sexta-feira, 2 de setembro de 2011

OLIMPÍADAS 2004: DOPING LIBERADO?

O grande mercado dos esteróides anabolizantes não são os campeões olímpicos, mas meninos e meninas que querem mimetizar seus corpos esculturais.
Osmar de Oliveira

Teremos atletas dopados nas Olimpíadas de Atenas? As estatísticas dizem que sim. Mas, provavelmente, os números não serão alarmantes.
Os comitês olímpicos dos países estão fazendo exames prévios para barrar os dopados, o Comitê Olímpico Internacional (COI) faz centenas de exames de surpresa fora da competição, muitos já estão suspensos, as suspensões são rigorosas, os patrocinadores têm pavor em ver seus logos associados às drogas, a tecnologia dos laboratórios está cada vez mais avançada. Mas sempre haverá um ou outro desavisado ou inconseqüente que desafia tudo isso porque se julga mais esperto ou porque já está dominado pelo vício ou porque sabe que vai perder se jogar limpo.
Nestas épocas sempre vem uma grande discussão sobre os critérios do COI a respeito da lista de substâncias proibidas. A maconha, por exemplo, pode fazer alguém ganhar uma competição? Claro que não. Mas um lutador de box, por exemplo, sob o efeito dela pode apanhar muito porque seus sistemas de alerta estão desprotegidos. Um judoca que toma diuréticos para baixar o peso e se enquadrar na sua categoria está levando alguma vantagem com isso? Muito pelo contrário.
Mas o enfraquecimento dessa rápida perda de peso pode trazer sérias conseqüências ao organismo. Isto significa que o COI não está só preocupado em banir os fraudadores e tornar a medalha mais honesta, mas também se preocupa com a saúde de cada competidor.
Algumas frases de atletas famosos (pelo menos alguns anos atrás) podem desviar o foco da filosofia da dopagem: “Um atleta que não usa nada é como um fusquinha competindo com um Fórmula 1” (Enzo Perondini). “Preciso mudar de médico” (Frank Shorter). “Seis em cada dez do atletismo usam esteróides” (Daley Thompson). “Usei doping várias vezes e isso é comum no futebol alemão” (Harald Schumacher). A federação italiana fornece esteróides aos seus atletas” (Pietro Puía). “O doping é a praga dos esportes” (Sebastian Coe). “Eu me dopava desde 1979 e não me arrependo disso” (Ilona Slupianek).
Então, se todo mundo toma, porque não liberar de vez? Esse é o tema que vem à baila nessas épocas pré-olímpicas. Desde que estudo doping e dopagem, há mais de 30 anos, sou insistentemente contra essa idéia e argumentos não me faltam:
1. Alguns países mais ricos detêm alta tecnologia na sintetização de substâncias dopantes. Então, Namíbia, Brasil, Nicarágua, como poderiam competir?
2. Alguns laboratórios (estatais?) vivem buscando drogas novas e potentes. E os países em que esses laboratórios não têm verba sequer para pipetas?
3. E quem não quiser tomar nada, vai jogar contra um adversário dominado pela agressividade e pela fúria, sujeitando-se às lesões graves? É justo?
4. Um velocista que treinou o ano todo e abdicou de todos os prazeres para correr 100 metros em 9,90s. merece perder para alguém que não abdicou de nada, usou anabolizantes e venceu com 9,89s.?
5. Um atirador americano ou britânico que usa a melhor arma e ainda usa beta-bloqueador para sequer dar uma tremidinha na hora do tiro, deve mesmo ganhar de um brasileiro que não toma nada e tem uma arma de “cano torto”?
6. E é saudável essa moçada ficar se entupindo de remédios proibidos, ficar rica e famosa e depois viver abominavelmente às voltas com os graves efeitos colaterais das drogas ?
7. O Brasil está apto para fazer clonagem humana? A Etiópia clona? Honduras clona? Mas os Estados Unidos clonam. A Alemanha clona. A Rússia clona.
Eu esgotaria todas as páginas deste jornal se ficasse formulando tantos outros argumentos. E também não sou aluno do barão Pierre de Coubertin (“o importante é competir”). Acho que o importante é ganhar.
Mas ganhar com as características genéticas de cada indivíduo, aprimoradas com os treinamentos e sacrifícios a que se submetem os campeões E aqui vai minha preocupação maior. É por causa dessas drogas, principalmente os anabolizantes que mostram corpos esculturais de campeões badalados, que a juventude anda tomando as mesmas coisas. Saiba que de cada 100 ampôlas de esteróides, só uma é recebida pelas nádegas de um campeão. As outras 99 vão parar nos glúteos de meninos (e meninas) que buscam o corpo esculpido e torneado, sem a mínima pretensão de chegar a uma olimpíada.
Eu sei o quanto choram na minha sala de consultas quando interpreto o resultado de seus exames, vítimas dos efeitos colaterais dessas substâncias.
AS SUBSTÂNCIAS PROIBIDAS
Estimulantes e narcóticos (anfetaminas, cocaína, efedrina, heroína, morfina, etc.).
Eles aumentam a atenção, diminuem a fadiga, dão vivacidade.
Anabolizantes. Aumentam a massa muscular, a força e a potência muscular.
Diuréticos. Mascaram a presença de anabolizantes, diminuem o peso.
Hormônios peptídicos. Alguns são anabolizantes (hormônio de crescimento, gonadotrofina coriônica).
Outros geram euforia (corticotrofina). Outros ainda aumentam o número de glóbulos vermelhos (eritropoietina).
Autohemotransfusão. Aumenta o volume de sangue.
Drogas com restrição (álcool, anestésicos locais, corticoesteróides, bloqueadores, beta-adrenérgicos).

Boletim Mundo Ano 12 n° 4

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