Stefan Gan A cultura humana nasceu muito antes do que
imaginávamos. E na África – não na Europa, como pensavam os estudiosos. Há 77
mil anos, os ancestrais do homem já eram capazes de fazer arte e pensar de
forma abstrata. Prova disso são duas barras de argila colorida com desenhos
geométricos encontradas no sítio arqueológico de Blombos, a 290 quilômetros da
Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2004. As descobertas foram feitas pela
equipe do antropólogo americano Christopher Henshilwood, da Universidade de
Nova York. “A presença de objetos entalhados de gravuras significa que as
habilidades de aprendizagem e a capacidade para o pensamento abstrato estavam
presentes entre aqueles homens”, diz. “Essa aptidão para o armazenamento de
informações fora do cérebro humano é entendida como cultura, como
inteligência.”
Os novos achados refutam a teoria de que o despertar da cultura
humana teria ocorrido na Europa, conforme sugeriam pinturas rupestres
encontradas em grutas na França, em lugares como Lascaux (a descoberta foi em
1940), Chauvet (em 1994) e Cussac (em 2004), além de Altamira, na Espanha
(ocorrida em 1868) – todos esses desenhos encontrados na Europa não têm mais do
que 35 mil anos. “Isso indica que o povo africano, de quem nós todos
descendemos, era moderno em suas atitudes muito antes de eles chegarem à Europa
e substituírem os neandertais”, afirma Henshilwood.
Jóia é sinal de cultura
Fabricar jóias é um sinal de aprendizagem. Isso foi levado
em conta pela equipe de Christopher Henshilwood como um dos sinais de que a
África foi realmente o berço da inteligência. No mesmo sítio arqueológico de
Blombos, os cientistas encontraram 41 peças que acreditam terem sido usadas
como ornamentos pessoais. Elas têm 75 mil anos e eram feitas com as conchas de
um molusco que habita a região, o Nassarius kraussianus.Os objetos têm perfurações e marcas de uso. Até então, as jóias mais antigas já encontradas eram mais recentes: tinham cerca de 50 mil anos. “As conchas eram usadas como jóias, símbolos de troca e também para identificação de algum grupo específico. Isso tudo indica que, há 75 mil anos, já existiam formas de os homens se comunicarem uns com os outros”, afirma Henshilwood. “Portanto, podemos dizer que a linguagem humana já estava desenvolvida.”
Racionais
Geometria esperta
Os desenhos geométricos encontrados nas duas peças de argila
em Blombos são uma série de losangos. Os pesquisadores só os consideraram
manifestações de inteligência porque não são simples rabiscos, e sim símbolos
de pensamento abstrato.
Conchas reveladoras
As conchas encontradas em Blombos também serviam como parte
de um sistema de troca de presentes conhecido como hxaro. Se uma seca
provocasse escassez em uma tribo, esse grupo mudava-se para o território de
outro, onde encontrava auxílio com quem tinha estabelecido laços hxaro.
Livro velho
A corrida pelos vestígios humanos mais antigos do mundo é
acirrada. O livro O Despertar da Cultura, de Richard Klein e Stanley Ambrose,
recém-publicado no Brasil, já chega por aqui velho. O livro relata a descoberta
pelos dois de jóias de 50 mil anos na África. Os achados em Blombos os deixaram
para trás.
Aventuras na História n° 032
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