quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Por que a reentrada de espaçonaves na atmosfera gera fogo e atrito tão violentos?


Por causa da velocidade estonteante que é atingida pelas naves, Luciano. Os ônibus espaciais que voltam para a Terra, por exemplo, podem entrar na atmosfera a 25 mil km/h, cerca de 20 vezes a velocidade do som. A 100 mil metros de altura, essa descida desembestada não causa maiores problemas, pois a atmosfera é extremamente rarefeita e o atrito é mínimo. Mas o ar vai se tornando mais denso à medida que a altitude diminui. E é aí que mora o perigo. "A quantidade de calor é proporcional à densidade da atmosfera e à velocidade", diz o engenheiro Ulisses Thadeu Guedes, do Inpe.
A temperatura externa da nave pode chegar a impressionantes 8 mil graus Celsius, uma marca que supera até mesmo a temperatura da superfície do Sol - que é, em média, de 6 mil graus. O mesmo problema não acontece na subida porque a velocidade das naves é três vezes menor (não chega a 8 mil km/h). Assim, no trajeto de ida rumo aos limites da atmosfera, o calor raramente ultrapassa os mil graus. Para resistir à fritura da descida, os veículos espaciais possuem um revestimento especial de cerâmica, com 10 centímetros de espessura. Ao absorver o calor, esse material vai se desfazendo aos poucos e precisa ser reposto a cada vôo.
Sob a cerâmica, a fuselagem possui placas de titânio que garantem uma proteção adicional. Mas a carapaça externa, sozinha, não garante o sucesso do vôo. Os pilotos, ou os controladores das naves não-tripuladas, precisam ter um cuidado extremo ao programar a descida. Para reduzir a velocidade, é preciso dar uma verdadeira "barrigada", ou seja, na hora da reentrada, a nave fica num ângulo quase horizontal em relação à atmosfera. "Isso ajuda a reduzir a velocidade antes de atingir as camadas mais densas da atmosfera", diz Ulisses. A tragédia que matou todos os tripulantes do ônibus espacial Columbia, em fevereiro deste ano, é um triste exemplo da violência do procedimento de reentrada. A Nasa, a agência espacial americana, ainda não chegou a conclusões definitivas sobre o acidente, mas desconfia-se que um pequeno impacto na asa esquerda, ocorrido ainda durante a decolagem, tenha provocado um superaquecimento na hora da descida.

Revista Mundo Estranho Edição 16/ 2003

Nenhum comentário:

Postar um comentário