Gilberto Stam
Qualquer pequena alteração na mistura de ingredientes da
bebida pode alterar o gosto, a cor ou o aroma. Por isso existem cerca de 150
tipos de cerveja no mundo. As diferenças aparecem já na escolha das
matérias-primas. A maioria das cervejas é feita com grãos de cevada germinados,
torrados e triturados para formar o malte, mas algumas variedades usam o trigo
no lugar da cevada ou acrescentam milho e arroz para baratear o produto. Além
disso, quanto mais torrada a cevada, mais escura fica a cerveja. Na etapa
seguinte, o malte passa por uma caldeira de cozimento e recebe o lúpulo, a flor
que dá o sabor amargo à bebida. "Além do tipo de lúpulo, que pode ser mais
ou menos amargo, o momento em que ele é adicionado é importante: quanto mais
cedo, mais suave o sabor, porque o cozimento neutraliza as substâncias químicas
da flor", diz a mestre-cervejeira Cilene Saorin, degustadora profissional da
bebida. Mas a maior distinção surge na etapa da fermentação.Nessa hora, o malte misturado com água se transforma em cerveja propriamente dita pela ação das leveduras - fungos que se alimentam de açúcar e produzem álcool. O tipo de levedura determina as duas principais famílias de cerveja. A primeira reúne as marcas de baixa fermentação, em que a levedura usada afunda no líquido. Em inglês são chamadas de lagers e incluem bebidas leves e claras, como as principais marcas brasileiras, que, de acordo com os especialistas, devem ser consumidas numa temperatura entre 0 e 5 ºC. O segundo grupo é o das cervejas de alta fermentação, quando os fungos só flutuam na mistura final. Também conhecidas como ales, elas são geralmente mais fortes e podem ser consumidas a até 10 ºC. As diferenças param por aí, mas o processo de fabricação, não. Antes de ir para a garrafa, a cerveja passa até três meses em tanques de resfriamento. Depois, uma filtragem dá cor e brilho à bebida.
E, por fim, uma etapa de pasteurização prolonga a validade do produto.
Rodada completa
Variações nos ingredientes e na fermentação definem os oito principais tipos da bebida.
Os especialistas garantem que isso é importante para favorecer a formação do colarinho. Essa camada de espuma branca evita que o aroma da cerveja seja perdido rapidamente.
Trappiste - Raridade
cara
Cerveja de alta
fermentação produzida em apenas seis mosteiros na Bélgica e na Holanda.
Geralmente, são fechadas com rolhas e a fermentação continua na garrafa. Possui
grau alcoólico alto (8%) e sabor forte levemente apimentado, por causa do tipo
de lúpulo utilizado. No Brasil, uma garrafa custa 50 reais.
Weissbier - Trigo X
cevada
Em alemão, weissbier significa "cerveja branca",
uma referência ao uso de trigo em vez de cevada para fazer malte. Essas
cervejas de alta fermentação e teor alcoólico de 5% têm aromas que lembram maçã
cozida e cravo. As mais conhecidas são as alemãs Erdinger e Weizenbock,
servidas como cervejas natalinas.
Pale Ale - Ovelha
branca
Ao contrário dos
outros tipos de alta fermentação, em geral escuros, a pale ale normalmente é
dourada. Seu gosto também é único: além do álcool, o tipo de levedura utilizado
gera substâncias aromáticas que lembram o gosto de frutas. Surgiu na Alemanha
no século 16 - no Brasil, a Baden Baden representa a variedade.
Dry Stout - Sabor de
café
A marca Guiness é a
mais famosa desse estilo de cerveja, de cor quase totalmente negra, surgida na
Irlanda e produzida tanto por alta como por baixa fermentação. O gosto seco e
amargo da torragem do malte e da cevada lembra um pouco o sabor de café. O teor
alcoólico geralmente é médio, variando entre 5 e 6%.
Bock - Tradição
invernal
Muito apreciada no
inverno, único período do ano em que é produzida, a bock é uma variedade escura
e forte por causa do malte bem torrado e do lúpulo amargo. Foi inventada no
século 14 na cidade de Einbeck, na Alemanha. O nome original dessa cerveja de baixa
fermentação era beck, uma homenagem à região onde apareceu.
Draft - Estilo
americano
Com menos de 5% de
teor alcoólico, é o tipo mais popular nos Estados Unidos, onde a marca Miller é
uma das mais consumidas. Também pertence à família de baixa fermentação - a
diferença é que a draft não passa pelo processo de pasteurização, mas por uma
filtragem que retira microrganismos e aumenta sua validade.
Pilsen - Preferência
nacional
O tipo mais conhecido
no Brasil pertence à família das cervejas de baixa fermentação e surgiu em
1842, na cidade de Pilsen, na República Tcheca. Em geral, têm teor alcoólico de
5% e lúpulo amargo, que causa aquela sensação de boca seca. O chope é uma
pilsen, mas, por não ser pasteurizado, só dura um mês.
Framboise - Acidez disfarçada
Criada no século 17,
essa cerveja belga é a única feita com a fermentação espontânea dos próprios
microrganismos do ar. Por isso, sua qualidade varia muito. Para diminuir a
acidez do sabor, os inventores acrescentaram xarope de framboesa, gerando a cor
avermelhada dessa variedade.
Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003
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