Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
O outono será um bom
período para observar a constelação do Cruzeiro do Sul.
As estrelas dominam as noites de outono são as da
constelação Crux ou Cruzeiro do SuL a mais célebre, embora a menor de todas as
constelações. O documento mais antigo que registra o nome Crux é a carta que
Mestre João, físico da comitiva de Pedro Álvares Cabral, enviou ao rei de
Portugal, dom Manuel em abril de 1500.
Notável pelo brilho de suas componentes, o Cruzeiro do Sul
situa-se ao lado de inúmeras manchas mais escuras, entre elas a nebulosa Saco
de Carvão. O fundo negro dessa parte do céu contribui para realçá-Ia. Alfa,
Beta, Gama e Delta do Cruzeiro, as quatro principais estrelas dessa
constelação, são de primeira magnitude.A elas se junta, Epsilon do Cruzeiro, de terceira magnitude, mais conhecida como Intrusa ou Intrometida. A olho nu, só é possível observar cinco estrelas, quatro delas dispostas em forma de cruz, onde Alfa e Gama formam a haste - Alfa fica ao pé da cruz - e Beta e Delta definem os braços. Epsilon está sob o braço menor da cruz. O Cruzeiro do Sul aparece nas bandeiras da Austrália e da Nova Zelândia e nas nossas armas da República, com Epsilon do lado esquerdo. Já na bandeira brasileira. que também estampa a constelação, a Intrometida está do lado direito e tal localização tem provocado polêmicas.
As controvérsias se devem, em parte, ao fato de se ter usado em nossa bandeira a mesma representação dos globos celestes que mostram as estrelas tal como seriam vistas se estivéssemos fora da esfera celeste. É que, no fim do século passado, Décio Vilares elaborou o desenho da bandeira com base no Planisfério Celeste do Céu, do astrônomo brasileiro Pereira Reis, que adotava o sistema dos globos. Na representação do céu que hoje se encontra nos atlas e cartas celestes, utilizada universalmente, o céu aparece como na realidade o vê o observador situado na superfície terrestre. As estrelas Alfa, Beta e Delta do Cruzeiro, as mais brilhantes, são azuis (espectro B),enquanto Gama e Epsilon são alaranjadas (espectro M e R).
Tanto Alfa quanto Gama são duplas facilmente observáveis com a ajuda de um pequeno binóculo. Junto à estrela Kapa do Cruzeiro, próxima a Beta e praticamente invisível a olho nu,encontra-se o aglomerado da Caixa de Jóias, notável pela coloração das estrelas que o compõem. Quando se fala das regiões da Terra onde o Cruzeiro do Sul é visível, convém lembrar que não se trata de toda a área da esfera celeste ocupada pela constelação, como foi definido pela União Astronômica Internacional, em 1928, e composta por um incontável número de estrelas, mas como é conhecida, constituída apenas por cinco estrelas.
Em relação a essas estrelas, o Cruzeiro do Sul estará sempre acima do horizonte para todos os lugares situados entre o pólo sul e o paralelo austral de latitude igual a -32 graus 54 minutos e poderá ser visto durante o ano a qualquer hora da noite. Na zona compreendida entre os paralelos de -32 graus 54 minutos e +27 graus 50 minutos, ainda se poderá observar a Cruz do Sul, porém tanto menos tempo durante a noite quanto mais o observador se deslocar para o norte, podendo deixar de ser visível nas épocas do ano em que se acha mais próxima do Sol.
Na área compreendida entre as latitudes boreais de +27 graus 50 minutos e +33 graus 49 minutos ainda se pode ver muito próximas do horizonte algumas das estrelas que compõem o Cruzeiro. No entanto, do paralelo +33 graus 49 minutos até o pólo norte, nenhuma estrela dessa constelação será visível.
Como todos os países europeus se acham ao norte do paralelo +36 graus, em parte alguma da Europa se pode ver atualmente o Cruzeiro do Sul. Mas essas condições de visibilidade vão se modificar no decorrer dos anos, embora lentamente, graças ao deslocamento do eixo terrestre. Em consequência desse movimento chamado precessão dos equinócios, é que o Cruzeiro do Sul, há 6 mil anos, brilhava acima do horizonte em regiões como a França, a Itália e a Península Ibérica.
O astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é membro da Comissão de Estrelas Múltiplas e Duplas, de História da Astronomia e de Asteróides e Cometas da União Astronômica Internacional.
Constelações
As estrelas Alfa e Beta da constelação do Centauro, chamadas
Guardas, pois parecem apontar o Cruzeiro do Sul, se constituem numa das
formações mais notáveis do nosso céu. Situadas na região luminosa da Via
Láctea, a primeira é amarelada, de magnitude zero, enquanto a segunda é azulada
e de primeira magnitude. Alfa do Centauro, a estrela mais próxima da Terra, é
um sistema binário, descoberto em 1689 pelo padre jesuíta Richaud, na índia. Em
1916, Robert Innes, astrônomo sul-africano descobriu uma estrela de brilho
muito fraco próxima do sistema Alfa do Centauro e do Sol.Por isso, Innes chamou-a Próxima do Centauro. A constelação do Centauro oferece um conjunto de nebulosas galácticas extremamente ricas. Os campos estelares são realçados por uma nebulosidade branca difusa que contrasta com as nebulosas escuras (sacos de carvão).
Com uma pequena luneta ou a olho nu pode se observar Alfa e Beta do Centauro e o Cruzeiro do Sul.
Junto a Omega do Centauro encontra-se o mais belo aglomerado globular, também visível a olho nu como estrela difusa. Ao telescópio, é o maior e mais impressionante aglomerado do céu, com cerca de 100 mil estrelas.
Meteoros
Entre 19 de abril e 28 de maio aparecem os Eta Aquarídeos.
Rápidos e amarelos, têm atividade máxima no dia 6 e deixam rastro com radiante
na constelação de Aquário. A frequência é de 56 por hora. A partir de 17 de
maio e até 25 de junho, aparecem os meteoros do enxame Corona Australídeos. Com
Radiante na constelação da Coroa Austral, são fracos e têm atividade máxima no
dia 18.
Revista Super Interessante n° 032
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