Roberto Navarro
A resposta depende primeiro de outra pergunta: de que
momento da Pré-História se está falando? É que a Pré-História engloba mais de
2,5 milhões de anos de evolução das espécies do gênero.
Homo. "Nesse
longo período passamos de carniceiros e trituradores de sementes e raízes a
domesticadores de animais", diz o arqueólogo Renato Kipnis, da
Universidade de São Paulo (USP). Um bom intervalo de tempo para analisar o
hábito de caça e alimentação é o chamado Paleolítico Superior, há cerca de 40 mil anos, quando apareceram na
Europa homens anatomicamente idênticos aos de hoje. Nessa época nossos
ancestrais já produziam uma grande variedade de ferramentas e viviam
basicamente da caça e da coleta de alimentos silvestres, atividades feitas em
grupo e com funções definidas para homens, mulheres e crianças. A densidade
populacional era baixa e os grupos familiares vagavam por um vasto território,
caçando rinocerontes, renas e cavalos. Como nem sempre havia manadas desses
animais por perto e algumas plantas só davam frutos em determinadas estações do
ano, os homens também já se preocupavam em estocar alimentos.Entre cerca de 40 mil e 20 mil anos atrás, um grande período de glaciação fez com que as populações humanas abandonassem o norte da Europa para se refugiar no sul do continente, em busca de um clima mais quente. Como a população se concentrou mais e também cresceu em número absoluto, os territórios vastos, que favoreciam as caçadas, começaram a rarear. Alguns achados arqueológicos da época mostram que o homem tratou de desenvolver novas estratégias de sobrevivência, como o consumo de animais mais fáceis de se obter (coelhos, peixes e crustáceos). Mas as caçadas só começariam a perder de fato sua importância 10 mil anos depois, quando teve início a domesticação de alguns animais. Era o que faltava para tornar menos árdua a tarefa de nossos ancestrais na hora das refeições.
Refeição suada Homens enfrentavam animais, enquanto mulheres e crianças coletavam frutos.
Ataque planejado
Os caçadores
pré-históricos provavelmente acompanhavam a migração de manadas de animais,
procurando cercá-las em desfiladeiros na hora do ataque. A caçada era realizada
por grupos com arcos, flechas e lanças, atiradas às vezes com a ajuda de
propulsores - uma espécie de estilingue rústico, que duplicava o alcance das
lanças.
Enriquecendo o
cardápio
Alguns estudos
sugerem que há cerca de 40 mil anos, na Europa, já havia uma certa divisão de
trabalho entre homens e mulheres. Enquanto eles se encarregavam da caçada,
elas, acompanhadas das crianças, coletavam frutos silvestres, que não só
completavam a alimentação, como muitas vezes eram um importante item da dieta.
Tempero diferente
Parte da caça era
assada para consumo imediato em fogueiras coletivas. Existem poucos dados sobre
o uso de temperos, mas é possível que cinzas tenham servido para salgar os
alimentos. Uma grande parte do animal abatido podia ser transformada em carne
seca e armazenada para o consumo no inverno. O fogo era obtido com faíscas da
fricção de pedras e gravetos.
A partilha
As famílias dos
homens que participaram da caçada dividiam entre si o animal capturado. A carne
era cortada com facas e talhadores lascados em pedras. A pele era retirada com
cuidado - com o uso de facas e raspadores de pedra ou ossos -, pois servia como
matéria-prima para fazer roupas e cobrir cabanas.
Artesanato de guerra
Lanças, flechas e
arcos usados nas caçadas eram feitos de madeira. As pontas das lanças e das
flechas podiam ser de osso ou de pedra lascada. É difícil dizer com certeza
quem fazia esses objetos, mas provavelmente era uma tarefa masculina.
Revista Mundo Estranho Edição 15/ 2003
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