A extinção de grandes áreas de vegetação nativa e a
destruição de rios importantes são algumas das principais ameaças. O duro é
saber que por trás disso tudo está, claro, a ação humana. "Estamos
alterando ciclos importantes do planeta. E isso acontece no Brasil em função
das atividades econômicas, como em todo país desenvolvido", diz o
engenheiro Márcio Freitas, coordenador de qualidade ambiental do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Os
efeitos de alguns desses problemas só serão sentidos num futuro distante - como
a destruição das florestas, da fauna e da flora. Mas há também as consequências
que podem estourar a qualquer momento, deixando uma região em situação crítica
após, por exemplo, o vazamento de um oleoduto ou de uma usina nuclear. As
ameaças de acidentes ecológicos são tão sérias que mobilizam várias
organizações não-governamentais (ONGs), todas desenvolvendo projetos para
driblar os problemas e tentando abrir os olhos dos governantes enquanto há tempo.
Esse tipo de fiscalização é fundamental e dá resultados. Quer um exemplo? Há
cerca de 20 anos, os prognósticos sobre a poluição atmosférica nas grandes
metrópoles brasileiras era sombrio: alguns especialistas imaginavam que no ano
2000 os automóveis poderiam ser até proibidos de circular na cidade de São
Paulo. Após mudanças na legislação, o controle da emissão de poluentes dos
veículos ficou bastante rigoroso e as previsões assustadoras não se
concretizaram: os carros continuam circulando por São Paulo, mas agora numa
versão bem mais ecológica. Esse exemplo bem que poderia ser seguido em outros
casos de ameaças ambientais, como nos sete casos que listamos abaixo.
Risco máximoDesmatamento e destruição de rios são os problemas que mais preocupam os ambientalistas.
Mata Atlântica
Restam só 7% de sua vegetação original. O desmatamento nos
últimos 100 anos a transformou numa das florestas mais ameaçadas do planeta.
Segundo dados de entidades como a Conservação Internacional e a SOS Mata
Atlântica, hoje se perde um campo de futebol de vegetação a cada quatro
minutos! Essa destruição põe em risco também a fauna da região: de 271
mamíferos que habitam a floresta, 160 só existem lá e podem desaparecer.
Rio São Francisco
A construção de hidrelétricas já afetou bastante um dos
principais rios brasileiros. A vegetação em volta dele foi desmatada e, segundo
a Conservação Internacional, isso tem provocado o assoreamento - a obstrução
por sedimentos - de trechos do São Francisco, pois chuvas simples causam
deslizamentos das margens. Outro problema é a introdução no rio de peixes de
hábitats diferentes, o que já provocou um sério desequilíbrio ecológico e a
extinção de várias espécies que habitavam o São Francisco.
Floresta Amazônica
O desmatamento da maior floresta tropical úmida do mundo
ocorre por vários motivos, como o uso de áreas para a pecuária, para a
agricultura e a extração ilegal de madeiras. A taxa anual de desmatamento é de
cerca de 25 500 km2. Se ela continuar perdendo a cobertura vegetal nesse ritmo,
especialistas não se cansam de alertar que a Amazônia poderá no futuro se
tornar um grande deserto. É que são as próprias árvores que dão a umidade
necessária para a região e tornam o solo fértil para outras plantas.
Cerrado
A vegetação típica da região central do Brasil perdeu, em
apenas 30 anos, 60% de sua área original, segundo a Conservação Internacional.
Do que sobrou, menos de 2% estão protegidos em parques ou reservas. Nesse ritmo
de desmatamento, várias ONGs afirmam que em pouco tempo o cerrado estará numa
situação pior que a da Mata Atlântica. A expansão agropecuária, a mineração e a
abertura de estradas são os principais problemas.
Rio Xingu
A maior ameaça ao rio que cruza o Pará e Mato Grosso é a
construção da hidrelétrica de Belo Monte, que deverá ser a terceira maior do
planeta. Apesar da necessidade concreta de se ampliar a produção de energia no
país, especialistas dizem que a obra terá um grande impacto ambiental. Além de
uma possível mudança no fluxo do rio, a barragem de Belo Monte e outras
complementares poderão inundar uma imensa área de vegetação nativa.
Cubatão e São Sebastião
As duas cidades abrigam inúmeros oleodutos da Petrobrás. A
Fundação SOS Mata Atlântica afirma que os dutos estão velhos, rachados, podendo
se romper e causar um grande acidente ecológico nas praias e nos mangues da
região. A Petrobrás se defende, por meio de sua assessoria: "Somos uma
indústria de risco, mas desde 2000 investimos 6 bilhões de reais em segurança.
Os principais dutos foram automatizados com sensores e recebem manutenção a
cada dois anos".
Sul da Bahia
Hoje restam 25% de cobertura verde original da região.
Florestas são desmatadas para dar lugar a grandes hotéis, áreas previstas para
virar parques nacionais estão abandonadas e a extração de madeira ainda existe.
Entidades como a The Nature Conservancy (TNC) e a SOS Mata Atlântica se
preocupam principalmente com as cercanias de Porto Seguro. Empresários
hoteleiros rebatem garantindo que as novas construções têm procurado preservar
o máximo de floresta nativa.
Revista Mundo Estranho Edição 30/ 2004
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