Rodrigo Ratier
Cânions são vales profundos com encostas quase verticais,
que podem se estender por centenas de quilômetros e atingir até 5 mil metros de
profundidade. À primeira vista, quem observa esses gigantescos entalhes na
superfície do planeta poderia imaginar que eles foram criados de uma hora para
outra por algum fenômeno catastrófico, como um terremoto capaz de abrir a terra
e gerar um precipício. Nada disso: em geral, os cânions têm um aprofundamento
lento, que pode durar milhões de anos. Os autores principais dessas obras de
arte são os rios. "Dependendo da declividade do terreno, da quantidade de
água e das fraturas do relevo, um curso d’água tem a capacidade de entalhar as
rochas do leito por onde corre, dando origem aos paredões", afirma a
geógrafa Lylian Coltrinari, da Universidade de São Paulo (USP). Entretanto, um
rio não constrói um cânion sozinho. Nesse processo, também desempenham um papel
importante os chamados soerguimentos, processos de choque e deslocamento de
placas no interior da crosta terrestre que elevam gradualmente o relevo da
região. Conforme o terreno sobe, os rios que correm na superfície começam a
ganhar velocidade e a aprofundar seus leitos, aumentando a altura dos paredões.
Para os cientistas, os cânions possibilitam entender a origem das rochas e do
relevo de uma região. Numa imagem aproximada, se a gente comparar a Terra com
uma cebola, um cânion é como um corte de faca que revela algumas camadas da
casca do "vegetal" rochoso em que vivemos. Mas os cânions de hoje não
são retratos exatos do passado. "Além da contínua erosão fluvial, a ação
do calor, do vento, do gelo e da própria gravidade terrestre, que causa
desmoronamentos, modificou o aspecto dessas feições ao longo do tempo",
diz Lylian.
Beleza americana
Famoso pelos abismos
radicais, o Grand Canyon tem paredões com quase 2 mil metros de altura.
TRINCHEIRA COLORIDA
A ação de milhões de
anos de erosão fluvial expõe paredões rochosos com até 1 800 metros de
profundidade. Por uma longa extensão, o cânion é predominantemente vermelho. Em
outros trechos, cada estrato de rocha tem sua cor específica, compondo uma
aquarela que inclui faixas amarelo- claras, cinza, verdes, rosas e violetas.
ESCAVADEIRA NATURAL
Carregando sedimentos
por 6 milhões de anos, o rio Colorado é o grande escultor do local. Sua
capacidade de erosão é impressionante: antes da inauguração da represa de Glen
Canyon em seu leito, em 1963, pesquisadores estimaram que o rio arrastava cerca de 500 mil toneladas de sedimentos por
dia. Completando o trabalho, dezenas de afluentes escavam seus próprios vales,
alimentados pela chuva ou pela neve de regiões mais elevadas.
CAMPEÃO DE AUDIÊNCIA
Entalhado em um planalto, o Grand Canyon se estende por 445
quilômetros no noroestedo Arizona, nos Estados Unidos. O local é uma das
atrações naturais mais populares do país. Todos os anos, cerca de 5 milhões de
pessoas visitam o parque nacional que abriga os vales profundos.
GEOLOGIA REVELADA
Em boa parte de sua
extensão, os paredões do Grand Canyon são compostos pelas chamadas rochas
sedimentares, que se caracterizam por apresentar camadas que se depositam uma
sobre a outra com o decorrer do tempo e contam a história geológica do local.
Só para dar uma idéia da "idade" da região, basta dizer que as rochas
das camadas mais profundas se formaram há cerca de 2,5 bilhões de anos.
Outros desfiladeiros
Formação asiática leva
o título de maior do mundo.Yarlung zangbo (China)
Explorado apenas na
década de 90, esse cânion roubou do Grand Canyon o posto de maior do planeta.
Em 496 quilômetros de extensão, os paredões chegam a 5 mil metros de altura.
Itaimbezinho (Brasil)
Em tupi-guarani, o
nome do cânion mais famoso do país quer dizer "pedra cortante". Fica
no Rio Grande do Sul, tem 6 quilômetros de extensão e paredões de 700 metros de
altura.
Rio Fish (Namíbia)
Escavado no sul do
continente africano, esse cânion é um dos mais extensos do mundo, com 160
quilômetros. Seus desfiladeiros, porém, não são tão grandes e têm em média 500
metros de altura.
Colca (Peru)
Considerado o exemplo
de erosão mais profunda da cordilheira dos Andes, esse cânion de mais de 100
quilômetros de extensão tem desfiladeiros com até 3 mil metros de profundidade.
Barranca Del Cobre
(México)
Esse sistema de vales
localizado em uma área montanhosa junto à fronteira com os Estados Unidos engloba
seis cânions principais. O mais profundo tem paredões de 1 840 metros.
Revista Mundo Estranho Edição 27/ 2004
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