Rodrigo Ratier
Para que um cristal apareça, basta que uma nuvem tenha pelo
menos uma parte com temperatura abaixo de 0 ºC. Quando ela ultrapassa essa
barreira, o vapor que forma a nuvem começa a se transformar em cristal de neve.
Mas esse é só o início da história, "papito". Não é porque o vapor
virou gelo que ele vai chegar assim ao chão. Nuvens bem frias, com temperaturas
que chegam a -80 ºC, existem em todo o planeta, inclusive no Brasil. A
diferença é que, por aqui, o ar mais próximo à superfície é quente, fazendo com
que os cristais quase sempre derretam e caiam na forma de chuva. Um dado
curioso é que a "fase gelada" das moléculas de água é bem rápida.
Depois de evaporar de rios, lagos e oceanos, a água fica cerca de nove dias em
suspensão na atmosfera. Desse tempo todo, a molécula passa menos de três horas
na forma de cristal de neve. Outra coisa importante, Mion, é que os cristais
nem sempre têm a forma de estrelas. O que dá para dizer é que eles costumam ter
seis lados, em uma estrutura parecida com um hexágono, pois é desse jeito que
os átomos de hidrogênio e oxigênio (que formam a água) se ligam no estado
sólido. Mesmo assim, a forma final do cristal varia bastante. "Dentro da
nuvem, um cristal de neve pode se derreter parcialmente, colidir com gotas
líquidas ou sofrer com a atmosfera turbulenta. Tudo isso modifica sua
aparência, dando origem a estrelas geladas, agulhas ou flocos de neve, formados
pela junção de vários cristais", afirma o físico Jorge Alberto Martins,
especialista em microfísica de nuvens da Universidade de São Paulo (USP).
Apesar do mistério que cerca o assunto, os cientistas já sabem que a aparência
final sofre influência de fatores ambientais - os principais são a temperatura
e a umidade presente na nuvem em que o cristal se forma. O quadro da página
seguinte traz exemplos de cristais de verdade, vistos ao microscópio, com suas
estruturas esquisitas e fascinantes.
Esculturas cadentes
Temperatura e umidade determinam o jeitão do gelo que cai do
céu.
GELO PONTIAGUDO
Cristais que parecem
agulhas crescem entre -6 ºC e -4 ºC, uma faixa de temperatura onde também
ocorrem hexágonos e colunas de seis lados. O que diferencia essas duas
estruturas é a quantidade de vapor d’água existente na nuvem: quando sobra
umidade, formam-se agulhas em vez de hexágonos.
GELO ESTRELADO
As formações que
parecem estrelas costumam surgir entre -22 º e -10 ºC. Sua espessura não chega
a 0,1 milímetro, o que as torna estruturas quase planas. Sua aparência
impressionante ainda desafia os cientistas. Até agora, eles sabem que as
estrelas precisam de mais umidade que os hexágonos para se formarem.
GELO DE SEIS LADOS
Dentro da nuvem, placas quase planas na forma de hexágonos
aparecem em duas faixas de temperatura: de -22 ºC a -10 ºC e de -4 ºC a 0 ºC.
No meio desses dois intervalos predominam as colunas espessas. Se houver muita
umidade na nuvem, provavelmente as estruturas serão ocas. Quando falta umidade,
aparecem colunas sólidas.
MINIATURA MOLHADA
A maioria dos
cristais de gelo só é visível em microscópios, mas alguns deles ultrapassam
alguns milímetros de tamanho — ao lado, a comparação entre um cristal de 3
milímetros e uma moeda de 1 real. Mesmo com dimensões tão pequenas, um cristal
assim chega a ter um quintilhão de moléculas de água — o número 1 seguido de 18
zeros.
Revista Mundo Estranho Edição 25/ 2004
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