sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Onde está Bin Laden?


Tiago Cordeiro
Cinco anos depois, saiba por que os Estados Unidos ainda não conseguiram capturar o responsável pelos atentados terroristas que mudaram o mundo.

Na manhã de 11 de setembro de 2001, Osama bin Laden estava em Jalalabad, no Afeganistão, a 150 quilômetros ao sul da capital, Cabul. Junto de seguidores, parecia tenso e gritava muito com suas quatro esposas. Ao contrário de praticamente todos os habitantes da Terra, ele sabia o que ia acontecer.
Desde 1998, quando  promovera ataques às embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia, Bin Laden já era o homem mais procurado pelos Estados Unidos. Após o 11 de Setembro, contudo, a caça ao líder da rede terrorista internacional Al Qaeda deixou de ser apenas uma prioridade das forças americanas. Virou uma questão de Estado e desencadeou as duas primeiras grandes guerras do século 21.
Os atentados deram aos Estados Unidos uma espécie de “licença” para caçar inimigos ao redor do globo. Para encontrar o terrorista e seus seguidores, o governo de George W. Bush invadiu o Afeganistão, no primeiro ato da “guerra contra o terror”. Um a um, todos os grandes procurados pelos americanos foram sendo presos ou mortos. Com a invasão do Iraque, em 2003, até mesmo o grande adversário dos Estados Unidos durante os anos 90, o ex-ditador Saddam Hussein, foi preso. Mas o homem que motivou o início de toda essa caçada global continua solto. Como é possível que, cinco anos depois do 11 de Setembro, o melhor exército do planeta ainda não tenha sido capaz de pegar Osama bin Muhammad bin Awad bin Laden, nascido em 1957 em Riad, na Arábia Saudita?
Na verdade, os Estados Unidos quase conseguiram. A chance escorreu por suas mãos como se fosse areia do deserto. Durante 28 dias, entre novembro e dezembro de 2001, Bin Laden esteve a um passo de ser preso, acuado nas montanhas afegãs de Tora Bora. “Ele estava lá. Perdemos a oportunidade de pegá-lo porque não tínhamos recursos suficientes”, diz Gary Berntsen, ex- agente da CIA, a central de investigação americana, que liderou operações de campo em Tora Bora. Soa estranho, mas é isso mesmo: por negligência, o homem mais procurado do mundo não foi capturado.

Montanhas do terror
Até que a invasão ao Afeganistão começasse, em outubro de 2001, Bin Laden vivia no país sob a proteção do Talibã, o grupo que controlava 90% do território afegão. Em quatro semanas de guerra, o Talibã foi deposto e Bin Laden ficou na mão. Acuado, ele foi visto em 10 de novembro, em Jalalabad, distribuindo dinheiro para líderes locais. Enquanto eles se dispersavam, o líder da Al Qaeda partia para a cadeia montanhosa de Tora Bora, no leste do Afeganistão, a 50 quilômetros da divisa com o Paquistão. Essa região tem picos com mais de 6 mil metros de altura. Bin Laden conhecia bem o terreno, pois passara ali boa parte dos anos 80, quando teve papel destacado na luta contra as tropas da União Soviética – que haviam invadido o país em 1979 para apoiar o combalido governo afegão leal a Moscou.
Os Estados Unidos financiaram amplamente a guerrilha contra os soviéticos. Quando eles foram expulsos do Afeganistão, em 1989, essa generosidade minguou. Mas, com o dinheiro ganho dos ex- aliados, Bin Laden pôde importar da Arábia Saudita todo o maquinário necessário para escavar passagens, reforçar paredes e instalar sistemas de eletricidade, circulação de água e ventilação. Graças a sua experiência como empreiteiro, profissão em que trabalhara no seu país natal na década de 70, ele transformou as cavernas nas montanhas em uma rede formidável de bunkers em Tora Bora, capazes de abrigar 2mil homens com conforto. Nos anos 90, essa estrutura serviu muito bem à nova causa de Bin Laden – o combate aos Estados Unidos e às constantes intervenções da potência no mundo islâmico.
Para tentar desentocar o terrorista e seus seguidores, os americanos seguiram uma estratégia parecida com a adotada pelos soviéticos 20 anos antes. Por terra, enviaram mercenários locais. Por ar, usaram bombardeiros para destruir as cavernas. Dois meses após o 11 de Setembro, o grupo de Bin Laden resistiu aos ataques terrestres da Aliança do Norte, a milícia afegã sustentada pelos americanos. Mas os terroristas não foram capazes de conter o chumbo grosso que caía do céu. Aviões varreram as montanhas com bombas “corta- margaridas” (com 7,5 toneladas e um raio de destruição de mais de 100 metros) e estoura- bunker (de 2,5 toneladas, feitas para penetrar no solo e explodir dentro das cavernas). Na hora de escolher o local a ser atacado, sensores reconheciam o calor do corpo humano e permitiam que a identificação dos alvos fosse precisa, mesmo embaixo da terra. Graças à potência e tecnologia de suas armas, os Estados Unidos conseguiram arrasar os esconderijos de Tora Bora.
Acontece que Bin Laden não estava mais lá. Sua intenção fora resistir em Tora Bora só o tempo necessário para fugir para o Paquistão. Deu certo. Em 10 de dezembro, um cessar-fogo foi negociado com o exército americano. Durante dois dias, as cavernas não foram atacadas e o terrorista e seus seguidores tiveram tempo de preparar a fuga. No dia 12, quando os ataques recomeçaram, 800 membros da Al Qaeda escaparam pelos desfiladeiros da região. Enquanto isso, as forças da Aliança do Norte enfrentavam uma escalada de três horas em temperaturas negativas para tentar entrar em combate.
Em 17 de dezembro, segundo Gary Berntsen, chegou a vez de o próprio Bin Laden fugir. Com três membros de sua guarda pessoal, ele foi visto num jipe indo em direção ao território paquistanês. Horas depois, o exército americano se declararia vitorioso, mesmo sem botar as mãos em Bin Laden. “A verdade é que Tora Bora não caiu. Ela foi abandonada”, diz a jornalista americana Mary Anne Weaver, autora de Pakistan: In the Shadow of Jihad and Afghanistan (“Paquistão: sob a sombra da Jihad e do Afeganistão”, inédito no Brasil). A debandada foi tal que, embora 300 pessoas tenham sido mortas nas montanhas, apenas cerca de 20 foram presas pelos americanos.
Nunca mais, a partir da conquista de Tora Bora, foi possível apontar num mapa o local exato onde Bin Laden está. Meses depois, o governo americano seria acusado de não investir tudo o que podia na caçada e de ter cometido graves erros de planejamento. “Confiamos demais nas tribos locais, que ficavam brigando entre si”, diz Berntsen.
No fim de 2001, os boatos sobre Bin Laden se tornaram desencontrados. O presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, anunciou que ele havia morrido depois que bombas destruíram seus aparelhos de hemodiálise. O jornal italiano Corriere de la Sera chegou a descrever com detalhes o enterro do saudita: teria sido em Tora Bora, com uma homenagem feita por 40 seguidores. A notícia era o sonho dos militares americanos (e dos humoristas, que puderam fazer a piada de que a cerimônia teria sido no melhor estilo “Ali Babá e os 40 ladrões”). Fechado em um bunker, cercado por comparsas, o terrorista teria morrido como o ditador alemão Adolf Hitler.
Um dos vídeos de Bin Laden passou a reforçar a tese da morte. Nas imagens, que vieram a público em 27 de dezembro, ele aparecia abatido, como se estivesse prestes a se entregar. O suspense acabou quase um ano depois, no dia 7 de outubro de 2002. Ao surgir em público em um novo vídeo, Bin Laden enterrou o otimismo americano e seu paradeiro voltou a se tornar um mistério. Mas será que dá para acreditar que os americanos de fato não sabem onde ele está? E, se sabem, por que não conseguem prendê-lo?

De casa nova
Depois de ser expulso do Afeganistão, de acordo com especialistas que já trabalharam para o governo americano, Bin Laden se refugiou no distrito de Peshawar, no noroeste paquistanês. É uma região rural, em que a vida é regida por líderes tribais que professam um islamismo conservador. Eles protegem o terrorista, e o preço de seu silêncio é alto. Isso não é problema, já que a fortuna do comandante da Al Qaeda é estimada em 250 milhões de dólares.
É provável que, por estar tão confortável, Bin Laden se movimente pouco. “Ele é um guerrilheiro com experiência suficiente para saber que se expõe muito cada vez que se move. E ele não precisa circular demais. Está numa área com algumas das montanhas mais altas do mundo e conta com a proteção dos moradores locais”, diz Michael Schauer, ex-diretor da unidade da CIA responsável pelo terrorista (leia entrevista na pág. 39). A região também facilita a comunicação de Bin Laden com o mundo. Boa parte das mensagens que costuma gravar é entregue ao escritório da TV Al Jazeera na capital do Paquistão, Islamabad, a apenas 150 quilômetros dali.
Mas não é apenas uma rede de pequenas tribos que barra o exército americano. O governo paquistanês tem uma relação ambígua com os Estados Unidos. O Paquistão já prendeu sozinho vários líderes importantes da Al Qaeda, mas parece incapaz de capturar Bin Laden. E, quando autoriza incursões em seu território, o controle é rígido. Em ações das Forças de Operações Especiais americanas por lá, entre fevereiro de 2002 e abril de 2004, nenhum soldado deu um passo sem que um militar paquistanês fosse informado. O país tem seus motivos. É como disse anonimamente um oficial paquistanês à jornalista Mary Anne Weaver: “O Paquistão não ganharia nada em encontrar Bin Laden. Somos o aliado americano que mais sofre sanções. Sempre que pegamos um terrorista importante, tudo o que recebemos são notas de agradecimento”.
Desde 2001 os americanos arrumaram tantos outros problemas que os esforços para caçar o homem que inspirou a guerra contra o terror foram repensados. A ocupação do Iraque, que já matou mais de 2500 soldados americanos, ironicamente tirou o foco da perseguição do próprio Bin Laden. Como se não bastasse, o país virou o grande centro de recrutamento e treinamento de terroristas muçulmanos: o principal grupo da Al Qaeda está, hoje, baseado em terras iraquianas, combatendo os invasores ocidentais.
Atitudes recentes mostram que nem mesmo as autoridades americanas acreditam que podem pegar o terrorista: em 2005 a CIA fechou sua unidade especial dedicada a achar Bin Laden, que tinha 25 investigadores. Enquanto isso, nos últimos cinco anos, o terror ligado à Al Qaeda intensificou violentamente suas ações. Matou 192 pessoas em Madri, 56 em Londres, 202 em Bali, 63 em Istambul. A rede terrorista se disseminou e os conflitos entre Ocidente e Oriente continuam aumentando. O pior é que, mesmo sabendo que nunca ganhará sua guerra contra os americanos, Bin Laden deve ter motivos para estar satisfeito em seu esconderijo. É possível até que ele esteja esperando o melhor momento para um novo ataque, enquanto o resto do mundo aguarda, com medo.

Missões cumpridas
Vivo e solto, Bin Laden é exceção entre os procurados por Bush.
Muhammed Atef
Era um dos chefes da Al Qaeda. Sua filha é nora de Bin Laden. Foi morto no Afeganistão em 2001.
Abu Zubaydah
Próximo a Bin Laden, foi o sucessor de Atef. Está em poder dos EUA (foi preso no Paquistão em 2002).
Abd al Rahim al Nashiri
Planejou o ataque ao navio USS Cole, em 2000. Preso em 2002, hoje colabora nos interrogatórios do FBI.
Ramzi Binalshibh
Ex- dirigente da Al Qaeda, planejou o 11 de Setembro. Detido em 2003, no Paquistão, está em poder dos EUA.
Saddam Hussein
Ex- ditador do Iraque. Preso em dezembro de 2003, passa por um conturbado julgamento no país.
Abu Musab al-Zarqawi
Líder da Al Qaeda no Iraque, foi morto por bombas em junho (e substituído por Abu al-Masri).
Televilão
Todas as mensagens de Bin Laden divulgadas desde 11 de setembro de 2001.
Para que os Estados Unidos não se esqueçam de que ele continua à solta, Bin Laden mantém o costume de publicar mensagens gravadas. A maior parte delas são vídeos, normalmente enviados à rede de TV Al Jazeera.
7/10/2001
Em vídeo divulgado poucas horas depois do começo da guerra do Afeganistão, elogia os terroristas que morreram nos atentados aos Estados Unidos.
1º/11/2001
Numa carta manuscrita distribuída à imprensa em todo o mundo, convoca os paquistaneses a defenderem os muçulmanos do Afeganistão.
7/11/2001
Diz num vídeo que os Estados Unidos não apresentaram nenhuma evidência contra ele que justificasse a invasão do Afeganistão.
14/12/2001
O governo americano mostra um filme com Bin Laden rindo e descrevendo como os aviões acertaram o World Trade Center. “Eles fizeram muito mais estrago do que eu tinha imaginado”.
27/12/2001
Magro e abatido, surge em vídeo para dizer: “Nosso terrorismo contra os Estados Unidos é abençoado, visa a repelir o agressor para que a América retire seu apoio a Israel”.
7/10/2002
Depois dos boatos de que ele teria morrido, reaparece em vídeo. Afirma que a juventude muçulmana aterrorizará os Estados Unidos e “atingirá o centro de sua economia até que pare com sua injustiça e agressão”.
13/11/2002
Em áudio divulgado pela Al Jazeera, elogia atentados recentes a Bali e Moscou.
11/2/2003
Em gravação de áudio, diz que ataques terroristas suicidas são importantes na “luta contra a América”.
18/10/2003
Divulga dois vídeos sobre a guerra no Iraque. Em um deles, diz que os americanos “se atolaram nos lodaçais” do país. No outro, afirma que eles dizem “defender a paz mundial”, mas obedecem aos “sionistas”.
4/1/2004
Duas semanas depois da prisão de Saddam Hussein, Bin Laden pede, em um vídeo, a continuação da Jihad (“guerra santa”) no Iraque.
15/4/2004
Em vídeo, oferece uma trégua aos europeus em troca do fim das ações deles no mundo islâmico. Diz que os atentados de 11 de março, em Madri, foram uma retaliação contra a presença da Espanha no Iraque.
6/5/2004
Em áudio divulgado na internet, oferece 10 quilos de ouro para quem matar o administrador americano do Iraque, Paul Bremer, ou o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan.
29/10/2004
A quatro dias das eleições presidenciais americanas, um vídeo mostra Bin Laden dizendo que “a segurança de vocês não está nas mãos de Kerry ou Bush. Está em suas próprias mãos”.
16/12/2004
Em mensagem de áudio divulgada pela internet, acusa o governo da Arábia Saudita de estar próximo demais dos “países infiéis”.
20/1/2006
Após um ano de silêncio, diz, em fita de áudio, que um novo ataque em solo americano é questão de tempo, a menos que os Estados Unidos aceitem uma “trégua de longo prazo”. O presidente Bush recusa a proposta.
20/2/2006
Em áudio divulgado em sites islâmicos, acusa o exército americano de agir no Iraque com a mesma brutalidade atribuída por eles a Saddam Hussein.
30/6/2006
Em áudio divulgado na internet, chama Al-Zarqawi, líder da Al Qaeda no Iraque morto semanas antes, de “leão da Jihad”. E manda novo recado ao presidente Bush: “Continuaremos a combater vocês e seus aliados em todo lugar, até que tenhamos gastado todo o seu dinheiro e matado todos os seus homens”.

A outra face do conflito
A rede árabe de notícias Al Jazeera já foi atacada por americanos.
Entre as 18 mensagens divulgadas por Bin Laden a partir de 2001, dez ganharam o mundo graças à rede árabe de notícias Al Jazeera, sediada no Catar. Mas qual seria o motivo desse privilégio na hora de receber os comunicados do terrorista? “No Ocidente, nossa imagem está muito ligada à Al Qaeda. Mas a Al Jazeera não tem nenhum relacionamento com Bin Laden”, diz Satnam Matharu, chefe da assessoria de imprensa da rede. “Nós recebemos seus vídeos arbitrariamente e sem aviso prévio, provavelmente porque somos a maior emissora do Oriente Médio.” Fundada em 1996, a Al Jazeera ficou conhecida em 2001, quando seus repórteres foram os únicos a cobrir o começo da guerra do Afeganistão. Mas a prova de fogo veio na cobertura da invasão do Iraque, em 2003. Lá, havia duas categorias de jornalistas. De um lado, 700 repórteres atuavam em parceria com o exército americano (a intimidade era tanta que muitos deles, como o colunista Gordon Dillow, pegaram em armas). Nos noticiários produzidos por esses homens, não havia sangue, nem imagens de soldados americanos mortos. O outro lado era composto por 2100 jornalistas, a maioria não-americana. Tinham as credenciais dadas pelo exército invasor, mas não andavam junto com os militares. Esses repórteres foram responsáveis por mostrar a face mais dura da guerra. Entre eles, destacaram-se os profissionais da Al Jazeera. Sua cobertura trouxe imagens, depoimentos e informações exclusivos, muitas vezes em tempo real. A emissora acabou se tornando tão importante quanto a americana CNN havia sido 12 anos antes, atuando no próprio Iraque (foi na Guerra do Golfo, quando três de seus repórteres realizaram a primeira transmissão ao vivo de uma guerra pela televisão, com Bagdá sendo bombardeada pela coalizão encabeçada pelos americanos). Toda essa independência tem um preço. A relação da rede com os Estados Unidos é tensa. Três escritórios da Al Jazeera já foram bombardeadas pelo exército americano, três jornalistas já foram presos e outros três morreram. O caso mais polêmico aconteceu no dia 8 abril de 2003. Tareq Ayoub, o correspondente-chefe em Bagdá, não resistiu aos ferimentos depois que um caça americano atacou seu escritório com um foguete – oficialmente, o fato foi um erro operacional dos militares. A Al Jazeera é vista hoje por 45 milhões de espectadores. A maioria deles vive no Oriente Médio e no norte da África, mas a conta inclui 8 milhões de europeus, além de 140 mil residências norte-americanas. O alcance da rede tende a aumentar: nos próximos meses, deve ir ao ar a Al Jazzera International, com 24 horas de notícias em inglês.

Ele está em todo lugar
Dos gibis às drogas, o líder da Al Qaeda é quase onipresente

“Santo Terror, Batman!”
Nada de Coringa ou Pingüim. O próximo vilão que vai ameaçar Gotham City é Bin Laden. O quadrinista americano Frank Miller já escreveu mais de metade de “Santo Terror, Batman!”, em que o herói luta contra a Al Qaeda. Na entrevista em que anunciou o projeto, ele se justificou: “É tolo perseguir o Charada quando você tem a Al Qaeda para combater”.

Viajando com Bin Laden
No começo de 2002, a polícia de Nova York descobriu que traficantes estavam vendendo uma variedade de heroína chamada Twin Towers (“Torres Gêmeas”). Logo depois, quatro mulheres foram presas com papelotes de heroína com o nome “Bin Laden”.

Que sobrinha!
Em 2005, a americana Wafah Dufour, modelo e aspirante a cantora, entrou em uma banheira de espuma e posou vestindo roupas íntimas feitas com penas de avestruz para a revista GQ. Até aí, nada de mais. A polêmica estava no parentesco: Wafah é filha de Yeslam, meio-irmão de Bin Laden. “Não tenho nada a ver com aquele homem”, disse.

Caçada virtual
A internet está cheia de jogos em que o líder da Al Qaeda é o grande vilão. Em um deles, o jogador tem que socar o rosto de Bin Laden com a maior velocidade possível. Um outro se passa em um campo de terroristas. Ganha quem conseguir resgatar reféns e prendê-lo.

 Post-Scriptum
Tudo errado
Entre 1996 e 1999, Michael Schauer foi o diretor da unidade da CIA responsável por investigar Bin Laden. Em 2004, pouco antes de se aposentar, ele publicou, no anonimato, o livro Imperial Hubris: Why the West Is Losing the War on Terror (“Arrogância imperial: por que o Ocidente está perdendo a guerra contra o terror”, inédito no Brasil). Hoje, ele admite a autoria da obra e não hesita em dizer que os Estados Unidos estão fazendo tudo errado na guerra contra o terrorismo.
Os Estados Unidos estão perto de pegar Bin Laden?
Não acredito que ele esteja correndo grandes riscos. O Iraque tem sugado tanto das forças militares americanas que só com muita sorte conseguiremos prendê-lo. Antes teria sido mais fácil. A administração Bush podia ter prendido Bin Laden em Tora Bora, em dezembro de 2001, e não conseguiu. É uma situação igual a qualquer outra: se você avalia mal os riscos e não age enquanto é tempo, as coisas só tendem a piorar.
Prendê-lo ainda é importante?
Bin Laden é o maior herói vivo do mundo islâmico. É importante matá-lo porque ele inspira milhares de pessoas. E ele ainda é, com certeza, o grande líder da Al Qaeda. Ele sabe de tudo o que acontece no mundo islâmico e toma todas as decisões mais importantes dentro do grupo central que ele fundou. Ocorre que, depois do 11 de Setembro, surgiram pequenos grupos, que seguem o modelo da Al Qaeda e assumem atentados em nome dela. Bin Laden controla a Al Qaeda, mas não todos esses grupos operando sob o guarda-chuva dela.
Os Estados Unidos serão atacados mais uma vez?
A Al Qaeda tem condições de voltar a atacar em solo americano. Nos últimos dois anos, eles foram capazes de atingir alvos muito difíceis: Londres é uma das cidades mais bem policiadas do mundo, a Jordânia é um estado policial, com seguranças e agentes em todos os lugares, e Bali também tem muitos policiais competentes em ação. Todos esses países têm forças de segurança muito mais eficientes do que as americanas. Se foi possível agir lá, é possível atacar os Estados Unidos com facilidade.
Mas não é possível prevenir um ataque?
Só com muita sorte. Os políticos americanos não levaram tão a sério o terrorismo como aparentam. Se tivessem entendido o potencial dessa ameaça, eles teriam tomado medidas para proteger as fronteiras do país e para garantir que o arsenal nuclear disperso pelo interior da Rússia estivesse sob controle. Não fizeram nada disso. O governo americano age como se o que ocorreu em 2001 fosse tão terrível que os terroristas jamais seriam capazes de agir de novo.
O que Bin Laden quer?
Seu objetivo é tirar os americanos do Oriente Médio, para que ele e seu grupo possam controlar os governos desses países. Bin Laden não quer invadir os Estados Unidos, não pretende ser prefeito de Nova York. O discurso de que a Al Qaeda quer destruir a civilização ocidental é cínico. O que incomoda a Al Qaeda e os muçulmanos em geral é que nós invadimos o Iraque e damos suporte a Israel. É bobagem acreditar que nós vamos acabar com o terrorismo matando um líder a cada seis meses. O problema é muito mais grave. Estamos em meio a um conflito cultural e religioso sério, e por quanto mais tempo negarmos isso, mais séria a situação vai ficar. O governo americano precisa de um plano de médio prazo para se retirar do Oriente Médio.
Quem são os terroristas islâmicos?
O governo americano insiste em tratar os muçulmanos como gângsteres. É mentira. Os membros da Al Qaeda são árabes de classe média, educados em escolas islâmicas. Eles são cultos e vêm de boas famílias. Não há desespero em suas ações. Eles estão nesse conflito por motivos religiosos. Do ponto de vista deles, é uma luta por liberdade, eles estão tentando ficar livres de um governo não- islâmico que está invadindo seu território. Sem entender isso, é impossível aceitar as razões da Al Qaeda. Eles não são apenas lunáticos jogando aviões contra prédios. Nesse sentido, os pais fundadores dos Estados Unidos não são tão diferentes assim de Bin Laden. Eles lutaram contra um governo que lhes era estranho para ter o direito de ser governados da forma como queriam. Ninguém precisa simpatizar com Bin Laden ou concordar com suas causas para entendê-lo. O importante é respeitar as crenças diferentes das nossas e, só depois disso, matar com força e rapidez todo os que agirem contra nós. Essa postura defensiva é muito mais sábia.

Aventuras na História n° 037

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