Bárbara Soalheiro
Tinha gente que
comprava escravo com olhos bons e que soubesse ler.
Três graus de miopia. Hoje, um diagnóstico como esse é
bobagem. Afinal, você pode viver normalmente usando um par de óculos. Mas há
alguns séculos um problema de visão assim era sinônimo de aposentadoria. O
senador romano Marco Túlio Cícero, por exemplo, quase teve que abandonar o
emprego quando a idade o impediu de ler sozinho. Como tinha dinheiro, Cícero
resolveu o problema do jeito que se fazia na época: comprou escravos que
pudessem ler para ele.
As primeiras lentes apareceram no ano 500 a.C. na China –
mas, como se acreditava que os problemas de visão eram culpa de espíritos
malignos, elas serviam apenas como amuleto. Quase mil anos depois, no século 4,
o grego Sêneca, autor de tragédias conhecido por ter lido todos os livros que
existiam na época, usava um pote com água para deixar as letras maiores. Foi só
lá pelo ano 1000 que as lentes apareceram na Europa. As primeiras, as pedras de
leitura, foram criadas pelos monges católicos, dos poucos alfabetizados na
época. Cristais de quartzo, topázio ou berilo eram lapidados em forma de
semicírculo e polidos. O resultado era uma lupa primitiva, usada em cima do
material que se pretendia ler. Outras centenas de anos se passaram até que os
homens tivessem a idéia de aproximar a pedra dos olhos. Ou melhor, do olho – os
primeiros modelos de óculos, no século 14, eram feitos só para uma vista.Quando surgiu a versão para dois olhos, tinha o formato de um V invertido. Era preciso segurar as armações com as mãos ou ficar completamente imóvel para que elas permanecessem apoiadas sobre o nariz. Nessa época, óculos eram caríssimos, a ponto de aparecerem listados em testamentos e inventários.
Foi só em 1752 que o inglês James Ayscough criou os óculos com duas hastes laterais. Mas, apesar de terem aberto os olhos de muita gente, os óculos não pegaram de cara. Principalmente na Europa, as pessoas tinham vergonha de aparecer em público usando o acessório. Menos na Espanha lá, as pessoas achavam que ter um objeto de vidro as deixava com um ar mais importante.
Aventuras na História n° 034
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