aqui. A maquiagem de efeito surgiu com o cinema e foi usada por pioneiros como o francês Georges Méliès (1861-1938) e pelo inventor norte-americano Thomas Alva Edison (1847-1931) - que produziu, em 1910, a primeira adaptação cinematográfica de Frankenstein. Mas o grande gênio dessa arte foi Lon Chaney (1883-1930), ator que cuidava da caracterização de seus personagens. Uma amostra de seu trabalho pode ser conferida em clássicos como O Corcunda de Notre Dame (1923) e O Fantasma da Ópera (1925). Até a década de 1980, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, não premiava esses artistas talentosos. A primeira estatueta de maquiagem foi concedida a Rick Baker, pelo filme Um Lobisomem Americano em Londres (1981).

Criatividade arrepiante
Saiba como foram feitas as maquiagens de efeito do curta-metragem Amor Só de Mãe, produzido em 2002.

Bomba de sangue
Nas mãos do assassino, o coração de uma pobre velhinha pulsava e jorrava sangue sem parar. Para esse efeito, foi usado um órgão de silicone com um balão de ar dentro. Duas mangueiras eram responsáveis por "dar vida" ao órgão. Uma foi ligada a uma bisnaga de água que enchia e esvaziava o balão, dando a impressão de que o coração batia. A outra foi ligada a uma bisnaga com sangue. Ambas eram controladas manualmente.

Tatuagem radical
Num ritual satânico, uma garota cortava a própria língua ao meio para imitar uma língua de cobra. Ela babava sangue e partia para mais uma sessão de automutilação. Na cena, a atriz escrevia no braço usando uma faca. Na verdade, ela só estava riscando uma fina camada de massa que imita pele. Na ponta da lâmina, uma mistura química tingia essa película de vermelho e criava a ilusão do corte.

Estômago
No filme, um filho psicótico esfaqueia a própria mãe para arrancar-lhe o coração. Nessa cena, foi utilizado um tórax de silicone moldado a partir do corpo da atriz. Esse peito de mentirinha foi recheado de sangue, vísceras, o coração fajuto e tripas (as mesmas usadas para fabricar linguiça) recheadas com doce de leite! O tórax foi encaixado na cabeça da atriz, cujo corpo estava embaixo de uma plataforma.

Dringue de vampiro
A receita para se fazer sangue é simples e barata. O difícil é saber a quantidade certa de cada ingrediente durante a mistura. O alimento favorito do conde Drácula é feito de uma solução de glicose com corantes de várias cores: vermelho, amarelo, azul, verde, preto e marrom. A mistura varia conforme o uso do sangue. Em um filme preto-e-branco, por exemplo, ele precisa ser escuro, mas não necessariamente vermelho.

Porco sem coração
O órgão usado no filme foi fabricado a partir de um coração de porco. Antes de comprá-lo no açougue, porém, o maquiador teve de convencer o funcionário de que o coração não seria usado em um ritual de macumba... Depois desse episódio insólito, o órgão foi moldado em gesso. A partir dessa fôrma foram feitas as três versões de silicone utilizadas no curta-metragem.

Revista Mundo Estranho Edição 30/ 2004

Qual é a hierarquia da marinha?

No total, são 15 diferentes postos e graduações. E não é preciso gostar de água para entrar na Marinha do Brasil, pois os militares dela são divididos em dois grupos principais: o Corpo de Fuzileiros, que fica em terra, e o Corpo da Armada, que cuida das embarcações. Há ainda outros grupos, como o Corpo de Engenheiros e o Corpo de Saúde, que têm uma participação mais discreta nos cenários de guerra. As unidades dos fuzileiros formam uma espécie de infantaria. Se você assistiu ao filme O Resgate do Soldado Ryan, deve se lembrar da cena em que milhares de homens desembarcam numa praia e iniciam um violento combate. Esses são os fuzileiros navais, que têm uma hierarquia parecida com a do Exército. Já os marujos da armada espalham-se nos 110 navios e nas diversas aeronaves - sim, a Marinha também tem aviões e helicópteros! - que compõem a esquadra de nosso país. O degrau inferior da hierarquia mostra que há mais militares no mar do que em terra: são 7 500 marinheiros contra 5 700 fuzileiros. Os navios, que são as armas que diferenciam a Marinha das outras forças, são organizados em departamentos - como o de convés e o de máquinas - que podem ter divisões. No convés, por exemplo, as divisões mais comuns são a proa, a popa e o meio-navio. Marinheiros, cabos, sargentos e suboficiais trabalham nas divisões. Cada embarcação também tem um comandante e um imediato, ou subcomandante. O posto do chefão a bordo aumenta conforme a dimensão do navio. Um porta-aviões, por exemplo, é comandado pelo poderoso capitão-de-mar-e-guerra. Na próxima edição, você poderá conferir o último capítulo de nossa trilogia sobre as Forças Armadas, com a hierarquia da Aeronáutica. Não perca!

Batalha naval
Os militares são divididos em dois grupos principais: os fuzileiros e os marujos da armada.

Posto
Soldado ou Marinheiro

Divisões da tropa
Corpo de fuzileiros

No posto mais baixo na hierarquia dos fuzileiros está o soldado. É ele que, durante uma guerra, desembarca e combate em terra firme.
Corpo da armada

Marujo é o nome genérico de qualquer militar que serve na armada, não importa a patente. O posto mais baixo entre os marujos é o de marinheiro.
Posto

Cabo
Divisões da tropa

Corpo de fuzileiros
Comanda  as esquadras de tiro, pequenas unidades compostas de três soldados e um cabo.

Corpo da armada
É especializado em alguns serviços. Certos navios têm cabos peritos em manobras e reparos, por exemplo.

Posto
Terceiro-sargento

Segundo-sargento
Primeiro-sargento

Suboficial
Divisões da tropa

Corpo de fuzileiros
Os militares com esses postos comandam grupos de combate, que são unidades formadas por três esquadras de tiro.

Corpo da armada
Supervisionam divisões dos navios como a divisão de proa (parte da frente da embarcação). Como os cabos, também podem ser especializados em algumas funções.

Posto
Segundo-tenente

Primeiro-tenente
Divisões da tropa

Corpo de fuzileiros
São responsáveis pelos pelotões, unidades formadas por três grupos de combate ou até 45 militares.

Corpo da armada
Chefiam os supervisores das divisões. Em embarcações menores, podem dirigir departamentos, que são conjuntos de divisões. Para pilotar aviões da Marinha é preciso ser, no mínimo, um segundo-tenente.

Posto

Capitão-tenente
Divisões da tropa

Corpo de fuzileiros
Comanda as companhias, formadas por cerca de 200 combatentes.

Corpo da armada
É o comandante de pequenas embarcações, como os navios de patrulha fluvial (40 a 60 pessoas) e balizadores (cerca de 20 pessoas).

Posto
Capitão-de-corveta

Divisões da tropa
Corpo de fuzileiros

Companhias mais estratégicas, como as de polícia e as unidades de apoio ao desembarque, são chefiadas por um capitão-de-corveta.
Corpo da armada

Comanda navios de porte intermediário, como a corveta (122 pessoas) e navios de assistência hospitalar.
Posto

Capitão-de-fragata
Divisões da tropa

Corpo de fuzileiros
É responsável pelos batalhões, grupos com cerca de 800 militares que formam um quartel.

Corpo da armada
Comanda embarcações estratégicas durante uma batalha, como submarinos e navios-tanque

Posto
Capitão-de-mar-e-guerra

Divisões da tropa
Corpo de fuzileiros

Capitaneia uma base, espécie de quartel-general que centraliza as atividades de apoio ao combate em determinada área.
Corpo da armada

Comanda os navios de grande porte. No Brasil, o porta-aviões São Paulo é chefiado por um capitão-de-mar-e-guerra.
Posto

Contra-almirante

Divisões da tropa

Corpo de fuzileiros
Pode comandar distritos (regiões geográficas) menos estratégicos. O 6º Distrito Naval, formado por Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, é dirigido por um contra-almirante.

Corpo da armada
Embarcações e aeronaves do país todo são divididas em três forças: a força de superfície (navios), a força aeronaval (helicópteros e aviões) e a força de submarinos. Cada força é comandada por um contra-almirante.

Posto
Vice-almirante

Divisões da tropa
Corpo de fuzileiros

A partir deste posto, as funções passam a ser mais políticas e, por isso, desaparece a distinção entre fuzileiros e marujos. O vice-almirante comanda distritos navais, que são unidades responsáveis pelas águas (litoral, rios e represas) de determinadas regiões. Como uma espécie de "Detran aquático", cada distrito também fiscaliza barcos civis.
Posto

Almirante-de-esquadra
Divisões da tropa

Corpo de fuzileiros

É o mais alto posto da Marinha, escolhido diretamente pelo presidente da República. Ele comanda os oito distritos navais do país. O posto de almirante, imediatamente superior, só existe em época de guerra.
Posto

Ministro da Defesa
Divisões da tropa

Corpo de fuzileiros
Subordinado ao presidente, é ele quem dirige as Forças Armadas e toma as decisões mais importantes relativas à organização das tropas. O ministro não precisa ser, necessariamente, um militar.

Revista Mundo Estranho Edição 30/ 2004