sexta-feira, 27 de julho de 2012

O Ministro Che Guevara - Testemunho de um Colaborador: Che Guevara por trás da camiseta

Flávia Ribeiro

Ernesto Che Guevara era duro, mas realmente jamais perdeu a ternura. É o que garante Tirso W. Saenz, um dos vice-ministros de Che quando o revolucionário ocupou a pasta do Ministério de Indústrias de Cuba, entre a vitória da revolução, em 1959, e sua viagem para outras guerrilhas, em 1965. Tirso resolveu mostrar em livro um lado menos conhecido do homem que virou figurinha fácil em camisetas e pôsteres: o de estadista. O resultado é O Ministro Che Guevara – Testemunho de um Colaborador.
O homem por trás da camiseta era capaz de passar a semana em seu gabinete, quase sem dormir. Além do expediente oficial, participava de jornadas de trabalho voluntário, nas quais plantava, colhia e dava uma de pedreiro. Apoiava o fuzilamento dos traidores e mandava funcionários que cometiam erros para o trabalho braçal em plantações de eucaliptos. Mas tinha entrosamento com os trabalhadores – e recitava poemas para a mulher, Eleida. Era ainda um grande piadista. Mas que não se deixava embebedar, para dar o exemplo. “Che misturava vinho com água”, diz Tirso.
Che foi embora de Cuba em 1965 para lutar outras guerrilhas. Em 1967, foi morto na Bolívia, aos 39 anos. E fez vir à memória de seus colaboradores, como Tirso, uma frase que repetia quando era ministro: “Eu não morrerei como um burocrata. Morrerei combatendo em uma montanha”.
Entrevista
Em seu livro está o retrato de um homem que servia de exemplo 24 horas por dia. Che não tinha defeitos?
Tirso saenz – Seu grande defeito era ser explosivo. Certa vez eu disse que ele ficava verde-oliva por completo quando explodia, no uniforme e no rosto. Ele assustava quando ficava assim, mas nunca explodiu fisicamente. Che não aceitava a violência física fora do campo de guerrilha.
Se ele era contra a violência física fora do campo de batalha, como se sentia em relação aos fuzilamentos?
Ele era a favor do fuzilamento, e o povo de Cuba também. Os fuzilados eram torturadores, assassinos a mando de Fulgêncio Batista (ex-presidente de Cuba), e na minha opinião foram bem fuzilados. Eram julgamentos públicos e os fuzilamentos eram televisionados. Mas não se admitia tortura na revolução.
No livro o senhor fala na evasão de cérebros pós-revolução, quando os profissionais mais capacitados se mudaram para os Estados Unidos. Como era a vida dos ministros?
Os primeiros anos foram duros pela falta de pessoal qualificado. Mal dormíamos. Mas o esforço deu frutos. O nível cultural em Cuba é tão alto que é mais fácil achar soluções. Hoje, os ministros dormem.
O que mais incomodava Che?
Ele sentia não poder dar mais atenção aos cinco filhos.

Aventuras na História n° 031

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