Alexandre Versignassi
Os programadores mais hábeis conseguem invadir um computador
explorando falhas nos softwares que a gente usa. As brechas mais utilizadas são
as "portas" abertas pelos programas para receber arquivos. Quase todo
software mantém esse tipo de mecanismo - não fosse assim, sua máquina nem teria
como se conectar à internet, por exemplo. O que os hackers fazem é criar
programas que enganam essas portas, entrando no computador como se fossem
arquivos inofensivos. Mas, depois de terem invadido, esses softwares do mal
detonam seu disco rígido. "Ou a máquina trava ou faz tudo que o invasor
manda. Ele pode roubar senhas, baixar seus programas e apagar arquivos",
diz a programadora Patrícia Amirabile, da fabricante de antivírus McAffe. Esses
programas são conhecidos como "Cavalos de Tróia": assim como o
lendário cavalo de madeira que os gregos deram de presente aos troianos, eles
trazem "soldados" dentro, prontos para assumir o controle da máquina
que o recebeu. Se ela for o computador central de um site de comércio eletrônico,
por exemplo, o ladrão cibernético pode roubar números de cartão de crédito. Se
ela for um servidor de internet, o cidadão não terá dificuldade para desfigurar
sites. Na galeria dos hackers mais perseguidos, o campeão é o americano Kevin
Mitnick, que durante as décadas de 80 e 90 invadiu até os computadores do
Pentágono, o principal órgão de defesa dos Estados Unidos. Outro tipo de
invasão hacker é aquela que espalha vírus de computador. A diferença é que tais
vírus são criados para se auto-reproduzir pela rede, danificando o maior número
possível de máquinas, mas sem deixar o invasor controlá-las. O vírus mais
agressivo da história, o MyDoom (algo como "minha danação"),
espalhou-se por dezenas de milhões de máquinas em 168 países.
O invasor
Nos anos 90, o
americano Kevin Mitnick detonou sistemas secretos e foi perseguido até pelo FBI.1. A trajetória do maior hacker do mundo começou no final dos anos 70. Mitnick era um adolescente, mas já usava computador e modem para bagunçar a telefonia de Los Angeles. Uma de suas brincadeiras clássicas era invadir o serviço de auxílio ao assinante e transferir todas as chamadas para sua casa. Ele atendia às dúvidas com mensagens do tipo: "O número pedido é 555-835 e meio. A senhora sabe teclar 'meio'?"
2. Antes de hackear
as máquinas das centrais telefônicas de Los Angeles, Mitnick precisava de
senhas e manuais para preparar a invasão. Ele conseguia tudo isso na base da
conversa, telefonando para as companhias e se fazendo passar por funcionário.
Mas aos 17 anos, ele exagerou e tentou roubar pessoalmente alguns manuais de
uma das empresas. Pouco depois, foi rastreado e passou três meses num
reformatório.
3. A prisão só serviu
para atiçar Mitnick. Livre da cadeia, ele passou a invadir sistemas secretos
como a Arpanet, rede de troca de informações militares que daria origem à
internet, e computadores do Pentágono. Acabou pego com a mão na massa em 1983,
nas máquinas de um campus universitário. E foi para trás das grades de novo,
ficando seis meses numa prisão juvenil.
4. Após a segunda detenção, ele se tornou ainda mais
agressivo. Entre 1987 e 1989, roubou programas de laboratórios e empresas da
Califórnia. Para desnortear o FBI, que o rastreava, usava dois computadores: um
para as invasões e outro para embaralhar linhas telefônicas que levassem até
ele. Delatado por um amigo, pegou um ano de prisão. Três anos depois, foi
acusado de hackear computadores em plena condicional e passou a viver foragido.
5. Em 1994, ainda
clandestino, Kevin tentou roubar programas de Tsutomu Shimomura, um
especialista em segurança eletrônica. Para se manter oculto, o hacker usava
linhas clonadas de telefone celular. Um rastreamento telefônico sugeriu que
Kevin estivesse escondido na Carolina do Norte, do outro lado do país. Munido
de laptop e uma antena capaz de rastrear o sistema celular, Tsutomu foi até lá
para desmascarar o invasor.
6. No primeiro dia da
perseguição, Tsutomu encontrou a antena de celular de onde partiam os ataques
de Kevin e chamou o FBI. Numa conversa com o síndico de um prédio próximo, os
agentes deduziram qual era o apartamento de Mitnick e o prenderam. Ele ficou
mais cinco anos na prisão. A cobertura do caso rendeu livros e inúmeras
reportagens.
7. Solto em 2000,
Kevin foi proibido de usar a internet até 21 janeiro de 2003. Hoje, aos 40
anos, é dono de uma empresa que ensina outras companhias a evitar ataques, a
Defensive Thinking. Para completar a renda, cobra milhares de dólares para dar
palestras no mundo todo e é tratado como pop star onde quer que apareça. Nada
mau para um ex-presidiário.
Revista Mundo Estranho Edição 25/ 2004
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