Se o raio cair bem em cima da pessoa, Kaká, não tem jeito, a
morte é instantânea, com raras exceções. A corrente que passa pelo corpo nesses
casos é de 30 mil a 40 mil amperes, cerca de mil vezes mais forte que a
corrente de um chuveiro elétrico. "Se essa pessoa estiver nadando em uma
piscina ou no mar, o perigo é ainda maior, pois a água conduz a eletricidade
com mais eficiência", diz a biofísica Alice Ferreira, da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp). Além de provocar danos irreversíveis ao sistema
nervoso e ao coração, o raio literalmente torra a vítima. Mas esse tipo de
acidente é raro. O mais comum é a pessoa ser atingida de forma indireta,
recebendo a corrente pelo solo ou por ramificações laterais do eixo principal
do raio. Foi isso, provavelmente, que aconteceu em 1996 no próprio centro de treinamento
do São Paulo onde você, Kaká, bate bola quase todos os dias.
Na ocasião, o preparador físico do time, Altair Ramos, foi
atingido pelas faíscas laterais de um raio que caiu no gramado, a alguns metros
de onde ele estava. Altair desmaiou, sofreu parada cardíaca e algumas
queimaduras, mas sobreviveu ao acidente. A correntinha que Altair usava no
pescoço chegou a derreter com o calor, mas não foi ela que salvou sua vida,
como alguns disseram na época - objetos metálicos, nessas situações, só servem
para esquentar e queimar ainda mais a pele. "Os campos de futebol são recordistas
em acidentes com raios", diz o engenheiro Osmar Pinto Júnior, do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Para se proteger, o ideal é estar
sempre calçado e buscar rapidamente abrigo em algum lugar fechado durante uma
tempestade. Continuar uma partida de futebol mesmo debaixo de chuva, como se
vê, pode ser bastante perigoso.Saindo um pouco do gramado, vale lembrar que carros fechados também oferecem uma proteção razoável, pois se uma descarga elétrica atingi-lo ela ficará circulando pela carroceria do veículo até se dissipar pelo solo. As vítimas que sobrevivem a raios muito fortes podem ter sequelas para sempre, como alguns lapsos de memória, problemas motores e até insuficiência cardíaca.
Jogo eletrizante
Quando a descarga atinge um campo de futebol, efeitos podem
ser sentidos a até 100 metros do ponto de impacto.
Zona de baixo risco
Quem estiver a entre 20 e 100 metros do jogador atingido
ainda pode sentir o choque, pois a corrente elétrica é transmitida pelo solo e
entra pelos pés da pessoa. Aqui, sim, quem usar chuteira estará mais protegido.
Nessa zona mais distante do raio, os efeitos não costumam passar de um desmaio
e de um grande susto.
Pára-raios humano
Se o raio cair exatamente em cima de algum jogador, a
descarga elétrica é tão forte que queima a pele e os órgãos internos da vítima,
provocando morte instantânea. Nessa situação, estar de chuteiras não faz muita
diferença, pois a corrente fura a sola de borracha.
Zona de alto risco
Os jogadores que estiverem a uma distância de até 20 metros
do local onde o raio caiu podem receber as ramificações laterais da descarga
principal. O choque é bem menor, mas essas faíscas também são muito perigosas e
podem levar, por exemplo, a paradas cardíacas.
Revista Mundo Estranho Edição 16/ 2003
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