Cíntia Cristina da Silva
A lista de filmes que inspiraram Kill Bill Vol. 1 é longa.
Aliás, própria de um fã de cinema que começou a carreira trabalhando numa
videolocadora, como é o caso Quentin Tarantino, diretor que ganhou uma legião
de admiradores após o sucesso de Pulp Fiction - Tempos de Violência (1994).
Kill Bill, que estréia no Brasil neste mês, é praticamente uma coleção de
citações a filmes, músicas, astros, personagens e séries de TV que fizeram a
cabeça de Tarantino. Com Kill Bill, por exemplo, o diretor presta um tributo às
fitas de kung fu produzidas em Hong Kong e ao grande ator Bruce Lee, que ajudou
a popularizar as artes marciais no mundo. Além dos filmes de ação, obras como
Yojimbo (1962), do diretor japonês Akira Kurosawa, e faroestes dirigidos por
Sergio Leone, como Três Homens em Conflito (1966) e Era uma Vez no Oeste
(1968), também são homenageados com várias citações. Do cinema de horror
conhecido como splatter-movie (algo como "filme que espirra sangue"),
Tarantino importou os desmembramentos e a ultraviolência. A matança é exagerada
de propósito a ponto de virar quase uma caricatura. Kill Bill é dividido em
capítulos e não segue uma ordem temporal linear. O diretor misturou desde cenas
em preto-e-branco até seqüências de animação japonesa para contar a história da
"Noiva", personagem interpretada pela atriz Uma Thurman. Ela é uma
criminosa arrependida que deseja abandonar as D.I.V.A.S., Deadly Viper
Assassination Squad ("Esquadrão Mortal das Víboras Assassinas"), para
se casar. Bill, o chefão da organização, não gosta da idéia, promove uma grande
carnificina no dia das núpcias e deixa a Noiva em coma. Quatro anos depois ela
acorda e planeja sua vingança... O resto dessa história? Só mesmo quando a tão
aguardada produção estrear por aqui.
Mistureba pop
Kung fu, fitas de
terror e até Jornada nas Estrelas são lembrados na saga vivida por Uma Thurman.
Vingança espacial
Na abertura do filme,
a máxima "a vingança é um prato que se serve frio" é creditada à
sabedoria klingon, extraída de Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan (1982).
Na aventura espacial, um vilão klingon diz a frase ao capitão Kirk. A máxima, no
entanto, surgiu no romance As Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos
(1741-1803). A atriz Uma Thurman, estrela de Kill Bill, atuou na versão do
romance para o cinema em 1988.
Made in Hong Kong
Tarantino sempre
adorou os filmes de ação produzidos em Hong Kong. Especialmente os do estúdio
dos Shaw Bros, como The Five Deadly Venoms ("Os Cinco Venenos
Mortais"), de 1978. Foi nesse filme que Tarantino encontrou a inspiração
para criar as D.I.V.A.S., o esquadrão de víboras de Kill Bill. O diretor também
filmou parte do longa nos próprios estúdios dos Shaw Bros, sem usar efeitos de
computação.
Figurino Bruce Lee
Bruce Lee, um dos
maiores astros do cinema de ação, tinha um estilo impressionante de coreografar
cenas em que um homem só lutava contra uma penca de inimigos. O macacão amarelo
que Uma Thurman usa para executar sua vingança foi inspirado no vestuário de
Bruce Lee em No Jogo da Morte (1978). O grande momento dessa fita é a exótica
luta de Lee com o ex-jogador da NBA Kareem Abdul-Jabbar.
Coadjuvante de sucesso
Em 1966, Bruce Lee
foi contratado para atuar na série de TV O Besouro Verde. O ator interpretava
Kato, um especialista em artes marciais e parceiro fiel do herói Besouro Verde.
A série não durou muito, mas Kato fez um grande sucesso. Os lutadores mascarados
de Kill Bill têm a mesma máscara que Bruce Lee usava na TV e o tema musical da
série também está na trilha sonora do filme.
A noiva e a caolha
Tarantino diz que não
assistiu a A Noiva Estava de Preto (1967). Difícil acreditar. Nesse filme, assim
como Uma Thurman em Kill Bill, uma noiva-viúva caça os assassinos de seu
marido. Já a personagem Elle Driver (Daryl Hannah) foi inspirada em They Call
Her One Eye ("Eles a Chamam a Caolha"), de 1974. Nessa fita, uma
garota muda é seqüestrada e tem um olho arrancado. Após fugir, treina artes
marciais e se vinga de seus algozes.
Sobras do Godzilla
O lagartão verde e
monstruoso chamado Godzilla surgiu pela primeira vez no filme japonês Gojira
(1954). A criatura era fruto de nefastas experiências com energia nuclear,
tinha um mortífero hálito radioativo e adorava destruir Tóquio. Em Kill Bill,
Tarantino filmou miniaturas representando a capital japonesa que sobraram da
última produção estrelada pelo monstrão, em 2001.
Sangue espanhol
Os mais sensíveis não
devem assistir a Kill Bill, pois o sangue jorra sem dó — foram usados quase 500
galões de tinta vermelha! Vários filmes de terror influenciaram a violência
estereotipada de Tarantino, entre eles La Novia Ensangrentada (1972). Nessa
fita espanhola, uma moça recém-casada se encontra com uma terrível vampira
lésbica. La Novia rendeu o título (em inglês) de um capítulo de Kill Bill.Revista Mundo Estranho Edição 25/ 2004
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