sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O homem-bomba


Fabiano Onça
Ninguém deu muita atenção quando, em 1981, um iraquiano, opositor de Saddam Hussein, explodiu-se num carro-bomba diante da embaixada iraquiana em Beirute, no Líbano, matando 61 pessoas. Exceto outros grupos terroristas libaneses – que aprenderam logo a lição dada pela primeira ação de que se tem registro com o uso de um homem-bomba. Dois anos depois, outro sujeito, este do Hezbollah, dirigindo um caminhão cheio de explosivos, botou pelos ares o quartel-general dos fuzileiros navais americanos também em Beirute, matando 241. A era dos homens-bomba havia começado para valer.
“O propósito de um ataque suicida não é morrer. É matar. Assim, a sociedade do país inimigo pressiona o governo para que mude sua política”, diz o cientista político Robert Pape, autor de Dying to Win (“Morrendo para vencer”, inédito em português). A estratégia costuma ser usada por organizações árabes como Hamas, Hezbollah e Al Qaeda. Mas os campeões são os asiáticos dos Tigres Tâmil, no Sri Lanka. Entre 1987 e 2000, eles fizeram 168 atentados, incluindo entre as vítimas dois chefes de Estado (Rajiv Gandhi, da Índia, em 1991, e Devlet Prendesa, do Sri Lanka, em 1993).

Super suicida
Montamos um homem-bomba equipado com os mecanismos mais usados.

CELULAR EXPLOSIVO
O uso de celulares como detonadores de bombas tem crescido. O circuito da bomba é ligado ao sistema de vibração do celular e é acionado quando o telefone toca. O aparelho pode tanto estar ao lado da bomba em um carro ou mochila quanto com o próprio homem-bomba. Os explosivos que estavam no carro que em 12 de outubro de 2002 mataram 202 pessoas em Bali, na Indonésia (na foto acima), foram detonados por celular.

ZOOM DA BOMBA
Os explosivos podem ser C4 (explosivo plástico 20% mais potente que dinamite) ou TNT (o composto químico trinitrotolueno). Como eles são mais difíceis  de se encontrar, o caseiro TATP (triacetona triperóxida), encontrado na acetona e no desinfetante, acaba sendo mais usado. Mas o que faz mais estrago são as bolotas de metal, pregos e outros fragmentos colocados, por exemplo, no forro da jaqueta do terrorista e que alcançam até 200 metros de distância com a explosão. Cerca de 90% das vítimas morrem em decorrência deles.

BOTÃO DETONADOR
O detonador mais comum é um controle com botão ligado a uma pilha, escondido, por exemplo, num bolso. Quando acionado, o circuito elétrico é fechado, emitindo um impulso suficiente para iniciar a reação explosiva. Foi assim que a palestina Hanadi Jaradat, 28, em 4 de outubro de 2003, em Haifa, Israel, matou 21 civis. Versões mais simples têm fios descascados que, unidos, fecham o circuito e detonam a bomba.

ESTOURO DE MOCHILA
Bolsas, mochilas e pastas costumam ser usadas para esconder os explosivos de um homem-bomba. Em 30 de março de 2003, um rapaz com uma mochila agiu no café Netanya, em Israel. Nenhuma das 59 pessoas que estavam lá suspeitou que o palestino Rami Ranam, 19 anos, do grupo islâmico Jerusalém Brigade, levava dentro dela uma bomba com cerca de 3 quilos. Ela explodiu e feriu 30 pessoas. Mas o único que morreu foi mesmo o suicida.

CINTURÃO DA MORTE
O cinturão “shaheed” (dos mártires) é um cinto formado por canos abarrotados de explosivos, unidos por um fio que leva a um detonador. Ou então um colete forrado com placas de explosivo (no raio X no alto da página). Em 21 de maio de 1991, uma indiana de 17 anos, Thenmuli Rajaratnam, vestindo um cinturão desses, se aproximou de Rajiv Gandhi, primeiro-ministro da Índia, ajoelhou-se para beijar seus pés e explodiu-se. Ela, o político e outras 16 pessoas morreram.

SAPATO-BOMBA
Explosivos em lugares insólitos muitas vezes driblam a segurança. O terrorista britânico Richard Reid, integrante da organização Al Qaeda, utilizou um “sapato-bomba” cheio de TATP para embarcar num avião de Paris em direção a Miami, em 22 de dezembro de 2001. Foi pego por uma aeromoça tentando botar fogo na língua do sapato. É por isso que hoje, no aeroporto Charles de Gaulle (França), alguns passageiros têm que tirar os sapatos ao passar no raio X.

 Aventuras na História n° 032

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