A grande diferença está no conceito de construção de cada um
deles. Quando vão projetar um automóvel de passeio, os engenheiros se
preocupam, por exemplo, com o conforto do motorista. Já as equipes de corrida
não estão nem aí com isso. Ou você imagina o supercampeão da Fórmula 1 Michael
Schumacher pedindo para a Ferrari deixar o carro um pouco mais lento, pois a
trepidação o está incomodando? Para os engenheiros que projetam automóveis de
passeio, não só o conforto, mas também a durabilidade, a segurança e até o
preço que custará o carango são coisas fundamentais. "Na F-1, nada disso
tem importância. Em competição, a palavra de ordem é desempenho", diz o
engenheiro Ricardo Bock, coordenador do curso de engenharia mecânica
automobilística da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI). O resultado é que
o sonho de dirigir uma Ferrari por aí a 300 km/h pode se transformar em
pesadelo para os simples mortais acostumados aos carros macios que rodam pelas
ruas. Dirigir um F-1 não é nada agradável e, após 15 minutos, é provável que o
novato no assunto tenha a sensação de ter levado uma verdadeira surra... Além
da questão do conforto, outra grande diferença conceitual é em relação à
durabilidade. Não é absurdo afirmar que as peças de um F-1, mesmo aquelas que
custam milhares de dólares, são descartáveis. Motor, freio, suspensão, pneus e
outras partes trabalham sempre no limite da resistência e sofrem um desgaste
excessivo. Após algumas dezenas de voltas nas pistas, tudo é substituído por
componentes zero-quilômetro. Como nenhum motorista ficaria feliz em comprar
novas pastilhas de freio a cada três semanas, abrir mão do desempenho máximo em
troca de maior durabilidade parece um bom negócio.
Disputa nem tão
desigual
Veículos de passeio levam vantagem no coeficiente
aerodinâmico.
"SOLADO" SOB MEDIDA
Os pneus de um F-1 são feitos para aderir ao máximo ao
asfalto. A área de contato com a pista é maior, já que eles só têm três sulcos,
e a borracha literalmente penetra nos poros do asfalto. Mas isso desgasta
demais os pneus, tornando-os inúteis em cerca de 100 quilômetros. Os pneus dos
carros de passeio não aderem tanto, o que prejudica o desempenho,
principalmente nas curvas. Mas, por outro lado, duram, em média, 40 mil
quilômetros!
RASGANDO O AR
O coeficiente de aerodinâmica (Cx) indica como o ar passa
pelo carro. Quanto menor o Cx, melhor. Parece incrível, mas o de um F-1 (1,8) é
pior que o de uma Kombi (0,42) basicamente
porque tem as rodas expostas. O que faz a diferença nas pistas é a eficiência
aerodinâmica, obtida pela multiplicação do Cx pela área frontal do carro
bem menor no F-1. Além disso, a maior downforce
(força que o carro gera em direção ao solo) também faz o projeto aerodinâmico
do F-1 ser superior.
TÁ NA MÃOComo não precisa manobrar, o volante do F-1 não esterça tanto. Nas pistas, o importante é a resposta rápida aos comandos. Assim, com um quarto de volta no volante o piloto consegue guinar o F-1 a um ângulo parecido ao que um motorista só atinge ao virar o volante quase 180º. Outra diferença é o tamanho. No minúsculo cockpit de um F-1, o volante tem só 19 centímetros de diâmetro, em média, contra cerca de 40 centímetros do de um carro popular.
IMPACTO PROFUNDO
A suspensão dos carros de passeio fica sobre as rodas do
veículo. Ela reduz a trepidação que, sem o equipamento, atingiria a frequência
de 40 hertz, algo fisicamente insuportável após algumas horas dirigindo. Com as
molas e os amortecedores, o motorista só recebe uma frequência de 1,3 hertz. Já
a suspensão de um F-1 é montada no próprio chassi e o piloto recebe o impacto
total enquanto está na pista.
SEGURA, PEÃO!
Para segurar a potência do motor, os freios de um F-1
produzem uma força equivalente a três gravidades (quase 30 m/s2) contrária à
velocidade do carro. Se estiver a 150 km/h, ele consegue parar totalmente
depois de cerca de 30 metros. Um carro de passeio andando na mesma velocidade
precisaria percorrer um espaço três vezes maior, aproximadamente 90 metros, até
parar.
EU BEBO, SIM
Em relação ao consumo, vitória folgada do carro comum, que
pode andar cerca de 100 quilômetros com só 10 litros de gasolina e isso se for dos menos econômicos. Você desistiria de ter um F-1 na
primeira vez que fosse reabastecê-lo. Para andar os mesmos 100 quilômetros, o
bólido precisaria de 100 litros de combustível! Esse alto consumo ocorre
para gerar a energia térmica capaz de produzir as altíssimas rotações do motor.
CAVALARIA EM AÇÃO
É no motor que as diferenças são mais gritantes. O de um F-1
tem 1 000 cavalos de potência (HP), gerados por 20 000 rotações por minuto
(rpm). Num carro de passeio a rotação não passa das 6 000 rpm, gerando, quando
muito, 150 HP de potência. Assim, se os dois largassem ao mesmo tempo, em 10
segundos um F-1 percorreria 700 metros, contra pouco menos de 400 metros de um
carro comum.
Revista Mundo Estranho Edição 30/ 2004
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