O Ernesto antes de Che
Jones Rossi
Esta é a história de Ernesto antes de ele se tornar Che”, disse Camilo Guevara March, filho do revolucionário Ernesto Guevara de La Serna, quando conheceu o diretor Walter Salles, em maio de 2001. A frase resume o filme Diários da Motocicleta, primeira produção americana assinada pelo diretor de Central do Brasil, que chega às telas brasileiras neste mês. O personagem principal do filme não é o conhecido revolucionário de boina e olhar perdido no horizonte da célebre imagem do fotógrafo Alberto Korda. Mas um jovem curioso com objetivos não tão grandiosos: beber, conhecer mulheres e viajar pela América do Sul.
Em 1952, aos 23 anos, o médico recém-formado Ernesto Guevara (interpretado por Gael Garcia Bernal, de E Sua Mãe Também e O Crime do Padre Amaro) rodou a América do Sul de moto, revezando a direção com o amigo Alberto Granado. A aventura durou sete meses, e foi detalhadamente registrada em diários dos dois jovens, nos quais o filme se baseia. A bordo da mítica La Poderosa, uma moto Norton 500 ano 1939, saíram de sua terra natal, a Argentina, até o norte do Chile, onde o veículo não pôde suportar mais uma queda. Dali em diante, fugindo de brigas e conhecendo grandes amigos, os dois continuaram a jornada de carona e até mesmo a pé por Peru, Colômbia e Venezuela. Che ainda seguiria até Miami num avião de transporte de cavalos, trajeto que Walter Salles preferiu não filmar.Os dois anos de pesquisas antes do início das filmagens deixaram o resultado muito próximo do que os viajantes registraram. Célia Guevara, filha do revolucionário, afirmou que o filme “é muito fiel aos fatos”. Se não bastasse, Alberto Granado, hoje com 81 anos, foi consultor da produção. O único porém do amigo de Che foi sobre a cena de chegada ao leprosário de San Pablo, no norte do Peru. Granado achou dramático demais o trecho em que Ernesto se atira em um rio para chegar à colônia de leprosos. Mas a emoção em excesso tem motivos de sobra: representa a travessia de um jovem argentino para um lendário revolucionário mundial.
Bastidores
O argentino Rodrigo de La Serna, muito parecido com o jovem Alberto Granado, a quem interpreta no filme, é primo em segundo grau de Che. Walter Salles só foi descobrir o parentesco depois de escalá-lo para o papel.
Alberto Granado, que atualmente mora em Cuba, não pôde assistir à estréia do filme no Festival de Sundance, nos Estados Unidos, porque teve o visto negado. Mas não ficou chateado. “É fácil acusar os americanos de imperialistas, mas acho que simplesmente não mandamos a documentação a tempo”, afirmou.
Quando filmava no Lago Frias, na fronteira da Argentina com o Chile, Walter Salles foi surpreendido por um figurante de mais de 60 anos, chamado Don Alfredo, que dizia ter conhecido o jovem Che. “Um idealista sem comparação”, lembrou Alfredo. No filme, ele fez o papel de capitão do ferryboat em que Che e Granado cruzam o lago.
Revista Aventuras na História n° 009
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