Basicamente, os
corpos são colocados em fornos e incinerados a temperaturas altíssimas, fazendo
carne, ossos e cabelos evaporarem. Só algumas partículas inorgânicas, como os
minerais que compõem o osso, resistem a esse calor para lá de intenso. São
esses resíduos que compõem as cinzas, o pozinho que sobra como lembrança dos
restos mortais de uma pessoa cremada. "No corpo humano, não existe nenhuma
célula que tolere uma temperatura maior que 1 000 ºC. Um calor como esse é
suficiente para derreter até metais", afirma o médico legista Carlos
Coelho, do Instituto Médico Legal de São Paulo. Apesar da aparência de prática
moderna, a cremação é uma tradição de quase 3 mil anos. "Para as religiões
do Oriente, queimar o cadáver é uma prática consagrada. O fogo tem uma função
purificadora, eliminando os defeitos da pessoa e libertando a alma", diz o
perito criminal Ugo Frugoli.
No mundo ocidental,
por volta do século 10 a.C., os gregos já queimavam em fogo aberto corpos de
soldados mortos na guerra e enviavam as cinza para sua terra natal. Apesar
desse histórico, a cremação foi considerada ilegal em várias épocas,
principalmente por motivos religiosos. Para os judeus, por exemplo, o corpo não
pode ser destruído, pois a alma se separaria dele lentamente durante a decomposição.
Já os espíritas pedem que o cadáver não seja incinerado antes de 72 horas -
segundo eles, esse é o tempo necessário para a alma se desvincular do corpo.
Entre os católicos, evangélicos e protestantes, não há restrições tão severas.
No Brasil, a cremação é regulada pela Constituição. Quem quiser ter o cadáver
reduzido a pó precisa deixar essa vontade devidamente registrada, com documento
assinado por testemunhas e reconhecido em cartório. No fim de tudo, pode ser
opção econômica para quem não tem onde cair morto. Enquanto um sepultamento
simples custa pelo menos 200 reais, o serviço pago em um crematório público
numa cidade como São Paulo, por exemplo, sai a partir de 105 reais.
De volta ao pó
Incineração reduz um
corpo de 70 quilos a menos de 1 quilo de cinzas.1. O processo de cremação começa quando a pessoa ainda está viva. Não se assuste — é que ela precisa registrar em cartório a vontade de ter seu corpo transformado em pó. Em relação a um sepultamento comum, as diferenças aparecem depois do velório, quando o caixão não é levado até a cova, mas para uma sala refrigerada. Em alguns crematórios, um elevador se abre no chão e desce com o corpo até o andar de baixo, onde ficam as geladeiras.
2. No subsolo funciona a chamada câmara fria. No crematório de São Paulo, por exemplo, o cômodo gelado é uma sala revestida de azulejos e com isolamento térmico, onde ficam prateleiras metálicas com capacidade para até 4 caixões. Os falecidos passam 24 horas no frio. Nesse período, a família ou a polícia podem requisitar o corpo de volta, no caso de mortes violentas como assassinatos.
3. Depois de um dia na geladeira, o cadáver entra em um forno com todas as roupas e ainda dentro do caixão — apenas as alças de metal são retiradas. Sustentado por uma bandeja que impede o contato direto com o fogo, o caixão é submetido a uma temperatura de 1 200 ºC. Esse calor faz a madeira do caixão e as células do corpo evaporarem ou volatilizarem, passando direto do estado sólido para o gasoso. O cadáver começa a sumir.
4. Depois de até duas horas no forno, apenas partículas inorgânicas como os óxidos de cálcio que formam os ossos resistem à onda de calor. Esses restos são colocados no chamado moinho, uma espécie de liquidificador que tritura os ossos com bolas de metal que chacoalham de um lado para o outro.
5. O moinho funciona por cerca de 25 minutos. Depois dessa etapa, as cinzas em pó são guardadas em urnas e entregues à família do morto. No final do processo, uma pessoa de 70 quilos fica reduzida a menos de um quilo de pó. Em uma cidade como São Paulo, uma cremação custa a partir de 105 reais, metade do preço de um enterro simples.
Revista Mundo Estranho Edição 29/ 2004
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