Alexandre Versignassi
Tecnicamente daria e essa obra até está em fase de estudos.
O problema é encontrar alguém que financie os 45 bilhões de reais estimados
para a empreitada. Esse é o valor do projeto tido como o mais respeitado, o do
escritório de engenharia americano T.Y. Lin. À primeira vista, a idéia nem
parece tão complexa. Apenas 13 quilômetros de mar Mediterrâneo separam os dois
continentes na parte mais curta do estreito de Gibraltar, entre a Espanha e o
Marrocos. Então até a nossa ponte Rio-Niterói, com 13,2 quilômetros, daria
conta disso, certo? Errado: o tráfego intenso de navios no Mediterrâneo torna
impossível construir algo como a ponte fluminense, que é sustentada por dezenas
de pilares. A saída seria fazer uma estrutura suspensa. Nesse tipo de
construção, a ponte fica presa não por pilastras, mas por cabos fixados em duas
ou três torres enormes, deixando a parte de baixo livre para os barcos. O
problema é que estruturas assim não podem ser tão grandes.Tanto que a maior ponte suspensa do mundo, próxima a Tóquio, no Japão, tem só 3,9 quilômetros de comprimento. Mas os projetistas da ponte euro- africana contam com uma mãozinha da natureza para driblar esse obstáculo. No meio do estreito de Gibraltar, há uma montanha submersa cujo topo fica a 450 metros de profundidade. Essa montanha permitiria instalar uma torre extra de sustentação a meio caminho entre os continentes. A ponte, então, ficaria dividida em dois trechos com cerca de 7 quilômetros, facilitando a construção. Mesmo assim o preço da obra continua empacando as coisas. Só seria possível uma redução significativa se o aço utilizado nos cabos fosse substituído por compostos mais leves, como a fibra de carbono. "Para sustentar o peso de cabos de aço, as torres teriam de ter quase 1 quilômetro de altura. Com a fibra de carbono, cinco vezes mais leve, elas só precisariam ter 500 metros. Isso reduziria enormemente os custos", diz o engenheiro civil Charles Seim, responsável pelo projeto da T.Y. Lin.
Desafio gigante
A maior ponte
suspensa do mundo teria torres mais altas que as do WTC.
Tráfego livre
O grande movimento de
barcos na região traz um problema: como construir a ponte sem prejudicar esse
fluxo? A saída seria construir primeiro as duas torres laterais, em áreas que
têm pouca navegação. Nas obras da torre do meio, haveria avisos para que os
barcos desviassem. Já os pedaços das pistas seriam levados por cabos suspensos
nas torres.
Pára- choque marítimo
O estreito de
Gibraltar é um dos trechos marítimos mais congestionados do planeta. Estima-se
que 50 mil embarcações pesadas passem por ali todos os anos. Para evitar que
esses trambolhões se choquem contra a estrutura, a solução seria montar bóias
de dezenas de metros de diâmetro perto das bases. Elas serviriam como um pára- choque.
Fibras saudáveis
O material do leito
das pistas não seria o tradicional concreto, mas a fibra de vidro. Além de ser
cinco vezes mais resistente que o concreto, ela tem outra vantagem: uma parte
que rachasse poderia ser facilmente substituída, sem danificar o resto. Com a
fibra, as cinco pistas de cada lado poderiam ser construídas em dias, e não em
meses.
Torres trigêmeas
Três enormes torres
sustentariam a ponte, cada uma delas com 500 metros de altura. Isso é mais que
os 411 metros das "Torres Gêmeas" do velho World Trade Center (WTC),
em Nova York. Elas teriam que ser altas porque, quanto maior o peso que os cabos
seguram, mais eles envergam — como um varal de roupas.
Desenho híbrido
A ponte teria duas
caras. Parte dela lembraria antigas pontes suspensas, com cabos encurvados, em
forma de "M", que permitem vias mais extensas. Já no pedaço próximo
às torres haveria cabos retos, iguais aos usados em pontes menores. Eles são
imprescindíveis, já que sustentam pelo menos uma parte da estrutura com mais
força que os cabos em "M".
Rali Glasgow- DaCar
Se o projeto sair do
papel, no futuro será possível sair de carro da Escócia, no extremo norte da
Grã-Bretanha, e chegar à Cidade do Cabo, no sul da África. No trajeto, o
motorista passaria por duas maravilhas do mundo moderno: pela sonhada ponte de
Gibraltar e pelo já real túnel do canal da Mancha.
Ajuda da natureza
As duas torres
laterais estariam fincadas em águas com 300 metros de profundidade. A central
ficaria a 450 metros, graças a uma montanha submersa que há bem no meio do
estreito de Gibraltar. Não fosse ela, as vigas teriam de ir a quase 1
quilômetro de profundidade, o que é considerado impossível.
Revista Mundo Estranho Edição 20/ 2003
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