A maioria dos animais não se reconhece no espelho. "Ao
ver sua imagem refletida, eles reagem como se observassem outro indivíduo da
mesma espécie. Pássaros machos, por exemplo, podem se arremessar contra um
retrovisor, achando que se trata de outro macho que invadiu seu
território", diz o psicólogo César Ades, da USP, um especialista em comportamento
animal. O chimpanzé é um dos poucos bichos capazes de se reconhecer. Ele olha
partes do seu corpo por meio da imagem e, se percebe que há algo novo na sua
aparência, como uma mancha pintada no rosto, por exemplo, põe a mão no local,
como um ser humano provavelmente faria. Mas não são todos os primatas que têm
essa capacidade. Experimentos já provaram que os micos-leões, por exemplo, não
se identificam. Um estudo feito em 2001 mostrou que os golfinhos, que estão
entre os animais mais inteligentes do mundo, também sabem para que serve um
espelho.
Essa descoberta foi importante porque até então se imaginava
que somente animais dotados de lóbulos cerebrais frontais - como o homem e o
chimpanzé - tinham a capacidade de se reconhecer. A pesquisa com os golfinhos
derrubou a teoria e lançou a hipótese de que essa característica pode estar
relacionada a outros aspectos, como o tamanho do cérebro e a capacidade de
aprendizado de cada espécie.
Reações opostas
Duas experiências revelam bichos que se identificam e que se
assustam com o reflexo.Os golfinhos espertos...
Uma experiência realizada com golfinhos nos Estados Unidos, em 2001, teve um resultado surpreendente. Os zoólogos americanos Diane Reiss e Lori Marino colocaram espelhos dentro de um aquário onde havia alguns golfinhos e observaram a reação deles. Depois, fizeram marcas de tinta em partes do corpo dos animais que só poderiam ser vistas com a ajuda dos espelhos. Os golfinhos mostraram que reconheceram sua própria imagem ao usar os reflexos para identificar a novidade em seus corpos.
... E Os micos ameaçados
Também em 2001, no zoológico de São Paulo, foi feito um teste na gaiola onde vivem os micos-leões, com a colocação de um grande espelho no local. Caso os animais se reconhecessem, ficariam observando as partes do próprio corpo, como fazem os humanos. "Mas na verdade o espelho causou a maior comoção. Os animais reagiram eriçando o pêlo, gritando, correndo para o fundo do viveiro, como se estivessem diante de uma invasão de animais estranhos", diz o psicólogo César Ades.
Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003