sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Caça às bruxas: O medo vermelho americano


Cláudia de Castro Lima
Não foi só o perigo de um iminente confronto contra a União Soviética o pavor dos cidadãos americanos na década de 1950, durante a Guerra Fria. Nos Estados Unidos, centenas sentiram na pele a fúria de um senador do estado de Wisconsin que perseguiu, acusou sem provas, julgou e até executou pessoas ao menor sinal de alguma ligação delas com o comunismo. Ele era Joseph Raymond McCarthy, e a cruzada anticomunista que promoveu levou a alcunha de macarthismo.
O termo voltou à moda com Boa Noite e Boa Sorte, que estreou nos cinemas em fevereiro. O filme mostra como Edward R. Murrow, apresentador de See It Now, da CBS, peitou McCarthy ao exibir matérias criticando o senador – e deu um pontapé para que o político começasse a perder seu poder.
A chamada “caça às bruxas” começou em 1950. Apenas entre 1953 e o começo de 1954, à frente do Subcomitê de Investigações Permanentes do Senado, McCarthy vigiou 653 pessoas acusadas de “perigosas ao convívio social” – e levou dezenas a julgamento.
Um dos casos analisados no See It Now foi o de Milo Radulovich, expulso do Exército por se recusar a denunciar a irmã e o pai como comunistas. Milo foi reintegrado depois, mas a mesma sorte não tiveram outras vítimas, como o historiador Herbert Aptheker. Membro do Partido Comunista, Aptheker entrou para a “lista negra” e ficou anos sem conseguir emprego. “Minha infância foi profundamente marcada por isso”, diz a professora universitária Bettina Aptheker, filha de Herbert, morto em 2003. “Me lembro da execução de Julius e Ethel Rosenberg – eles eram amigos da família Eu era criança, mas já era consciente da vigia do FBI, dos grampos telefônicos que eram colocados em casa.”
Para a historiadora Ellen Schrecker, especialista em macarthismo da Universidade Yeshiva, em Nova York, os Estados Unidos não aprenderam nada com o episódio. “Hoje, o medo do terrorismo guia a repressão política como o medo do comunismo fez antes”, diz. “Políticos e jornalistas continuam permitindo a violação dos direitos humanos.”

Fim da história
O que aconteceu com os personagens do caso.

Joseph R. McCarthy
O Senado o condenou em 1954 por abuso de poder. Ignorado, passou a beber e morreu de hepatite, em 2 de maio de 1957, aos 48 anos.

Edward R. Murrow
Saiu da CBS em 1961 para assumir a Agência de Informação dos Estados Unidos. Morreu em 27 de abril de 1965, de câncer de pulmão.

Casal Rosenberg
Acusados de serem espiões da União Soviética, Ethel e Julius Rosenberg foram mortos na cadeira elétrica em 19 de junho de 1953.

Milo Radulovich
Reintegrado ao Exército, trabalhou para o Serviço Nacional de Meteorologia até 1994. Ainda está vivo e hoje mora na Califórnia.

Aventuras na História n° 032

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