Celso Miranda e Cíntia Cristina Da Silva
Cinco séculos depois
de sua morte, Da Vinci continua sendo um mistério. Afinal, o que há em sua vida
e em sua obra que justifique as polêmicas em que vivem metendo seu nome?
Talvez nenhuma pessoa jamais tenha representado tão bem um
período da história quanto Leonardo da Vinci. Chamado de “o homem da
Renascença” (época caracterizada pela valorização do homem e da natureza), ele,
ao longo de seus 67 anos de vida, envolveu-se até o pescoço nos experimentos
científicos e artísticos que marcaram o fim da Idade Média na Europa. Da Vinci
foi brilhante em praticamente todas as atividades em que se meteu: foi pintor,
engenheiro, inventor, músico (compunha e tocava lira), arquiteto, escultor,
astrônomo e escritor. E fez tudo isso de uma forma inovadora, revolucionária –
genial mesmo.
Por isso, e por outro tanto de coisas que você vai ler nesta
matéria, sempre foi motivo de polêmica. Durante sua vida, em suas centenas de
biografias, e mesmo hoje, quase 500 anos depois de sua morte, o que se escreve
sobre ele ainda faz aumentar a aura de mistério que cerca sua vida e sua obra.
“Já foi dito que ele é o verdadeiro autor do Sudário de Milão, que se
auto-retratou na Mona Lisa, que era maníaco-depressivo e que praticava
experiências de alquimia”, diz a americana Sarah B. Benson, do departamento de
Arte da Universidade de Princeton, em Nova York. Daí a dizer que ele foi líder
de uma sociedade secreta e que escondeu em suas obras mensagens cifradas que
provam que Jesus escapou da crucificação e fugiu com Maria Madalena para a
França, tido filhos e vivido felizes para sempre, como afirma o escritor inglês
Dan Brown no livro O Código Da Vinci – que agora virou filme –, vai uma grande
diferença. Mas, afinal, o que há na vida e na obra de Da Vinci que levanta
tanta polêmica? O que se sabe realmente sobre ele? Por que tanta gente acredita
que ele foi um misterioso guardião de segredos indecifráveis?Filho ilegítimo de Caterina, uma camponesa de 16 anos, e de Ser Piero di Antonio, um tabelião 30 anos mais velho, Leonardo nasceu no dia 15 de abril de 1452, num povoado perto de Vinci, a cerca de 50 quilômetros de Florença, na Itália. Na época, a Itália nem era um país, mas um amontoado de cidades-reinos, como Milão, Verona, Nápoles, Gênova, Veneza, além da própria Florença, que rivalizavam entre si e se organizavam em volta do poder religioso e político de Roma e do papa.
A instabilidade política da região não afetou, no entanto, a infância do pequeno Leo, que cresceu sob os cuidados do pai e da madastra, que lhe proporcionaram educação básica: aprendeu a ler, escrever e amarrar os sapatos. E, tirando o talento precoce para as artes, nada em sua juventude fazia prever destino tão especial. Foi na adolescência (conceito, aliás, que ainda não existia, ou seja, não havia um período de transição entre a infância e a condição de adulto – as crianças eram consideradas pequenos adultos, apenas ainda muito fracos ou muito estúpidos para assumir as funções de um adulto) que o gênio de Leonardo começou a surgir. Segundo seu primeiro biógrafo, o italiano Giorgio Vasari, que escreveu Vite dei Più Eccellenti Architetti, Pinttori et Escultori Italiani (“Vida dos melhores arquitetos, pintores e escultores italianos”, inédito em português) apenas 30 anos após a morte de Da Vinci, consta que ele aprendeu sozinho latim, matemática, anatomia humana e física. Passava horas tentando melhorar um desenho. Quando morava com o pai, em Vinci, Leonardo foi encarregado de ilustrar o escudo de um fazendeiro local. Escolheu fazer uma coisa inspirada na mitológica Medusa, aquela que tinha cobras no lugar dos cabelos. Para realizar o trabalho da maneira mais realista, reuniu serpentes, lagartos e outros pequenos animais para servirem como modelo. Um dia seu pai entrou no ateliê e encontrou o filho trabalhando em meio a animais em decomposição. Estava tão absorto que nem sentia o mau cheiro dos bichos mortos. Teve 17 meios-irmãos: 12 por parte de pai e cinco por parte de mãe.
Quando tinha lá seus 20 anos, foi aceito como aprendiz no ateliê do artista Andrea Verrochio, em Florença. Lá conseguiu seus primeiros trabalhos e, com o tempo, obteve notoriedade – de bom pintor e de nunca entregar suas obras no prazo. Ficaram famosas suas pinturas inacabadas. Algumas chegaram aos nossos dias, como o retrato de São Jerônimo, em exposição no Museu do Vaticano. Trabalhou para a Igreja, fez amigos entre os poderosos e conseguiu alguma fortuna. Foi patrocinado por Lorenzo de Médici, o todo-poderoso de Florença, e em 1502 acabou nomeado arquiteto e engenheiro geral para as regiões de Marche e Romagna por César Bórgia, o capitão-geral do exército (e filho) do papa Alexandre VI. Outro fã de suas obras foi Ludovico Sforza, duque de Milão.
Leonardo nunca se casou e na juventude, em 1476, chegou a ser réu no processo de sodomia de Jacopo Saltarelli, um colega aprendiz como ele, mas a acusação foi arquivada. Viajou pela Europa e cultivou inimigos tão poderosos e brilhantes como ele. Michelângelo, um de seus maiores rivais, costumava se referir a Leonardo como “aquele tocador de lira de Milão”. Emigrou para a França, onde foi amigo do rei. Dos reis, na verdade. Tornou-se o preferido da corte de Luís XII e, mais tarde, amigo pessoal e confidente de seu sucessor, Francisco I. Dele ganhou uma casinha (o castelo de Cloux), onde viveu seus últimos dias. Morreu em 1519, dizem, dormindo. Segundo seu desejo, seu caixão foi acompanhado por 60 mendigos. Leonardo deixou um legado enorme entre quadros, desenhos e manuscritos. Apenas pouco mais de 20 de suas pinturas sobrevivem até hoje, entre elas algumas das mais famosas pinturas de todos os tempos, como a Mona Lisa e A Última Ceia. Fora os protótipos de invenções que só seriam concretizadas séculos depois, como o pára-quedas, o escafandro e o tanque de guerra.
Lado oculto
Legal, deixa ver se até agora eu entendi: o cara era um
gênio. Foi um baita artista e se tornou símbolo de um tempo de incríveis
mudanças na Europa e no mundo. Da Vinci viveu na mesma época que Cristóvão
Colombo, Maquiavel, Michelângelo, Martinho Lutero e Nostradamus. Imagine:
enquanto ele pintava Mona Lisa, Pedro Álvares Cabral navegava pelo Atlântico em
direção ao Brasil. Mas até agora eu não sei por que a vida dele ou suas telas
deram margem a teorias conspiratórias. Então talvez tenha chegado a hora de
perguntar: Leonardo era tão diferente e misterioso assim? Sua obra ou sua vida
permitiram que tantos anos depois tanta coisa fosse inventada sobre ele?A resposta é sim. Da Vinci dava sopa para o azar. E, apesar de ele ser, de certa forma, típico de seu tempo, tinha lá suas manias. Primeiro, criou sua própria linguagem em código. Quando não escrevia ao contrário, da direita para a esquerda – fazendo que sua caligrafia só fosse compreendida quando vista no espelho –, usava um tipo de taquigrafia estranhíssima, na qual usava parte de palavras ou símbolos e não letras para exprimir idéias. Se isso não é dar mole para os conspiradores de plantão, então diga lá: o que é?
”Seus interesses ultrapassavam o campo artístico”, afirma Christopher Witcombe, professor do departamento de História da Arte da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos. Ele especulou pela anatomia, biologia, física e engenharia. Leonardo amava sua arte e acreditava que “o amor a qualquer coisa é produto do conhecimento, sendo o amor mais ardente quanto mais seguro é o conhecimento”, conforme escreveu. Era um profundo estudioso das técnicas que, segundo sua visão, seriam complementares à sua arte. Ele dissecou corpos humanos e de animais para compreender a posição de ossos e como funcionavam músculos e tecidos. Desenvolveu e utilizou lentes para projetar imagens e melhor reproduzir seus modelos, desenvolvendo técnicas aplicáveis às suas obras, como os planos de perspectiva, ponto de fuga etc. Estudou a química das substâncias para desenvolver suas próprias tintas, especulou sobre a matemática e a filosofia. Da Vinci foi um cientista-artista tão fascinado pelos mistérios do Universo e pelos enigmas do corpo humano quanto pelas possibilidades de aplicar esses conhecimentos em suas obras.
Mas, tirando a letra invertida, o resto não era coisa assim tão rara na Europa do fim do século 15, época em que as fronteiras entre ciência, misticismo, e arte não eram tão definidas. Leonardo cruzou esses limites mais vezes e com muito mais facilidade que os sacoleiros de Ciudad del Este. “As linhas mestras do pensamento renascentista, das quais Leonardo era não só um seguidor, mas um entusiasta, misturavam o humanismo grego a experiências alquimistas e conhecimentos herméticos. E isso aliado a experimentações protocientíficas, como dissecação de cadáveres e observação de astros, que estão na raiz do nascimento das modernas medicina e astrofísica”, diz Witcombe. Ciência e misticismo andavam de mãos dadas no fim do século 15, começo do 16. E ambas eram muito mal vistas pela Igreja.
A única fronteira que não se devia atravessar naquela época era a religiosa. Com o sagrado era difícil brincar, ainda mais no caso de um artista, numa época em que a Igreja (assim mesmo, com letra maiúscula, para indicar a instituição com sede em Roma e representada em toda a Europa por bispos e padres católicos) era a principal cliente de pinturas e esculturas. Segundo a professora Sarah B. Benson, os artistas renascentistas escondiam suas crenças e convicções pessoais em pinturas encomendadas pela igreja. Além disso, Da Vinci de fato recheava suas pinturas de símbolos e mensagens cifradas. “Ele realmente espalhou uma série de símbolos não-cristãos em seus quadros – que vão dos que aparecem agora no cinema e foram citados por Dan Brown (leia quadros a partir da pág. 28) – até pintar a si mesmo como João Batista e o anjo Gabriel em algumas obras”, afirma Sarah. Em A Virgem das Rochas, ele introduziu plantas utilizadas em rituais mágicos.
Virou mito
Tá, ok: o cara era o típico renascentista. Um gênio, metido
com alquimia e medicina primitiva. Entendi. Era um tremendo pintor também, que
desenvolveu técnicas revolucionárias. Mas esse não é o assunto desta matéria.
Nosso desafio é explicar por que essa obra genial se presta até hoje a
interpretações pouco convencionais, com claras tendências fantasiosas. Para o
historiador norte-americano George Gorse, da Universidade de Pomona, nos
Estados Unidos, a resposta pode estar na própria arte e no talento de Da Vinci.
“Sua obra é universal, pois fala com cada pessoa de maneira particular. E é
isso que o torna mais interessante e faz com que, após tantos anos, ele
continue sendo uma figura indecifrável, tão sedutora quanto a imensidão e a
beleza de sua obra. Sempre haverá o que ser descoberto sobre um artista tão
genial”, diz George.Isso equivaleria a dizer, com um pouco menos de frufru, que a universalidade da obra de Leonardo (isso que faz cada pessoa ver um – ou algum – sentido nas pinturas dele) fez com que ela atravessasse o tempo, tornando-se algo cujo significado fosse adaptado aos diferentes períodos da história e continuasse fascinando a imaginação de tanta gente. Menos frufru ainda? Então lá vai: a obra de Leonardo atravessou os séculos, adaptando-se aos gostos e linguagens de cada época. Como ícones de um passado comum, suas obras foram assumindo um caráter que tem muito mais a ver com o espírito do tempo presente do que com o tempo ou a realidade que o autor procurou exprimir. Ou seja, fala muito mais sobre o tempo de quem a vê (seja hoje, seja no século 19) do que sobre o tempo de quem a pintou ou de quem está retratado nela.
Por exemplo, na década de 1960, sua obra mais famosa, a Mona Lisa, se tornou símbolo da cultura pop. Quando resolveu promover o Dadaísmo, movimento artístico que pregava o absurdo e o desprezo pela arte tradicional, Marcel Duchamp (1889-1968) pintou bigodes na Mona Lisa. Ele não poderia ter escolhido obra mais representativa para mandar seu recado. Tornou-se símbolo de uma arte descartável, presa em molduras de madeira, vazia de significado. Um rosto de mulher, como uma foto de Marilyn Monroe, que pode ser copiada, e copiada, e copiada.
Hoje, o que nos leva de volta à obra de Da Vinci é outra coisa. Procuramos no passado respostas para os anseios que a sociedade moderna tem. Na era da superciência, os homens tendem a procurar respostas mais simples. Afinal, deve existir alguma resposta lógica para tudo, não é? Deve haver algo que nos conecte a todos. Uma rede que faça sentido, uma “matrix”, um código que explique quem somos e por que estamos aqui. Vivemos numa época propícia para teorias que desconstroem a realidade como a conhecemos, oferecendo uma versão convincente – e mais fascinante – da vida, da nossa história, do nosso passado.
Por fim, há um fator que faz de Da Vinci um forte candidato às conspirações. Ele é famoso. E esse fato se virou contra Leonardo. “Parte do mistério que se imputa à obra, à vida e a tudo que se relacione com Da Vinci é motivado pelo simples fato de ele ser famoso”, diz George. Ou seja, ele é famoso porque se fala dele. E fala-se dele porque ele é famoso. O que adiantaria se Travis Di Montemore tivesse escondido segredos em suas obras? (Travis quem? Pois é.)
“Da Vinci entrou para a história como um dos homens mais brilhantes que pisaram esta Terra e também como um dos mais misteriosos”, diz o historiador inglês Kenneth Clark, professor de História da Arte em Oxford e ex-curador do Museu Britânico. “E, por mais que se escreva sobre ele, apesar das muitas interpretações a que sua vida e obra dêem margem, ainda haverá espaço e material suficientes para se formularem muitas outras teorias sobre ele.”
Em tempo, Travis Di Montemore foi um pintor italiano – de pais franceses – que obteve sucesso e fama no século 16. Seus dotes artísticos eram disputados por reis, sua atenção pelas rainhas. Caiu no esquecimento no século 18 e nunca, nunca mais alguém ouviu falar dele. Nem Dan Brown.
Da Vinci x Dan Brown
Leonardo esconde símbolo sem suas obras ou o mistério está
nos olhos de quem vê?
O segredo de Mona Lisa
Hoje protegido por um vidro à prova de balas no Museu do
Louvre, em Paris, o sorriso mais famoso do mundo é também o mais polêmico. Dan
Brown, em O Código Da Vinci , sugere que ele esconde um segredo: o nome “Mona
Lisa” seria um anagrama feito com o nome das divindades egípcias Amon
(masculino) e Ísis (feminino). A tela seria, então, a forma que Da Vinci
encontrou de elevar o caráter sagrado das mulheres (e de Maria Madalena),
igualando-as ao elemento masculino. No entanto, é pouco provável que essa fosse
a intenção de Leonardo. Ele não conhecia a mitologia do antigo Egito, que só
entraria em evidência no Ocidente no século 19. A tese de Brown também
levantaria dúvidas sobre a identidade da modelo retratada (já se disse que ela
seria o próprio Da Vinci). Mas o mais provável é que Lisa Gherardini, mulher de
Francesco del Giocondo (daí o outro nome pelo qual a tela é conhecida, La
Gioconda), seja a dona do sorriso.
Duas versões e um
enigma
Em 1483, os monges da igreja de São Francisco Grande, em
Milão, pediram a Leonardo uma pintura que mostrasse a Virgem Maria ladeada por
anjos. Um rigoroso contrato sugeria até as cores das roupas dos personagens e
marcava a entrega para dali a oito meses. Leonardo não cumpriu o prazo e,
quando terminou a obra, ela não foi aceita. Uma outra versão da tela, concluída
por ajudantes do pintor, foi finalmente entregue em 1508. Hoje A Virgem das
Rochas está exposta na Galeria Nacional, em Londres. Já a primeira versão, que
está no Louvre (em O Código Da Vinci, pistas são escondidas atrás dela), teria
sido recusada por causa de detalhes heréticos: numa desconcertante inversão de
papéis, é o pequeno João Batista que abençoa Jesus, enquanto, com a mão
esquerda, Maria parece ameaçar João. Sob os dedos curvados dela, que parecem
segurar uma cabeça, o anjo Uriel faz um gesto como se a estivesse decapitando.
Tudo, claro, interpretações mais ou menos consagradas por obras anteriores a O
Código. “Jamais saberemos se Da Vinci quis dizer alguma coisa com isso, mas o
fato é que essas cenas foram tiradas, ou suavizadas, na segunda versão”, diz a
historiadora Sarah B. Benson, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.
“Outro motivo pelo qual provavelmente a primeira versão foi rejeitada é que no
cenário atrás dos personagens apareciam algumas espécies de plantas utilizadas
em rituais pagãos.” A tela é inspirada no animismo, uma linha de pensamento
comum naquela época, segundo o qual a natureza teria vida e alma.
Pentagrama humano
Numa das primeiras cenas do livro (e do filme), um homem
esvai-se em sangue. Antes de morrer, no entanto, ele resolve dar uma pista
sobre seu assassino e se deita com os braços e pernas abertos no centro de um
círculo, formando um pentagrama humano. A imagem macabra é uma referência ao
desenho mais famoso de Leonardo, conhecido como Homem Vitruviano. A obra é uma
referência ao tratado Des Architetura, do engenheiro romano Vitruvius Pollio,
que viveu no século 1 a.C. e de quem Leonardo importou o conceito das
proporções arquitetônicas e da simetria do corpo humano. “O comprimento dos
braços abertos de um homem é igual à sua altura”, escreveu Vitruvius. “Nesse
estudo, Da Vinci se inspirou em Pitágoras, o matemático grego que viveu no século
6 a.C. e que acreditava que todo o Universo se sustenta segundo uma ação
proporcional e geométrica”, diz o historiador inglês Martin Kemp, professor da
Universidade de Oxford. Segundo ele, os princípios da proporção eram uma
preocupação comum aos artistas do Renascimento, mas Leonardo levou isso às
últimas conseqüências, incorporando às suas obras estudos sobre a simetria dos
seres vivos e dos objetos. A inovação de Leonardo ao criar o Homem Vitruviano
foi posicioná-lo no centro de um quadrado e de um círculo. “Nessa nova
apresentação, o esquema de Vitruvius tornou-se uma realização visual
definitiva. É amplamente usado como um símbolo do desenho cósmico da estrutura
humana”, afirma Martin.
João ou Maria
Centro da polêmica e suposta grande revelação de O Código Da
Vinci, uma das mais sublimes pinturas de Leonardo está na parede do refeitório
da igreja Santa Maria das Graças, em Milão. Feita sob encomenda do poderoso
Ludovico Sforza, mostra a última refeição de Jesus com seus apóstolos. “Esse
vinho é o meu sangue derramado por amor a vocês. Esse pão é o meu corpo, comam
dele em minha memória”, estaria dizendo Jesus, segundo a tradição cristã. Até
aí, tudo bem. O problema é que, segundo o livro, a cena esconde uma série de
sinais que provariam o segredo mais bem guardado do últimos 2 mil anos: Maria
Madalena teria sido mulher de Jesus e com ele tido filhos. A prova? É ela quem
aparece à direita de Jesus, no lugar em que geralmente identificamos João. As
feições delicadas que Leonardo deu ao apóstolo seriam, para Dan Brown, um forte
indício de sua tese. Segundo Lisa DeBoer, professora de História da Arte na
Universidade Westmont, nos Estados Unidos, no entanto, a explicação não
convence. “Ele era o discípulo mais jovem e mais próximo de Jesus. Retratá-lo
com traços finos e rosto imberbe não foi algo exclusivo de Leonardo, outros
artistas renascentistas também o pintaram dessa maneira”, diz Lisa. Outra pista
que Leonardo teria dado, segundo o livro, é que o espaço deixado pelo artista
entre João (ou Maria) e Jesus forma a inicial “M”.“Essas idéias já existiam na
época de Leonardo, mas não há nenhuma dica, nos milhares de textos que ele
deixou, de que ele as conhecesse ou compactuasse com elas.”
Aventuras na História n° 034
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