Alexandre Versignassi
Um box de Fórmula 1 é bem mais complexo do que mostra a TV.
Os 400 metros quadrados a que cada equipe tem direito são divididos em vários
departamentos, onde cerca de 100 pessoas trabalham freneticamente. O coração do
box é a sala de telemetria, onde o comportamento dos carros na pista é
analisado por um exército de computadores. Cada equipe tem sua maneira
específica de lidar com os dados que chegam das pistas. E, claro, fazem de tudo
para esconder essa arma da concorrência, tanto que câmeras de TV e máquinas
fotográficas não são permitidas nesse setor. Mas, a convite da Renault, a
reportagem de mundo estranho pôde dar uma espiadinha na sala de telemetria da
equipe francesa durante os treinos do último GP Brasil.Repleta de computadores potentes, com 45 monitores de cristal líquido, ela parece o centro de comando de uma nave espacial. Lá, o rendimento dos F-1 é monitorado por 40 técnicos. Os carros são equipados com dezenas de sensores, que transmitem para o box, via rádio, informações sobre as condições do motor, da suspensão e de tudo o que possa afetar o desempenho do bólido. Nas telas da sala de telemetria, aparecem desde quantas vezes o piloto acionou o freio numa volta até a temperatura do óleo. Se, por exemplo, o óleo esquentar demais ou o motor der uma capengada, os técnicos saberão quais ajustes será preciso fazer. Essas informações, então, vão direto para os notebooks dos engenheiros-chefes, que passam ordens aos mecânicos. Simples? Não. Mesmo com toda essa tecnologia, muitos problemas demoram a ser diagnosticados. E nunca param de chegar dados novos. Tudo em meio a muita, muita correria.
Mais que uma garagem
Carros e peças
dividem espaço com supercentral de computadores e até com cozinha.
1. Sala secreta
Na telemetria, mais
de dez computadores de alta potência recebem detalhes do desempenho dos carros
na pista. Parte dos dados pode seguir para a sede da equipe na Europa para ser
analisada, em tempo real, por computadores ainda mais potentes e que decifram com
maior velocidade as informações. Computadores de mesa fora da telemetria só
mesmo nas salas dos engenheiros eletrônicos, que cuidam desses sensíveis
componentes dos F-1.
2. Gasolina resfriada
Todo mundo vê na TV aquelas superbombas que injetam gasolina
nos carros no pit stop. Mas pouca gente sabe que no box também há uma máquina
para tirar o combustível do carro. Ela suga a gasolina, resfria o combustível e
o injeta de volta no tanque a 18 ºC, temperatura ideal para o máximo
aproveitamento da energia do combustível.
3. Pneus quentinhos
Quando os carros estão no box, os quatro pneus ficam sob
mantas elétricas, que elevam a temperatura da borracha a 80 ºC. Com o calor, a
aderência ao asfalto cresce, evitando que as rodas girem em falso e dando mais
velocidade. A pressão e a temperatura dos pneus são medidas após os treinos -
informações que ajudam a desenvolver melhores compostos.
4. Ventilador de motor
Após algumas voltas na pista, o carro retorna fumegando e é
preciso refrigerar rapidamente o motor, que mesmo parado permanece muito
quente. Os equipamentos que fazem isso são basicamente ventiladores munidos de
gelo seco, que jogam ar frio nos radiadores do bólido. Uma equipe leva cerca de
dez motores para cada GP. Às vezes eles são retirados dos carros e analisados
por engenheiros numa exclusiva sala de motores Super aspirador Tubos de
exaustão retiram a enorme quantidade de poeira acumulada nos radiadores durante
os treinos, para que a sujeira não afete o desempenho dos carros. Esses
exaustores também sugam os gases emitidos pelos motores dentro do box. Graças a
eles, o ar não fica irrespirável como numa oficina mecânica comum.
6. Olho na telinha
Nos treinos, os
pilotos acompanham o desempenho da concorrência de dentro do próprio carro. Uma
tela de cristal líquido - que mostra as mesmas imagens de TV que você vê em
casa - pode ser colocada em qualquer lugar do box, pois é suspensa por uma
barra articulável. Sem os pilotos por perto, os mecânicos assumem o controle da
telinha.
7. Titulares e
reserva
Três carros ficam no
box: os dois titulares e, no meio deles, o reserva. Oito mecânicos e três
engenheiros cuidam de cada F-1. Só os titulares saem para treinar, mas todos os
acertos feitos neles vão também para o reserva, usado em caso de emergência. Se
for preciso trocar um bico, spoiler ou qualquer outra parte móvel do chassi, é
só recorrer ao depósito de peças.
8. Fast food
Cada box conta com cozinha e refeitório próprios,
que ficam perto da sala particular do chefe de equipe. As massas, por serem
fáceis de transportar e preparar, dominam o cardápio. Na cozinha da Renault no
GP Brasil, trabalhavam dois mestres-cucas. Já o refeitório, ao lado, tinha
cerca de 50 lugares.
Revista Mundo Estranho Edição 16/ 2003
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