O saldo costuma ser devastador para o ar, o solo, a água e
os seres vivos que fazem parte dos ecossistemas das regiões afetadas. Para
começar, a fuligem que sobe com a combustão incompleta do petróleo pode criar
um verdadeiro céu negro sobre uma determinada região. Isso impede a passagem do
sol e afeta todos os ecossistemas que dependam de sua energia, além de aumentar
a incidência de problemas respiratórios na população local. Mas o maior inimigo
é invisível. "Um poço ardente libera gases com altos teores de enxofre,
que podem causar chuva ácida, e uma grande quantidade de monóxido de carbono,
que reage com substâncias naturais no ar e forma ozônio. Na baixa atmosfera,
esse gás afeta a saúde e pode ser mortal", diz o físico Volker Kirchhoff,
do Inpe. Para piorar, o líquido que vaza dos poços destruídos atinge as praias,
destrói a vida marinha e prejudica ecossistemas intocados. Ao ser ingerido por
peixes e aves marinhas, o petróleo ataca fígado e pulmões, causando hemorragias
internas e mortandade em massa. Isso sem falar da contaminação do solo e dos
lençóis freáticos, fato que obrigou milhares de pessoas a abandonarem suas
casas no Kuwait depois da Guerra do Golfo, em 1991. Na época, o ex-ditador
iraquiano Saddam Hussein mandou incendiar 730 dos mil poços de petróleo do
Kuwait, liberando uma enorme nuvem de fuligem e gases tóxicos que matou pelo
menos mil pessoas diretamente. O incêndio demorou oito meses para ser
controlado, mas o desastre ambiental deixou marcas até hoje. Durante a Guerra
do Iraque deste ano, surgiram novas suspeitas de incêndios, especialmente no
sul daquele país. Entretanto, as primeiras análises indicam que felizmente o
problema não foi tão grave como há 12 anos.
Anatomia de um desastreNa Guerra do Golfo, em 1991, poços ardentes deixaram uma herança macabra.
• Os santuários de alimentação de mais de 100 mil aves marinhas foram destruídos. No total, estima-se que 25 mil tenham morrido.
• Um mapeamento com fotos de satélite do litoral do Kuwait revelou que certas regiões ficaram 10 dias sem luz do sol por causa das nuvens de fuligem dos incêndios, prejudicando os ecossistemas no litoral do país.
• Uma estimativa da Organização Mundial de Saúde indica que o total de mortes no Kuwait aumentou 10% por causa de problemas respiratórios originados pelo conflito. Houve pelo menos 1 000 mortes diretas.
• No golfo Pérsico, mais de 600 quilômetros de praias ficaram poluídos pela mancha de petróleo, que no momento mais crítico do pós-guerra atingiu cerca de 1 500 quilômetros quadrados no mar.
Escudo negro: fumaça de poço em chamas impede que a luz solar chegue ao Kuwait, em 1991.
Revista Mundo Estranho Edição 16/ 2003
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