quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Os animais conseguem se reconhecer no espelho?


A maioria dos animais não se reconhece no espelho. "Ao ver sua imagem refletida, eles reagem como se observassem outro indivíduo da mesma espécie. Pássaros machos, por exemplo, podem se arremessar contra um retrovisor, achando que se trata de outro macho que invadiu seu território", diz o psicólogo César Ades, da USP, um especialista em comportamento animal. O chimpanzé é um dos poucos bichos capazes de se reconhecer. Ele olha partes do seu corpo por meio da imagem e, se percebe que há algo novo na sua aparência, como uma mancha pintada no rosto, por exemplo, põe a mão no local, como um ser humano provavelmente faria. Mas não são todos os primatas que têm essa capacidade. Experimentos já provaram que os micos-leões, por exemplo, não se identificam. Um estudo feito em 2001 mostrou que os golfinhos, que estão entre os animais mais inteligentes do mundo, também sabem para que serve um espelho.
Essa descoberta foi importante porque até então se imaginava que somente animais dotados de lóbulos cerebrais frontais - como o homem e o chimpanzé - tinham a capacidade de se reconhecer. A pesquisa com os golfinhos derrubou a teoria e lançou a hipótese de que essa característica pode estar relacionada a outros aspectos, como o tamanho do cérebro e a capacidade de aprendizado de cada espécie.

Reações opostas
Duas experiências revelam bichos que se identificam e que se assustam com o reflexo.
Os golfinhos espertos...
Uma experiência realizada com golfinhos nos Estados Unidos, em 2001, teve um resultado surpreendente. Os zoólogos americanos Diane Reiss e Lori Marino colocaram espelhos dentro de um aquário onde havia alguns golfinhos e observaram a reação deles. Depois, fizeram marcas de tinta em partes do corpo dos animais que só poderiam ser vistas com a ajuda dos espelhos. Os golfinhos mostraram que reconheceram sua própria imagem ao usar os reflexos para identificar a novidade em seus corpos.
... E Os micos ameaçados
Também em 2001, no zoológico de São Paulo, foi feito um teste na gaiola onde vivem os micos-leões, com a colocação de um grande espelho no local. Caso os animais se reconhecessem, ficariam observando as partes do próprio corpo, como fazem os humanos. "Mas na verdade o espelho causou a maior comoção. Os animais reagiram eriçando o pêlo, gritando, correndo para o fundo do viveiro, como se estivessem diante de uma invasão de animais estranhos", diz o psicólogo César Ades.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

O que são as sondas espaciais?


Alexandre Versignassi
São naves que carregam equipamentos de laboratório e câmeras para lugares ainda inacessíveis ao homem. Em Marte e em Vênus, os planetas mais próximos da Terra, várias sondas já pousaram. Outras passaram raspando por Mercúrio, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Só Plutão, o mais distante, ainda não recebeu nenhuma visita. Mas a participação dessas exploradoras espaciais começou bem mais perto, com a própria Lua, quando, ainda em 1959, a ex-União Soviética mandou suas primeiras sondas para lá. Uma delas, a Luna 3, fez as pioneiras fotos do lado escuro do nosso satélite. Entre as americanas, as estreantes foram as sondas Ranger, que tiraram mais de 17 mil fotos da Lua na década de 60. Essas imagens, claro, foram essenciais para que, em 1969, astronautas fossem levados para lá com relativa segurança. Depois da Lua, os soviéticos mandaram com sucesso esses equipamentos para Vênus: em 1975, suas sondas Venera 9 e 10 tiraram as primeiras fotos a partir da superfície de outro planeta.
Os Estados Unidos, no ano seguinte, fizeram o mesmo, só que em Marte, com as sondas Viking 1 e 2. E repetiram a dose 20 anos depois, com o famoso jipinho da missão Mars Pathfinder, o primeiro veículo a se locomover para fazer filmagens fora da Terra. Entretanto, o trabalho de uma sonda não é só de cinegrafista espacial. Ela carrega poderosos instrumentos capazes de analisar a composição química da atmosfera, a velocidade dos ventos e o relevo do solo, além da radiação e do campo magnético dos astros. Mesmo que a parte mais vistosa dessas jornadas sejam as imagens enviadas de volta à Terra, os outros equipamentos são fundamentais para mostrar segredos menos visíveis, mas muito mais surpreendentes. Os instrumentos das primeiras sondas a passar por Júpiter (as Pioneer 10 e 11, em 1974) detectaram um comportamento estranho na carga elétrica de partículas ao redor do planeta. A tradução dos resultados, para os cientistas, sugeria que Júpiter teria anéis, como Saturno.
Foi uma indicação reveladora, mesmo sem as Pioneer conseguirem imagens que provassem tal teoria. Isso só foi acontecer em 1979, quando outras sondas, as Voyager 1 e 2, foram mandadas direto para o planeta. Aí, sim: vistos de um ângulo diferente, os anéis finalmente deram o ar da graça e puderam ser filmados. Essa não foi a única novidade que as sondas encontraram por aquelas bandas. A própria Voyager 2, única nave que já passou por planetas mais distantes que Júpiter, descobriu dez novos satélites em Urano em 1986 - antes, só cinco eram conhecidos. Em 1989, foi a vez de Netuno: seis de seus oito satélites só foram revelados pela exploração da Voyager. O curioso é que tanto essa veterana quanto sua irmã funcionam até hoje. Sem nenhum planeta por perto, elas investigam as últimas fronteiras do sistema solar. De quebra, levam um alô da Terra para um eventual encontro com habitantes de outros planetas.
São centenas de fotos, diagramas, músicas e sons, que cumprem o papel de uma autêntica mensagem na garrafa jogada pela humanidade no oceano cósmico.

AVISO AOS NAVEGANTES
Este disco é uma espécie de cápsula do tempo, que leva imagens e sons da Terra para o caso de seres inteligentes encontrarem a Voyager por aí. Feito em cobre, no final da década de 70, traz gravações em formato analógico. Esses desenhos são instruções de como pôr o disco "para tocar". Mas, convenhamos, os ETs vão ter que ser muito inteligentes para decifrar esse estranho manual de instruções.

FOTOS E ROCK’N’ROLL
A cápsula do tempo tem 115 imagens, com fotos, esquemas e diagramas como os que você vê ao lado, de um congestionamento na Índia e de uma ilustração da gravidez humana. Há ainda 21 sons, de latido de cachorro a motor de carro, e dezenas de músicas, da 5ª Sinfonia de Beethoven a "Johnny B. Goode", de Chuck Berry. Há também diferentes mensagens de boas-vindas gravadas em 55 idiomas. A mensagem em português é um "paz e felicidade a todos", com sotaque carioca.

LONGA JORNADA
Voando a 61 mil km/h, as sondas Voyager 1 e 2 - que são idênticas - estão a 13 bilhões e a 10 bilhões de quilômetros da Terra, respectivamente. Aliás, a Voyager 1 é a campeã de distância do nosso planeta, deixando a Pionner 10 (com 12 bilhões de quilômetros) em segundo lugar. Há dez anos as duas Voyager já deixaram para trás a órbita de Plutão.

Mensageiras universais
Há 25 anos em ação, as sondas Voyager ainda desbravam as fronteiras do sistema solar.

IMPULSO LIMITADO
Alguns quilos de plutônio-238 servem de combustível para os equipamentos da nave. Esses átomos, radioativos, atiram partículas nas paredes de um cilindro, gerando calor. Depois, uma miniusina termoelétrica converte o calor em energia elétrica para a sonda. Pelos cálculos da Nasa, a força não acaba antes de 2020.

TRANSMISSÃO TRUNCADA
Com 70 metros de diâmetro, a antena manda dados para a Terra a 7,2 quilobits por segundo (kbps), taxa oito vezes menor que a de um modem comum, de 56 kbps. Mas os sinais vêm rápido: viajando à velocidade da luz (1,08 bilhão de km/h), demoram só 12 horas para atingir a Terra. Os dados chegam logo, mas em pequenos blocos de informação.

PENEIRA DE ÁTOMOS
Detectores de partículas captam os chamados raios cósmicos, jatos de núcleos atômicos e elétrons que saem de estrelas e atravessam a galáxia. Quando a nave estiver fora da área de influência do Sol, poderá captar e estudar as propriedades desse turbilhão sem a interferência das partículas atiradas por nosso astro.

MAGNETISMO PLANETÁRIO
Este instrumento, o magnetômetro, determina a intensidade de campos magnéticos. No caso da Voyager 2, foi útil para medições em Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Em dez anos, com a nave fora da influência magnética do Sol, poderá fornecer os primeiros dados de campos magnéticos do espaço vazio.

BIG BROTHER NO ESPAÇO
Das quatro lentes da Voyager, duas são semelhantes às das câmeras terrestres. A menor filma panoramas abertos, como uma grande-angular, e a maior focaliza detalhes, como uma teleobjetiva. Uma terceira lente, a de infravermelho, pode medir o calor de planetas. Já a de ultravioleta ajuda a analisar as composições químicas dos astros.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Como recuperar um membro amputado?

Gilberto Stam

Imagine-se diante de uma cena terrível: você testemunha uma pessoa se acidentar, ao manusear uma máquina ou ferramenta, por exemplo, e vê a vítima perder um membro do corpo. Não há nenhum médico por perto e cabe a você a tarefa de prestar os primeiros socorros. Tudo bem, o choque e o princípio de pânico são reações naturais, mas, se você conseguir controlar os nervos, tiver um pouco de sangue frio e souber como agir nessa difícil situação, pode se transformar num herói para a pessoa acidentada. Em alguns casos, a chance de um membro amputado ser reimplantado chega a 90%. Mas para isso é preciso agir rápido nos primeiros socorros. "Sem circulação sanguínea os tecidos podem sofrer necrose em até seis horas em temperatura ambiente", afirma o cirurgião Rames Mattar, especialista em reimplante de mão do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Entretanto, protegendo bem a parte do corpo extirpada, é possível diminuir o metabolismo celular e aumentar a sobrevida de um dedo, por exemplo, para 24 horas. Já as amputações que ocorrem em membros maiores precisam de um atendimento mais rápido. Doze horas após um acidente, um braço reimplantado pode até representar uma ameaça para a pessoa acidentada. "Na falta de oxigênio no membro, as células começam a produzir ácido lático e outras substâncias tóxicas, que entram na circulação sanguínea depois do reimplante. Em lesões maiores, a quantidade dessas substâncias acumulada pode ser fatal", diz Rames.
O sucesso da operação também depende do tipo de amputação que a vítima sofreu. Um corte é bem menos comprometedor do que um arrancamento, porque não danifica tanto os tecidos. Os casos de esmagamento ou amputação múltipla (em várias partes do mesmo membro) também são bastante complexos, mas as chances de sucesso dependem sempre do bom estado de veias, artérias, nervos e tendões. Se tudo estiver em ordem e o reimplante puder ser feito, os movimentos e as sensações do membro atingido podem se recuperar quase por completo num intervalo entre três e 12 meses. E aí, a ação heróica e de grande coragem de quem ajudou no difícil momento dos primeiros socorros certamente será lembrada para sempre pela vítima.
Ajuda dramática
É preciso estancar o sangue e armazenar a parte do corpo extirpada em baixa temperatura.
Se você testemunhar um acidente em que alguém sofre a amputação de um membro, como um dedo, tente primeiro acalmar a vítima. Depois, lave com água limpa a parte do corpo de onde o membro se desprendeu. Isso remove bactérias.
A seguir, pressione levemente o local machucado com um tecido limpo e tente manter essa parte do corpo elevada para estancar o sangue. Após cerca de 20 minutos, o sangramento deve diminuir. Só use um torniquete em caso de hemorragia extrema.
O próximo passo é resgatar o membro amputado. Se possível, lave-o com água, enrole-o num pano limpo e siga o mais rápido possível a um pronto-socorro, posto de saúde ou farmácia, nessa ordem de preferência.
Se você e a vítima estiverem distantes de um desses locais, mas tiverem à mão produtos de primeiro socorro, lave o membro com algum anti-séptico ou soro fisiológico. Depois, embrulhe-o numa compressa com soro e guarde-o num saco plástico limpo.
O ideal, então, é encontrar um recipiente térmico (caixa de isopor ou algo similar) para guardar o membro em baixa temperatura (até 4 ºC). Mas tome cuidado para nunca deixá-lo em contato direto com o gelo.
Sua missão final é levar a vítima ao pronto-socorro mais próximo. Lá ela começará imediatamente a tomar antibióticos e os médicos entrarão em contato com um centro cirúrgico especializado para fazer o reimplante.
O que é proibido fazer
Três reações comuns que devem ser evitadas.
Álcool, mertiolato ou qualquer outra substância do gênero mata os tecidos. Por isso, não os utilize para limpar a vítima. Na dúvida, é melhor usar só água mesmo, deixando um médico ou farmacêutico fazer uma limpeza mais adequada depois.
Nunca deixe o membro amputado ficar em contato direto com o gelo e nem o coloque num congelador. Ao congelar, a água presente no membro aumenta de volume, destruindo as células dos tecidos, como uma bexiga que explode.
Manipule o menos possível o membro amputado. Isso pode causar lesões e contaminação com microorganismos, que podem prejudicar, ou até impedir, um reimplante depois.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Para que servem os sanguessugas?


Gilberto Stam
Durante milênios, um dos principais remédios usados no mundo foi um verme capaz de chupar o sangue das pessoas. Loucura? Pode até ser, mas, após cair no ostracismo no século 20, a sanguessuga, acreditem ou não, tem sido "receitada" novamente por vários médicos. Esse estranho parasita, encontrado na água doce e que se assemelha a uma lesma bem escura, começou a ser usado na Índia há cerca de 2 500 anos. Não tardou para ele fazer sucesso também na Grécia antiga e se difundir por todo o Ocidente. Acreditava-se então que as doenças, de uma dor de cabeça à hemorróida, eram causadas por problemas na concentração do sangue, o que poderia ser resolvido com uma simples sangria. Como a especialidade desse verme é justamente chupar o sangue de seus hospedeiros sem causar desconforto, o tratamento se tornou popular. Tal crença atravessou a Idade Média e chegou ao século 19, época em que os hospitais de Paris usavam até 6 milhões de sanguessugas para retirar 300 mil litros de sangue por ano dos pacientes!
Em meados do século 20, as sangrias foram abandonadas pela falta de comprovação de sua eficácia. Nos últimos cinco anos, entretanto, as sanguessugas voltaram à cena nos Estados Unidos e na Europa, revelando-se úteis no pós-operatório de pacientes que tiveram membros reimplantados. É que elas ajudam a restabelecer a circulação sanguínea entre os tecidos reconstituídos, pois, ao chupar o sangue, incentivam a formação de novas veias - que são difíceis de se reconectar nas cirurgias por serem finas.
A técnica não chegou ao Brasil pois a espécie européia do animal, Hirudo medicinalis, não é encontrada aqui. "As espécies brasileiras não se alimentam fora da água, por isso não servem para o uso cirúrgico", diz a bióloga Fernanda Faria, do Instituto Butantan, em São Paulo. Mas nos Estados Unidos o sucesso é tanto que já está sendo testada até uma máquina que substitui o verme. Afinal, muitos pacientes não gostam de ver, em pleno século 21, um médico tirar de um aquário meia dúzia de sanguessugas para usar no pós-operatório.
Parasita eficiente
A sanguessuga é uma perfeita máquina de chupar sangue.
1. A sanguessuga possui ventosas nas duas extremidades do corpo que lhe permitem ficar grudada na sua vítima. Com seus dentes afiados, ela dá uma mordida que é totalmente indolor, pois vem acompanhada de um anestésico natural.
2. Na pele da pessoa, fica a marca da incisão feita pela sanguessuga. A saliva dela tem substâncias anticoagulantes que impedem a cicatrização e fazem o sangue da vítima fluir livremente. O verme pode sugar o equivalente a dez vezes seu peso corporal (ou 150 mililitros de sangue), aumentando muito de comprimento para receber todo esse alimento.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Qual a diferença entre os diversos tipos de cerveja?


Gilberto Stam
Qualquer pequena alteração na mistura de ingredientes da bebida pode alterar o gosto, a cor ou o aroma. Por isso existem cerca de 150 tipos de cerveja no mundo. As diferenças aparecem já na escolha das matérias-primas. A maioria das cervejas é feita com grãos de cevada germinados, torrados e triturados para formar o malte, mas algumas variedades usam o trigo no lugar da cevada ou acrescentam milho e arroz para baratear o produto. Além disso, quanto mais torrada a cevada, mais escura fica a cerveja. Na etapa seguinte, o malte passa por uma caldeira de cozimento e recebe o lúpulo, a flor que dá o sabor amargo à bebida. "Além do tipo de lúpulo, que pode ser mais ou menos amargo, o momento em que ele é adicionado é importante: quanto mais cedo, mais suave o sabor, porque o cozimento neutraliza as substâncias químicas da flor", diz a mestre-cervejeira  Cilene Saorin, degustadora profissional da bebida. Mas a maior distinção surge na etapa da fermentação.
Nessa hora, o malte misturado com água se transforma em cerveja propriamente dita pela ação das leveduras - fungos que se alimentam de açúcar e produzem álcool. O tipo de levedura determina as duas principais famílias de cerveja. A primeira reúne as marcas de baixa fermentação, em que a levedura usada afunda no líquido. Em inglês são chamadas de lagers e incluem bebidas leves e claras, como as principais marcas brasileiras, que, de acordo com os especialistas, devem ser consumidas numa temperatura entre 0 e 5 ºC. O segundo grupo é o das cervejas de alta fermentação, quando os fungos só flutuam na mistura final. Também conhecidas como ales, elas são geralmente mais fortes e podem ser consumidas a até 10 ºC. As diferenças param por aí, mas o processo de fabricação, não. Antes de ir para a garrafa, a cerveja passa até três meses em tanques de resfriamento. Depois, uma filtragem dá cor e brilho à bebida.
E, por fim, uma etapa de pasteurização prolonga a validade do produto.
Rodada completa
Variações nos ingredientes e na fermentação definem os oito principais tipos da bebida.
Os especialistas garantem que isso é importante para favorecer a formação do colarinho. Essa camada de espuma branca evita que o aroma da cerveja seja perdido rapidamente.

Trappiste - Raridade cara
Cerveja de alta fermentação produzida em apenas seis mosteiros na Bélgica e na Holanda. Geralmente, são fechadas com rolhas e a fermentação continua na garrafa. Possui grau alcoólico alto (8%) e sabor forte levemente apimentado, por causa do tipo de lúpulo utilizado. No Brasil, uma garrafa custa 50 reais.

Weissbier - Trigo X cevada
Em alemão, weissbier significa "cerveja branca", uma referência ao uso de trigo em vez de cevada para fazer malte. Essas cervejas de alta fermentação e teor alcoólico de 5% têm aromas que lembram maçã cozida e cravo. As mais conhecidas são as alemãs Erdinger e Weizenbock, servidas como cervejas natalinas.

Pale Ale - Ovelha branca
Ao contrário dos outros tipos de alta fermentação, em geral escuros, a pale ale normalmente é dourada. Seu gosto também é único: além do álcool, o tipo de levedura utilizado gera substâncias aromáticas que lembram o gosto de frutas. Surgiu na Alemanha no século 16 - no Brasil, a Baden Baden representa a variedade.

Dry Stout - Sabor de café
A marca Guiness é a mais famosa desse estilo de cerveja, de cor quase totalmente negra, surgida na Irlanda e produzida tanto por alta como por baixa fermentação. O gosto seco e amargo da torragem do malte e da cevada lembra um pouco o sabor de café. O teor alcoólico geralmente é médio, variando entre 5 e 6%.

Bock - Tradição invernal
Muito apreciada no inverno, único período do ano em que é produzida, a bock é uma variedade escura e forte por causa do malte bem torrado e do lúpulo amargo. Foi inventada no século 14 na cidade de Einbeck, na Alemanha. O nome original dessa cerveja de baixa fermentação era beck, uma homenagem à região onde apareceu.

Draft - Estilo americano
Com menos de 5% de teor alcoólico, é o tipo mais popular nos Estados Unidos, onde a marca Miller é uma das mais consumidas. Também pertence à família de baixa fermentação - a diferença é que a draft não passa pelo processo de pasteurização, mas por uma filtragem que retira microrganismos e aumenta sua validade.

Pilsen - Preferência nacional
O tipo mais conhecido no Brasil pertence à família das cervejas de baixa fermentação e surgiu em 1842, na cidade de Pilsen, na República Tcheca. Em geral, têm teor alcoólico de 5% e lúpulo amargo, que causa aquela sensação de boca seca. O chope é uma pilsen, mas, por não ser pasteurizado, só dura um mês.

Framboise - Acidez disfarçada
Criada no século 17, essa cerveja belga é a única feita com a fermentação espontânea dos próprios microrganismos do ar. Por isso, sua qualidade varia muito. Para diminuir a acidez do sabor, os inventores acrescentaram xarope de framboesa, gerando a cor avermelhada dessa variedade.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Por que os gatos sempre caem de pé?


Porque eles têm um apurado senso de equilíbrio, que lhes permite fazer movimentos rápidos e girar o corpo para cair sobre as quatro patas. Para executar esse invejável malabarismo, o bichano conta com a grande sensibilidade dos receptores vestibulares que integram o labirinto, uma estrutura na parte interna do ouvido responsável pelo equilíbrio. Sempre que o gato está numa posição desconfortável, ocorre um aumento de pressão na região, o que funciona como um alerta. Essa mensagem, somada às que são captadas pela visão do animal, é enviada para o sistema nervoso central, que a interpreta e manda vários sinais elétricos para o aparelho locomotor, principalmente os músculos. Estes, então, realizam uma série de movimentos instintivos, que fazem o corpo do animal recuperar o equilíbrio. "O primeiro movimento é a rotação da  cabeça na direção da posição correta, seguida da rotação da porção superior do corpo.
Por fim,  há a rotação da parte inferior", diz o veterinário Gelson Genaro, especialista em felinos da USP de Ribeirão Preto (SP). Além do gato, outros membros da família Felidae, como leopardos e jaguatiricas, também são capazes da mesma proeza.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Por que baleias e golfinhos às vezes encalham nas praias?


Existem várias hipóteses para explicar essas verdadeiras tragédias ecológicas, que vitimam muitas baleias e golfinhos todos os anos. As causas vão desde problemas fisiológicos nos próprios animais, que poderiam prejudicar seu senso de orientação, até interferências provocadas  pelo meio ambiente, como mostra a tabela abaixo. "Em espécies gregárias (que vivem em bandos), como golfinhos, botos, baleias-piloto e cachalotes, classificados como odontocetos (‘com dentes’), o encalhe de um animal doente ou desorientado pode levar o grupo todo a encalhar junto, já que esses indivíduos não são abandonados por seus pares. No caso das baleias de barbatana, cientificamente classificadas como misticetos, como a jubarte e a franca, os encalhes geralmente acontecem com animais solitários, já debilitados por alguma doença", afirma o ambientalista e escritor José Truda Palazzo Jr., coordenador no Brasil do projeto Baleia Franca, que busca proteger uma das espécies de baleia mais ameaçadas de extinção no planeta.
Enquanto alguns indivíduos dos grandes grupos de odontocetos que encalham podem ser salvos - em operações de resgate coordenadas por especialistas -, no caso dos misticetos esses esforços raramente surtem efeito. "O animal socorrido geralmente volta a encalhar e acaba morrendo de desidratação ou sufocamento sob o próprio peso", diz José Truda.
Enigma marinho
Especialistas apontam sete prováveis razões para esses incidentes.
PROBLEMAS INDIVIDUAIS...
1. Fuga de predadores
2. Perseguição a presas perto da costa
3. Doenças diversas
4. Distúrbios de localização em águas rasas
... E AMBIENTAIS
5. Interferência geomagnética, que provoca erros de navegação
6. Condições dos mares e do relevo submarino complexas
7. Condições meteorológicas adversas

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Existe algum animal que nunca dorme?


Pode até existir, mas isso ainda não foi totalmente comprovado pelos especialistas. "Todos os mamíferos e aves já estudados dormem. Porém, não é possível dizer que não há animais que nunca dormem porque a maioria esmagadora das espécies nunca foi estudada", afirma o neurofisiologista César TimoIaria, da Universidade de São Paulo (USP). Biólogos acreditam, no entanto, que alguns animais podem se manter continuamente despertos, como os tubarões. "Eles jamais foram pegos dormindo, mas ainda não foi experimentalmente possível comprovar se, de fato, eles nunca dormem", diz o biólogo Otto Bismarck Gadig, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), um especialista nessas feras marinhas.
Por enquanto, é sabido que os tubarões são capazes de diminuir seu metabolismo em situações de estresse ou quando estão repousando em cavernas submarinas. Fenômeno similar acontece com as baleias. "A princípio, os cetáceos não dormem, mas eles sofrem uma baixa de metabolismo que leva a um estágio semelhante ao sono", afirma o biólogo Mário Rolo, também da Unesp.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Qual é o maior lagarto do mundo?


Yuri Vasconcelos

É o dragão-de-komodo (Varanus komodoensis), um lagartão que pode chegar a 3,5 metros de comprimento e pesar 135 quilos. De cor cinza ou marrom, ele é encontrado apenas na ilha de Komodo, que fica na Indonésia, e em ilhotas próximas. Apesar de ser um réptil de origem pré-histórica, sua existência permaneceu desconhecida para os cientistas até o início do século 19. O dragão-de-komodo é um animal solitário, ótimo nadador e rápido no deslocamento em curtas distâncias. Pode viver até 100 anos e é um insaciável carnívoro, capaz de comer o equivalente a 80% de seu peso em uma única refeição.
Apesar de adorar uma carniça abandonada, ele tem grandes habilidades para caçar suas próprias presas, como porcos selvagens, aves, macacos e cervos. Além disso, também é canibal e tem o hábito de comer filhotes da espécie e até mesmo outros adultos. Após anos sendo capturado de maneira descontrolada por colecionadores exóticos, o grande lagarto agora é protegido por leis preservacionistas. A mais recente contagem populacional aponta que existem cerca de 5 mil dragões em Komodo, embora apenas 350 sejam fêmeas em idade de reprodução, o que preocupa os ambientalistas.
Quando vão procriar, elas cavam um enorme buraco para depositar seus ovos (em torno de 25), que têm as cascas rompidas em geral nos meses de abril e maio. Os filhotes nascem com cerca de 45 centímetros e passam os primeiros anos de vida trepados em árvores, para escapar do voraz apetite dos lagartos adultos. Nesse período, eles se alimentam de insetos e lagartixas. Quando atingem 1,2 metro, já conseguem se defender e descem ao solo. Apesar do tamanho e da ferocidade do bicho, são raros os casos de ataques contra humanos. Quando isso ocorre, no entanto, pode ser fatal. Um dos últimos incidentes, e também um dos mais famosos, ocorreu com o jornalista Phil Bronstein, marido da atriz americana Sharon Stone, há quase dois anos. No zoológico de Los Angeles, nos Estados Unidos, ele levou uma mordida no pé e teve que tomar potentes antibióticos para evitar uma grave infecção.
Onde fica Komodo
Hábitat da fera é no Sudeste Asiático.
A pequena ilha de Komodo (com cerca de 520 km2) e ilhas vizinhas como Flores abrigam a maior parte dos dragões-de-komodo. Elas integram o arquipélago Lesser Sunda, pertencente à Indonésia, no sudeste da Ásia.
Armas poderosas
Dentes fortes e rabo traiçoeiro ajudam nas caçadas.
Ataque com rabadas
Quando vai atacar uma presa, como um cervo, o dragão-de-komodo costuma dar uma forte rabada para desequilibrar a vítima. Após esse primeiro golpe, ele avança no animal com suas poderosas mandíbulas.
Mordida fatal
Para estraçalhar a presa em poucos minutos, ele conta com dentes tão afiados quanto os de um tubarão. Além disso, a saliva do lagarto tem pelo menos 50 tipos de bactérias. Assim, mesmo que a presa escape após a primeira mordida, pode morrer de infecção dias depois
Outros grandalhões
Uma espécie africana e uma americana podem atingir 2 metros.
Lagarto-do-Nilo (Varanus niloticus)
É o maior lagarto africano. Encontrado em quase todo o continente, exceto regiões desérticas, atinge até 2 metros de comprimento. Carnívoro, pode se alimentar de insetos, tartarugas e filhotes de jacarés. No período de reprodução, uma fêmea bota até 60 ovos.
Iguana (Iguana iguana)
Habita uma vasta extensão da América, do México ao Brasil. Machos adultos alcançam 2 metros de comprimento. As iguanas são vegetarianas, mas, quando jovens, alimentam-se de insetos e pássaros. Existem outras 12 espécies de iguanas no mundo.

 Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Há alguma relação entre o tamanho do pênis e o da mão da pessoa?


Não há uma relação tão direta assim. Mas é correto afirmar que em indivíduos sadios existe uma harmonia e proporcionalidade entre as medidas do corpo. "Parece intuitivo supor que os indivíduos com estatura mais baixa tenham suas medidas menores que aqueles mais altos. Até certo ponto, isso é verdade, porém há inúmeras exceções, o que faz com que deixemos de lado essa correlação entre as medidas", diz o geneticista Luís Garcia Alonso, presidente do Departamento de Genética Clínica da Associação Paulista de Medicina. Em outras palavras: é bastante arriscado olhar uma parte do corpo para tentar adivinhar o tamanho de outra. O comprimento médio da mão, entre o punho e o maior dedo, é de 17 a 18 centímetros. Já o do pênis em situação flácida é de 10 a 11 centímetros. Há também uma série de doenças que dificultam ainda mais essa associação. Na síndrome de Najjar, por exemplo, os afetados possuem pênis extremamente pequeno e mãos normais.
Por outro lado, na síndrome de Roberts, os pacientes têm pênis com comprimentos acima da média e mãos com medidas normais ou até pequenas. "O ideal é analisarmos cada medida corpórea em separado", diz Luís Garcia.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Existe algum mamífero que é venenoso?


Existem, sim, mas são raros. Um deles é o ornitorrinco, um bicho de aparência muito esquisita encontrado na Austrália e na Tasmânia. Além dele, algumas espécies de mamíferos da ordem insectivora, como o musaranho (gênero Suncus) e o solenodonte (gênero Solenon), também têm veneno. O solenodonte parece um rato gigante com nariz comprido e vive apenas na região do Caribe, na América Central. Ele mede cerca de 50 centímetros e possui glândulas que produzem uma saliva tóxica, liberada pelos dentes incisivos. O musaranho, um velho conhecido desta seção por ser um dos menores mamíferos do mundo, também tem uma saliva venenosa, que não chega a matar a pessoa mordida, mas que causa fortes dores. Já o estranho ornitorrinco - que tem corpo peludo, bico de pato e rabo de peixe - é dotado de esporões de 1,5 centímetro nas patas traseiras capazes de injetar veneno. Suas toxinas são produzidas por uma glândula localizada na coxa e só secretadas pelos machos.
Especialistas especulam que os esporões costumam ser usados no período de acasalamento, entre o final do inverno e o início da primavera, para atingir outros machos em disputas pelas fêmeas. O veneno não representa um perigo mortal para nós, humanos, mas a ferroada pode causar muita dor e uma ferida feia no local.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

O que é herpes?


Meire Cavalcante
É uma doença de pele bastante comum provocada pelo Herpes Simplex Vírus (HSV). Ele se divide em dois tipos, 1 e 2, passando de pessoa para pessoa pelo contato físico. O HSV-1 geralmente se manifesta em feridas no rosto e na região labial. Já o HSV-2 é mais comum nas áreas genitais. Como o herpes não tem cura, quem tem a doença do tipo 2 precisa sempre usar preservativos nas relações sexuais para evitar transmitir a doença para outras pessoas. "Uma vez contraído, o vírus permanece latente (sem se manifestar) por toda a vida do indivíduo", afirma o virologista Antônio Carlos Misiara, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Esporadicamente, porém, o HSV volta a dar as caras, criando outras feridas que duram, em média, uma semana para desaparecer. Com a aplicação de medicamentos adequados, que aceleram o processo de cicatrização, esses novos períodos de manifestação da doença podem cair para três dias. Existe um outro vírus, chamado Varicela Zoster, que é uma espécie de parente do HSV.
Ele causa uma doença popularmente conhecida como catapora. Apesar de ter estrutura genética semelhante à do Herpes Simplex, ele se diferencia pela forma de contágio e pela maneira como se manifesta. O Zoster é contraído pelo ar (e não apenas por contato físico), espalha-se pela corrente sanguínea e provoca feridinhas no corpo todo. A catapora só se manifesta uma vez, mas o vírus também fica escondido no organismo da pessoa. Uma forte queda no sistema imunológico (que combate as doenças) pode reativá-lo. Porém, essa segunda manifestação não é mais em forma de catapora e sim de uma doença chamada de herpes-zoster, que tem consequências mais graves que o herpes dos tipos 1 e 2. Ela ataca os nervos sensitivos do corpo, causando feridas na pele que acompanham a extensão desses nervos e provocando fortes dores.
Esconde-esconde
O vírus da doença se aloja no organismo e só aparece de tempos em tempos.
1. O Herpes Simplex Vírus (HSV), seja do tipo 1 ou 2, é transmitido pelo contato entre as mucosas das pessoas, como na boca ou na genitália. Ele causa feridas na pele por cerca de sete dias.
2. Em seguida, as feridas desaparecem, mas isso não quer dizer que o vírus foi embora. Ele simplesmente penetra nas células de alguns nervos sensitivos da região afetada.
3. O vírus, então, percorre todo o nervo sensitivo até chegar a um gânglio, uma pequena massa de células formada no trajeto desse nervo. Lá, o HSV fica escondido por um tempo indeterminado, sem que a pessoa manifeste a doença.
4. Uma queda no sistema imunológico ou um alto nível de estresse (físico ou emocional) podem reativar o vírus. Nesse caso, o HSV sai do gânglio onde estava alojado e percorre o caminho de volta, subindo pelo nervo até chegar à pele, onde provoca  feridas novamente.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Por que algumas injeções doem bem mais que outras?


Luiz Iria

Tudo depende de dois fatores: a profundidade com que a agulha penetra no corpo e a composição química das substâncias aplicadas. Basicamente, existem quatro tipos de injeção: intradérmica, subcutânea, intravenosa e intramuscular. A diferença está no ponto do corpo que elas atingem. A intramuscular, que como o próprio nome diz vai diretamente ao músculo, é a que mais incomoda por penetrar mais fundo em nossos braços ou glúteos. Já a intradérmica, aplicada na pele, é a menos dolorosa. Mas, além dessa questão de alcance das agulhas, o produto injetado também torna a picada mais ou menos desconfortável. Em algumas injeções, como numa aplicação de vitamina A, o princípio ativo do medicamento precisa ser dissolvido em  gordura, uma substância mais complicada de ser quebrada pelo organismo e que por isso gera mais dor ao paciente picado.
Outras vezes o composto aplicado pode receber um adjuvante, substância usada para dar mais estabilidade ao medicamento e que prolonga não só o efeito deste como também o incômodo da agulhada. Há casos em que a pessoa pode optar entre tomar um remédio via oral ou por meio de uma injeção, mas nem sempre é assim. A vantagem da picada é que o medicamento tem uma ação bem mais rápida, localizada e não sofre a influência de outros compostos produzidos pelo corpo, como os ácidos do estômago. A tendência atual é tentar aliviar um pouco o sofrimento dos pacientes diante das injeções, juntando, por exemplo, várias vacinas em uma só. "Hoje em dia, uma única injeção na coxa permite a aplicação das vacinas tríplice bacteriana, Salk, hemófilos e hepatite", diz a pediatra Sandra de Oliveira Campos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Os profissionais da área de saúde estudam até mesmo mudanças na composição das vacinas, pensando em diminuir o desconforto para as pessoas. Essas novidades podem até deixar as picadas mais palatáveis, mas as injeções ainda terão vida longa na medicina.

Sofrimento profundo
Quanto mais longe vai a agulha, mais desconforto a pessoa sente.
Entrada superficial
Aplicada com uma agulha de 0,4 a 0,5 milímetro de calibre, a injeção intradérmica é a mais superficial de todas, não ultrapassando as camadas da pele. Serve, por exemplo, para testes de alergia, pois esse tipo de problema aparece justamente na pele. Outro uso é na aplicação da BCG, a vacina contra tuberculose.
Abaixo da pele
Com agulhas de calibre um pouco mais grosso, entre 0,5 e 0,7 milímetro, as injeções subcutâneas ultrapassam a pele e chegam até a camada de gordura. A insulina usada pelos diabéticos é aplicada aqui. A vacina de sarampo também, pois assim proporciona melhor defesa para o organismo e menos efeitos adversos.
Direto na veia
As injeções intravenosas chegam a uma veia, onde é aplicada a maioria dos antibióticos. Algumas vitaminas também podem ser aplicadas aqui. Esse tipo de injeção não costuma ser tão dolorosa como a intramuscular, mas, dependendo da substância aplicada, pode ser muito irritante. Quem já tomou glicose após um grande porre sabe bem disso.
Ponto final
A intramuscular é a mais profunda, pois a agulha precisa chegar até o músculo da pessoa, normalmente no ombro ou nos glúteos. Por isso ela é a mais dolorosa das injeções. A temida Benzetacil, usada contra várias infecções, pertence a esse grupo. Sua fórmula química, feita para agir por longo tempo, piora ainda mais as coisas.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Como é feita uma ponte de safena?


Luciana Pinsky
Essa cirurgia cardíaca consiste em retirar parte da veia safena, que fica na perna, para religar artérias do coração obstruídas por placas de gordura. Com a nova ligação, chamada de ponte pelos médicos, é possível normalizar a circulação de sangue no local e evitar um infarto fatal. O desenvolvimento dessa cirurgia pode ser considerado um feito multinacional: ela foi realizada pela primeira vez nos Estados Unidos (em 1967), por um médico argentino (Renné Favaloro). Desde então, a ponte de safena passou por vários aperfeiçoamentos. Antes era comum, por exemplo, que durante a operação o bombeamento de sangue do paciente fosse feito por uma máquina fora do corpo, pois o coração parava totalmente de bater. Hoje, há várias técnicas que apenas reduzem os batimentos cardíacos, tornando a cirurgia menos invasiva e arriscada.
As pessoas normalmente descobrem que precisam se submeter a uma ponte de safena de duas maneiras: ao demonstrarem sintomas físicos de problemas cardíacos (como dores no peito) ou após passarem por exames de rotina que podem indicar as obstruções. Caso as lesões nas artérias sejam identificadas, a ponte de safena não é a única opção de tratamento. Em alguns casos, é possível reverter a situação apenas com o uso de medicamentos. Outra saída menos traumática que a cirurgia é a angioplastia, na qual um longo e finíssimo tubo é introduzido no corpo da pessoa - a partir do braço, por exemplo.
Ele então é direcionado até a artéria e a desobstrui. "A angioplastia é mais recomendada se a obstrução estiver em local de fácil acesso. Se não for esse o caso ou o paciente apresentar lesões em várias artérias, a cirurgia é mais indicada", diz o cardiologista Luís Alberto Oliveira Dallan, do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo. Uma operação de ponte de safena leva de três a cinco horas e até cinco religações podem ser feitas de uma vez.

Caminho alternativo
Cirurgia dribla artéria obstruída, mantendo a irrigação sanguínea no coração.
1. Passagem bloqueada
O sangue oxigenado que vem dos pulmões precisa ser distribuído pelo coração por artérias que  se chamam coronárias. Essas artérias podem acumular placas de gordura que obstruem a passagem do sangue. Como a circulação na região é difícil, o paciente passa a sentir dores no peito (angina). Quando 70% ou mais da coronária está obstruída, é recomendada a cirurgia de ponte de safena. Se ela não for feita, o paciente pode ter um infarto fatal.
2. Atalho vital
Para evitar que o coração fique sem a oxigenação necessária, é preciso encontrar um novo caminho para a circulação voltar ao normal. Um pedaço de uma veia da perna chamada safena é extraída  e enxertada no coração. Uma ponte, ou seja, uma nova ligação, é feita entre a aorta (principal artéria do corpo) e uma região da coronária que fica depois da parte obstruída pelas placas de gordura. O sangue então passa a utilizar o novo caminho e a oxigenação do coração está garantida.
Veias que salvam
Além da safena, outros vasos do corpo podem ser usados nesse tipo de operação.
1. Amiga do peito
Para pacientes com até 60 anos, em vez da ponte de safena pode ser feita uma cirurgia usando uma das duas artérias mamárias, que ficam no peito. Nessa operação, a rota de uma mamária é desviada para ela chegar até o coração, servindo de caminho alternativo à coronária obstruída.
2. Queda de braço
As pontes feitas com a artéria radial, retirada do braço, começaram a ser usadas no Brasil em 1993. O problema é que essa artéria pode apresentar espasmos que diminuem o fluxo de sangue. Para evitar as contrações involuntárias, o paciente usa medicamentos.
3. Estômago forte
Uma outra opção é o uso da artéria gastroepiplóica, que fica abaixo do estômago. Numa cirurgia delicada, ela é levada até a artéria obstruída no coração, passando por um pequeno orifício aberto no diafragma, músculo que separa o tórax do abdômen.
4. Bem das pernas
Em cada perna, nós temos duas veias safenas que se estendem pelo membro todo. A mais usada na cirurgia cardíaca é a safena magna, na parte da frente da perna, que é fácil de ser extraída.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Como foi construída a Torre Eiffel?


Ela foi construída em 1889, em Paris, como parte das comemorações do centenário da Revolução Francesa. Durante os preparativos para os festejos, o governo francês decidiu construir um monumento para marcar a data. Promoveu-se, então, um concurso para escolher o melhor projeto. Após analisar mais de 100 propostas, o comitê responsável optou pela idéia de uma torre, apresentada pelo renomado engenheiro francês Gustave Eiffel. Ele já havia trabalhado em inovadores projetos arquitetônicos, como a construção da estrutura da Estátua da Liberdade, em Nova York. A ousadia da torre de Eiffel, desenhada para ter 300 metros de altura, gerou na época muitas discussões e desconfianças. Questionava-se não só sua utilidade, como também o resultado estético da gigantesca estrutura metálica. Quando ela começou a ser construída, um grupo de renomados escritores da época, como Guy de Maupassant e Alexandre Dumas Junior, publicou no jornal Le Temps um "Protesto Contra a Torre do Senhor Eiffel".
O manifesto começava da seguinte maneira: "Nós, escritores, pintores, escultores, arquitetos e amantes das belezas de Paris - que até então estavam intactas - protestamos com toda nossa força e toda nossa indignação, em nome do subestimado bom gosto dos franceses, em nome da arte francesa e da história sob ameaça, contra a construção, no coração de nossa capital, dessa inútil e monstruosa Torre Eiffel..." Mas as críticas acabaram assim que o monumento ficou pronto, pois ele conquistou de imediato a população parisiense. Em 1964 a Torre Eiffel entrou para a lista de monumentos históricos de Paris e hoje é considerada uma obra-prima da engenharia civil e do design arquitetônico. Ela recebe a cada ano mais de 6 milhões de turistas que, a 274 metros do solo, têm uma incrível vista. Num dia claro, com a ajuda de um binóculo, o raio de visão alcança aproximadamente 60 quilômetros.

Escultura gigante
Obra de 10 mil toneladas e 300 metros de altura levou só dois anos para ficar pronta.
1. Em 1884, os engenheiros Emile Nouguier e Maurice Koechlin, que trabalhavam na empresa do engenheiro francês Gustave Eiffel, tiveram a idéia de erguer uma torre muito alta. Eiffel abraçou o projeto, desenhado pelo arquiteto Stephen Sauvestre, e o inscreveu num concurso do governo, que queria um monumento para marcar o centenário da Revolução Francesa, em 1889. O projeto de Eiffel foi o vencedor.
2. O local escolhido para erguer o monumento era perto do rio Sena, numa região de Paris onde ocorreria, em 1889, a Exposição Universal, uma grande feira internacional reunindo as novidades científicas e culturais da época. A idéia era que a Torre Eiffel ficasse na "porta de entrada" da exposição e fosse apenas uma atração temporária. Na primeira etapa da construção, iniciada em 1887, foi feita uma fundação de concreto, instalada num gigantesco buraco aberto alguns metros abaixo do nível do solo, sobre uma camada compacta de cascalho. Mais de uma centena de homens trabalhou no local por cinco meses.
3. Com a ajuda de andaimes de madeira, entre 150 e 300 operários, orientados por engenheiros veteranos, começaram a montar a estrutura de ferro fundido, peça por peça. Outra centena de metalúrgicos trabalhava numa fábrica forjando as 18 mil peças que iriam compor a torre. O complexo desenho das vigas foi projetado para garantir estabilidade contra ventos fortes. Já o design arqueado dos pés da base tinha caráter puramente estético. Em 21 meses a estrutura metálica de 10 mil toneladas estava pronta.
4. Em março de 1889, a Torre Eiffel foi concluída. Com 300 metros de altura, tornou-se a maior construção do mundo, título que manteve até 1931, quando foi inaugurado o arranha-céu Empire State Building, em Nova York. O monumento se transformou rapidamente em um estrondoso sucesso e, apenas em 1889, recebeu mais de 2 milhões de visitantes. Resultado: em vez de ser só uma atração temporária, a Torre Eiffel conquistou um lugar definitivo no coração de Paris e dos franceses.

É cristo que não acaba mais
Para quem nunca viu a Torre Eiffel de perto e quer ter uma noção melhor da altura dela, é só fazer uma comparação com a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que tem 38 metros de altura. Seria preciso empilhar oito Cristos para se chegar aos 300 metros do monumento francês.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

O que é a lenda do Santo Graal?


Cíntia Cristina da Silva

É uma lenda que atribui poderes divinos a um cálice sagrado, que teria sido usado por Jesus na última ceia. Essa, porém, é uma versão medieval de um mito que surgiu muito antes da Era Cristã. Na Antiguidade, os celtas - povo saído do centro-sul da Europa e que se espalhou pelo continente - possuíam um mito sobre uma vasilha mágica. Os alimentos colocados nela, quando consumidos, adquiriam o sabor daquilo que a pessoa mais gostava e ainda lhe davam força e vigor. É provável que, na Idade Média, tal história tenha inspirado a lenda "cristianizada" sobre o Santo Graal. Na literatura, os registros pioneiros dessa fusão entre a mitologia celta e a ideologia cristã são do século 12. "As lendas orais migraram para textos de cunho historiográfico, desses textos para versos e dos versos para um ciclo em prosa", diz o filólogo Heitor Megale, da Universidade de São Paulo (USP), organizador do livro A Demanda do Santo Graal, que esmiúça esse tema.
Ainda no final do século 12, o escritor francês Chrétien de Troyes foi o primeiro a usar a lenda do cálice sagrado nas histórias medievais que falavam sobre as aventuras do rei Artur na Inglaterra. A partir daí, outros autores, como o poeta francês Robert de Boron, no século 13, reforçaram a ligação entre os mitos do cálice e do rei Artur descrevendo, por exemplo, como o Santo Graal teria chegado à Europa. Foi Boron quem acrescentou um outro nome importante nessa história: o personagem bíblico José de Arimatéia. Nos romances de Boron, Arimatéia é encarregado de guardar e proteger o Santo Graal. Apesar das várias referências cristãs, essas histórias não são levadas a sério pela Igreja Católica. "O cálice da Santa Ceia tem o valor simbólico da celebração da eucaristia. Já seu poder mágico é só uma lenda", diz o teólogo Rafael Rodrigues Silva, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Poderosa ou não, o fato é que essa relíquia cristã jamais foi encontrada de fato.

A jornada do cálice
Romances medievais contam que, de Jerusalém, ele teria sido levado para a Inglaterra.
1. Em Jerusalém, durante a última ceia com os 12 apóstolos, Jesus Cristo converte o pão e o vinho em seu corpo e seu sangue - esse sacramento, denominado eucaristia, é um dos pontos máximos dos rituais cristãos. O cálice usado por Cristo nessa ocasião é o chamado Santo Graal.
2. Após a última ceia, Jesus é preso e crucificado. Um judeu rico que era seu seguidor, José de Arimatéia, pede autorização para recolher o corpo e sepultá-lo. Antes, porém, um soldado romano fere o corpo de Cristo para ter certeza de sua morte. Com o mesmo cálice usado por Jesus na última ceia, José de Arimatéia recolhe o sangue sagrado que escorre pelo ferimento.
3. Após sepultar o corpo de Cristo, José de Arimatéia é visto como seu discípulo e acaba preso, sendo recolhido a uma cela sem janelas. Todos os dias uma pomba se materializa no local e o alimenta com uma hóstia. Mesmo após ser libertado, Arimatéia decide fugir de Jerusalém e ruma para a atual Inglaterra na companhia de outros seguidores do cristianismo. Ele cruza a Europa levando o Graal.
4. José de Arimatéia funda a primeira congregação cristã da Grã-Bretanha, onde se localiza a atual cidade de Glastonbury. Nos romances medievais, nessa mesma região ficava Avalon, o lugar mítico que guardaria depois o corpo do rei Artur. Arimatéia prepara uma linhagem de guardiães do Santo Graal, pois o cálice dá superpoderes a quem o possui. Seu primeiro sucessor nessa missão é seu próprio genro, Bron.
5. Com o tempo, o Santo Graal e seus guardiães se perdem no anonimato. Quem tenta reencontrar o objeto é justamente o rei Artur, que tem uma visão indicando que só o cálice sagrado poderia salvar sua vida e também o seu reino de Camelot - que ficaria onde hoje há a cidade de Caerleon, no País de Gales. Leais companheiros de Artur, os cavaleiros da Távola Redonda saem em busca do cálice, sem jamais encontrá-lo.

Monarca fictício
Histórias sobre o rei Artur se popularizaram no século 12.
A cultura celta foi o ponto de partida não só do mito sobre o cálice sagrado, como também do personagem que tornou o Santo Graal popular no mundo inteiro. A criação do lendário rei Artur pode ter sido inspirada num homem de verdade, um líder celta, que teria vivido na Inglaterra por volta do século 5. Mas foi só a partir do século 12 que os primeiros textos com as aventuras de Artur e sua busca pelo Graal fizeram sucesso.

Formas imaginárias
O objeto já foi descrito das mais diferentes maneiras.

Simples e redondo
A primeira vez que ele aparece num romance medieval é em Le Conte du Graal ("O Conto do Graal"), do francês Chrétien de Troyes, no século 12. Ele é descrito não como um cálice, mas como uma tigela redonda e simples.

Luxuoso e talhado
Em outros textos, que permanecem de autoria desconhecida e são datados entre os séculos 12 e 13, o Graal aparece na forma de um cálice bastante luxuoso, talhado em 144 facetas incrustadas de esmeraldas.

Divino e intocável
Em The Queste Del Saint Graal ("A Busca do Santo Graal"), texto do século 13 creditado ao francês Robert de Boron, o cálice é descrito como um objeto divino sem forma. Somente alguém puro e casto poderia tocá-lo.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Como surge um deserto?


Para uma área ser considerada desértica, ela precisa reunir pelo menos dois elementos: solo arenoso e clima quente e seco, com baixíssimos índices de chuvas durante um longo período. Os desertos que existem hoje na Terra experimentam há milhares de anos uma média de chuvas menor que 250 milímetros por ano, um índice seis vezes inferior ao da cidade de São Paulo, por exemplo. Isso quer dizer que demora muito tempo para um deserto aparecer. "Portanto, não é verdade que as áreas desérticas estão avançando pela superfície da Terra durante as últimas décadas. A presença de areia, por si só, não caracteriza um deserto", afirma o geógrafo Roberto Verdum, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A origem de tanta confusão é a compreensão errada do conceito de desertificação. No seu sentido correto, a palavra indica a expansão de terrenos arenosos pelo planeta - geralmente por causa do esgotamento dos solos - e não dos desertos. Mais: ao contrário do que se pensa, não é um fenômeno irreversível.
"Estudos recentes mostram que áreas que sofreram com a desertificação podem recuperar a cobertura vegetal quando termina o período de seca mais agudo", diz Roberto. Claro que isso não diminui a gravidade do problema. Em todo o mundo, estima-se que a desertificação atinja 1 bilhão de pessoas em cerca de 110 países, chegando a ameaçar um terço das terras do globo. O continente mais afetado é a África, onde 73% dos terrenos agricultáveis já sofreram algum grau de degradação. No Brasil, a desertificação avança sobre uma área de 1 milhão de quilômetros quadrados no semi- árido nordestino e no norte de Minas Gerais. Para combater o problema, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a Convenção de Combate à Desertificação, um acordo internacional em vigor desde 1994 e assinado por mais de 180 países - o Brasil é um deles. Mas até agora os investimentos foram tímidos e não conseguiram impedir que as areias avancem a uma velocidade de 60 mil quilômetros quadrados por ano.

Da vida ao pó
Mau uso do solo é um dos principais fatores para a desertificação.
1. Em áreas com terrenos arenosos, a mata nativa é essencial para proteger o solo da degradação. As raízes das árvores sustentam a terra e retêm água, evitando a erosão. A situação começa a mudar quando a área é ocupada de maneira predatória. O desmatamento da vegetação nativa ou nas margens de rios, as queimadas, a agropecuária intensiva, o uso indiscriminado de agrotóxicos e as práticas inadequadas de irrigação podem iniciar o processo de desertificação.
2. Com a ocupação agrícola, parte da mata nativa é derrubada para dar lugar a plantações. Sem a proteção das raízes, o solo perde matéria orgânica e começa a ter camadas removidas. A cada nova cultura,  a aragem do terreno e a ação da chuva carrega nutrientes do solo e diminui sua espessura original. A terra nua sofre com a erosão e o leito dos rios diminui de volume com os deslizamentos de terra.
3. O mau uso do solo acaba com a produtividade nas terras baixas e força o agricultor a desmatar uma área na encosta para prosseguir com o plantio. Nessa região, os efeitos da erosão são ainda mais rápidos. As terras abandonadas só servem como pasto para o gado. Em alguns anos, a produtividade das encostas também diminui e a faixa plana já virou areia.
4. Em poucas décadas, a região fértil e verde dá lugar um terreno arenoso e improdutivo. Com a ação do vento e da água, toda a faixa do solo já desapareceu e só sobrou areia e rocha. Mas isso não significa que a área se tornou um deserto, porque a desolação tem remédio: basta desocupar a área para que gramíneas e capins mais resistentes voltem a aparecer. A recuperação total do solo, entretanto, pode demorar séculos.

Um continente que seca
Na África, área do tamanho de Minas Gerais está ameaçada.
A África é, de longe, o continente mais atingido pela desertificação. Na borda sul do deserto do Saara, uma região do tamanho do estado de Minas Gerais virou areia nos últimos 50 anos. Hoje, a ameaça de desertificação atinge quase dois terços do continente. Além das constantes secas, os solos sofrem com a substituição das lavouras de sustento por culturas de exportação desde os anos 40. O problema tem consequências sociais graves: nas próximas duas décadas, cerca de 60 milhões de pessoas devem deixar as terras atingidas pela desertificação, migrando para o norte da África ou para a Europa.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Como surge um incêndio florestal e como combatê-lo?


Rodrigo Ratier
Os incêndios mais destruidores aparecem com uma combinação explosiva de três fatores. Primeiro, um clima quente e seco, em que a umidade do ar não ultrapasse 20%. Segundo, a presença de alguma coisa que provoque a primeira fagulha, desde um relâmpago até um simples cigarro aceso. Por último, combustível para alimentar as chamas - e isso as florestas têm de sobra, com suas toneladas de madeira inflamável, arbustos e folhagens secas. Se estiver ventando muito, pior ainda: as correntes de ar são capazes de carregar uma folha flamejante por até 50 metros de distância. Isso gera desastres como o incêndio de Roraima em 1998, quando arderam 14 mil quilômetros quadrados de floresta, uma área quase dez vezes superior à da cidade de São Paulo. No país, 95% dos incêndios são causados pela ocupação desordenada da zona rural. "O corte de madeira abre clareiras no meio da floresta, diminuindo a resistência  do solo e a umidade da área. Mas o grande inimigo são as queimadas.
Nas  secas, elas fogem de controle e avançam sobre as áreas de floresta intocada", afirma o sociólogo Flávio Montiel, diretor de proteção ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A região que mais sofre com o problema é o chamado arco do desmatamento, uma faixa de 3 mil quilômetros de extensão e de até 600 quilômetros de largura, que vai do Pará ao Acre, nas bordas da floresta Amazônica. Para evitar os incêndios, o Ibama possui um sistema de quatro satélites que monitora os focos de calor nos territórios críticos. "Na suspeita, a ordem é destacar uma equipe para combater o fogo. Cada  minuto é precioso para evitar que o incêndio se alastre", diz o agrônomo Hélio Ogawa, do Instituto Florestal do Estado de São Paulo. As estratégias para vencer o incêndio incluem o combate com brigadas, aviões e helicópteros, ou ainda isolar a região em chamas para limitar os danos.

Operação mata-chamas
Luta contra o fogo conta com ataque aéreo e pode mobilizar até 500 homens

ÁGUA PORTÁTIL
Como a maioria das florestas fechadas impede o acesso de caminhões-pipa,o kit dos brigadistas contra as chamas inclui bombas d’água portáteis de 40 litros. Apesar de limitadas, elas são a melhor arma para eliminar focos de fogo oculto.

VASSOURA SALVADORA
Além de roupas protetoras, equipes de até 500 brigadistas de combate ao incêndio têm um equipamento essencial: a vassoura-de-bruxa, um bastão com tiras de lona que abafam as chamas e extinguem o fogo.

REDUZINDO O ESTRAGO
Quando o fogo avança rápido, a melhor estratégia é usar tratores para limpar uma faixa do terreno e cercar as chamas. Ao mesmo tempo, os brigadistas provocam incêndios controlados para reduzir o combustível disponível.

CONTRA-ATAQUE AÉREO
Aviões-tanque e helicópteros com capacidade para até 4 mil litros de água sobrevoam a área e despejam o líquido sobre o incêndio. Em casos graves, a água é misturada aos chamados retardantes, composto de óxido de ferro e fertilizantes que, em contato com as árvores, protege contra as chamas e diminui o ritmo da combustão da madeira.
1. Em condições de clima quente e seco, basta um relâmpago, um cigarro aceso ou uma simples fogueira abandonada para começar um grande incêndio florestal. Quando a mata começa a queimar, o ar quente das chamas tende a subir, criando um vácuo próximo à área verde.
2. O vazio deixado pela coluna de fumaça é rapidamente preenchido por uma corrente de vento fresco. O oxigênio alimenta a combustão e os sopros de ar transportam folhas flamejantes a até 50 metros de distância, ultrapassando rios e vales e espalhando o potencial de destruição do incêndio.
3A. Nas florestas podem ocorrer três tipos de incêndio. O mais frequente é o chamado fogo rasteiro, que avança pela superfície do solo, queimando arbustos, palha e capim seco. A grande quantidade de material inflamável funciona como um reservatório de combustível.
3B. O segundo tipo de incêndio é o fogo de copa, que consome as folhas das árvores e é o mais difícil de combater. Como as chamas podem estar a mais de 40 metros de altura, é preciso usar socorro aéreo ou derrubar a árvore para conter as chamas.
3C. O último tipo, o chamado fogo oculto, é o mais traiçoeiro. Esse fogo queima lentamente a parte interna de troncos e raízes como um carvão em brasa por até dez dias. Nessas situações, basta uma rajada de vento para recomeçar o incêndio.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Quem são as gueixas?


São mulheres da sociedade japonesa que se dedicam às artes e à preservação das tradições daquele país. Uma gueixa se especializa em canto, dança, música e poesia para oferecer à elite local sua companhia culta e sofisticada em festas e recepções. Elas são parte fundamental da cultura japonesa desde o final do século 17. "O papel das gueixas mudou várias vezes com o passar do tempo. No Japão moderno elas zelam pelas artes tradicionais. Ainda assim o papel delas é ambivalente: possuem um grande status na sociedade, mas ao mesmo tempo não são consideradas mulheres respeitáveis", diz a antropóloga americana Liza Dalby, que fez uma tese de doutorado e publicou um livro sobre o tema, Gueixa. Apesar de algumas gueixas realmente se tornarem amantes de seus dannas - uma espécie de patrocinador que banca o elevado custo de treinamento dessas mulheres -, não é correto confundi-las com prostitutas de luxo.
Também é falsa a idéia, bastante comum no mundo ocidental, de que elas são um estereótipo da mulher submissa, cujo objetivo na vida é satisfazer um homem. Na verdade, as gueixas têm existência muito independente e participam ativamente da vida social, sendo responsáveis por suas carreiras e sem terem as preocupações familiares das mulheres comuns, pois não costumam se casar. Uma garota se torna aprendiz de gueixa (maiko) por volta dos 17 anos, após estudar as artes tradicionais japonesas (como o origami), história, poesia e canto, aprender a tocar instrumentos musicais, ter aulas de postura e de tarefas domésticas. Todo esse treinamento é feito em casas chamadas oki-ya, nas quais o acesso é extremamente restrito para pessoas que não fazem parte desse mundo reservado das gueixas.

Visual simbólico
Roupa e até penteado têm significado especial
Deu branco
Há tempos as mulheres japonesas clareiam o rosto com um pouco de maquiagem branca. As gueixas exageram na dose para fazer valer a reputação de símbolos de beleza.
Afinadas
O shamisen é um antigo instrumento de cordas do século 17. Até há pouco tempo, todas as gueixas sabiam tocá-lo. Hoje não é mais obrigatório.
Pano pra manga
O quimono não só é a roupa de trabalho de uma gueixa como também permite identificar o grau de experiência dela. Aprendizes usam mangas mais longas.
Fio da suspeita
O jeito como elas prendem o cabelo repete penteados tradicionais do Japão. Pela praticidade, algumas gueixas usam uma peruca sobre o cabelo natural.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

O que eram as chanchadas?


As chanchadas foram um gênero de filme brasileiro que teve seu auge entre as décadas de 1930 e 1950. Elas eram comédias musicais, misturadas com elementos de filmes policiais e de ficção científica. Esse tipo de humor, porém, não pode ser considerado  uma invenção brasileira, pois fitas assim também eram comuns em países como Itália, Portugal, México, Cuba e Argentina. Quando o gênero chegou por aqui, a crítica nacional o considerava um espetáculo vulgar, por isso ele foi apelidado de chanchada - palavra de origem controversa, mas que pode ter surgido na língua espanhola, significando "porcaria". A aversão dos críticos, no entanto, não prejudicou o sucesso de bilheteria desses filmes.
"Com seu humor quase sempre ingênuo, às vezes malicioso e até picante, a chanchada se impôs como um entretenimento de massa", diz o jornalista Sérgio Augusto, autor do livro Este Mundo é um Pandeiro - a Chanchada de Getúlio a JK. Para conquistar o público, as primeiras produções apresentavam grandes astros do rádio, como Carmen Miranda e Francisco Alves. Mais tarde, a dupla de comediantes Oscarito e Grande Otelo iria se tornar a sensação dessas fitas. Apesar da influência do cinema americano, que volta e meia tinha filmes sendo parodiados,  as chanchadas costumavam ser essencialmente brasileiras, tratando de problemas do cotidiano e fazendo humor com uma linguagem de fácil compreensão.
Segundo o diretor Carlos Manga, um dos mais importantes do gênero, a estrutura das histórias era dividida em quatro partes: mocinho e mocinha se metem em apuros; cômico tenta protegê-los; vilão leva vantagem; vilão é vencido. Mesmo com essa fórmula bastante simplista, o público lotou os cinemas brasileiros para assistir a chanchadas até meados da década de 50. O desenvolvimento da TV no país, o surgimento do cinema novo - um outro estilo de filme, mais politizado - e o desgaste natural do gênero fizeram com que as chanchadas fossem perdendo espaço. Mas elas entraram para história ao marcar um dos períodos mais produtivos do cinema nacional.
Dez filmes marcantes
Oscarito e Grande Otelo foram as grandes estrelas do gênero.
1933- A Voz do Carnaval, De Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro
Filme semidocumental, que mistura cenas reais com cenas gravadas. Estréia de Carmen Miranda no cinema.
1935- Alô, Alô, CarnavalL!, De Adhemar Gonzaga
Considerado um dos mais importantes musicais brasileiros. O filme traz grandes cantores da época, como Francisco Alves, Carmen Miranda e Mário Reis, soltando a voz.
1949- Carnaval no Fogo, De Watson Macedo
Um bandido (José Lewgoy) pretende dar um golpe em foliões durante o Carnaval. Com Oscarito e Grande Otelo, mistura ação, intriga policial, humor e música.
1950- Aviso aos Navegantes, De Watson Macedo
Oscarito embarca como clandestino num transatlântico. Durante a viagem, o comandante do navio recebe a notícia de que um espião internacional está a bordo.
1952- Carnaval Atlântida, De José Carlos Burle
História sobre as filmagens de um épico da Guerra de Tróia. Além das presenças de Grande Otelo e José Lewgoy, há um impagável Oscarito, travestido de Helena de Tróia.
1954- Nem Sansão nem Dalila, De Carlos Manga
Oscarito vive um barbeiro que, após um acidente de carro, vai parar no ano 1153 a.C., onde conhece Sansão e adquire os superpoderes desse personagem bíblico.
Matar ou Correr, De Carlos Manga
Sátira ao clássico faroeste americano Matar ou Morrer (1952). Oscarito interpreta o pistoleiro Kid Bolha, que enfrenta Jesse Gordon (José Lewgoy).
1957- De Vento em Popa, De Carlos Manga
Um rapaz (Cyll Farney) vai estudar física nuclear nos Estados Unidos para agradar seu pai, que sonha ver o filho construindo a primeira bomba atômica brasileira.
Absolutamente Certo, De Anselmo Duarte
Anselmo Duarte trabalha na impressão de listas telefônicas e sabe todos os números de São Paulo. Ele testa sua memória num programa de auditório.
1959- O Homem o Sputnik, De Carlos Manga
Os camponeses Oscarito e Zezé Macedo encontram um objeto estranho, semelhante ao satélite russo Sputnik. Uma das primeiras comédias sobre a Guerra Fria.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O que é a Convenção de Genebra? E o que são crimes de guerra?


Convenção de Genebra é o nome que se dá a vários tratados internacionais assinados entre 1864 e 1949 para reduzir os efeitos das guerras sobre a população civil, além de oferecer uma proteção para militares capturados ou feridos. A história desses tratados está associada ao suíço Henri Dunant, fundador da Cruz Vermelha. Dunant tomou a iniciativa de organizar esse tipo de acordo em uma convenção na cidade de Genebra, na Suíça, em 1864, que contou com a presença das principais potências européias. Após o primeiro encontro, várias outras convenções foram realizadas para ampliar e detalhar uma espécie de regulamento para a participação em uma guerra. A cidade de Haia, na Holanda, foi sede de dois dos encontros seguintes (em 1899 e 1907) e na Suíça mesmo foram assinadas outras três convenções (em 1906, 1929 e 1949).
"A aplicação dessas leis permanece insatisfatória, embora o artigo primeiro comum a todas as Convenções de Genebra estabeleça que é dever das nações cumprir os tratados", afirma o jornalista inglês Kim Gordon-Bates, porta-voz da Cruz Vermelha. Mesmo assim, os tratados serviram pelo menos para deixar claro o que o mundo considera inaceitável num conflito armado. Quem ultrapassa esses limites comete os chamados crimes de guerra. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), por exemplo, foi montado o famoso Tribunal de Nuremberg, na cidade alemã de mesmo nome, onde foram julgados líderes nazistas acusados, entre outras coisas, de violarem as leis internacionais. Uma corte semelhante foi organizada em Tóquio para julgar os japoneses, aliados dos alemães no conflito.
"Esses tribunais confirmaram que indivíduos poderiam ser responsabilizados pela violação da lei internacional, estabelecendo que ordens superiores não eximiam um réu da responsabilidade", diz o jurista Peter John Rowe, da Universidade de Lancaster, na Inglaterra. Em 1998, um tratado assinado em Roma, na Itália, criou o Tribunal Penal Internacional, com a tarefa de julgar violações graves consideradas crimes de guerra. Hoje, o ex-ditador sérvio Slobodan Milosevic enfrenta esse tribunal, acusado por atos cometidos nos conflitos na antiga Iugoslávia na década de 1990.
O que é proibido
Há três tipos de infração envolvidos num conflito.
Crimes de guerra
• Assassinato ou maus-tratos da população.
• Deportações para trabalhos forçados.
• Assassinato ou maus-tratos de prisioneiros.
• Pilhagem de propriedade pública ou particular.
• Destruição indiscriminada de cidades e devastação sem necessidade militar.
• Assassinato de reféns.
Crimes contra a paz
• Planejar guerra de agressão ou em violação a tratados internacionais.
• Participar de plano comum ou conspiração para promover esses atos.
Crimes contra a humanidade
• Extermínio, escravização e outros atos desumanos antes ou durante uma guerra.
• Perseguições por motivos políticos, raciais ou religiosos.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Como era um cerco medieval?


O cerco era uma das táticas militares mais comuns da Idade Média. Em vez de travar uma sangrenta batalha campal, o exército que pretendia conquistar determinado castelo ou fortificação se posicionava em volta dessa construção, evitando que os inimigos saíssem do local. "Algumas técnicas básicas de um cerco, estabelecidas na Antiguidade, são empregadas até hoje. Eram atividades que consumiam tempo e recursos", diz o historiador australiano Stephen Wyley, um especialista em guerra medieval. Após estabelecer o cerco, o exército atacante tinha duas opções: manter a fortaleza bloqueada e esperar pacientemente uma rendição ou então organizar ataques para invadi-la. A primeira alternativa envolvia uma complicada logística para abastecer as tropas, além de grandes recursos para pagar os soldados responsáveis pelo cerco, que podia durar vários meses. Além disso, aliados do exército sitiado podiam aparecer para tentar resgatar seus companheiros.
Já a opção de invadir a fortaleza exigia o uso de máquinas de guerra, que podiam ser construídas no local ou já levadas desmontadas pelo exército atacante. Para quem se defendia, era preciso, antes de tudo, prevenir-se, investindo na arquitetura militar ao construir as fortificações. Muitos castelos eram erguidos em locais de difícil acesso, à beira de abismos ou no alto de colinas. Fossos em volta da construção e enchidos com água também ajudavam no isolamento, embora os inimigos pudessem usar terra ou galhos de árvores para tapá-los. Outra tática comum dos exércitos que lançavam o ataque era estimular traições ou rebeliões entre os sitiados, estratégias que ajudavam a vencer a batalha quase sem baixas.
Entrada forçada
Para invadir um castelo, muitas máquinas e estratégias eram usadas.
Tática de espera
O exército que atacava uma fortificação podia cercá-la, bloqueando totalmente seu acesso e obrigando os defensores a se render por falta de água ou comida. A vantagem dessa tática era o pequeno número de baixas para o exército invasor. O problema é que a espera podia durar meses, se as forças sitiadas tivessem um bom estoque de suprimentos.
Catapulta improvisada
A tecnologia de construção de catapultas, nascida na Antiguidade, perdeu-se com o tempo e era ignorada pelos exércitos medievais. Estes usavam uma máquina parecida, mas menos eficiente, chamada trebuchet, capaz de arremessar a 150 metros pedras de até 350 quilos.
Golpe baixo
Os invasores às vezes cavavam um túnel até os alicerces da muralha, escorando-o com madeira. Depois, ateavam fogo nela, abalando o alicerce e fazendo a muralha ceder. Para se defender, os sitiados cavavam outro túnel para interceptar os inimigos, travando combates na escuridão que eram um dos momentos mais terríveis de um cerco.
Subida arriscada
A alternativa mais perigosa para os invasores era escalar as muralhas com escadas. Para reduzir os riscos, eram construídas torres de madeira, que se deslocavam sobre toras ou rodas e protegiam os soldados, que usavam passarelas de madeira para ligar a torre à muralha. Os que conseguiam entrar abriam os portões.
Ou vai, ou racha
Na tentativa de arrebentar o portão ou abrir uma brecha na muralha, era usado o aríete, uma grande tora de madeira, com ponta de ferro, empurrada contra a fortificação por vários soldados. Para evitar as flechas e pedras lançadas do alto pelos inimigos, era comum o uso de uma cobertura de madeira, com teto reforçado por peles de animais e placas de ferro.
Chuva de flechas
Do alto das muralhas, arqueiros podiam atirar flechas contra os atacantes. Algumas flechas tinham fogo nas pontas para incendiar o acampamento inimigo.
Banho fervente
Para enfrentar os invasores, os sitiados também usavam óleo ou outros líquidos combustíveis que eram fervidos em grandes caldeirões de ferro e depois despejados nos rivais. Até mesmo esgoto, recolhido em fossas, podia ser lançado.
Último refúgio
Quando as muralhas eram rompidas, restava aos sitiados se trancar numa grande torre de pedra, que geralmente existia no centro das fortalezas e armazenava água e comida.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003

Como surgiu o espelho?


As primeiras superfícies capazes de refletir imagens começaram a ser feitas há cerca de 5 mil anos na antiga Suméria - região no atual Iraque, englobando áreas próximas à cidade de Bagdá. Os espelhos dessa época não produziam imagens nítidas, pois eram placas de bronze polidas com areia. Na Antiguidade, esses instrumentos de metal chegaram às mãos dos gregos e romanos e a partir daí foram se espalhando pela Europa até se tornarem conhecidos em todo o continente no final da Idade Média. "Até por volta do século 13, os espelhos eram feitos de metal polido, ligas de prata ou bronze duras o suficiente para agüentar o processo de polimento mecânico e não riscar facilmente", diz o engenheiro Hélio Goldenstein, da USP. Os primeiros espelhos de vidro só surgiriam no início do século 14, criados por artesãos de Veneza, na Itália, que desenvolveram uma mistura de estanho e mercúrio que, aplicada sobre um vidro plano, formava uma fina camada refletora.
Os espelhos venezianos eram famosos pela qualidade e seu método de fabricação era mantido em segredo. Mas, além do alto custo, a produção causava problemas aos artesãos, que se  contaminavam com mercúrio, material altamente poluente. "Só no século 19 foram descobertas formas de espelhar o vidro com prata química, sem a necessidade do mercúrio", afirma Hélio. A nova técnica, mais segura, simples e barata, popularizou os espelhos pelo mundo.

Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003