Dez anos depois, ruandeses e europeus ainda trocam farpas pela morte de 800 mil tutsis.
Dessa vez, o genocídio em Ruanda não passou em branco. No décimo aniversário da carnificina, Jacques Chirac, presidente francês, fez um minuto de silêncio em homenagem aos cerca de 800 mil mortos. O premiê da Bélgica, antiga metrópole ruandesa, disse que era necessário corrigir erros da história. Todos esperavam que o presidente ruandês, Paul Kagame, desse alfinetadas na omissão internacional que marcou a tragédia, mas agradecesse a compaixão européia. Mas Kagame surpreendeu: acusou a França de cúmplice do mais intenso assassinato em massa desde Hiroshima e Nagasaki. Num evento em Kigali, a capital do país, disse que “os franceses forneceram as armas, treinaram e deram instruções aos genocidas”. Sua fala abriu uma crise que fez o país europeu retirar um representante diplomático de Ruanda.Kagame sabe que tanto blablablá não seria necessário se o mundo tivesse agido de forma diferente em 1994, quando os hutus precisaram de apenas 100 dias para trucidar mais de 10% dos tutsis. E tem um motivo especial para gritar contra a França. Dias antes de sua fala, foi divulgada uma investigação francesa acusando-o de ter derrubado o avião do então presidente ruandês Juvenal Habyarimana, um hutu. O assassinato foi o estopim do genocídio. A suposta culpa dos tutsis por essa morte é geralmente tida como calúnia criada pelo Poder Hutu, que comandou o crime, para incitar o povo contra os tutsis.
Especulações à parte, o certo é que o governo francês tem pouco aval para falar em culpados. Testemunhas dizem que a França, no mínimo, não utilizou os recursos que dispunha para conter a tragédia. Apesar da irritação francesa, nenhum outro governante contestou Kagame. É consenso que os tutsis foram abandonados pelo planeta há dez anos. E que, diante de acusações mais graves, o mais prudente é propiciar minutos de silêncio.
Revista Aventuras na História n° 010
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