sexta-feira, 2 de setembro de 2011

COMÉRCIO BRASILEIRO LUTA PARA DIVERSIFICAR ACORDOS E PARCERIAS

Brasil ocupa posição quase insignificante no comércio mundial, mas procura liderar grupo de países em desenvolvimento nas negociações da OMC.

O ano de 2004 tem se mostrado favorável ao comércio exterior brasileiro. As estimativas apontam para um volume de exportações que atingirão, no final do ano, cerca de 85 bilhões de dólares. Comparando-se com 2003, registra-se até agora crescimento de 16% das exportações e incremento de 20% das importações – um sinal da retomada do crescimento econômico.
O comércio externo do Brasil vem apresentando sucessivos saldos comerciais positivos desde 2001, depois de seis anos de saldos negativos . A seqüência de déficits foi rompida em 2001, por conta da combinação de uma série de fatores internos e externos.
Em primeiro lugar, a crise financeira que se abateu sobre o país, em 1999, resultou em forte desvalorização do real, o que acabou invertendo o sinal da balança comercial. A expressiva queda no nível de atividade econômica contribuiu para um recuo ainda maior das importações. Em segundo lugar, o governo adotou uma política agressiva de conquista de novos mercados para as exportações, estreitando laços comerciais com países como China, Índia, África do Sul e Rússia. Em parte como resultado dessa estratégia de diversificação de parceiros comerciais, entre janeiro e maio de 2004, as áreas de maior crescimento de nossas exportações foram a África (52%), a Europa Oriental (40%), o Oriente Médio (21%) e a Ásia (19%).
Outros fatores também têm contribuído para o aumento de nossas exportações, como o reaquecimento da economia americana, a consolidação da posição da China como grande potência comercial, a recuperação econômica da Argentina, nosso principal parceiro no Mercosul, e a elevação dos preços das commodities (produtos primários).
Por fim, há ainda algum crescimento das exportações de produtos industrializados, que possuem maior  valor agregado. Em 2003, os vinte principais produtos de nossa pauta de exportações representavam cerca de metade de nossas vendas para o exterior. Além das tradicionais commodities (soja, minério de ferro, açúcar,café e carnes), essa lista inclui também automóveis, aviões e aparelhos transmissores como celulares. Contudo, a expansão da participação dos produtos industrializados nas vendas externas perdeu velocidade na década de 90 e os produtos primários ou semi-manufaturados continuam a representar parcela excessivamente grande da pauta de exportações.
O crescimento das exportações registrado nos últimos anos parece expressivo, mas não é. De fato, na última década, o comércio exterior brasileiro expandiu-se mais devagar que o comércio mundial. Isso significa que a participação do país no mercado global continuou a declinar . O Brasil, hoje a 15ª maior economia do mundo, representa apenas 1% do comércio mundial. Para se ter uma idéia do que isso significa, basta lembrar que a “pequena” Coréia do Sul realiza exportações duas vezes maiores que as brasileiras.
O Brasil é um global trader, ou seja, uma economia que apresenta vários eixos distintos e expressivos de comércio exterior. Na atualidade, o intercâmbio externo nacional se estrutura sobre quatro eixos principais. O primeiro é o da União Européia, responsável por cerca de 25% do total. Em seguida, aparece nosso principal parceiro individual, os Estados Unidos, com aproximadamente 24%. Com expressão menor, mas forte incremento recente, encontra-se a Ásia (16%), um eixo em que se destaca a parceria com a China. O último eixo significativo corresponde ao Mercosul (8%). A Argentina é, hoje, o terceiro parceiro comercial do país .
A política comercial brasileira enfrenta, há alguns anos, a encruzilhada da Área de Livre Comércio das  Américas (Alca). Os governos FHC e Lula têm reagido ao projeto dessa zona hemisférica de livre comércio por meio da abertura de processos de negociação em várias frentes. O objetivo final parece ser o de negociar o ingresso do país e do Mercosul na Alca em condições menos desvantajosas que as que se apresentam atualmente.
A primeira frente é a do fortalecimento do Mercosul, abalado pelas crises financeiras e econômicas no Brasil (1999) e na Argentina (2001). O bloco é, hoje, um arremedo de união aduaneira, com regras comuns perfuradas por inúmeras exceções. A recente crise comercial entre Brasil e Argentina, relacionada às restrições impostas pelos argentinos às exportações de eletrodomésticos brasileiros, é mais um capítulo das controvérsias entre os parceiros e um nítido sintoma da fraqueza do bloco.
A segunda frente é a da ampliação do Mercosul.
A idéia é unir ao bloco do Cone Sul a Comunidade Andina das Nações (CAN, composta por Peru, Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela), mais o Chile, criando-se uma Área de Livre Comércio Sul-Americana (Alcsa). O acordo, idealizado em 1998, deveria entrar em vigor em 1º de julho de 2004 mas foi adiado por mais dois meses. A meta seria negociar com Washington a partir de uma plataforma comum sul-americana.
Na prática, isso está longe de acontecer. O Chile, por exemplo, já se rendeu aos encantos de um acordo comercial bilateral com os Estados Unidos.
A terceira frente é a criação de uma zona de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia.
Todavia, esse acordo tem evoluído a passos de tartaruga, em virtude, especialmente, da questão dos subsídios agrícolas. Assim como os Estados Unidos, a União Européia não se dispõe a negociar, num quadro bilateral, a liberalização do comércio de produtos agrícolas.
Isso indica que o acordo entre o Mercosul e os europeus provavelmente terá pequenas ambições.
A quarta frente, aberta nos últimos dois anos, é uma nova ofensiva destinada a mudar a paisagem das negociações globais no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC). No interior dessa perspectiva foram criados o G-3 ou IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) e o G-20, grupo que congrega diversos países em desenvolvimento e que procura impedir que a Rodada de Doha seja concluída – como o foi há uma década a Rodada Uruguai – por um acordo baseado exclusivamente nos interesses dos Estados Unidos e da União Européia.

Boletim Mundo Ano 12 n° 4

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