Marina Motomura
Os bons investigadores vasculham tudo que ajude a descobrir
a identidade de um suspeito, desde as pistas mais óbvias, como gotas de sangue,
fios de cabelo e impressões digitais, até detalhes sutis da cena. É quase
impossível o autor de um delito não deixar ao menos um rastro que auxilie os
especialistas a seguir seus passos. "O local do crime é a última
oportunidade de a vítima falar", afirma a perita Eliana Sarres Pessoa, do
Departamento de Criminalística da Polícia Civil de Porto Alegre (RS). No caso
de um assassinato, por exemplo, a vítima "fala" por meio da posição
em que o corpo foi encontrado, das manchas no cadáver e de nacos de pele
presentes sob as unhas, que podem indicar uma luta violenta. Claro que,
isoladamente, um detalhe quase nunca esclarece o crime. Por isso, os
investigadores consideram o conjunto de evidências. No exemplo de homicídio do
infográfico ao lado, vamos supor que a vítima tenha sido morta com um tiro na
nuca. Nessa situação, por mais que o corpo seja encontrado com a arma na mão, a
hipótese de que a pessoa tenha se matado é improvável. A explicação mais lógica
é que o verdadeiro autor dos disparos quis simular o suicídio para se livrar da
culpa. Para dar conta de tantas minúcias, os peritos carregam uma arma
indispensável: a câmera fotográfica. "A primeira coisa que um investigador
faz no local do crime é parar na entrada e clicar tudo. Mesmo que um perito
mais descuidado depois chute para longe uma bala de arma, por exemplo, é
possível recuperar sua localização original com as fotografias", diz
Eliana. Em alguns casos, entretanto, as dúvidas sobre a autoria e os motivos do
crime continuam mesmo depois da coleta de todas as provas. Quando isso
acontece, os especialistas recorrem a uma outra técnica de investigação: a
reconstituição do crime, que confronta os depoimentos dos acusados e das
testemunhas com o laudo dos investigadores.
Quebra-cabeça policial
Formato das gotas de
sangue, rigidez do cadáver e outros detalhes ajudam na investigação.
POSIÇÃO FINAL
Os investigadores
examinam a posição do cadáver para saber se ela é compatível com o tiro
recebido. Se os dados não baterem, eles checam se havia algum móvel que tenha
atrapalhado a queda. Com essa técnica, a idéia é indicar se o corpo realmente
sofreu o impacto previsto ou se foi "ajeitado" pelo suspeito antes de
abandonar a cena do crime.
TAMANHO É DOCUMENTO
O tamanho e o formato
da gota de sangue indicam como ocorreu a agressão. Gotas arredondadas mostram
que o sangue caiu de uma altura pequena — a vítima pode ter levado um tiro
enquanto estava sentada ou abaixada. As gotas de formato irregular apontam que
o sangue espirrou de uma altura maior — provavelmente, a vítima estava de pé.
CRONOLOGIA MACABRA
Até três dias depois do assassinato, os peritos determinam o
horário exato do crime. Eles observam a rigidez do cadáver (o corpo fica duro
oito horas após a morte) e as manchas verdes que marcam o início da
decomposição (após 24 horas). Depois de 72 horas, os investigadores procuram
insetos e vermes decompositores. Examinando seu ciclo de reprodução, dá para
estimar a hora em que o crime ocorreu.
1. ESCUTA DIGITAL
Não é só por meio das
digitais que se pode identificar um suspeito. A orelha impressa também exerce
mais ou menos a mesma função. Isso porque o contorno do ouvido é único,
revelando a identidade de um possível assassino que tenha escutado o walkman da
vítima ou espionado por trás da porta.
2. LENDO AS MÃOS
Além das digitais, as
mãos também trazem outra pista importante: as unhas. Se elas estiverem
quebradas, provavelmente houve briga antes do assassinato. Se a vítima tiver
arranhado o agressor, pode ter ficado com restos de pele sob as unhas. Todos
esses vestígios serão colhidos pelos peritos, que têm mais um material para o
exame de DNA.
FUGA DENUNCIADA
Uma porta arrombada
indica que o assassino forçou a entrada no local. Mas e se ela estiver intacta?
É hora de checar os detalhes, investigando, por exemplo, em qual lado ficou a
chave. Se ela estiver por dentro, as suspeitas são que o criminoso tenha
escapado pela porta — ou, ainda, que a vítima pode ter cometido suicídio.
ALERTA VERMELHO
Com o sangue da
vítima, dá para descobrir o código genético dela com um exame de DNA, além de
saber se ela tomou álcool ou drogas. Mesmo que as manchas tenham sido
eliminadas com água e sabão, dá para rastrear os vestígios com o chamado
luminol, composto químico que reage com o ferro presente no sangue. Os peritos
espalham o produto pelo chão e jogam luz ultravioleta, fazendo brilhar os
locais onde havia sangue.
VESTÍGIOS DA
PANCADARIA
Quando a mobília da
casa está toda bagunçada e há objetos quebrados, a dica para os investigadores
é clara: é quase certo que houve uma tremenda briga antes do assassinato.
ESTILHAÇOS SUSPEITOS
Uma janela quebrada
mostra que o suspeito tentou invadir a cena do crime ou agredir a vítima,
certo? Nem sempre. Pelo jeitão dos fragmentos, dá para saber em qual ângulo e
em qual direção a janela foi quebrada. Se uma pedra estilhaçou o vidro a partir
do lado de dentro, o assassino pode ter quebrado a janela para confundir os
peritos.
Revista Mundo Estranho Edição 25/ 2004
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