Fábio Varsano
Há 95 anos, Flamengo e Fluminense se enfrentaram nas
Laranjeiras.Às 15h55 do dia 7 de julho de 1912, uma pequena multidão de 800 pessoas viu o juiz Frank Robinson dar o apito inicial da primeira partida entre Flamengo e Fluminense, aquele que viria a se tornar o clássico mais famoso do Brasil. A torcida era quase toda do Flu. Homens de terno, gravata e chapéu de palha, com fitas das cores do clube. Mulheres com leques e vestidas “como se fossem para uma recepção no Itamaraty”, definiu o escritor e tricolor fanático Nelson Rodrigues.
Apesar de ter atraído público reduzido para os padrões atuais, o jogo, que completa 95 anos, foi cercado de expectativa graças a um ingrediente especial: nove dos 11 titulares do Fluminense campeão da Liga Metropolitana de 1911 anunciaram saída do clube após o título e, em 24 de dezembro, criaram a seção de futebol do Clube de Regatas do Flamengo. Fundado em 1895, o clube até ali dedicava-se apenas ao remo, esporte mais popular da época.
O Fluminense, criado em 1902, teve desde o início foco no futebol. A rebelião dos jogadores tricolores durante o campeonato de 1911 aconteceu porque o craque do time, Alberto Borgerth, queria que os atletas fossem consultados sobre quem jogaria o penúltimo jogo da Liga. O ground committee (como era chamada a comissão técnica na época) não aceitou. Com exceção de Oswaldo Gomes e James Calvert, os jogadores, então, decidiram que deixariam o Fluminense após o torneio inclusive Borgerth. Mas ganharam o título antes.
Com boa parte do Flamengo formada por antigos jogadores do Fluminense, a ansiedade em torno do primeiro confronto foi grande. Em sua estréia, o rubro-negro goleou o Sport Club Mangueira por 15 a 2 e ia enfrentar o Fluminense como favorito. O match aconteceu no field – assim como o futebol, importado da Inglaterra, os termos eram em inglês – das Laranjeiras. Com 1 minuto de jogo, Edward Calvert surpreendeu e abriu o placar para o tricolor. Aos 4, Arnaldo empatou. No segundo tempo, James Calvert fez 2 a 1 para o Fluminense e Píndaro voltou a igualar o marcador. Mas, dois minutos depois, Bartholomeu fez o terceiro do Flu. Para Nelson Rodrigues, a vitória do Fluminense, com o time mais fraco, foi decisiva para o futuro do clássico. “Se o Flamengo tivesse ganho, a rivalidade morreria ali, de estalo”, escreveu.
Ao fim do jogo, mesmo derrotados, os atletas do Flamengo saudaram o público e confraternizaram com os adversários no bar do clube. Neto de Borgerth, o analista de sistemas Luiz Brandão conta que, apesar de toda a família ter se tornado rubro-negra, o avô dizia que seu coração era dividido: “Ele era Flamengo, mas tinha simpatia pelo Fluminense”, afirma. “Tenho orgulho da história do meu avô.”
Tira-teima - o início das rivalidades
O Fla-Flu é o mais famoso, mas não é o mais antigo confronto
entre os times grandes do Rio. Fluminense e Botafogo jogaram pela primeira vez
em 1905, com goleada de 6 a 0 a favor do tricolor. O duelo ganhou o apelido de
“clássico vovô”.Em São Paulo, a maior rivalidade acaba de completar 90 anos. Em 6 de maio de 1917, o Palmeiras (então Palestra Itália) venceu o Corinthians por 3 a 0, com três gols de Caetano. Nova vitória por 3 a 1 na partida seguinte acirrou o antagonismo contra os traditori (traidores), como os italianos sócios do Corinthians – fundado em 1910 – se referiam aos adversários.
No Rio Grande do Sul, as provocações começaram há 98 anos. Com cinco gols do jogador alemão Booth, o Grêmio derrotou o Internacional por 10 a 0 em 18 de julho de 1909. A rivalidade do Grenal é tanta que, no Natal, o Papai Noel que vai ao Estádio Olímpico, do Grêmio, veste azul, e não vermelho, cor do uniforme do Inter. Já em Minas Gerais, o Cruzeiro venceu o Atlético por 3 a 0 no primeiro confronto entre os arqui-rivais, em 17 de abril de 1921. Já o primeiro Bahia x Vitória, que aconteceu em 18 de setembro de 1932 – e completará, portanto, 75 anos –, terminou com uma vitória de 3 a 0 para o Bahia.
Aventuras na História
n° 047
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